No Compasso da História - MultiRio

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17.04.2013 Views

e morto em uma emboscada. Sua cabeça, assim como aconteceu mais tarde com Tiradentes, foi decepada e exposta em praça pública no Recife. Sem comando, o quilombo desfez-se por completo, deixando na história do Brasil mais um exemplo de luta heroica pela liberdade. 10 . Zumbi, óleo em tela de Antônio Parreiras A Inglaterra contra a escravidão Entre o final do século XVII e o começo do século XVIII, o Iluminismo fez brilhar suas luzes por uma Europa que via o surgimento dos Estados-nação e a expansão dos direitos civis, com a redução da influência da nobreza e da Igreja. Essa onda liberal espalhou-se pelo mundo, sendo inspiradora de grandes movimentos, como a Revolução Francesa, a independência da Grécia e dos países balcânicos e todos os processos de independência no continente americano. Os iluministas figuram entre os maiores pensadores do mundo ocidental: Montesquieu, Voltaire, Rousseau e Kant, só para citar alguns. O século XVIII também viu o surgimento da Revolução Industrial, processo que transformou radicalmente as relações econômicas entre os países, por meio de uma enorme mudança no modo de produção, com o consequente ocaso do modelo artesanal, que era praticado desde a Idade Média. A invenção das máquinas a vapor fez da Inglaterra a grande economia do Ocidente, já que o país possuía grandes reservas de carvão mineral e de minério de ferro e mão de obra barata e em abundância. Para o novo modelo econômico que surgia, a escravidão era um entrave: o francês Jac- ques Turgot e o escocês Adam Smith já afirmavam que um escravo produzia muito menos do que um homem livre. Com um mercado consumidor que se expandia, o capitalismo inglês precisava de muitos braços para produzir e outros tantos para consumir. Foi essa conjuntura de fatores que levou a Inglaterra a liderar a campanha antiescravista. Maior potência do Ocidente, podia impor suas condições a um mundo onde os impérios coloniais se fragmentavam com rapidez. A relação de dependência mantida por Portugal com a Inglaterra fez com que esta impusesse, através da força de sua marinha, a redução paulatina do tráfico negreiro, ferindo de morte o império lusitano escravagista. Ainda demoraria muito tempo para que a abolição se tornasse realidade no Brasil. 11 . Fábrica Inglesa, por Herman Heyenbrock Raízes africanas – Capoeira, mungunzá e valentia 33

Raízes africanas – Capoeira, mungunzá e valentia 34 Luta negra Capoeira que é bom não cai E se um dia ele cai, cai bem Capoeira me mandou Dizer que já chegou Chegou para lutar Berimbau (Vinicius de Moraes) A África está nos brasileiros de maneira tão intensa e natural que muitas vezes nem se percebe essa presença. Pode-se começar pelo idioma, repleto de palavras de origem africana: “batuque”, “cachaça”, “cachimbo”, “caçula”, “marimbondo”, “moleque”, “quitanda”... A lista é imensa, e cada palavra traz dentro de si uma história de aproximação entre os dois continentes. Também se pode começar pela culinária, pois a cozinha africana trouxe para o Brasil uma série de sabores que encheram de graça a cozinha portuguesa, adaptando os condimentos daqui às receitas de lá. Ou seria melhor começar pela música, que incrementou a moda portuguesa com um ritmo alucinante? São muitas as portas de entrada para esse universo maravilhoso, mas vamos começar por um tipo de arte marcial que, praticada às escondidas dos senhores, atravessou os séculos e que só na segunda metade do século XX escapou aos preconceitos: a capoeira. 12 . Negros Lutando, de Augustus Earle As primeiras referências à capoeira se dão exatamente no período do auge do Quilombo dos Palmares: relatos dos comandantes das expedições dão conta de que os escravos fugidos utilizavam um estranho tipo de luta com gingas e quebradas de corpo que exigiam mais de um soldado para dominar um quilombola. Não há registros mais precisos sobre a origem da luta, que com aspectos coreográficos disfarçava seu evidente treinamento marcial. Com a abolição da escravatura, em 1888, um grande contingente de ex-escravos foi abandonado à própria sorte, principalmente em Salvador e no Rio de Janeiro. Ao migrar para a marginalidade, esse grupo levou consigo a capoeira, que se tornou uma arma poderosa contra as forças policiais que tentavam ordenar as metrópoles. No Rio de Janeiro, por volta de 1890, grupos de capoeiristas (eram chamados de “maltas”) causaram tantos problemas que a capoeira foi banida em todo o território nacional. Assim, passou a ser praticada em terreiros distantes do Centro, e seus seguidores, perseguidos sem trégua pela polícia. 13 . Jogar Capoeira, de Jean-Baptiste Debret Foi na Bahia que a capoeira começou a escapar da perseguição oficial. O ano era o de 1932, e um grande lutador de ringues ilegais, Mestre Bimba, fundou em Salvador a primeira academia de capoeira da história. Para fugir à proibição ainda vigente, trocou o nome “capoeira” por “luta regional baiana”. Deu certo:

e morto em uma embosca<strong>da</strong>. Sua cabeça,<br />

assim como aconteceu mais tarde com Tiradentes,<br />

foi decepa<strong>da</strong> e exposta em praça<br />

pública no Recife. Sem comando, o quilombo<br />

desfez-se por completo, deixando na<br />

história do Brasil mais um exemplo de luta<br />

heroica pela liber<strong>da</strong>de.<br />

10 . Zumbi, óleo em tela de Antônio Parreiras<br />

A Inglaterra contra<br />

a escravidão<br />

Entre o final do século XVII e o começo do<br />

século XVIII, o Iluminismo fez brilhar suas luzes<br />

por uma Europa que via o surgimento<br />

dos Estados-nação e a expansão dos direitos<br />

civis, com a redução <strong>da</strong> influência <strong>da</strong> nobreza<br />

e <strong>da</strong> Igreja. Essa on<strong>da</strong> liberal espalhou-se<br />

pelo mundo, sendo inspiradora de grandes<br />

movimentos, como a Revolução Francesa, a<br />

independência <strong>da</strong> Grécia e dos países balcânicos<br />

e todos os processos de independência<br />

no continente americano.<br />

Os iluministas figuram entre os maiores pensadores<br />

do mundo ocidental: Montesquieu,<br />

Voltaire, Rousseau e Kant, só para citar alguns.<br />

O século XVIII também viu o surgimento <strong>da</strong><br />

Revolução Industrial, processo que transformou<br />

radicalmente as relações econômicas<br />

entre os países, por meio de uma enorme<br />

mu<strong>da</strong>nça no modo de produção, com o consequente<br />

ocaso do modelo artesanal, que<br />

era praticado desde a I<strong>da</strong>de Média. A invenção<br />

<strong>da</strong>s máquinas a vapor fez <strong>da</strong> Inglaterra<br />

a grande economia do Ocidente, já que o<br />

país possuía grandes reservas de carvão mineral<br />

e de minério de ferro e mão de obra<br />

barata e em abundância.<br />

Para o novo modelo econômico que surgia,<br />

a escravidão era um entrave: o francês Jac-<br />

ques Turgot e o escocês A<strong>da</strong>m Smith já<br />

afirmavam que um escravo produzia muito<br />

menos do que um homem livre. Com um<br />

mercado consumidor que se expandia, o capitalismo<br />

inglês precisava de muitos braços<br />

para produzir e outros tantos para consumir.<br />

Foi essa conjuntura de fatores que levou a<br />

Inglaterra a liderar a campanha antiescravista.<br />

Maior potência do Ocidente, podia impor<br />

suas condições a um mundo onde os impérios<br />

coloniais se fragmentavam com rapidez.<br />

A relação de dependência manti<strong>da</strong> por Portugal<br />

com a Inglaterra fez com que esta impusesse,<br />

através <strong>da</strong> força de sua marinha, a<br />

redução paulatina do tráfico negreiro, ferindo<br />

de morte o império lusitano escravagista.<br />

Ain<strong>da</strong> demoraria muito tempo para que a<br />

abolição se tornasse reali<strong>da</strong>de no Brasil.<br />

11 . Fábrica Inglesa, por Herman Heyenbrock<br />

Raízes africanas – Capoeira, mungunzá e valentia<br />

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