No Compasso da História - MultiRio
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como candidato um político que fizera sua carreira meteórica apostando sempre na luta contra a corrupção: Jânio da Silva Quadros. Não há personagem semelhante na história política brasileira: em apenas 15 anos, ele foi eleito, sucessivamente, vereador, deputado estadual, prefeito da capital paulista e governador de São Paulo. Chegou à eleição de 1960, aos 43 anos, usando o mesmo mote de suas campanhas anteriores: varrer a sujeira da administração pública. Seu símbolo, a vassoura, rapidamente tomou conta do Brasil, tornando-se referência obrigatória de qualquer estudo sobre a história das campanhas políticas em nosso país. Varre, varre, varre, vassourinha Varre, varre a bandalheira Que o povo já está cansado De sofrer dessa maneira 7 . Jânio Quadros: o homem da vassoura Jingle da campanha de Jânio Quadros à presidência do Brasil Apesar da vitória contundente, com 5,6 milhões de votos, quase dois milhões a mais do que recebeu o general Lott, candidato do PTB, a eleição não foi uma conquista completa, pois Jânio não elegeu o vice de sua chapa, Milton Campos. Na época, a legislação eleitoral permitia que o vice-presidente fosse votado separadamente, e quem acompanhou Jânio a Brasília foi o candidato do PTB, João Goulart. Os dois maiores partidos do país à época estavam representados no governo brasileiro. Mas entre eles não haveria nenhum tipo de cooperação, e em pouco menos de sete meses a frágil democracia brasileira viveria um drama que levaria décadas para terminar. O barquinho no azul do mar Dia de luz, festa do sol E o barquinho a deslizar No macio azul do mar Tudo é verão e o amor se faz Num barquinho pelo mar Que desliza sem parar... 8 . Roberto Menescal e o violão de tantas composições o Barquinho (Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli) Longe das conflagrações políticas, a bossa nova avançava pelo fértil terreno da juventude mais abonada do Rio de Janeiro e de São Paulo, que, no final dos anos 1950, já não queria mais os padrões culturais e de comportamento de seus pais. A descoberta É sal, é sol, é sul 163
É sal, é sol, é sul 164 de uma música brasileira refinada e afinada com os novos tempos fazia a alegria de uma turma que tinha tempo e dinheiro para se dedicar a ela. Alguns apartamentos de classe média e de classe média alta em Copacabana e Ipanema ficaram famosos por receber turmas de jovens que se reuniam para tocar e cantar bossa nova. Havia um bom número de universitários entre eles, o que não quer dizer que talentos vindos de classes menos abastadas não frequentassem essas rodas. Um dos locais mais famosos era a residência das irmãs Danuza e Nara Leão, onde não era difícil encontrar Carlos Lyra, Chico Feitosa, Dori Caymmi e Roberto Menescal, por exemplo. Cresceu tanto o movimento que, em 1960, dois eventos marcados para o mesmo dia dividiram os amantes da bossa: a “Noite do Amor, do Sorriso e da Flor” e a “Noite do Sambalanço”, ambas em faculdades cariocas. 9 . Carlos Lyra: do CPC à bossa nova Uma das características mais importantes da bossa nova era que suas letras tinham uma leveza e um descompromisso muito diferente do que acontecia no samba-canção. A natureza, o amor idílico, a alegria de viver, tudo isso fazia um contraponto forte às angústias amorosas, marca registrada do samba-canção. Mesmo as dores de amor na bossa nova eram cantadas de um jeito sereno, como bem avaliou o maestro e professor Júlio Medaglia: “A prática era a do canto-falado ou do cantar baixinho, do texto bem pronunciado, do tom coloquial da narrativa musical, do acompanhamento e canto integrando-se mutuamente, em lugar da valorização da ‘grande voz’”. Se era golpe, acabou mal Vento virador no clarão do mar Vem sem raça e cor, quem viver verá Vindo a viração vai se anunciar Na sua voragem, quem vai ficar Quando a palma verde se avermelhar É o vento bravo O vento bravo Vento Bravo (Edu Lobo e Paulo César Pinheiro) Durante os poucos meses de seu mandato como presidente, Jânio Quadros não conseguiu em momento algum o apoio político de que precisava para implementar seu plano de governo. Instável emocionalmente e lutando contra o alcoolismo – sua filha Dirce Tutu Quadros revelou recentemente, em entrevista à Rádio Bandeirantes de São Paulo, que Jânio efetivamente era um alcoólico –, tomava decisões erráticas e até antagônicas. Como se afastou gradualmente da UDN, sofreu a incansável oposição de Carlos Lacerda, que, não podendo chamá-lo de corrupto, insistia que Jânio queria dar um golpe de Estado, fechando o Congresso para poder governar absoluto. O presidente era uma personalidade cheia de contradições. Um exemplo disso é que, anticomunista, deu a Che Guevara a Medalha da Ordem do Cruzeiro do Sul. Entre as suas realizações, criou as primeiras reservas indígenas; instalou centenas de processos
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como candi<strong>da</strong>to um político que fizera sua<br />
carreira meteórica apostando sempre na luta<br />
contra a corrupção: Jânio <strong>da</strong> Silva Quadros.<br />
Não há personagem semelhante na história<br />
política brasileira: em apenas 15 anos, ele<br />
foi eleito, sucessivamente, vereador, deputado<br />
estadual, prefeito <strong>da</strong> capital paulista<br />
e governador de São Paulo. Chegou à eleição<br />
de 1960, aos 43 anos, usando o mesmo<br />
mote de suas campanhas anteriores: varrer<br />
a sujeira <strong>da</strong> administração pública. Seu símbolo,<br />
a vassoura, rapi<strong>da</strong>mente tomou conta<br />
do Brasil, tornando-se referência obrigatória<br />
de qualquer estudo sobre a história <strong>da</strong>s<br />
campanhas políticas em nosso país.<br />
Varre, varre, varre, vassourinha<br />
Varre, varre a ban<strong>da</strong>lheira<br />
Que o povo já está cansado<br />
De sofrer dessa maneira<br />
7 . Jânio Quadros:<br />
o homem<br />
<strong>da</strong> vassoura<br />
Jingle <strong>da</strong> campanha de Jânio Quadros<br />
à presidência do Brasil<br />
Apesar <strong>da</strong> vitória contundente, com 5,6 milhões<br />
de votos, quase dois milhões a mais<br />
do que recebeu o general Lott, candi<strong>da</strong>to<br />
do PTB, a eleição não foi uma conquista<br />
completa, pois Jânio não elegeu o vice<br />
de sua chapa, Milton Campos. Na época, a<br />
legislação eleitoral permitia que o vice-presidente<br />
fosse votado separa<strong>da</strong>mente, e quem<br />
acompanhou Jânio a Brasília foi o candi<strong>da</strong>to<br />
do PTB, João Goulart. Os dois maiores partidos<br />
do país à época estavam representados<br />
no governo brasileiro. Mas entre eles não<br />
haveria nenhum tipo de cooperação, e em<br />
pouco menos de sete meses a frágil democracia<br />
brasileira viveria um drama que levaria<br />
déca<strong>da</strong>s para terminar.<br />
O barquinho no azul do mar<br />
Dia de luz, festa do sol<br />
E o barquinho a deslizar<br />
<strong>No</strong> macio azul do mar<br />
Tudo é verão e o amor se faz<br />
Num barquinho pelo mar<br />
Que desliza sem parar...<br />
8 . Roberto<br />
Menescal e o<br />
violão de tantas<br />
composições<br />
o Barquinho<br />
(Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli)<br />
Longe <strong>da</strong>s conflagrações políticas, a bossa<br />
nova avançava pelo fértil terreno <strong>da</strong> juventude<br />
mais abona<strong>da</strong> do Rio de Janeiro e de<br />
São Paulo, que, no final dos anos 1950, já<br />
não queria mais os padrões culturais e de<br />
comportamento de seus pais. A descoberta<br />
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