No Compasso da História - MultiRio

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Muitos artistas tiveram suas carreiras vigiadas de perto pela censura: Geraldo Vandré, Vinicius de Moraes, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Carlos Lyra. Mas nenhum deles sofreu um assédio tão constante quanto Chico Buarque. O jovem que conquistou o Brasil com a sua romântica e nostálgica marchinha A Banda endureceu o olhar à medida que o regime também endurecia. 16 . Apesar de Você, a música emblemática contra a ditadura Em 1969, seguindo o caminho de outros artistas, Chico decidiu sair do país para viver na Itália, retornando em 1970. Na época, sua composição Apesar de Você, conforme texto publicado no site do artista, “era uma resposta crítica ao regime ditatorial no qual o país ainda estava imerso”. Surpreendentemente, a música passaria incólume pela censura prévia e se tornaria uma espécie de hino da resistência à ditadura. Depois de vender cerca de 100 mil cópias, a canção foi censurada e o disco, retirado das lojas. Mudaram os presidentes, o cerco seguiu. Quando percebeu que bastava ter seu nome associado a uma música para que ela fosse censurada no todo ou em parte, Chico inventou um apelido, Julinho da Adelaide, e com ele gravou duas de suas mais irônicas composições: Acorda Amor e Jorge Maravilha. O último general Hoje você é quem manda Falou, tá falado Não tem discussão A minha gente hoje anda Falando de lado E olhando pro chão, viu Você que inventou esse estado E inventou de inventar Toda a escuridão Você que inventou o pecado Esqueceu-se de inventar O perdão Apesar de você Amanhã há de ser Outro dia Apesar de Você (Chico Buarque de Holanda) 17 . General Figueiredo, último presidente do regime militar Indicado para ser o sucessor de Ernesto Geisel, o general João Batista Figueiredo foi eleito indiretamente para a presidência da República com a missão de redemocratizar o país, dando continuidade à política de distensão iniciada por seu antecessor. Mas Figueiredo já assumiu tendo pela frente uma questão Ninguém segura este país 211

Ninguém segura este país 212 espinhosa: a anistia aos presos políticos e exilados. Desde 1975 que muitos brasileiros já se organizavam em comitês em luta pela anistia ampla, geral e irrestrita, e esses grupos acabaram por formar, em 1978, o Comitê Brasileiro pela Anistia, com sede na Associação Brasileira de Imprensa, no Rio de Janeiro. 18 . O Brasil vai às ruas pela anistia ampla, geral e irrestrita Não era só a reivindicação de um grupo, mas da sociedade brasileira, que pressionava, incansavelmente, o governo. Assim, em junho de 1979, Figueiredo encaminhou ao Congresso Nacional um projeto de anistia, que, apesar do inegável avanço democrático, deixava de fora os responsáveis por atentados terroristas e incluía, entre os anistiados, os militares responsáveis pela tortura na fase mais dura do regime. Mesmo sob protestos e limitada, a lei foi sancionada em 28 de agosto de 1979. Cerca de 4.650 brasileiros foram beneficiados pela anistia, fazendo com que retornassem ao país dois políticos que foram considerados os maiores inimigos do regime militar: os ex-governadores Leonel Brizola e Miguel Arraes. Encerrava-se, ali, um dos mais difíceis períodos de nossa história, e o Brasil pôde finalmente caminhar olhando para o futuro, mas sem jamais esquecer as lições aprendidas no passado. Em 1980, extinguiu-se o bipartidarismo que dividia o Congresso entre Arena e MDB; novos partidos foram criados, e a democracia começou a soprar seus ventos benéficos pelo país. O governo Figueiredo enfrentou uma grave crise econômica, com a inflação disparando de 45% ao mês para 230% e com o brutal aumento de nossa dívida externa, que rompeu a marca de 100 bilhões de dólares. Em 1983, no rastro da campanha da anistia, começou outra, agora pelas eleições diretas: “Diretas Já”. Os brasileiros não queriam mais que os governantes fossem escolhidos por votos indiretos e foram para as ruas exigindo que seu direito universal fosse devolvido. 19 . Tancredo Neves, o presidente que não chegou a tomar posse A proposta acabou sendo rejeitada pelo Congresso Nacional, que ainda tinha uma pequena maioria governista, mas a resposta foi contundente. Depois de uma campanha que empolgou o Brasil, o candidato oposicionista, Tancredo Neves, que tinha como vice na chapa José Sarney, bateu o candidato governista, Paulo Maluf, por 480 votos a 180. No entanto, não chegou a tomar posse. Um dia antes de receber a faixa presidencial, em 14 de março de 1985, Tancredo foi internado com fortes dores abdominais, vindo a falecer no dia 21 de abril. Àquela altura, o vice José Sarney já havia sido empossado para evitar qualquer ruptura no processo democrático e assumiu definitivamente o lugar de primeiro presidente civil desde os idos de 1964.

Muitos artistas tiveram suas carreiras vigia<strong>da</strong>s<br />

de perto pela censura: Geraldo Vandré,<br />

Vinicius de Moraes, Caetano Veloso, Gilberto<br />

Gil, Carlos Lyra. Mas nenhum deles sofreu um<br />

assédio tão constante quanto Chico Buarque.<br />

O jovem que conquistou o Brasil com a sua<br />

romântica e nostálgica marchinha A Ban<strong>da</strong><br />

endureceu o olhar à medi<strong>da</strong> que o regime<br />

também endurecia.<br />

16 . Apesar de Você, a música emblemática contra a ditadura<br />

Em 1969, seguindo o caminho de outros artistas,<br />

Chico decidiu sair do país para viver<br />

na Itália, retornando em 1970. Na época, sua<br />

composição Apesar de Você, conforme texto<br />

publicado no site do artista, “era uma resposta<br />

crítica ao regime ditatorial no qual<br />

o país ain<strong>da</strong> estava imerso”. Surpreendentemente,<br />

a música passaria incólume pela<br />

censura prévia e se tornaria uma espécie<br />

de hino <strong>da</strong> resistência à ditadura. Depois de<br />

vender cerca de 100 mil cópias, a canção foi<br />

censura<strong>da</strong> e o disco, retirado <strong>da</strong>s lojas.<br />

Mu<strong>da</strong>ram os presidentes, o cerco seguiu.<br />

Quando percebeu que bastava ter seu nome<br />

associado a uma música para que ela fosse<br />

censura<strong>da</strong> no todo ou em parte, Chico inventou<br />

um apelido, Julinho <strong>da</strong> Adelaide, e com<br />

ele gravou duas de suas mais irônicas composições:<br />

Acor<strong>da</strong> Amor e Jorge Maravilha.<br />

O último general<br />

Hoje você é quem man<strong>da</strong><br />

Falou, tá falado<br />

Não tem discussão<br />

A minha gente hoje an<strong>da</strong><br />

Falando de lado<br />

E olhando pro chão, viu<br />

Você que inventou esse estado<br />

E inventou de inventar<br />

To<strong>da</strong> a escuridão<br />

Você que inventou o pecado<br />

Esqueceu-se de inventar<br />

O perdão<br />

Apesar de você<br />

Amanhã há de ser<br />

Outro dia<br />

Apesar de Você<br />

(Chico Buarque de Holan<strong>da</strong>)<br />

17 . General<br />

Figueiredo, último<br />

presidente do<br />

regime militar<br />

Indicado para ser o sucessor de Ernesto Geisel,<br />

o general João Batista Figueiredo foi eleito<br />

indiretamente para a presidência <strong>da</strong> República<br />

com a missão de redemocratizar o país,<br />

<strong>da</strong>ndo continui<strong>da</strong>de à política de distensão<br />

inicia<strong>da</strong> por seu antecessor. Mas Figueiredo<br />

já assumiu tendo pela frente uma questão<br />

Ninguém segura este país<br />

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