17.04.2013 Views

No Compasso da História - MultiRio

No Compasso da História - MultiRio

No Compasso da História - MultiRio

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Ouro em Minas<br />

46<br />

todos os portadores eram imediatamente<br />

afastados do convívio social, fato que não<br />

aconteceu com Aleijadinho. O que se pode<br />

afirmar com alguma segurança, através do<br />

relato de seus contemporâneos, é que a doença<br />

cobriu seu corpo de chagas, fazendo<br />

com que perdesse os pés e vários dedos<br />

<strong>da</strong>s mãos. Assim, tinha que an<strong>da</strong>r sobre<br />

seus joelhos, além de amarrar os instrumentos<br />

aos pulsos para continuar esculpindo<br />

suas estátuas em pedra-sabão. Ao morrer,<br />

em 1814, deixou uma grande quanti<strong>da</strong>de de<br />

obras que foram cataloga<strong>da</strong>s com base em<br />

semelhanças estilísticas.<br />

9 . Abdias, escultura em pedra sabão, faz parte do<br />

conjunto 12 Profetas, de Aleijadinho<br />

<strong>No</strong> início do século XX, os modernistas, em<br />

busca de novos símbolos para a brasili<strong>da</strong>de,<br />

encontraram no artista o protótipo perfeito<br />

para suas ideias renovadoras. Ele era o mulato,<br />

símbolo do rico sincretismo cultural e<br />

étnico brasileiro, que conseguiu transformar<br />

a herança portuguesa em algo original. Independentemente<br />

<strong>da</strong>s discussões sobre a<br />

natureza <strong>da</strong> obra, sua beleza é de tal ordem<br />

que uma visita ao museu a céu aberto que é<br />

Ouro Preto nos faz recuar no tempo e viver<br />

uma profun<strong>da</strong> emoção estética.<br />

O ouro e os negros<br />

Deixando o sagrado Congo para trás,<br />

Mas rei de Zâmbi-Apongo<br />

É rei onde chega, Obá dos Obás<br />

Foi assim, hoje eu sei<br />

Que nasceu Chico-Rei<br />

Rei <strong>da</strong> África e Rei <strong>da</strong>s Minas Gerais!<br />

Galanga Chico-Rei<br />

(Sérgio Santos e Paulo César Pinheiro)<br />

Para a grande empresa mineradora de Vila<br />

Rica e <strong>da</strong>s regiões adjacentes, só mesmo um<br />

grande contingente de trabalhadores viabilizaria<br />

seu sucesso. Registros históricos detalham<br />

que foi essa a região que abrigou o<br />

maior número de escravos no período colonial.<br />

A “empresa negreira”, além de proporcionar<br />

lucros enormes para os traficantes,<br />

foi a responsável pela Era de Ouro de Minas<br />

Gerais. <strong>No</strong>s primeiros 20 anos de mineração,<br />

entraram em Minas cerca de 50 mil escravos;<br />

em 1738, já passavam de 100 mil. Eles<br />

eram alugados, vendidos, trocados, sempre<br />

com preços altos. A quanti<strong>da</strong>de de escravos<br />

que um senhor de lavras (aquele que explorava<br />

a ativi<strong>da</strong>de de mineração) possuía era<br />

parte integrante de seu status econômico.<br />

Essa enorme “nação negra” tinha estratégias<br />

próprias de sobrevivência. Retira<strong>da</strong><br />

à força de seus territórios, levava consigo<br />

uma cultura que tentava manter viva através<br />

de diversos subterfúgios. Segundo a pesquisadora<br />

Isânia Graças <strong>da</strong> Silva, citando o<br />

professor Robert W. Slenes, “a África permaneceu<br />

durante o período <strong>da</strong> escravidão<br />

‘encoberta’ para os brasileiros, pelo menos<br />

para grande parte <strong>da</strong> população branca.<br />

Esta população, essencialmente os ‘senhores’,<br />

não demonstrava grande interesse pela<br />

cultura dos escravos e, assim, ‘não conseguia<br />

penetrar muito além <strong>da</strong> superfície <strong>da</strong>s

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!