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No Compasso da História - MultiRio

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<strong>No</strong> século XIX, artistas, escritores e intelectuais<br />

do movimento romântico começaram a<br />

louvar o índio e a fazer dele um símbolo <strong>da</strong><br />

nacionali<strong>da</strong>de. A preocupação era forjar uma<br />

identi<strong>da</strong>de para o Império Brasileiro, então<br />

recém-independente <strong>da</strong> metrópole portuguesa.<br />

Nesse sentido, estavam em busca de<br />

imagens originárias do Brasil.<br />

15 . Índios Apiaká no Rio Arinos, do pintor Hércules Florence<br />

A ideia era propor o país a partir de suas<br />

raízes indígenas. Escritores como Gonçalves<br />

Dias e José de Alencar (autor do romance<br />

O Guarani, que trata <strong>da</strong> colonização do vale<br />

do Rio Paraíba, no Rio de Janeiro, e <strong>da</strong> relação<br />

amorosa entre uma branca e um índio);<br />

músicos como Carlos Gomes (criador <strong>da</strong> ópera<br />

O Guarani), Elias Álvares Lobo, Alberto<br />

Nepomuceno; e pintores como Victor Meirelles<br />

(Moema) e Rodolpho Amoedo (O Último<br />

Tamoio) encontraram nos índios um modelo<br />

humano e nos rios e nas florestas inspiração<br />

para expressar a exuberância <strong>da</strong> nossa<br />

natureza. Gonçalves Dias chegou a criar até<br />

um poema, Marabá, sobre uma mestiça:<br />

Meus olhos são garços, são cor <strong>da</strong>s<br />

[safiras<br />

Têm luz <strong>da</strong>s estrelas, têm meigo brilhar<br />

Imitam as nuvens de um céu anilado<br />

As cores imitam <strong>da</strong>s vagas do mar!<br />

Se algum dos guerreiros não foge a<br />

Teus olhos são garços<br />

[meus passos:<br />

Responde anojado; mas és Marabá.<br />

E, assim, surgiu na nossa literatura um bom<br />

selvagem idealizado, o perfil romântico de<br />

um índio em extinção, pautado em teorias<br />

raciais e na ideia evolucionista que triunfou<br />

no século XIX.<br />

Um velho Timbira, coberto de glória,<br />

Guardou a memória<br />

Do moço guerreiro, do velho Tupi!<br />

E à noite, nas tabas, se alguém<br />

[duvi<strong>da</strong>va<br />

Do que ele contava,<br />

Dizia prudente: – Meninos, eu vi!<br />

Eu vi o brioso no largo terreiro<br />

Cantar prisioneiro<br />

Seu canto de morte, que nunca esqueci:<br />

Eu disse comigo: – Que infâmia d’escravo!<br />

Pois não, era um bravo;<br />

Valente e brioso, como ele, não vi!<br />

i-Juca Pirama<br />

(Trecho do poema de Gonçalves Dias)<br />

Em contraste com o índio estereotipado<br />

pelos românticos, pintado a partir de um<br />

ideal de beleza clássico transposto para o<br />

mundo tropical, tivemos, também no século<br />

XIX, os primeiros habitantes retratados pelas<br />

missões artísticas e científicas com tons<br />

mais realistas.<br />

Os viajantes estrangeiros, ansiosos por estu<strong>da</strong>r<br />

tudo o que encontrassem, circularam<br />

pelo território descobrindo, registrando e coletando<br />

espécies naturais e desenhando os<br />

habitantes. Revelava-se, pela primeira vez, a<br />

diversi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s culturas locais. Eram corpos<br />

nus adornados e pintados, armas e objetos<br />

de uso cotidiano, registros de caça<strong>da</strong>s e <strong>da</strong><br />

guerra, a vi<strong>da</strong> em família, a dura sobrevivência<br />

nas selvas, o nomadismo constante, os<br />

rituais, as máscaras e as festas.<br />

Raízes indígenas<br />

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