No Compasso da História - MultiRio
No Compasso da História - MultiRio
No Compasso da História - MultiRio
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Apesar de o samba carioca ser reconhecido<br />
como a expressão do samba brasileiro,<br />
vale a pena lembrar que na Bahia, por<br />
exemplo, a mistura deu no samba de chave,<br />
mais compassado, com uma coreografia<br />
bem determina<strong>da</strong>. Já em São Paulo, o batuque<br />
misturou-se com as tradições caboclas,<br />
com violas e uma espécie de pandeiro<br />
grande e quadrado.<br />
Através do século XX, o samba ganhou novos<br />
contornos, acompanhou seu tempo, e<br />
hoje suas expressões podem ser encontra<strong>da</strong>s<br />
no samba de breque, no samba-canção,<br />
no sambalanço, na bati<strong>da</strong> <strong>da</strong> bossa nova,<br />
no pagode, no samba-enredo... Aliás, ao se<br />
olhar a música no mundo hoje, fica claro o<br />
predomínio <strong>da</strong>s origens negras no rock, no<br />
jazz, no pop, no reggae, no samba, no rap.<br />
A África devolveu em beleza a violência com<br />
que o mundo civilizado a tratou.<br />
Arte negra<br />
Se a mão livre do negro<br />
Tocar na argila<br />
O que é que vai nascer?<br />
Vai nascer pote pra gente beber<br />
Nasce panela pra gente comer<br />
Nasce vasilha, nasce parede<br />
Nasce estatuinha<br />
Bonita de se ver<br />
Estatuinha<br />
(Edu Lobo e Guarnieri)<br />
A presença africana nas artes plásticas se dá,<br />
em primeiro lugar, nos objetos religiosos, que<br />
só ganharam status de peças artísticas a partir<br />
dos anos 1930. Mas muitos artistas brasileiros<br />
também beberam nessa fonte. Segundo<br />
Marianno Carneiro <strong>da</strong> Cunha, “há aqueles artistas<br />
que se utilizam do tema afro-brasileiro<br />
incidentalmente: Tarsila do Amaral, Lasar<br />
Segall, Alberto <strong>da</strong> Veiga Guignard, Portinari,<br />
Djanira. Outros utilizam a temática afro-brasileira<br />
sistemática e conscientemente: Carybé,<br />
Mário Cravo Jr., Hansen Bahia, Di Cavalcanti”.<br />
17 . Frevo, óleo sobre tela de Heitor dos Prazeres<br />
Em 1966, Heitor dos Prazeres, Rubem Valentim<br />
e Agnaldo Santos representaram o Brasil<br />
no 1º Festival Mundial de Artes Negras de<br />
Dacar, no Senegal, selecionados entre artistas<br />
de raça negra ou ascendência africana,<br />
conforme regulamento oficial.<br />
A partir dessa época, a arte afro-brasileira,<br />
então conheci<strong>da</strong> apenas como arte religiosa,<br />
ritual, comunitária e utilitária, começou a<br />
ampliar seu campo de atuação. Os artistas,<br />
saindo do anonimato, passaram a produzir<br />
uma arte não étnica, com projeção na linguagem<br />
plástica universal, embora conservando<br />
vínculos com suas raízes.<br />
Ao observarmos sob uma perspectiva histórica,<br />
a África e sua cultura são parte importantíssima<br />
na formação do Brasil. <strong>No</strong>ssas<br />
raízes africanas nos remetem à luta de um<br />
povo que teve a força e o talento para enfrentar<br />
um destino trágico e transformá-lo<br />
em uma herança cheia de luz e de beleza.<br />
Mesmo em um mundo onde a discriminação<br />
ain<strong>da</strong> é grande, sempre é possível um sonho<br />
comum de felici<strong>da</strong>de.<br />
Raízes africanas – Capoeira, mungunzá e valentia<br />
37