No Compasso da História - MultiRio
No Compasso da História - MultiRio
No Compasso da História - MultiRio
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
1889: Nasce a República – Do samba ao modernismo<br />
106<br />
produzido pelo maestro Leopold Stokowski.<br />
Depois de um período de ostracismo, voltou<br />
a se apresentar em shows ao vivo a partir de<br />
1950 e continuou compondo até 1970.<br />
Donga, o contestado<br />
pai do samba<br />
O chefe <strong>da</strong> polícia<br />
Pelo telefone<br />
Mandou me avisar<br />
Que na Carioca tem uma roleta para<br />
[se jogar...<br />
Pelo telefone<br />
(Donga e Mauro de Almei<strong>da</strong>)<br />
Se há um consenso quanto ao nascimento<br />
“oficial” do samba, ele diz respeito apenas<br />
ao local: a casa <strong>da</strong> Tia Ciata de Oxum, onde<br />
se reuniam os bambas <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de para batucar,<br />
cantar, improvisar. Foi assim que, em<br />
uma noite do ano de 1916, com o pessoal se<br />
divertindo a valer, surgiram os versos famosos<br />
de Pelo Telefone.<br />
12 . Partitura de<br />
Pelo Telefone,<br />
de Ernesto dos<br />
Santos, o Donga<br />
Era um achado. Misturava a novi<strong>da</strong>de do telefone<br />
com a contravenção (roleta era jogo<br />
proibido) e a malandragem que queria se<br />
divertir a qualquer custo, além de ganhar<br />
um dinheirinho por fora, é claro. Com a letra<br />
completa nas mãos, Donga, que, assim como<br />
João <strong>da</strong> Baiana, era frequentador assíduo do<br />
samba e do candomblé, registrou, ao lado de<br />
Mauro de Almei<strong>da</strong>, a música em seu nome.<br />
Pelo Telefone foi o maior sucesso <strong>da</strong>quele<br />
carnaval, mas o pessoal <strong>da</strong> Tia Ciata não<br />
achou a menor graça na atitude de Donga.<br />
E foi feita uma nova letra para o samba, na<br />
qual a acusação era direta: “Ó que caradura/<br />
De dizer nas ro<strong>da</strong>s/ Que esse arranjo é<br />
teu / É do bom Hilário/ E <strong>da</strong> velha Ciata/<br />
Que o Sinhô escreveu/ Tomara que tu apanhes/<br />
Para não tornar a fazer isso/ Escrever<br />
o que é dos outros...”.<br />
<strong>No</strong> entanto, a letra que ficou foi a registra<strong>da</strong><br />
por Donga, que tinha seu lugar no mundo<br />
do samba. Tocava cavaquinho e violão e foi<br />
mais um que pertenceu ao grupo Oito Batutas,<br />
de Pixinguinha. Conhecia profun<strong>da</strong>mente<br />
a música de origem africana, tanto que,<br />
na gravação do disco com o maestro Stokowski,<br />
to<strong>da</strong>s as suas sugestões eram sambas,<br />
toa<strong>da</strong>s, “macumbas” e lundus. Como João<br />
<strong>da</strong> Baiana, Donga voltou a aparecer nos<br />
anos 1950, fazendo parte de grupos chamados<br />
de Velha Guar<strong>da</strong>.<br />
Samba é passarinho<br />
José Barbosa <strong>da</strong> Silva, o Sinhô (1888-1930),<br />
também estava no grupo de músicos que<br />
ficou surpreso quando Donga e Mauro Duarte<br />
registraram Pelo Telefone, já que todo<br />
o mundo cantava nas ro<strong>da</strong>s aquele samba<br />
com o título de O Roceiro. Pianista profissional,<br />
não perdia uma ro<strong>da</strong> na casa de Tia<br />
Ciata e parecia ter aprendido a lição de Donga<br />
e Mauro Duarte: polêmico, era constantemente<br />
acusado de plagiar composições ou<br />
mesmo de se apropriar de músicas alheias.