No Compasso da História - MultiRio

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17.04.2013 Views

de mandioca – e teciam redes e cestas. Os homens derrubavam pequenos trechos da mata e preparavam a terra para o plantio. Também caçavam, pescavam e defendiam a aldeia. As crianças ajudavam os pais em algumas atividades. Ao longo de séculos, aqueles que teriam sido os primeiros brasileiros foram sucedendo-se e reproduzindo seus hábitos de cultivar, de guerrear e, também, a habilidade com a cerâmica e com a arte plumária. Quando da chegada da esquadra de Pedro Álvares Cabral, o Brasil tinha cerca de 900 povos indígenas, entre eles: aruaque, caribe, tamoio, tupiniquim, tupinambá, carijó, guaianá, aimoré, pareci, caiapó, guaicuru, bororo, botocudo, caeté e pataxó. Eram de seis a nove milhões de pessoas falando 300 línguas diferentes. 4 . Cocares. Aquarela de Jean-Baptiste Debret Os colonizadores portugueses dividiram os indígenas em grupos e lhes deram nomes pelos quais eles, originalmente, não se identificavam. Por isso, a mesma sociedade indígena pode ser conhecida por nomes diferentes. Algumas até tiveram seus nomes mudados ao longo dos anos. Brasil: duas origens da palavra Índia, seus cabelos nos ombros caídos Negros como a noite que não tem luar Seus lábios de rosa para mim sorrindo E a doce meiguice desse seu olhar Índia da pele morena Sua boca pequena eu quero beijar Índia, sangue tupi, tem o cheiro da flor Vem, eu quero lhe dar Todo o meu grande amor Índia (José Asunción Flores e Manuel Ortiz Guerrero, versão de José Fortuna) O nome “índio” teria surgido porque, ao chegar à América, Cristóvão Colombo pensou que estivesse na Índia e começou a chamar de índios os que viviam aqui. Já Brazil (como se escrevia antigamente) vem da palavra celta bress, que deu origem ao verbo to bless (abençoar), em inglês. Desde 1531, a expressão Hy Brazil aparecia em vários mapas europeus, referindo-se a uma ilha mitológica no Oceano Atlântico que se afastava no horizonte à medida que os navegadores se aproximavam dela. Admite- -se, também, outra origem para o nome do país: viria do francês bersil, que depois virou brésil, significando “brasa”. Essa era a cor da principal riqueza brasileira que os primeiros europeus a chegar aqui encontraram: o pau-brasil. Enquanto isso, na Europa Entre 1400 e 1500, o continente europeu viveu uma intensa transição. Em várias localidades, os Estados nacionais fortaleciam-se. Reis e rainhas (e não mais os senhores de terra medievais) detinham o poder. Raízes indígenas 13

Raízes indígenas 14 Mas a Itália, dividida em cidades-estados autônomas, mantinha uma forma de vida política que se contrapunha à monarquia hereditária como a forma correta de governo. O ideal de liberdade converteu, assim, muitas cidades italianas em repúblicas independentes, urbanas e comerciais, cujo poder estava nas mãos de cônsules/príncipes. Para alguns historiadores, essa nova forma de organização política e social ocorreu paralelamente à ascensão de um movimento cultural capaz de afetar profundamente a vida intelectual europeia: o Renascimento, que começou na Itália no fim da Idade Média e se estendeu pela Europa ao longo do século XVI, afetando todos os campos da vida e do conhecimento do homem. 5 . Cravo e pimenta: especiarias orientais Tempos de prosperidade costumam estimular as aventuras. Assim, durante os séculos XV e XVI, portugueses e espanhóis lançaram-se aos oceanos Pacífico, Índico e Atlântico, tentando descobrir uma nova rota marítima para as Índias e encontrar novas terras. O grande objetivo era chegar ao Oriente, onde encontrariam as especiarias. A mais preciosa delas era a pimenta, que os indianos só aceitavam trocar por ouro. Durante o rigoroso inverno europeu, não havia como alimentar o gado, e quase todos os rebanhos foram sacrificados. A carne salgada era consumida por vários meses, e a pimenta e o cravo ajudavam a melhorar seu sabor. Mas viajar naquele tempo nas frágeis naus e caravelas era expor-se ao risco. Muitos navegadores perderam-se e morreram nessa empreitada. Em 1488, Bartolomeu Dias transpôs o Cabo da Boa Esperança; dez anos depois, Vasco da Gama chegou às Índias; e, no dia 22 de abril de 1500, a esquadra de Pedro Álvares Cabral alcançou o Brasil. Em certo dia de abril Foi quando o sol era Coaraci Quando a terra era de Tupã Quando o povo falou tupi Foram mais, muito mais Mais de dez, mais de cem Talvez mais de mil Carijós, Maués, Guarás, Carajás, Cariris Parecis, Tupinambás, Bororós, Guaranis Guaracás, Arauás Serão mais mesmo sós Pois são mais do que nós Donos do Brasil Donos do Brasil (Fagner, Nonato Luiz e Paulinho Tapajós) Foi um momento de emoção para os marinheiros barbudos, que passaram semanas confinados a bordo e, de repente, viram-se diante dos tupiniquins, que, por sua vez, ficaram perplexos com os homens brancos. “Eram pardos, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Todos nus. Não fazem o menor caso de encobrir ou de mostrar suas vergonhas; e nisso têm tanta inocência como em mostrar o rosto. Nas mãos, traziam arcos com suas flechas. Nicolau Coelho lhes fez sinal que pousassem os arcos. E eles os pousaram.” (Trecho da Carta de Pero Vaz de Caminha, escrivão da frota de Pedro Álvares Cabral, em 1º de maio de 1500.)

Raízes indígenas<br />

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Mas a Itália, dividi<strong>da</strong> em ci<strong>da</strong>des-estados<br />

autônomas, mantinha uma forma de vi<strong>da</strong><br />

política que se contrapunha à monarquia<br />

hereditária como a forma correta de governo.<br />

O ideal de liber<strong>da</strong>de converteu, assim,<br />

muitas ci<strong>da</strong>des italianas em repúblicas independentes,<br />

urbanas e comerciais, cujo poder<br />

estava nas mãos de cônsules/príncipes.<br />

Para alguns historiadores, essa nova forma<br />

de organização política e social ocorreu paralelamente<br />

à ascensão de um movimento<br />

cultural capaz de afetar profun<strong>da</strong>mente a<br />

vi<strong>da</strong> intelectual europeia: o Renascimento,<br />

que começou na Itália no fim <strong>da</strong> I<strong>da</strong>de Média<br />

e se estendeu pela Europa ao longo do<br />

século XVI, afetando todos os campos <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong> e do conhecimento do homem.<br />

5 . Cravo e pimenta: especiarias orientais<br />

Tempos de prosperi<strong>da</strong>de costumam estimular<br />

as aventuras. Assim, durante os séculos<br />

XV e XVI, portugueses e espanhóis lançaram-se<br />

aos oceanos Pacífico, Índico e Atlântico,<br />

tentando descobrir uma nova rota marítima<br />

para as Índias e encontrar novas terras.<br />

O grande objetivo era chegar ao Oriente,<br />

onde encontrariam as especiarias. A mais<br />

preciosa delas era a pimenta, que os indianos<br />

só aceitavam trocar por ouro. Durante o<br />

rigoroso inverno europeu, não havia como<br />

alimentar o gado, e quase todos os rebanhos<br />

foram sacrificados. A carne salga<strong>da</strong><br />

era consumi<strong>da</strong> por vários meses, e a pimenta<br />

e o cravo aju<strong>da</strong>vam a melhorar seu sabor.<br />

Mas viajar naquele tempo nas frágeis naus e<br />

caravelas era expor-se ao risco. Muitos navegadores<br />

perderam-se e morreram nessa empreita<strong>da</strong>.<br />

Em 1488, Bartolomeu Dias transpôs<br />

o Cabo <strong>da</strong> Boa Esperança; dez anos<br />

depois, Vasco <strong>da</strong> Gama chegou às Índias; e,<br />

no dia 22 de abril de 1500, a esquadra de<br />

Pedro Álvares Cabral alcançou o Brasil.<br />

Em certo dia de abril<br />

Foi quando o sol era Coaraci<br />

Quando a terra era de Tupã<br />

Quando o povo falou tupi<br />

Foram mais, muito mais<br />

Mais de dez, mais de cem<br />

Talvez mais de mil<br />

Carijós, Maués, Guarás, Carajás, Cariris<br />

Parecis, Tupinambás, Bororós, Guaranis<br />

Guaracás, Arauás<br />

Serão mais mesmo sós<br />

Pois são mais do que nós<br />

Donos do Brasil<br />

Donos do Brasil<br />

(Fagner, <strong>No</strong>nato Luiz e Paulinho Tapajós)<br />

Foi um momento de emoção para os marinheiros<br />

barbudos, que passaram semanas<br />

confinados a bordo e, de repente, viram-se<br />

diante dos tupiniquins, que, por sua vez, ficaram<br />

perplexos com os homens brancos.<br />

“Eram pardos, de bons rostos e bons narizes,<br />

bem feitos. Todos nus. Não fazem o menor<br />

caso de encobrir ou de mostrar suas vergonhas;<br />

e nisso têm tanta inocência como<br />

em mostrar o rosto. Nas mãos, traziam arcos<br />

com suas flechas. Nicolau Coelho lhes<br />

fez sinal que pousassem os arcos. E eles os<br />

pousaram.” (Trecho <strong>da</strong> Carta de Pero Vaz de<br />

Caminha, escrivão <strong>da</strong> frota de Pedro Álvares<br />

Cabral, em 1º de maio de 1500.)

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