No Compasso da História - MultiRio

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17.04.2013 Views

O feminismo e os discos independentes – Ô mãe, me explica, me ensina, me [diz o que é feminina? – Não é no cabelo, no dengo ou no [olhar, é ser menina por todo lugar. – Então me ilumina, me diz como é que [termina? – Termina na hora de recomeçar, dobra [uma esquina no mesmo lugar. Costura o fio da vida só pra poder [cortar Depois se larga no mundo pra nunca [mais voltar Feminina (Joyce Moreno) Na década de 1980, movimentos sociais surgidos ao longo dos séculos XIX e XX, como os dos negros, dos homossexuais e das mulheres, obtiveram conquistas significativas. Quanto mais liberdade, maior possibilidade de diversificação das linguagens. As conquistas do movimento feminista se refletiram em nossa música e nos programas de TV. Uma nova mulher, mais liberta da herança conservadora machista e amparada por direitos trabalhistas, saiu para as ruas, e Gilberto Gil cantou: “Quem sabe o Super-Homem venha nos restituir a glória/ mudando como um deus o curso da história/ por causa da mulher?”. O período foi eclético no campo cultural, com manifestações para diversos gostos e ouvidos. Vários estilos conviveram democraticamente em um espaço dominado pelo mercado e pelo poder da mídia. Ao mesmo tempo, porém, surgiram os discos independentes, que conseguiram encontrar espaço além das fronteiras definidas pela indústria fonográfica. Não foi uma atitude isolada, foi um movimento. Artistas e grupos que, distantes do poder da mídia e das gravadoras, seguiram um outro caminho, à margem do mercado oficial, e chegaram lá. Como o grupo Boca Livre, cujo primeiro disco independente vendeu mais de cem mil cópias, a maioria delas comercializadas de mão em mão. 7 . O grupo Boca Livre e sua toada que conquistou o público Geração 80 “Quase tudo o que realmente importa na cultura contemporânea, ou que se tornou fenômeno de massas, foi bolado nos anos 80.” Hermano Vianna As artes visuais ganharam destaque nos meios de comunicação com a exposição Como Vai Você, Geração 80?, realizada na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no bairro do Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, em julho de 1984. A pergunta, em tom casual, refletiu a espontaneidade de uma produção artística jovem e diversificada, que reuniu “as várias possibilidades de ser da arte”, segundo um dos curadores da mostra, Marcus Lontra. A exposição buscava aferir algumas tendências artísticas que emergiam naquele momento, reunindo 123 artistas de formações Que país é este? 219

Que país é este? 220 diferentes, em sua maioria jovens que eram crianças nos tempos da ditadura e que estavam começando a vida adulta em um país que se redemocratizava. 8 . A exposição de artes visuais Como Vai Você, Geração 80? Ao mesmo tempo que se abriu espaço para as experimentações mais radicais, com instalações e performances, houve uma volta à pintura, o que, aliás, ocorreu em todo o mundo. Os artistas rejeitavam, porém, a ideia de pintura como obra-prima e executavam telas de grandes dimensões, muitas vezes sem moldura, em que dominavam o gesto pictórico e também a retomada da figura por meio da apropriação de imagens e de signos da comunicação de massa, aos quais eram acrescentados elementos subjetivos e/ou irônicos. Alex Vallauri (1949-1987), Ana Maria Tavares (1958), Beatriz Milhazes (1960), Cristina Canale (1961), Daniel Senise (1955), Ester Grinspum (1955), Frida Baranek (1961), Gonçalo Ivo (1958), Jorge Guinle (1947-1987), Karin Lambrecht (1957), Leda Catunda (1961), Leonilson (1957-1993), Luiz Zerbini (1959), Luiz Pizarro (1958) e Nelson Felix (1954) foram alguns dos participantes e, juntamente com artistas experimentais dos anos 1960 e 1970, respondem pelo reconhecimento que a arte contemporânea brasileira está tendo atualmente no Brasil e no mundo. “Todos passaram a pintar cada vez mais, pintando não só as suas histórias particulares, mas procurando os nossos sonhos comuns, os nossos mitos, a crença de que, passado o pesadelo, tudo ia dar certo”, escreveu Marcus Lontra. A vanguarda paulista Bebida é água! Comida é pasto! Você tem sede de quê? Você tem fome de quê?... A gente não quer só comida A gente quer comida Diversão e arte Comida (Arnaldo Antunes, Marcelo Fromer e Sérgio Britto) 9 . Os Titãs, banda de rock formada em São Paulo, em 1982 A vanguarda paulista começou a despontar pouco antes da explosão do rock nacional e se aproveitou dos caminhos abertos por ele, mostrando ao público e às gravadoras que havia todo um mercado pouco explorado. Havia uma nova faixa de consumidores pronta para receber as novidades: os jovens. Foi nas ruas, nos bares, nas discotecas e nos diversos points de São Paulo que soaram os primeiros acordes do rock nacional. Nos anos 1980, a cidade viu nascerem

O feminismo e os discos<br />

independentes<br />

– Ô mãe, me explica, me ensina, me<br />

[diz o que é feminina?<br />

– Não é no cabelo, no dengo ou no<br />

[olhar, é ser menina por todo lugar.<br />

– Então me ilumina, me diz como é que<br />

[termina?<br />

– Termina na hora de recomeçar, dobra<br />

[uma esquina no mesmo lugar.<br />

Costura o fio <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> só pra poder<br />

[cortar<br />

Depois se larga no mundo pra nunca<br />

[mais voltar<br />

Feminina<br />

(Joyce Moreno)<br />

Na déca<strong>da</strong> de 1980, movimentos sociais surgidos<br />

ao longo dos séculos XIX e XX, como<br />

os dos negros, dos homossexuais e <strong>da</strong>s mulheres,<br />

obtiveram conquistas significativas.<br />

Quanto mais liber<strong>da</strong>de, maior possibili<strong>da</strong>de<br />

de diversificação <strong>da</strong>s linguagens.<br />

As conquistas do movimento feminista se<br />

refletiram em nossa música e nos programas<br />

de TV. Uma nova mulher, mais liberta<br />

<strong>da</strong> herança conservadora machista e ampara<strong>da</strong><br />

por direitos trabalhistas, saiu para as<br />

ruas, e Gilberto Gil cantou: “Quem sabe o<br />

Super-Homem venha nos restituir a glória/<br />

mu<strong>da</strong>ndo como um deus o curso <strong>da</strong> história/<br />

por causa <strong>da</strong> mulher?”.<br />

O período foi eclético no campo cultural, com<br />

manifestações para diversos gostos e ouvidos.<br />

Vários estilos conviveram democraticamente<br />

em um espaço dominado pelo mercado<br />

e pelo poder <strong>da</strong> mídia. Ao mesmo tempo,<br />

porém, surgiram os discos independentes,<br />

que conseguiram encontrar espaço além <strong>da</strong>s<br />

fronteiras defini<strong>da</strong>s pela indústria fonográfica.<br />

Não foi uma atitude isola<strong>da</strong>, foi um movimento.<br />

Artistas e grupos que, distantes do<br />

poder <strong>da</strong> mídia e <strong>da</strong>s gravadoras, seguiram<br />

um outro caminho, à margem do mercado<br />

oficial, e chegaram lá. Como o grupo Boca<br />

Livre, cujo primeiro disco independente vendeu<br />

mais de cem mil cópias, a maioria delas<br />

comercializa<strong>da</strong>s de mão em mão.<br />

7 . O grupo Boca Livre e sua toa<strong>da</strong> que conquistou o público<br />

Geração 80<br />

“Quase tudo o que realmente importa na<br />

cultura contemporânea, ou que se tornou<br />

fenômeno de massas, foi bolado nos anos<br />

80.” Hermano Vianna<br />

As artes visuais ganharam destaque nos<br />

meios de comunicação com a exposição<br />

Como Vai Você, Geração 80?, realiza<strong>da</strong> na<br />

Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no<br />

bairro do Jardim Botânico, no Rio de Janeiro,<br />

em julho de 1984. A pergunta, em tom casual,<br />

refletiu a espontanei<strong>da</strong>de de uma produção<br />

artística jovem e diversifica<strong>da</strong>, que<br />

reuniu “as várias possibili<strong>da</strong>des de ser <strong>da</strong><br />

arte”, segundo um dos curadores <strong>da</strong> mostra,<br />

Marcus Lontra.<br />

A exposição buscava aferir algumas tendências<br />

artísticas que emergiam naquele momento,<br />

reunindo 123 artistas de formações<br />

Que país é este?<br />

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