No Compasso da História - MultiRio
No Compasso da História - MultiRio
No Compasso da História - MultiRio
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
A frase “Samba é como passarinho, é de<br />
quem pegar”, que lhe é atribuí<strong>da</strong>, mostra<br />
como não se ligava para o tema dos direitos<br />
autorais. Sinhô fazia questão de carimbar<br />
ca<strong>da</strong> uma de suas partituras com seu nome<br />
e sua assinatura – não sem antes levá-las ao<br />
terreiro de candomblé que frequentava, para<br />
que seu pai de santo as abençoasse.<br />
Jura, jura, jura<br />
Pelo Senhor<br />
Jura pela imagem<br />
Da Santa Cruz do Redentor<br />
Pra ter valor a tua jura<br />
Jura, jura<br />
De coração<br />
Para que um dia<br />
Eu possa <strong>da</strong>r-te o amor<br />
Sem mais pensar na ilusão<br />
Jura<br />
(Sinhô)<br />
Segundo o crítico José Ramos Tinhorão, Sinhô<br />
teria sido o ver<strong>da</strong>deiro criador <strong>da</strong> bati<strong>da</strong><br />
<strong>da</strong> bossa nova – lá pelos idos de 1920! –,<br />
quando ensinava violão para o cantor Mário<br />
Reis. Farrista, boêmio, adorava patrocinar<br />
festas nos cabarés que frequentava e foi um<br />
dos mais divertidos compositores <strong>da</strong>quela<br />
leva, que saiu direto <strong>da</strong> casa <strong>da</strong> Tia Ciata<br />
para a história <strong>da</strong> música carioca.<br />
Cabe destacar o contato produtivo estabelecido,<br />
na época, entre artistas e intelectuais<br />
com alguns de nossos sambistas. Afonso<br />
Arinos e Hermes Fontes frequentavam os<br />
compositores populares e os cafés <strong>da</strong> Lapa.<br />
Darius Milhaud estabeleceu relações pessoais<br />
com Pixinguinha e Donga, inspirando-se<br />
nas composições de ambos para montar musicais<br />
em Paris. A moderni<strong>da</strong>de carioca se<br />
ligava mais aos círculos boêmios do que a<br />
discussões intelectuais.<br />
13 . Coletânea <strong>No</strong>sso Sinhô do Samba, lança<strong>da</strong> pelo projeto<br />
Almirante, <strong>da</strong> Funarte<br />
Uma semana para<br />
a arte moderna<br />
Enfunando os papos,<br />
Saem <strong>da</strong> penumbra,<br />
Aos pulos, os sapos.<br />
A luz os deslumbra.<br />
Em ronco que aterra,<br />
Berra o sapo-boi:<br />
– “Meu pai foi à guerra!”<br />
– “Não foi!” – “Foi!” – “Não foi!”.<br />
O sapo-tanoeiro,<br />
Parnasiano aguado,<br />
Diz: –“Meu cancioneiro<br />
É bem martelado”.<br />
os Sapos<br />
(Manuel Bandeira)<br />
Se, no Rio de Janeiro, o samba ia espalhando<br />
suas raízes pela ci<strong>da</strong>de, em São Paulo, outro<br />
tipo de efervescência cultural agitava a capital.<br />
Desde o começo <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1910, já se<br />
1889: Nasce a República – Do samba ao modernismo<br />
107