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No Compasso da História - MultiRio

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14 . Wilson Batista<br />

Brasil (Ary Barroso) e<br />

Ó, Seu Oscar, de Wilson<br />

Batista e Ataulfo<br />

Alves, cuja letra (a<br />

seguir) era um convite<br />

(segundo a censura)<br />

à imorali<strong>da</strong>de:<br />

Cheguei cansado do trabalho<br />

Logo a vizinha me falou:<br />

– Oh! seu Oscar<br />

Tá fazendo meia hora<br />

Que sua mulher foi-se embora<br />

E um bilhete deixou<br />

O bilhete assim dizia:<br />

Não posso mais<br />

Eu quero é viver na orgia<br />

Pior: quem deu a vitória ao samba-malandragem<br />

foi na<strong>da</strong> menos do que Villa-Lobos,<br />

o compositor erudito considerado um ícone<br />

<strong>da</strong> cultura nacional pelo Estado <strong>No</strong>vo! O<br />

samba foi um sucesso e não parava de tocar<br />

nas rádios, mas os censores não se conformaram:<br />

depois de tudo o que se fez pelo<br />

trabalho, que negócio era esse de exaltação<br />

à malandragem, à boemia e à vadiagem?<br />

Na época, o DIP publicava uma revista que<br />

se chamava Cultura Política, e um artigo<br />

assinado por Álvaro Salgado tentava remediar<br />

a situação: “O samba, que traz (...) a<br />

marca do sensualismo, é feio, indecente,<br />

desarmônico e arrítmico. Mas (...) sejamos<br />

benévolos. Lancemos mão <strong>da</strong> inteligência<br />

e (...) tentemos, devagarinho, torná-lo mais<br />

educado e social”. Tesoura na mão, o DIP<br />

advertia: ou os compositores mu<strong>da</strong>vam<br />

o rumo <strong>da</strong>quela prosa, ou... Bom mesmo<br />

para o governo era o samba-exaltação,<br />

como as pérolas preciosas compostas por<br />

Ary Barroso, entre elas a Aquarela do Brasil,<br />

derrota<strong>da</strong> no tal concurso, mas que a endiabra<strong>da</strong><br />

Carmen Miran<strong>da</strong> eternizou no filme<br />

Entre a Loura e a Morena.<br />

Quem trabalha<br />

É quem tem razão<br />

Eu digo<br />

E não tenho medo<br />

De errar<br />

Quem trabalha...<br />

O Bonde São Januário<br />

Leva mais um otário (verso original)<br />

Sou eu<br />

Que vou trabalhar<br />

Bonde São Januário<br />

(Wilson Batista e Ataulfo Alves)<br />

Outro exemplo clássico de censura aconteceu<br />

com o Bonde São Januário. Como assim,<br />

quem trabalha é otário? A crítica social embuti<strong>da</strong><br />

no verso não passou despercebi<strong>da</strong><br />

pelo DIP, que exigiu modificações para que a<br />

música pudesse ser grava<strong>da</strong>. Wilson Batista e<br />

Ataulfo não tiveram escolha: trocaram a palavra<br />

“otário” por “operário”. E vi<strong>da</strong> que segue...<br />

15 . O bonde de São Januário, que serviu de inspiração para a<br />

música de mesmo nome, de Wilson Batista e Ataulfo Alves<br />

Era Vargas 1 – A Era do Rádio<br />

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