No Compasso da História - MultiRio
No Compasso da História - MultiRio
No Compasso da História - MultiRio
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Tropicália<br />
196<br />
Na abertura de caminhos que se seguiu, Caetano<br />
e Gil lideraram o ramo musical do Tropicalismo,<br />
um movimento que tinha, entre suas<br />
propostas, a de derrubar fronteiras entre as<br />
diferentes artes e linguagens. Isso significou<br />
juntar como passageiros do mesmo barco o<br />
concretismo dos poetas paulistas Augusto<br />
e Haroldo de Campos e Décio Pignatari; a<br />
música erudita de vanguar<strong>da</strong> do compositor<br />
alemão Karlheinz Stockhausen, que influenciou<br />
o maestro Rogério Duprat, um dos arranjadores<br />
do Tropicalismo; o psicodelismo<br />
internacional dos americanos Jimi Hendrix e<br />
Janis Joplin; e as origens ditas cafonas <strong>da</strong> estética<br />
brasileira, que iam de Carmen Miran<strong>da</strong><br />
ao sentimental Vicente Celestino.<br />
O Tropicalismo se apropriou de elementos<br />
<strong>da</strong> cultura iconográfica pop e dos objetos<br />
do cotidiano: bandeiras e estan<strong>da</strong>rtes em<br />
cores vivas, bananeiras, araras colori<strong>da</strong>s e<br />
um pinguim em cima <strong>da</strong> geladeira.<br />
A canção de protesto, que teve uma de suas<br />
origens nos Centros de Cultura Popular <strong>da</strong><br />
UNE no início <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1960, também se<br />
propunha a romper com o elitismo na arte,<br />
mas foi a Tropicália que conseguiu fazê-lo,<br />
graças ao uso inteligente dos meios de comunicação<br />
<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de de massa: jornais,<br />
rádio e televisão. Os músicos tropicalistas<br />
chegaram a ter um programa semanal na TV<br />
Tupi chamado Divino Maravilhoso.<br />
14 . A Tropicália musical e alguns de seus ícones<br />
Penetrar na obra de arte<br />
O Movimento Tropicalista foi batizado a partir<br />
do Penetrável Tropicália de Hélio Oiticica,<br />
exposto no Museu de Arte Moderna do<br />
Rio, na mostra <strong>No</strong>va Objetivi<strong>da</strong>de Brasileira,<br />
que reuniu as novas tendências dos artistas<br />
plásticos <strong>da</strong> época.<br />
15 . Exposição Tropicália, em Londres, 1969<br />
<strong>No</strong> texto de apresentação, Oiticica homenageou<br />
o escritor Oswald de Andrade, um dos<br />
líderes <strong>da</strong> Semana de Arte Moderna de 1922<br />
e um dos teóricos <strong>da</strong> antropofagia, movimento<br />
que pretendia “engolir” to<strong>da</strong>s as influências<br />
para criar uma estética nova. Diz o texto:<br />
“Somos um povo à procura de uma caracterização<br />
cultural, o que nos diferencia do europeu,<br />
com seu peso cultural milenar, e do<br />
americano do norte, com suas solicitações<br />
superprodutivas (...). Aqui, subdesenvolvimento<br />
social significa culturalmente a procura<br />
de uma caracterização nacional, ou seja,<br />
nossa vontade construtiva (...). A antropofagia<br />
seria a defesa que possuímos contra tal<br />
domínio exterior e a principal arma criativa,<br />
essa vontade construtiva, o que não impediu<br />
to<strong>da</strong> uma espécie de colonialismo cultural,<br />
que de modo objetivo queremos hoje abolir”.<br />
O trabalho de Hélio Oiticica era um ambiente<br />
onde o público podia entrar e foi criado a<br />
partir de suas experiências com o samba e<br />
a arquitetura <strong>da</strong>s favelas cariocas. Segundo