No Compasso da História - MultiRio

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17.04.2013 Views

Presidente bossa-nova Bossa nova mesmo é ser presidente Desta terra descoberta por Cabral Para tanto basta ser tão simplesmente Simpático, risonho, original. Depois desfrutar da maravilha De ser o presidente do Brasil, Voar da Velhacap pra Brasília, Ver a alvorada e voar de volta ao Rio Presidente Bossa-Nova (Juca Chaves) 7 . Juscelino Kubitschek, empossado presidente em 1955 Depois de uma breve presidência sob o comando do vice Café Filho, o Brasil teve novas eleições, em 1955, com vitória de Juscelino Kubitschek, tendo como vice-presidente João Goulart. Apesar dos recentes traumas vividos nos cinco primeiros anos da década, JK tomou posse em 31 de janeiro de 1956 com muito otimismo, apresentando um programa de metas audaciosas para fazer o Brasil crescer 50 anos em cinco. O clima era de distensão, e o partido do presidente, o PSD, de natureza conciliadora, conseguiu unir boa parte do Congresso. Os anos JK se caracterizaram por uma rápida expansão da industrialização, com destaque para o parque automotivo, além de um expressivo aumento do consumo interno. Com tantas novidades, JK acabou apelidado de “presidente bossa-nova”. Bossa nova? Então, está na hora de falar mais um pouco da música brasileira. Quando o então presidente Dutra fechou os cassinos, em 1946, encerrou-se no Rio de Janeiro um ciclo boêmio que tinha na Lapa seu reduto maior. Mas os anos 1950 assistiram a uma migração para outro recanto, bem mais idílico: Copacabana. O bairro ganhou uma série de boates e casas de shows onde músicos e intérpretes cultuavam um novo gênero musical: o samba-canção. Lento, com letras que falavam quase sempre de desilusões amorosas, o samba-canção fez a fama de cantoras como Maysa e Dolores Duran. Até mesmo compositores que criticavam o novo gênero, como Ary Barroso, se renderam e produziram grandes sucessos, como Risque e Folha Morta. Só que dentro desse mesmo gênero estava em gestação uma incrível revolução em nossa música: a bossa nova. 8 . Maysa, cantora e compositora, uma das principais intérpretes do samba-canção, o gênero musical que embalava as noites cariocas Anos 50 – De Getúlio a JK 147

Anos 50 – De Getúlio a JK 148 Para Ruy Castro e outros pesquisadores, a primeira menção à palavra “bossa” se dá no samba Coisas Nossas, de Noel Rosa, na década de 1930. O neologismo ficou rondando por aí até que ressurgiu nos anos 1940, aliado à palavra “nova”, para designar o samba de breque, aquele que tem paradas repentinas nas quais se encaixam falas. No começo dos anos 1950, Dick Farney e Lúcio Alves, precedidos por Mário Reis, inauguraram um jeito intimista e suave de cantar, muito diferente do estilo grandiloquente de cantores como Francisco Alves e Orlando Silva. Não se deve desprezar aí a influência do jazz, que formou muitos dos grandes músicos que essa década produziu. Por fim, temos a participação decisiva de João Gilberto, considerado o papa da bossa nova e reverenciado dos Estados Unidos ao Japão. Tudo isso era novo, tudo tinha bossa, era um Brasil que se reconhecia feliz e criativo. 9 . Capa do álbum Chega de Saudade, o primeiro LP de João Gilberto, lançado em 1959 O baiano João Gilberto Prado Pereira de Oliveira desembarcou no Rio com seu violão debaixo do braço, em 1951, e, em 1958, já acompanhava Elizeth Cardoso em um LP que os críticos consideram um dos marcos fundadores da bossa nova – Canção do Amor Demais. Mas foi com o disco Chega de Saudade, também em 1958, que ele mostrou ao mundo que havia chegado para ficar entre os grandes mestres da música popular brasileira. Sua batida única ao violão, seu jeito absolutamente relaxado de cantar, seu repertório com pérolas de todas as épocas de nossa música, somados a um temperamento arisco que detesta a celebridade, fizeram dele um dos maiores personagens de nossa história cultural. Na esteira de João Gilberto, veio uma incrível geração de intérpretes, músicos, compositores e arranjadores que colocaram a música brasileira em um patamar internacional que ela nunca havia conhecido, nem mesmo com Carmen Miranda e sua incrível carreira em Hollywood. O crítico e pesquisador Tárik de Souza destaca alguns desses grandes músicos: “De Durval Ferreira à precursora Silvia Telles, Leny Andrade e as primeiras formações instrumentais da nova tendência lideradas por gente como Oscar Castro Neves, Sérgio Mendes, Luis Carlos Vinhas, J. T. Meirelles, além do instrumental/vocal Tamba Trio, que ao lado do Bossa 3 daria início a uma febre de conjuntos de piano, baixo e bateria. Foi um momento de efervescência instrumental com o aparecimento de músicos novos como Paulo Moura, Tenório Junior, Dom Um Romão, Milton Banana, Edson Maciel, Raul de Souza e a ascensão de maestros arranjadores como Moacyr Santos e Eumir Deodato”. Capítulo à parte nessa bela história, Antonio Carlos Jobim merece um destaque especial pela sua obra, seja com Newton Mendonça, seja com Vinicius de Moraes. Quando a bossa nova chegou, encontrou um Tom Jobim maduro e em plena atividade: em 1956, ele e Vinicius de Moraes já haviam composto a trilha da peça Orfeu do Carnaval, um prenúncio do que estava para vir. Dois dos maiores sucessos do disco de estreia de João Gilberto eram parceria de Tom com Newton Mendonça – Desafinado – e com Vinicius – Chega de Saudade. Garota de Ipanema, também com Vinicius, tem mais de 150 gravações, incluindo-se na lista astros como Frank Sinatra,

Presidente bossa-nova<br />

Bossa nova mesmo é ser presidente<br />

Desta terra descoberta por Cabral<br />

Para tanto basta ser tão simplesmente<br />

Simpático, risonho, original.<br />

Depois desfrutar <strong>da</strong> maravilha<br />

De ser o presidente do Brasil,<br />

Voar <strong>da</strong> Velhacap pra Brasília,<br />

Ver a alvora<strong>da</strong> e voar de volta ao Rio<br />

Presidente Bossa-<strong>No</strong>va<br />

(Juca Chaves)<br />

7 . Juscelino Kubitschek, empossado presidente<br />

em 1955<br />

Depois de uma breve presidência sob o<br />

comando do vice Café Filho, o Brasil teve<br />

novas eleições, em 1955, com vitória de<br />

Juscelino Kubitschek, tendo como vice-presidente<br />

João Goulart. Apesar dos recentes<br />

traumas vividos nos cinco primeiros anos <strong>da</strong><br />

déca<strong>da</strong>, JK tomou posse em 31 de janeiro de<br />

1956 com muito otimismo, apresentando um<br />

programa de metas au<strong>da</strong>ciosas para fazer<br />

o Brasil crescer 50 anos em cinco. O clima<br />

era de distensão, e o partido do presidente,<br />

o PSD, de natureza conciliadora, conseguiu<br />

unir boa parte do Congresso.<br />

Os anos JK se caracterizaram por uma rápi<strong>da</strong><br />

expansão <strong>da</strong> industrialização, com destaque<br />

para o parque automotivo, além de<br />

um expressivo aumento do consumo interno.<br />

Com tantas novi<strong>da</strong>des, JK acabou apeli<strong>da</strong>do<br />

de “presidente bossa-nova”. Bossa<br />

nova? Então, está na hora de falar mais um<br />

pouco <strong>da</strong> música brasileira.<br />

Quando o então presidente Dutra fechou os<br />

cassinos, em 1946, encerrou-se no Rio de Janeiro<br />

um ciclo boêmio que tinha na Lapa seu<br />

reduto maior. Mas os anos 1950 assistiram a<br />

uma migração para outro recanto, bem mais<br />

idílico: Copacabana. O bairro ganhou uma<br />

série de boates e casas de shows onde músicos<br />

e intérpretes cultuavam um novo gênero<br />

musical: o samba-canção. Lento, com letras<br />

que falavam quase sempre de desilusões<br />

amorosas, o samba-canção fez a fama de<br />

cantoras como Maysa e Dolores Duran. Até<br />

mesmo compositores que criticavam o novo<br />

gênero, como Ary Barroso, se renderam e<br />

produziram grandes sucessos, como Risque<br />

e Folha Morta. Só que dentro desse mesmo<br />

gênero estava em gestação uma incrível revolução<br />

em nossa música: a bossa nova.<br />

8 . Maysa, cantora e compositora, uma <strong>da</strong>s principais intérpretes<br />

do samba-canção, o gênero musical que embalava<br />

as noites cariocas<br />

Anos 50 – De Getúlio a JK<br />

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