No Compasso da História - MultiRio
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Raízes indígenas<br />
22<br />
Rondon e os Villas Bôas<br />
Queria encantar minha lira<br />
pra ver o que vê o caiçara<br />
saci provocar curupira<br />
caipora montar pomba-gira<br />
namoro de boto com iara<br />
Queria num dia de graça<br />
num quarup de lua clara<br />
bebendo cauim na cabaça<br />
rever minha parte <strong>da</strong> raça<br />
que vem <strong>da</strong> cabocla Jussara<br />
Quarup<br />
(Joyce Moreno e Paulo César Pinheiro)<br />
O Serviço de Proteção ao Índio (SPI) foi criado<br />
no Brasil República, em 1910, e seu primeiro<br />
diretor foi Cândido Mariano <strong>da</strong> Silva<br />
Rondon. Seus bisavós maternos eram bororos<br />
e terenas; e a bisavó paterna, uma índia<br />
guará. Órfão, ele estudou na Escola Militar<br />
do Rio, que na época <strong>da</strong>va gratui<strong>da</strong>de aos<br />
alunos que assentavam praça, passando a<br />
receber o soldo de sargento. <strong>No</strong>tabilizou-se<br />
por coman<strong>da</strong>r inúmeras expedições pelos<br />
sertões brasileiros, nas quais foram implanta<strong>da</strong>s<br />
linhas de telégrafo.<br />
Em setembro de 1913, Rondon foi atingido por<br />
uma flecha envenena<strong>da</strong> dos nhambiquaras.<br />
Fiel ao seu pensamento de entrar em contato<br />
cordial com os índios, não quis que seus<br />
coman<strong>da</strong>dos reagissem ao ataque, atuando,<br />
sempre, no sentido de proteger os indígenas:<br />
“Morrer, se for preciso; matar, nunca!”. Cândido<br />
Rondon viria a morrer muito mais tarde,<br />
em 19 de janeiro de 1958, aos 93 anos.<br />
O SPI definiu as normas administrativas pelas<br />
quais os índios deveriam ser tratados e<br />
tentou manter as frentes de ocupação longe<br />
deles para evitar novos conflitos, mas suas<br />
tentativas não surtiram efeito por causa <strong>da</strong><br />
expansão <strong>da</strong> fronteira agrícola. Segundo o<br />
antropólogo Darcy Ribeiro, “to<strong>da</strong>s as tribos<br />
com que se depararam as frentes pioneiras<br />
<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de brasileira foram trazi<strong>da</strong>s ao<br />
convívio pacífico sem que um só índio fosse<br />
tiroteado pelas turmas do SPI, embora<br />
mais de uma dezena de servidores tombassem<br />
nos trabalhos de pacificação, varados<br />
por flechas”. Ain<strong>da</strong> segundo Darcy Ribeiro,<br />
“a pacificação <strong>da</strong>s tribos hostis ocasionou<br />
a disseminação <strong>da</strong> fome, de doenças, <strong>da</strong><br />
desintegração, tornando os índios parte do<br />
grupo mais miserável dos segmentos marginais<br />
<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de”.<br />
16 . Marechal Rondon<br />
notabilizou-se pelo<br />
trabalho de integração<br />
nacional<br />
Mais tarde, o trabalho de Rondon teve continui<strong>da</strong>de<br />
com os indigenistas e sertanistas<br />
paulistas Orlando, Cláudio, Leonardo e Álvaro<br />
Villas Bôas. Orlando chefiou a expedição<br />
Roncador-Xingu de 1946, que chegou até a<br />
bacia do Rio Tapajós, para instalar campos<br />
de pouso e postos de assistência aos índios.<br />
Além dos Villas Bôas, Darcy Ribeiro e o sanitarista<br />
<strong>No</strong>el Nutels atuaram, com o apoio<br />
de Rondon, na criação do Parque Nacional<br />
do Xingu, que se concretizou em 1961. Hoje,<br />
vivem no parque dezenas de povos, que dedicaram<br />
a Orlando uma de suas importantes<br />
cerimônias: o Quarup, ritual em homenagem<br />
aos mortos ilustres.