No Compasso da História - MultiRio
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do caminho havia a Revolução de 1930, que levou Getúlio à chefia da nação. A princípio, Vargas assumiu o poder como “chefe do governo provisório”, conduzindo o país por meio de decretos. Deles, nasceram a Ordem dos Advogados do Brasil, o Departamento de Aviação Civil, o Departamento Nacional do Café, o Departamento de Correios e Telégrafos (atual ECT), o Instituto Nacional do Açúcar e do Álcool, o Instituto Nacional de Estatística (atual IBGE), a regulação e o ordenamento do Ensino Superior, o primeiro Código Florestal, a carteira de trabalho, o horário de verão e a jornada de trabalho de oito horas diárias, entre muitas outras providências de caráter modernizador. 11 . Revolução de 1930, que pôs fim à Primeira República e levou Getúlio Vargas a presidir o Brasil Em 1932, São Paulo revoltou-se contra o que considerava uma usurpação do poder, chefiando a Revolução Constitucionalista e exigindo eleições para uma Assembleia que daria uma nova Constituição ao Brasil. A reação de Vargas foi impiedosa, chegando mesmo a bombardear a capital paulista. Foram quase três meses de combates, de 9 de julho a 4 de outubro de 1932, que terminaram com a rendição dos revoltosos e deixaram cerca de 2.200 mortos, segundo dados oficiais. Em 1934, foi instalada uma Assembleia Constituinte, pois o governo provisório já mostrava esgotamento diante das forças vivas da política. No dia seguinte à promulgação da nova Constituição, 17 de julho de 1934, em eleição indireta, o Congresso Nacional elegeu Getúlio Vargas presidente da República. E foi como presidente eleito que Vargas dirigiu o Brasil até 10 de novembro de 1937, quando, por meio de um golpe de Estado, instituiu, então, o Estado Novo. O Estado Novo No dia do golpe de Estado, Vargas fez um pronunciamento em rede nacional de rádio, determinando o fechamento do Congresso Nacional e a outorga de uma nova Constituição. Com ela, obteve o controle total do Poder Executivo e a permissão de nomear, para os estados, interventores a quem deu ampla autonomia para a tomada de decisões. Mais uma vez, os brasileiros se uniam ao redor do rádio para saber as novidades! A nova Constituição tinha nítidas tendências autoritárias, tocada pelos ventos do fascismo que há muito já assombravam a Europa. Em 1938, criado pelo Departamento Nacional de Propaganda, entrou no ar o programa radiofônico A Hora do Brasil, com três finalidades: informativa, cultural e cívica. Na programação musical, a grande maioria do acervo era de compositores nacionais. Em 1939, o Departamento Nacional de Propaganda foi transformado em Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), inspirado em modelos de outras ditaduras, basicamente o autoritarismo alemão, e lastreado em duas atividades – organização e publicidade. O DIP estimulava o culto à personalidade de Vargas, difundia a ideologia estadonovista e as realizações governamentais, sendo o porta-voz oficial do regime. Atuava, ainda, na censura aos jornais, às revistas, aos livros, ao cinema, ao rádio e, muito de perto, aos compositores populares. Ali, começava uma relação que pode ser definida como atração e repulsa em momentos alternados. Era Vargas 1 – A Era do Rádio 119
Era Vargas 1 – A Era do Rádio 120 A crítica política e social, com maior ou menor intensidade, sempre esteve presente na música popular brasileira a partir dos anos 1920. Das marchinhas de carnaval aos sambas de Noel Rosa, a voz do povo ecoava no sentido de reclamar das condições de vida ou apontar o dedo para as mazelas do governo. O advento do rádio não ia deixar de repercutir nessa área, e os censores do DIP estavam bem atentos a isso. Mas o lado populista de Vargas também tinha seus truques, fechando uma porta com a mão direita para abrir janelas com a esquerda... 12 . O presidente Getúlio Vargas, em Petrópolis, conversa com duas crianças que estão passeando com a mãe Caipira, pode; malandro, nem pensar! Um dos maiores sucessos do rádio no final dos anos 1930 foi a dupla caipira Alvarenga e Ranchinho (bem diferente do sertanejo-country de hoje em dia), que fazia uma “moda de viola” (gênero musical) bem-humorada para criticar as grandes figuras políticas. Fingindo uma ingenuidade que de boba não tinha nada, os dois falavam de assuntos que quase sempre eram proibidos na mídia. E, volta e meia, iam cantar no xilindró (era a gíria para a cadeia na época). Até que um dia, a esposa de Getúlio, dona Darcy Vargas, fã de Alvarenga e Ranchinho, convidou-os para um sarau no Palácio do Catete. Longe de seus assessores e censores, Getúlio deu boas gargalhadas com a dupla, que nunca mais viu o sol nascer quadrado. 13 . Capa do álbum Raízes Sertanejas, da dupla Alvarenga e Ranchinho, lançado no final dos anos 1920. A dupla era conhecida por satirizar a política da época Do jeito que nós vai indo Com as coisa tudo subindo Eu num sei como há de ser Pra falar a verdade, moço Essa vida tá um osso Bem duro da gente roer Sobe arroz, sobe o feijão, A batata e o macarrão Dum jeito que não se atura Tudo sobe inté a taxa No entanto só o que baixa Defunto na sepultura tá tudo Subindo (Alvarenga e Ranchinho) É interessante notar que, apesar de ser muito crítica, a moda de viola caipira recebeu a aprovação presidencial, mas o culto ao “malandro” não teve a mesma sorte. Em 1940, o DIP promoveu um concurso de música transmitido ao vivo, e na fase final estavam em confronto o samba-exaltação Aquarela do
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A crítica política e social, com maior ou menor<br />
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música popular brasileira a partir dos anos<br />
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de <strong>No</strong>el Rosa, a voz do povo ecoava<br />
no sentido de reclamar <strong>da</strong>s condições de<br />
vi<strong>da</strong> ou apontar o dedo para as mazelas do<br />
governo. O advento do rádio não ia deixar<br />
de repercutir nessa área, e os censores do<br />
DIP estavam bem atentos a isso. Mas o lado<br />
populista de Vargas também tinha seus truques,<br />
fechando uma porta com a mão direita<br />
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12 . O presidente Getúlio Vargas, em Petrópolis, conversa<br />
com duas crianças que estão passeando com a mãe<br />
Caipira, pode;<br />
malandro, nem pensar!<br />
Um dos maiores sucessos do rádio no final<br />
dos anos 1930 foi a dupla caipira Alvarenga<br />
e Ranchinho (bem diferente do sertanejo-country<br />
de hoje em dia), que fazia uma<br />
“mo<strong>da</strong> de viola” (gênero musical) bem-humora<strong>da</strong><br />
para criticar as grandes figuras políticas.<br />
Fingindo uma ingenui<strong>da</strong>de que de boba<br />
não tinha na<strong>da</strong>, os dois falavam de assuntos<br />
que quase sempre eram proibidos na mídia.<br />
E, volta e meia, iam cantar no xilindró (era<br />
a gíria para a cadeia na época). Até que um<br />
dia, a esposa de Getúlio, dona Darcy Vargas,<br />
fã de Alvarenga e Ranchinho, convidou-os<br />
para um sarau no Palácio do Catete. Longe<br />
de seus assessores e censores, Getúlio deu<br />
boas gargalha<strong>da</strong>s com a dupla, que nunca<br />
mais viu o sol nascer quadrado.<br />
13 . Capa do álbum Raízes Sertanejas, <strong>da</strong> dupla Alvarenga<br />
e Ranchinho, lançado no final dos anos 1920. A dupla era<br />
conheci<strong>da</strong> por satirizar a política <strong>da</strong> época<br />
Do jeito que nós vai indo<br />
Com as coisa tudo subindo<br />
Eu num sei como há de ser<br />
Pra falar a ver<strong>da</strong>de, moço<br />
Essa vi<strong>da</strong> tá um osso<br />
Bem duro <strong>da</strong> gente roer<br />
Sobe arroz, sobe o feijão,<br />
A batata e o macarrão<br />
Dum jeito que não se atura<br />
Tudo sobe inté a taxa<br />
<strong>No</strong> entanto só o que baixa<br />
Defunto na sepultura<br />
tá tudo Subindo<br />
(Alvarenga e Ranchinho)<br />
É interessante notar que, apesar de ser muito<br />
crítica, a mo<strong>da</strong> de viola caipira recebeu a<br />
aprovação presidencial, mas o culto ao “malandro”<br />
não teve a mesma sorte. Em 1940, o<br />
DIP promoveu um concurso de música transmitido<br />
ao vivo, e na fase final estavam em<br />
confronto o samba-exaltação Aquarela do