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ASCO 2012 - Revista Onco

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sumário<br />

com a palavra<br />

entrevista<br />

capa<br />

patologia<br />

do bem<br />

quiz<br />

curtas<br />

acontece<br />

calendário<br />

5<br />

8<br />

12<br />

28<br />

32<br />

38<br />

42<br />

47<br />

50<br />

O canal de comunicação com o leitor<br />

Um bate-papo com o oncocirurgião Ademar Lopes, presidente da SBCO<br />

Asco <strong>2012</strong><br />

Confira o que foi destaque no maior encontro mundial de oncologia<br />

A importância da fixação adequada no prognóstico do câncer de mama<br />

Angela Waitzberg e Simone Elias<br />

Palhaços de hospital levam descontração e alegria<br />

ao atendimento oncológico<br />

E o diagnóstico é... Por Duílio Rocha Filho e Andrey Soares<br />

Notícias da indústria, iniciativas, parcerias:<br />

um giro pelo mundo da oncologia<br />

O que foi importante no cenário da oncologia<br />

Programe-se: eventos e congressos<br />

para anotar na agenda


Com a palavra é um espaço para comentários e sugestões, que vai nos<br />

ajudar a compor um olhar ainda mais abrangente sobre o universo da<br />

oncologia e a realidade do não especia lista. Com a palavra, o leitor, com<br />

sua perspectiva única, promete contri buição importante ao compromisso<br />

de garantir informação completa, sob múltiplas lentes.<br />

O TCU e o atendimento oncológico<br />

Gostaria de sugerir a esta revista uma reportagem<br />

sobre o relatório do TCU fazendo uma radiografia<br />

da situação do atendimento oncológico no Brasil.<br />

Acredito ser da maior relevância repercutirmos as<br />

muitas importantes afirmações ali contidas. É impensável<br />

que ainda hoje, quando estamos prestes a<br />

representar a sexta economia do mundo, tenhamos<br />

que conviver com uma estrutura de saúde tão deficiente<br />

que faz com que a maioria dos casos diagnosticados<br />

de câncer já esteja em estágios<br />

avançados da doença, cujo tratamento é sabidamente<br />

mais dispendioso e menos eficaz. Acredito<br />

que esta revista tem papel importante nessa discussão,<br />

permitindo que lideranças da política de<br />

atenção oncológica se manifestem sobre os dados<br />

apresentados pelo TCU, que certamente não pode<br />

ser acusado de tendencioso.<br />

Atenciosamente,<br />

Roberto de Almeida Gil – Médico oncologista do<br />

INCA (RJ); Diretor médico da <strong>Onco</strong>clínica – Centro<br />

de Tratamento de <strong>Onco</strong>logia<br />

Caro Dr. Gil,<br />

A situação descrita pelo TCU realmente desperta a indignação<br />

de todo brasileiro diante do triste reconhecimento<br />

de que estamos perdendo vidas ante a fragilidade<br />

da Política Nacional de Atenção <strong>Onco</strong>lógica.<br />

Agradecemos imensamente o contato e esclarecemos<br />

que o tema já está na próxima pauta da <strong>Onco</strong>&.<br />

Combate à dor<br />

Sou médico especialista em tratamento da dor.<br />

Gostaria de saber se já foram publicados artigos<br />

sobre o tratamento da dor no câncer.<br />

Grato,<br />

Marco Antonio dos Reis Alves – Clínica de Tratamento<br />

da Dor<br />

Prezado Dr. Marco Antonio,<br />

Esse é um assunto sempre bem-vindo na revista<br />

<strong>Onco</strong>&. O tratamento da dor no câncer foi tema de<br />

artigo em nossa edição de estreia (agosto/setembro<br />

2010) e está sempre presente em reportagens e artigos<br />

diversos. Em breve, a questão estará de volta às páginas<br />

da revista.<br />

Agradecemos o seu contato.<br />

com a palavra<br />

Para participar deste canal<br />

de comunicação com a<br />

revista <strong>Onco</strong>&, escreva para<br />

contato@iasoeditora.com.br<br />

<strong>Onco</strong>& julho/agosto <strong>2012</strong> 5


Conselho<br />

editorial<br />

Editor clínico:<br />

Sergio D. Simon<br />

Publisher Simone Simon<br />

simone@iasoeditora.com.br<br />

Editorial Valéria Hartt<br />

valeria@iasoeditora.com.br<br />

Sergio Azman<br />

sergio@iasoeditora.com.br<br />

Direção de arte Luciana Cury<br />

luciana@iasoeditora.com.br<br />

Pré-impressão Ione Gomes Franco<br />

Revisão Patrícia Villas Bôas Cueva<br />

6 julho/agosto <strong>2012</strong> <strong>Onco</strong>&<br />

Ano 2 • número 12<br />

julho/agosto <strong>2012</strong><br />

I – Cancerologia clínica<br />

<strong>Onco</strong>logia clínica:<br />

André Moraes (SP)<br />

Anelisa Coutinho (BA)<br />

Auro Del Giglio (SP)<br />

Carlos Sampaio (BA)<br />

Claudio Petrilli (SP)<br />

Clarissa Mathias (BA)<br />

Daniel Herchenhorn (RJ)<br />

Fernando Medina (SP)<br />

Gothardo Lima (CE)<br />

Igor Morbeck (DF)<br />

João Nunes (SP)<br />

José Bines (RJ)<br />

Karla Emerenciano (RN)<br />

Marcelo Aisen (SP)<br />

Marcelo Collaço Paulo (SC)<br />

Maria de Fátima Dias Gaui (RJ)<br />

Nise Yamaguchi (SP)<br />

Oren Smaletz (SP)<br />

Paulo Marcelo Gehm Hoff (SP)<br />

Roberto Gil (RJ)<br />

Sebastião Cabral Filho (MG)<br />

Sérgio Azevedo (RS)<br />

Sergio Lago (RS)<br />

<strong>Onco</strong>-hematologia:<br />

Carlos Chiattone (SP)<br />

Carmino de Souza (SP)<br />

Daniel Tabak (RJ)<br />

Jane Dobbin (RJ)<br />

Nelson Spector (RJ)<br />

Vânia Hungria (SP)<br />

Impressão: Gráfica Eskenazi<br />

Tiragem: 10 mil exemplares<br />

ISSN: 2179-0930<br />

Jornalista responsável: Valéria Hartt (MTb 24.849)<br />

Colaboraram nesta edição: Angela Waitzberg,<br />

Gilberto Schwartsmann, Ricardo Caponero,<br />

Simone Elias<br />

Acompanhe a <strong>Onco</strong>&<br />

no Twitter<br />

Transplante de medula:<br />

Jairo Sobrinho (SP)<br />

Luis Fernando Bouzas (RJ)<br />

Nelson Hamerschlak (SP)<br />

Yana Novis (SP)<br />

II – Biologia molecular<br />

Ada Alves (RJ)<br />

André Vettore (SP)<br />

Carlos Gil (RJ)<br />

Helenice Gobbi (MG)<br />

José Cláudio Casali (RJ)<br />

Luísa Lina Villa (SP)<br />

Maria Isabel Achatz (SP)<br />

III – Cancerologia<br />

cirúrgica<br />

Neurologia:<br />

Manoel Jacobsen Teixeira (SP)<br />

Marcos Stavale (SP)<br />

Cabeça e pescoço:<br />

Luis Paulo Kowalski (SP)<br />

Vergilius Araújo (SP)<br />

Tórax:<br />

Angelo Fernandez (SP)<br />

Riad Naim Younes (SP)<br />

Abdômen:<br />

Ademar Lopes (SP)<br />

José Jukemura (SP)<br />

Laercio Gomes Lourenço (SP)<br />

Marcos Moraes (RJ)<br />

Paulo Herman (SP)<br />

Mama:<br />

Alfredo Barros (SP)<br />

Antonio Frasson (SP)<br />

Carlos Alberto Ruiz (SP)<br />

Maira Caleffi (RS)<br />

Urologia:<br />

Antônio Carlos L. Pompeu (SP)<br />

Miguel Srougi (SP)<br />

Ginecologia:<br />

Jorge Saad Souen (SP)<br />

Sérgio Mancini Nicolau (SP)<br />

Sophie Derchain (SP)<br />

Tecido osteoconjuntivo:<br />

Olavo Pires de Camargo (SP)<br />

Reynaldo J. Garcia Filho (SP)<br />

IV – Radioterapia<br />

Ludmila Siqueira (MG)<br />

Paulo Novaes (SP)<br />

Robson Ferrigno (SP)<br />

Rodrigo Hanriot (SP)<br />

Wladimir Nadalin (SP)<br />

V – Cuidados paliativos<br />

e dor<br />

Ana Claudia Arantes (SP)<br />

Claudia Naylor Lisboa (RJ)<br />

Fabíola Minson (SP)<br />

João Marcos Rizzo (RS)<br />

Ricardo Caponero (SP)<br />

A revista <strong>Onco</strong>& – <strong>Onco</strong>logia para todas as especialidades, uma publi -<br />

cação da Iaso Editora, especializada em comunicação médica, traz<br />

informações sobre oncologia a profissionais de todas as especialidades<br />

médicas. De circulação bimestral, tem distribuição nacional e gratuita<br />

por todo o território nacional. A reprodução do conteúdo da revista é<br />

permitida desde que citada a fonte. A opinião dos colaboradores não<br />

reflete necessariamente a posição da revista.<br />

Avenida Vereador José Diniz, 3720 – cj. 406<br />

Campo Belo – 04604-007 – São Paulo – SP<br />

(11) 2478-6985 (redação) – (21) 3798-1437 (comercial)


Resgate tão necessário<br />

VIVEMOS TEMPOS DE INOVAÇÃO. O UNIVERSO DA<br />

ONCOLOGIA É ÁVIDO POR NOVIDADES E PRODU-<br />

TOR INCANSÁVEL DE MUITAS DELAS. A <strong>ASCO</strong><br />

<strong>2012</strong>, palco de lançamentos da indústria, reflete<br />

isso de forma emblemática, com estudos clínicos<br />

promissores, outros nem tanto, mas certamente<br />

como o grande fórum do mundo da oncologia.<br />

A <strong>Onco</strong>& traz nesta edição as últimas novidades<br />

de Chicago, com um panorama do que foi destaque<br />

no maior encontro da Sociedade Americana de On-<br />

cologia Clínica, assinado pelo médico oncologista<br />

Ricardo Caponero. Ao apresentar os resultados dos<br />

estudos clínicos mais celebrados na edição deste<br />

ano, Caponero propõe uma nova forma de medi -<br />

cina baseada em evidência diante do apelo da me -<br />

dicina personalizada. E deixa no ar a pergunta que<br />

não quer calar: quem paga a conta dos novos<br />

agentes anticâncer?<br />

Outra reflexão vem com o artigo do professor<br />

Gilberto Schwartsmann, com um abrangente<br />

cenário do câncer de pulmão no Brasil. Schwarts-<br />

mann liderou uma das sessões da <strong>ASCO</strong> <strong>2012</strong> em<br />

Chicago e situa o Brasil numa perspectiva epide -<br />

miológica global, que permite comparar alguns dos<br />

mais importantes indicadores da saúde.<br />

Por aqui, temos de forma clara que o câncer<br />

avança para se tornar a primeira causa de morte no<br />

país e há barreiras e gargalos no caminho. É preciso<br />

enfrentá-los.<br />

Há lições e trajetórias inspiradoras. O professor<br />

Ademar Lopes, cirurgião oncológico do primeiro<br />

time de estrelas, nos deixa algumas dessas lições, o<br />

exemplo da excelência e fala de um resgate possível,<br />

numa entrevista para ler e reler.<br />

Em tempos de inovação e de tantas rupturas,<br />

fica o convite para situar o valor da vida, repensar<br />

velhos valores, quem sabe resgatar muitos deles e,<br />

mais ainda, vivenciá-los na prática cotidiana.<br />

A escuta atenta e sensível continua como<br />

padrão-ouro na clínica médica. Não há tecnologia<br />

que substitua essa interação.<br />

Boa leitura!<br />

Valéria Hartt<br />

* Jornalista especializada na<br />

cobertura de saúde, é editora<br />

da <strong>Onco</strong>& – <strong>Onco</strong>logia para<br />

todas as especialidades<br />

Contato: valeria@iasoeditora.com.br<br />

<strong>Onco</strong>& julho/agosto <strong>2012</strong> 7


Sergio Azman<br />

entrevista<br />

Ademar Lopes<br />

* Diretor do Departamento<br />

de Cirurgia Pélvica e<br />

vice-presidente do hospital<br />

A.C.Camargo; Livre-docente pela<br />

disciplina de oncologia na FMUSP;<br />

Fellow da Sociedade Americana de<br />

Cirurgia <strong>Onco</strong>lógica e Presidente da<br />

Sociedade Brasileira de Cirurgia<br />

<strong>Onco</strong>lógica e Regional<br />

São Paulo<br />

Contato:<br />

ademarlopes@<br />

cirurgiaoncologica.com.br<br />

8 julho/agosto <strong>2012</strong> <strong>Onco</strong>&<br />

Novos tempos na<br />

cirurgia do câncer<br />

O cirurgião Ademar Lopes conta como vê a evolução<br />

da prática da cirurgia oncológica e fala dos desafios<br />

e possibilidades futuras da especialidade<br />

Por Valéria Hartt<br />

ELE CONSTRUIU UMA DAS CARREIRAS MAIS SÓLIDAS<br />

DA CIRURGIA ONCOLÓGICA BRASILEIRA EÉCERTA-<br />

MENTE UMA DE SUAS MAIORES REFERÊNCIAS.<br />

Mineiro de Delfinópolis, o oncocirurgião Ademar<br />

Lopes ingressou na residência do Hospital A.C.Camargo,<br />

em São Paulo, em 1974. Não saiu mais. De<br />

lá para cá, conta no currículo mais de 8 mil proce -<br />

dimentos realizados e traz na memória histórias marcantes,<br />

que por um detalhe às vezes incerto se<br />

distanciam das estatísticas da prática profissional.<br />

Passam a ocupar esse lugar a mais, esse registro como<br />

histórias de vida que saem do repertório trivial.<br />

Era o ano de 2009 quando ele viveu um desses<br />

dias guardados na memória, à frente de uma cirurgia<br />

de 17 horas e meia no Sírio-Libanês, em São<br />

Paulo. Ali, realizou uma técnica inovadora, que ele<br />

mesmo havia trazido ao Brasil anos antes, de forma<br />

pioneira. Tinha como paciente ninguém menos<br />

que o ex-vice presidente José Alencar, para a retirada<br />

de um tumor no retroperitônio. Depois de<br />

mais de 17 horas, a cirurgia citorredutora com<br />

quimioterapia intraperitoneal hipertérmica che -<br />

gava ao fim com sucesso. Mais tarde, em frente às<br />

câmeras diante da imprensa, foi a atitude de Alencar<br />

que despertou a atenção do médico, que entre<br />

tantas histórias vividas escolhe essa como uma das<br />

mais marcantes da carreira. “Ele disse que tinha<br />

muita pena do povo brasileiro, porque poucos ti -<br />

nham condições de receber um tratamento como<br />

aquele. Aquilo me impressionou, porque não costuma<br />

ser fala de político. E ele era assim, um<br />

homem honrado”, conta Lopes.<br />

Em São Paulo, ele nos recebe para esta entrevista<br />

no consultório vizinho ao Parque Ibirapuera, sóbrio<br />

e discreto, que expressa em boa medida a personalidade<br />

do dono. A parede em frente à porta de entrada<br />

traz um portrait, lembrança que Ademar Lopes<br />

guarda da cerimônia de formatura, como fellow do<br />

Colégio Americano de Cirurgiões, em 1985. Também<br />

nos Estados Unidos atuou no Memorial Sloan-Kettering<br />

Cancer Center de Nova York, onde foi diretor<br />

do departamento de cirurgia pélvica em 1990.<br />

É com essa bagagem que ele nos dá lições importantes<br />

sobre a prática da cirurgia oncológica e<br />

fala dos desafios e possibilidades da especialidade,<br />

agora também com um papel institucional à frente<br />

da Sociedade Brasileira de Cirurgia <strong>Onco</strong>lógica.<br />

Para o futuro, prevê um cenário promissor,<br />

com a crença de que a cirurgia vive seus dias de<br />

glória e pode experimentar uma nova era no tratamento<br />

do câncer.<br />

<strong>Onco</strong>& – Começo com a curiosidade de entender<br />

o que o levou a fazer essa escolha profissional?


Ademar Lopes – Decidi fazer cirurgia muito<br />

cedo, lá pelos 7 ou 8 anos, e não tinha nenhum<br />

parente ou amigo médico que pudesse ter influenciado<br />

nessa decisão. Sou filho de agricultores,<br />

nasci e vivi em Delfinópolis durante a minha infância.<br />

É como uma ilha, entre a Serra da Canastra<br />

e os grandes lagos do Rio Grande, e lá, como se<br />

faz em todo lugar do mundo, era comum abater o<br />

animal para o consumo, para a própria alimentação.<br />

Muitas vezes eu vi um animal sendo aberto<br />

e observava o coração ainda batendo, os intestinos.<br />

Ali, em contato com aquela realidade, decidi que<br />

a melhor maneira de estar mais próximo daquilo<br />

tudo era ser médico e fazer cirurgia, tentar corrigir<br />

alguns erros que podem acontecer nos humanos.<br />

Menino ainda fiz essa escolha. Na faculdade de<br />

medicina vi vários cirurgiões em atividade e<br />

percebi que dois ou três com residência em cirurgia<br />

oncológica operavam de modo muito diferente<br />

dos cirurgiões gerais que também operavam<br />

câncer. Foi assim que resolvi fazer cirurgia oncológica,<br />

e é o que eu faço até hoje na vida.<br />

<strong>Onco</strong>& – O senhor fala de uma distinção na<br />

forma de operar. Que recado o senhor deixa para<br />

o não especialista, em termos de cirurgia?<br />

Ademar Lopes – O cirurgião oncologista não é<br />

apenas um técnico que opera. Ele é um médico<br />

que tem uma formação global, dentro de uma<br />

pers pectiva multidisciplinar. Ele é capaz de fazer<br />

um bom planejamento terapêutico em termos de<br />

diagnóstico, em termos de estadiamento, assim<br />

como está preparado para saber o momento de encaminhar<br />

o doente para o oncologista clínico ou<br />

para o radioterapeuta, se antes ou depois de ope -<br />

rar. Então, eu diria que o planejamento terapêutico<br />

em oncologia é fundamental. Se começar errado,<br />

o paciente seguramente vai ser pre judicado. Não<br />

é só uma questão de operar ou deixar de operar<br />

um tumor, mas de estabelecer um planejamento<br />

terapêutico global. Acho que a cirurgia oncológica<br />

está em franco progresso. Recentemente, a cirurgia<br />

oncológica de alta complexidade foi reconhecida<br />

como especialidade médica nos Estados Unidos.<br />

No Brasil, a cirurgia oncológica é devidamente re-<br />

conhecida e vários colegas estão sendo formados<br />

em programas de residência médica. Precisamos<br />

ensinar cirurgia oncoló gica e precisamos também<br />

ensinar oncologia.<br />

<strong>Onco</strong>& – Temos carência desses profissionais no<br />

Brasil?<br />

Ademar Lopes – Não seria possível no Brasil nem<br />

nos Estados Unidos que toda cirurgia oncológica<br />

fosse feita por um cirurgião oncologista. Então,<br />

temos também um papel pedagógico, que é ensinar<br />

esse cirurgião geral, para que ele tenha melhores<br />

conhecimentos da cirurgia oncológica, porque ele<br />

certamente vai realizar um grande número de procedimentos.<br />

O cirurgião geral precisa ter uma boa<br />

ideia da história natural da doença, de cada tumor;<br />

ter uma ideia precisa da importância do estadiamento<br />

das neoplasias; conhecer os princípios básicos<br />

da cirurgia oncológica e, finalmente, ter uma<br />

ideia da importância do tratamento multidisciplinar<br />

e do acompanhamento desses pacientes.<br />

É claro que é muito difícil. O Brasil, em termos<br />

de cirurgia geral, não está bem. Nós temos hoje<br />

dois anos de cirurgia geral, que servem como passaporte<br />

para outra especialidade. E existem dois<br />

anos a mais, que costumam derivar para trauma<br />

ou aparelho digestivo. Cirurgia oncológica não é<br />

só trauma nem aparelho digestivo. Então, é muito<br />

pouco e isso é um prejuízo para o colega cirurgião<br />

geral. Nossa proposta é de uma formação de quatro<br />

ou cinco anos, como no modelo americano. Aí<br />

o indivíduo faria cirurgia de cabeça e pescoço,<br />

mastologia, tórax, aparelho digestivo, ginecologia.<br />

Seria o verdadeiro cirurgião geral, com abrangência<br />

em todas as áreas da cirurgia.<br />

<strong>Onco</strong>& – E existe interesse do não especialista<br />

pelas questões da oncologia?<br />

Ademar Lopes – O câncer hoje é uma doença<br />

comum, com 518 mil, 520 mil novos casos por ano.<br />

O maior fator de risco isolado para ter um câncer é<br />

a própria idade. Se a gente lembrar que nos anos<br />

1950 a expectativa de vida do brasileiro era em<br />

torno de 40 anos e hoje é de 72 anos, a incidência<br />

do câncer dobrou pelo natural envelhecimento da<br />

população. A oncologia é a especialidade do mo-<br />

“Uma das coisas<br />

mais gratificantes<br />

é entrar com um<br />

residente em uma<br />

grande cirurgia e<br />

ao final receber um<br />

olhar, um sorriso,<br />

às vezes um aperto<br />

de mão e aquele<br />

muito obrigado,<br />

doutor”<br />

<strong>Onco</strong>& julho/agosto <strong>2012</strong> 9


“A oncologia é a<br />

especialidade do<br />

momento e do futuro.<br />

Existe uma grande<br />

procura pela cirurgia<br />

oncológica por parte<br />

dos médicos que<br />

concluem residência<br />

em cirurgia geral,<br />

diante do crescimento<br />

da especialidade e da<br />

maior incidência do<br />

número de novos<br />

casos de câncer”<br />

10 julho/agosto <strong>2012</strong> <strong>Onco</strong>&<br />

mento e do futuro. Existe uma grande procura pela<br />

cirurgia oncológica por parte dos médicos que concluem<br />

residência em cirurgia geral, diante do crescimento<br />

da especialidade e da maior incidência do<br />

número de novos casos de câncer.<br />

Esse crescimento tem sido também acompa -<br />

nhado de muita evolução.<br />

<strong>Onco</strong>& – Na oncologia, como foi viver a transição<br />

das grandes cirurgias para procedimentos<br />

hoje mais conservadores?<br />

Ademar Lopes – Essa é uma história muito<br />

bonita e que eu vivi pessoalmente. Entre 1975 até<br />

o começo da década de 80 havia um predomínio<br />

das grandes cirurgias mutilantes. Naquela época,<br />

a mu lher com câncer de mama no estádio clínico<br />

I era tratada com mastectomia radical, em que se<br />

retiravam toda a mama, os músculos peitorais e<br />

os linfonodos da axila. De 1985 para cá isso<br />

mudou radicalmente. A mulher hoje tira um<br />

quadrante e faz a biópsia do linfonodo sentinela;<br />

se der negativo, nem precisa esvaziar a axila. As<br />

taxa de cura são melhores e a qualidade de vida é<br />

indiscutível. Outro exemplo vem dos pacientes<br />

com tumores ósseos, como osteossarcoma e<br />

tumor de Ewing, que até os anos 1980 eram submetidos<br />

a amputações e desarticulações. E, além<br />

de perder a perna, perder o braço, 85% morriam<br />

entre um e dois anos após o diagnóstico. Hoje nós<br />

preservamos a perna desses pacientes e a taxa de<br />

cura chega a 70%. Então, a década de 70 e o<br />

começo dos anos 80 foi um período bri lhante,<br />

com a chegada de novas drogas que permitiram<br />

reduzir muito o volume tumoral e tornaram possíveis<br />

essas cirurgias conservadoras. A evolução<br />

foi espetacular. Eu acredito que agora, no século<br />

21, as drogas-alvo tragam um impacto tão grande<br />

quanto aquele promovido pelas drogas no final<br />

dos anos 70 e 80. Em breve, acho que teremos<br />

uma nova fase e a cirurgia oncológica vai ganhar<br />

ainda mais complexidade.<br />

<strong>Onco</strong>& – O que deve mudar? Como fica o perfil<br />

desse profissional para esses novos tempos?<br />

Ademar Lopes – A cirurgia oncológica está em<br />

franco progresso. Vai ficar mais sofisticada, cada<br />

vez menos extensa, menos mutilante. O cirurgião<br />

também precisa aprender técnicas novas, principalmente<br />

da cirurgia minimamente invasiva. A<br />

cirurgia mais conservadora muitas vezes é mais<br />

complexa que uma grande cirurgia ou a cirurgia<br />

radical. Fazer uma operação de Halsted retirando<br />

a mama inteira e esvaziando a axila é muito mais<br />

simples que fazer uma cirurgia conservadora da<br />

mama com boa reconstrução; retirar a metade da<br />

laringe é muito mais complexo que fazer a<br />

laringectomia total; retirar um osso ilíaco, a<br />

metade da bacia, é muito mais difícil que fazer<br />

uma amputação. Então, a cirurgia oncológica vive<br />

esse grande progresso. O cirurgião que está<br />

chegando precisa se inteirar dessa beleza que é o<br />

desenvolvimento multidisciplinar do tratamento<br />

de câncer e acompanhar essa complexidade da<br />

cirurgia oncológica.<br />

<strong>Onco</strong>& – O tratamento do ex-presidente Lula,<br />

por exemplo, é a tradução desse avanço?<br />

Ademar Lopes – Sem dúvida. É o exemplo do enfoque<br />

multidisciplinar, com o uso de drogas-alvo,<br />

e isso é fantástico. O ex-presidente Lula teve um<br />

tumor de laringe e a imprensa inteira divulgou,<br />

então nós podemos falar. Antes, o tumor de laringe<br />

era tratado com laringectomia total, com a consequente<br />

perda da fala. O ex-presidente Lula foi<br />

tratado com quimioterapia e radioterapia e a chance<br />

de controle desse tumor é altíssima. É certamente<br />

um exemplo dessa nova fronteira.<br />

<strong>Onco</strong>& – O senhor fala da complexidade da<br />

cirurgia, das técnicas minimamente invasivas,<br />

mas como podemos avançar na indicação de<br />

casos bem selecionados e na própria curva de<br />

aprendizado?<br />

Ademar Lopes – O que muda é a via de acesso, mas<br />

o princípio da cirurgia oncológica é o mesmo, tem<br />

que ser mantido e tem que haver boa indicação.<br />

Ressecar o tumor com margens e retirar toda a<br />

drenagem linfática continuam como princípios básicos.<br />

A cirurgia videolaparoscópica e a robótica<br />

vieram para ficar, mas eu não admito, por exemplo,<br />

uma situa ção em que o cirurgião vá fazer um procedimento<br />

minimamente invasivo para um câncer<br />

de ovário e rompa o tumor. Você passa de um esta-


diamento I ou II para o estádio clínico III e isso é ina -<br />

ceitável. Precisamos ter um treinamento muito profundo,<br />

mas passada essa curva de aprendizado a<br />

cirurgia robótica é o futuro. Seguramente algumas<br />

cirurgias continuam essencialmente abertas, como a<br />

de mama, a de tumores ósseos, sarcomas de partes<br />

moles e de grandes tumores, como sarcomas do<br />

retroperitô nio. Tem que haver uma boa indicação,<br />

mas posso garantir que a hora em que o robô for<br />

mais acessível, em termos de custo, a cirurgia<br />

robótica está aí para ficar. E temos que ter responsabilidade<br />

com a formação das novas gerações. Imagi -<br />

no que eu tenha no Hospital A.C.Camargo cerca de<br />

8,5 mil procedimentos cirúrgicos realizados e posso<br />

confessar que uma das coisas mais gra tificantes é entrar<br />

com um residente em uma grande cirurgia e ao<br />

final receber um olhar, um sorriso, às vezes um<br />

aperto de mão e aquele muito obrigado, doutor. Isso<br />

é muito gratificante e nos estimula muito a continuar<br />

nessa tarefa. O Hospital A.C.Camargo deve ter formado<br />

quase um terço dos ci rurgiões oncologistas<br />

que estão em atividade Brasil afora. Fiz residência lá<br />

de 1974 a 1977 e tivemos um papel importante,<br />

contribuindo com a formação de todos os residentes<br />

que passaram por lá depois disso.<br />

<strong>Onco</strong>& – O senhor também teve papel fundamental<br />

na introdução de diferentes técnicas<br />

cirúrgicas. Gostaria que nos contasse um pouco<br />

dessa história de pioneirismo.<br />

Ademar Lopes – Nós fizemos a primeira<br />

hemipelvectomia total interna no Brasil em 1990,<br />

que é a retirada do osso ilíaco, e fizemos também<br />

a primeira cirurgia no país de Tikoff-Limberg, que<br />

é a retirada de todo o ombro. São procedimentos<br />

que marcaram muito a minha vida como<br />

cirurgião, que tivemos a oportunidade de introduzir<br />

no Brasil e melhorar muito a qualidade de<br />

vida dos nossos pacientes. Para carcinomatose<br />

peritoneal trouxemos ao Brasil outra técnica e em<br />

torno dela temos uma história muito interessante.<br />

Eu conheci de longa data um colega, Paul Sugarbaker,<br />

que era diretor do departamento de cirurgia<br />

do NCI. Certo dia, ele saiu do NCI e foi para<br />

Washington chefiar um serviço de carcinomatose.<br />

Imaginei que dar para um cirurgião um serviço de<br />

carcinomatose peritoneal era como mandar um indivíduo<br />

para a Sibéria. Ele era tido como o próprio<br />

crazy doctor, mas pouco depois passou a publicar<br />

diversas evidências sobre os benefícios dessa técnica.<br />

E me convidou para fazer a cirurgia citorredutora<br />

com hipertermia para tratar carcinomatose<br />

peritoneal. Começamos a fazer esse proce dimento<br />

no Brasil de forma pioneira em março de 2001 e<br />

hoje devemos ter quase 170 casos, com resultados<br />

praticamente iguais aos dos melhores centros do<br />

mundo. Esse procedimento consiste na cirurgia<br />

com o uso do calor a 42ºC, que por si só é capaz<br />

de destruir células por desnaturação proteica e aumentar<br />

a permeabilidade da membrana celular<br />

para a entrada do quimio terápico. É um tripé, com<br />

cirurgia, quimioterapia e calor. Hoje, temos uma<br />

expe riência gigantesca, uma das maiores experiências<br />

institucionais do mundo aqui no A.C.Camargo.<br />

A novidade é que o SUS não pagava esse<br />

procedimento e agora parece que vai começar a<br />

pagar, já neste ano.<br />

<strong>Onco</strong>& – Para encerrar, como podemos avançar<br />

no diagnóstico precoce?<br />

Ademar Lopes – Apenas meia dúzia de faculdades<br />

de medicina tem oncologia na grade curri -<br />

cular. Como é que você pode deixar fora dos<br />

currículos de formação médica a doença que mais<br />

mata? Não adianta ver um caso na pneumologia,<br />

outro na gastro. Tem que dar um enfoque multidisciplinar.<br />

Nós não queremos formar especialistas<br />

na graduação, mas queremos formar médicos que<br />

pensem oncologicamente. E o primeiro médico<br />

que vê o paciente com câncer não é o oncologista,<br />

é o médico que tem lá no posto de saúde. Ele tem<br />

que ter noções de oncologia como tem de gastro,<br />

pneumo, de infecto. Isso é básico. O Ministério da<br />

Educação precisa repensar isso.<br />

Por que os doentes vão mal? Porque estamos<br />

fazendo diagnóstico tardio e planejamento tera -<br />

pêutico incorreto, porque os médicos não estão sendo<br />

formados como deveriam. Se parar para analisar toda<br />

essa maquinaria e mesmo essas drogas novas, o diagnóstico<br />

precoce ainda salta muito mais alto que tudo<br />

isso. Sai mais barato e é muito mais efetivo.<br />

“Apenas meia dúzia<br />

de faculdades de<br />

medicina tem<br />

oncologia na grade<br />

curricular. Como é<br />

que você pode deixar<br />

fora dos currículos<br />

de formação médica<br />

a doença que mais<br />

mata?”<br />

<strong>Onco</strong>& julho/agosto <strong>2012</strong> 11


Divulgação<br />

<strong>ASCO</strong> <strong>2012</strong><br />

Ricardo Caponero<br />

* <strong>Onco</strong>logista clínico da Clínica<br />

de <strong>Onco</strong>logia Médica; sócio-diretor<br />

do Instituto SIMBIDOR;<br />

diretor científico da Associação<br />

Brasileira de Cuidados Paliativos<br />

Contato:<br />

ricardo@clinonco.com.br<br />

12 julho/agosto <strong>2012</strong> <strong>Onco</strong>&<br />

Muitas promessas<br />

Confira o que foi destaque na última edição do Congresso<br />

da Sociedade Americana de <strong>Onco</strong>logia Clínica (<strong>ASCO</strong> <strong>2012</strong>)<br />

COMO USUAL, O CONGRESSO DA <strong>ASCO</strong> TRAZ AL-<br />

GUMAS NOVIDADES INTERESSANTES, POUCA COI -<br />

SA QUE MODIFICA A PRÁTICA CLÍNICA DIÁRIA E<br />

muitas promessas. Neste ano, em particular,<br />

chamou a atenção o grande número de novas drogas<br />

biológicas seguindo a tendência da personalização<br />

da medicina, ou seja, drogas específicas para<br />

subtipos específicos de doença.<br />

Isso praticamente decreta o fim das metanálises.<br />

Teremos de encontrar uma nova forma de medicina<br />

baseada em evidência. Não se pode mais juntar diversos<br />

estudos heterogêneos numa única conclusão<br />

e tentar aplicá-la a todos os pacientes. Por outro lado,<br />

quando se seleciona adequadamente a população<br />

com base em biomarcadores específicos, os resultados<br />

são tão estridentes que qualquer metanálise,<br />

nessa população de pacientes, é desnecessária.<br />

O primeiro trabalho cujo resultado deve mudar<br />

a prática clínica tão logo o trastuzumabe-entansina<br />

(T-DM1) esteja disponível é o estudo EMILIA, apre -<br />

sentado na sessão plenária (abstract LBA1).<br />

O T-DM1 é um triunfo da biologia e da<br />

química. Pela perspectiva da biologia, é capaz de<br />

identificar um receptor presente quase que exclusivamente<br />

nas células malignas (nesse caso, o<br />

HER2) que é mediador crucial para a progressão da<br />

doença. Pela lógica da química, consegue ligar um<br />

quimioterápico potente a um anticorpo monoclonal<br />

de forma tão forte que a quimioterapia é dada quase<br />

que exclusivamente para as células do tumor, com<br />

mínima toxicidade sistêmica.<br />

No estudo EMILIA de fase III, prospectivo e<br />

randomizado, o T-DM1 foi comparado com<br />

capecitabina e lapatinibe em pacientes com neoplasia<br />

de mama com sobre-expressão do HER2 e que<br />

haviam progredido após terapia prévia com antraciclina,<br />

taxanos e trastuzumabe.<br />

Houve um aumento significativo na sobrevida<br />

livre de progressão favorecendo o T-DM1 (mediana<br />

de 9,6 meses vs. 6,4 meses: hazard ratio (HR)=0,650;<br />

intervalo de confiança de 95% (IC95%): 0,549 –<br />

0,771; p


pensão do bevacizumabe.<br />

O estudo ML18417, prospectivo, randomizado, de fase III (abstract<br />

CRA3503), é a prova de princípio de que a continuidade da terapia antiangiogênica<br />

é um procedimento eficaz. Comparando a alteração da<br />

quimioterapia com a continuidade ou não do bevacizumabe, esse estudo<br />

mostrou que a continuidade do bevacizumabe além da progressão<br />

esteve associada a um ganho de sobrevida global estatisticamente significativo,<br />

de 9,8 meses para 11,2 meses (HR = 0,81; IC95%: 0,69-<br />

0,94; p=0,0062), e de sobrevida livre de progressão, de 4,1 meses para<br />

5,7 meses (HR = 0,68; IC95%: 0,59-0,78; p≤ 0,001).<br />

O bevacizumabe ainda não é coberto pelo reembolso do SUS, em<br />

nenhuma das suas indicações. Para os pacientes com planos de saúde<br />

suplementar, o acesso é irregular. Não há dados farmacoeconômicos<br />

disponíveis e muitas seguradoras criam obstáculos, os mais diversos,<br />

para não permitir a continuidade e, muitas vezes, o uso do bevacizu ma -<br />

be. Nem sempre a verdade investigacional se torna a prática corrente.<br />

O segundo estudo, na mesma prova de princípio da manutenção<br />

da angiogênese, é o estudo fase III VELOUR (abstract 3505). O estudo<br />

aloca aleatoriamente pacientes tratados em primeira linha com esquemas<br />

com base em oxaliplatina para uma segunda linha com FOLFIRI<br />

associado ou não ao aflibercetp (Zaltrap®) na dose de 4mg/Kg, EV,<br />

d.1 a cada 14 dias. Os dados do estudo principal foram apresentados<br />

na ESMO do ano passado, com ganhos significativos na sobrevida<br />

global e na sobrevida livre de progressão. Nessa <strong>ASCO</strong>, Carmem Allegra<br />

et cols. (abstract 3505) apresentaram os dados de uma análise préplanejada<br />

em pacientes previamente submetidos à quimioterapia com<br />

bevacizumabe em primeira linha.<br />

O estudo VELOUR na população com base na intenção de tratar<br />

mostrou ganho de sobrevida global de 1,4 mês (12,06 meses vs. 13,50<br />

meses); HR=0,817; IC95% 0,713-0,937; p=0,0032. Na análise da po -<br />

pulação previamente tratada com bevacizumabe, a diferença na sobrevida<br />

global foi de 11,7 meses vs. 12,5 meses (HR=0,862; IC95%:<br />

0,673-1,104) e na sobrevida livre de progressão, de 3,9 meses para<br />

6,7 meses (HR=0,661; IC95%: 0,512-0,852).<br />

O terceiro estudo com resultados significativos foi o CORRECT<br />

(abstract 3502), avaliando o uso de regorafenibe (BAY 73-4506) versus<br />

melhor cuidado de suporte em pacientes previamente submetidos a<br />

todo o tratamento padrão.<br />

O regorafenibe é um inibidor de múltiplas tirosino-quinases (KIT,<br />

PDGFR, RET, FGFR, VEGFR1-3 e TIE2) administrado por via oral na<br />

dose de 160mg uma vez ao dia, por três semanas consecutivas seguidas<br />

por uma semana de descanso.<br />

O estudo CORRECT foi realizado numa população de prognóstico<br />

muito ruim, onde a sobrevida mediana do grupo controle foi de 5,0<br />

meses e onde não temos opções terapêuticas disponíveis. O uso do regorafenibe<br />

aumentou a sobrevida global de 5,0 meses para 6,4 meses<br />

(HR=0,77; IC95% 0,64-0,94; p


estratégias de tratamento para pacientes com melanoma avançado<br />

ou metastático.<br />

Desde o ano passado, o inibidor seletivo do BRAF, vemurafenibe<br />

(Zelboraf®), e o inibidor do ponto de checagem imunológica, ipilimumabe<br />

(Yervoy®), foram adicionados ao armamentário terapêutico.<br />

Adicionalmente, outros agentes dirigidos a alvos moleculares e<br />

imunoterápicos têm se mostrado promissores.<br />

A disponibilidade de múltiplas e efetivas opções de tratamento tem<br />

levado a complexas decisões terapêuticas, para as quais o teste genético<br />

para as mutações do BRAF, principalmente V600E, é essencial. Para<br />

aproximadamente 50% dos pacientes com melanoma que apresentam<br />

mutação do BRAF, os inibidores de BRAF produzem taxas de respostas<br />

sem precedentes e vantagem significativa de sobrevida global quando<br />

comparados aos resultados da quimioterapia convencional.<br />

Os avanços na compreensão da função do sistema imune e da tole -<br />

rância levaram ao desenvolvimento de uma nova geração de<br />

imunoterápicos direcionados. O ipilimumabe representa a primeira<br />

imunoterapia a aumentar a sobrevida global em estudos de fase III,<br />

com respostas duráveis observadas em um subgrupo de pacientes.<br />

A seleção da terapia ideal para os pacientes requer considerações<br />

das características da doença e do paciente para a definição da melhor<br />

primeira linha e sequenciamento do tratamento. No momento, a presença<br />

da mutação do BRAF define a escolha pelo uso do vemurafenibe,<br />

em pacientes mutados, ou ipilimumabe, em pacientes não mutados.<br />

Neste ano, uma nova molécula, o dabrafenibe, um inibidor seletivo<br />

de BRAF, estendeu a sobrevida livre de progressão em pacientes com<br />

melanoma metastático (abstract 8501) e mostrou elevada atividade<br />

mesmo em metástases cerebrais.<br />

O estudo de fase III BREAK-3, randomizado, versus DTIC (abstract<br />

LBA8500a) em pacientes com positividade para a mutação V600E do<br />

BRAF mostrou taxas de controle de doença intracraniana da ordem de<br />

81% e 89%, para pacientes com terapia dirigida ao SNC, ou sem tratamento<br />

para o SNC, respectivamente.<br />

14 julho/agosto <strong>2012</strong> <strong>Onco</strong>&<br />

Adenocarcinoma de próstata resistente à castração - resultados<br />

Parâmetro MDV3100 Placebo Hazard Ratio<br />

(Enzalutamida)<br />

(IC 95%)<br />

Sobrevida mediana<br />

Sobrevida livre de<br />

progressão radiológica,<br />

mediana<br />

Tempo para progressão<br />

de PSA, mediana<br />

Respostas parciais /<br />

completas<br />

Respostas de PSA<br />

Resposta na<br />

qualidade de vida<br />

18,4 meses<br />

8,3 meses<br />

8,3 meses<br />

25,1% / 13,8%<br />

54,0%<br />

43,3%<br />

A sobrevida livre de progressão avaliada pelos revisores independentes<br />

foi muito próxima da avaliação dos investigadores, com 6,7<br />

meses para os pacientes que receberam dabrafenibe e 2,9 meses para<br />

os que receberam DTIC (HR=0,35; IC95%: 0,20 – 0,61; p


O MDV3100 (Enzalutamida) ainda não está disponível comercialmente.<br />

A abiraterona, já aprovada no Brasil pela Anvisa e disponível<br />

no comércio nacional, sofre com o problema de acesso às drogas orais<br />

de alto custo.<br />

Esperamos que com o Projeto de Lei No. 352/11, aprovado no<br />

Senado, essa imensa dificuldade prática no acesso possa ser resolvida<br />

definitivamente.<br />

Suplementação<br />

Já há algum tempo se sabe que a deficiência de vitamina D está associada<br />

a uma maior incidência de neoplasia de mama e a um pior<br />

prognóstico, sem que saibamos, ainda, se a reposição de vitamina D<br />

pode reduzir o risco ou melhorar o prognóstico dessas pacientes.<br />

Nesta <strong>ASCO</strong>, Qamar J. Khan (abstract 9000) mostrou que a suplementação<br />

de vitamina D pode reduzir a dor osteomuscular e a fadiga<br />

Referências bibliográficas:<br />

LBA1 - Kimberly L. Blackwell, David Miles, Luca Gianni, Ian E. Krop, Manfred<br />

Welslau, et al. Primary results from EMILIA, a phase III study of trastuzumab<br />

emtansine (T-DM1) versus capecitabine (X) and lapatinib (L) in HER2-positive<br />

locally advanced or metastatic breast cancer (MBC) previously treated with<br />

trastuzumab (T) and a taxane. J Clin <strong>Onco</strong>l 30, <strong>2012</strong> (suppl; abstr LBA1).<br />

CRA3503 - Dirk Arnold, Thierry Andre, Jaafar Bennouna, Javier Sastre, Pia J.<br />

Osterlund, et al. Bevacizumab (BEV) plus chemotherapy (CT) continued beyond<br />

first progression in patients with metastatic colorectal cancer (mCRC)<br />

previously treated with BEV plus CT: Results of a randomized phase III intergroup<br />

study (TML study). J Clin <strong>Onco</strong>l 30, <strong>2012</strong> (suppl; abstr CRA3503.<br />

3505 - Carmen Joseph Allegra, Radek Lakomy, Josep Tabernero, Jana Prausová,<br />

Paul Ruff, et al. Effects of prior bevacizumab (B) use on outcomes from the<br />

VELOUR study: A phase III study of aflibercept (Afl) and FOLFIRI in patients<br />

(pts) with metastatic colorectal cancer (mCRC) after failure of an oxaliplatin<br />

regimen. J Clin <strong>Onco</strong>l 30, <strong>2012</strong> (suppl; abstr 3505).<br />

3502 - Eric Van Cutsem, Alberto F. Sobrero, Salvatore Siena, Alfredo Falcone,<br />

Marc Ychou, et al. Phase III CORRECT trial of regorafenib in metastatic colorectal<br />

cancer (mCRC). J Clin <strong>Onco</strong>l 30, <strong>2012</strong> (suppl; abstr 3502).<br />

LBA10008 - George D. Demetri, Peter Reichardt, Yoon-Koo Kang, Jean-Yves<br />

Blay, Heikki Joensuu, et al. Randomized phase III trial of regorafenib in patients<br />

(pts) with metastatic and/or unresectable gastrointestinal stromal tumor (GIST)<br />

progressing despite prior treatment with at least imatinib (IM) and sunitinib<br />

(SU): GRID trial. J Clin <strong>Onco</strong>l 30, <strong>2012</strong> (suppl; abstr LBA10008).<br />

7506 - Rogerio Lilenbaum, Mauro Zukin, Jose Rodrigues Pereira, Carlos H.<br />

Barrios, Ronaldo de Albuquerque Ribeiro, et al. A randomized phase III trial<br />

of single-agent pemetrexed (P) versus carboplatin and pemetrexed (CP) in patients<br />

with advanced non-small cell lung cancer (NSCLC) and performance<br />

status (PS) of 2. J Clin <strong>Onco</strong>l 30, <strong>2012</strong> (suppl; abstr 7506).<br />

16 julho/agosto <strong>2012</strong> <strong>Onco</strong>&<br />

em pacientes que recebem tratamento com inibidores da aromatase.<br />

Em um estudo randomizado, controlado por placebo (VITAL),<br />

a adição de 30.000 unidades por semana de vitamina D3 ao tratamento<br />

com letrozol reduziu a incidência de dor de 61% para 38%<br />

(p=0,008).<br />

O estudo também avaliou a incidência de eventos adversos como<br />

um desfecho secundário e encontrou uma proporção mais elevada<br />

(72%) de eventos no braço com placebo, versus 42% no braço com<br />

vitamina D (p


<strong>ASCO</strong> <strong>2012</strong><br />

Quem paga a conta?<br />

Diante de tanta novidade apresentada na <strong>ASCO</strong> <strong>2012</strong>, é impossível deixar<br />

de reconhecer a existência de gargalos importantes que dificultam o acesso<br />

do doente de câncer aos modernos regimes terapêuticos<br />

Por Valéria Hartt e Sergio Azman<br />

ACHEGADA DE TANTOS “NIBES” E “MABES” PODE SIGNIFICAR O SURGI-<br />

MENTO DE UMA NOVA ERA NO TRATAMENTO DO CÂNCER, COM GERA -<br />

ÇÕES DE DROGAS-ALVO QUE VÊM COM A PROMESSA DE UMA TERAPIA<br />

mais efetiva. O problema é a desigualdade no acesso a esses avanços,<br />

que já estão entre os medicamentos mais pedidos no Brasil por via judicial,<br />

compondo um cenário que aprofunda as iniquidades na saúde.<br />

O tema esteve na <strong>ASCO</strong> em 2011, com os estudos de Yousur<br />

Zafar e Scott Ramsey, e voltou neste ano repaginado pela promessa<br />

dos biossimilares.<br />

Não é fácil fechar a conta das novas drogas no tratamento do<br />

câncer. O estudo de Ramsey mostrou em escala matemática que o diag -<br />

nóstico é um fator de risco para a falência pessoal do paciente oncológico<br />

nos Estados Unidos. E cresce em probabilidade para os casos<br />

de câncer de pulmão, tireoide, leucemia/linfoma, útero e colorretal –<br />

nessa ordem. Em média, as taxas de falência aumentaram quatro vezes<br />

no prazo de cinco anos após o diagnóstico de câncer, revelou o estudo<br />

de Ramsey e seus colegas, realizado com o apoio do Tribunal de Falências<br />

dos Estados Unidos.<br />

O estudo coordenado por Zafar dimensionou o tamanho do pro -<br />

blema em pesquisa que investigou 127 pacientes recrutados no Duke<br />

University Medical Center e entre os candidatos ao apoio da Fundação<br />

Healthwell. Desse universo, 99% dispunham de seguro-saúde e ainda<br />

assim 41% dos doentes desembolsavam 523 dólares por mês com<br />

medicamentos de prescrição.<br />

As despesas com drogas de alta complexidade, incluindo as bioló -<br />

gi c as, não afetam apenas as finanças pessoais, mas começam a desequilibrar<br />

o caixa dos sistemas de saúde. Nos Estados Unidos, há<br />

projeção de aumento de 3% a 5% nas despesas com fármacos em<br />

<strong>2012</strong>, com maior impacto em clínicas e ambulatórios, onde a distribuição<br />

dos gastos totais dos 20 principais antineoplásicos continua<br />

18 julho/agosto <strong>2012</strong> <strong>Onco</strong>&<br />

a consumir cifras expressivas (ver tabela na página 20).<br />

A conta por aqui também cresceu e prova que os elevados custos<br />

de aquisição dos modernos agentes anticâncer estão certamente entre<br />

as barreiras ao acesso.<br />

Na prática, temos mesmo uma equação difícil de sustentar, por<br />

uma série de motivos. “Um deles é que está se gastando muito na<br />

investigação de novas drogas”, diz o consultor Stephen Stefani, pre -<br />

sidente para a América Latina da International Society for Pharma -<br />

coeconomis and Outcomes Research (ISPOR), também consultor<br />

e auditor de mais de 70 operadoras de planos de saúde no país. “E<br />

não estou dizendo que se gasta demais em termos qualitativos, mas<br />

que estamos pagando muito dinheiro para ter produtos novos”, entende<br />

o especialista.<br />

A indústria costuma difundir a cifra de 1 bilhão de dólares em<br />

torno de cada molécula de sucesso que chega ao mercado. Fica fácil<br />

entender o preço final.<br />

Na lógica da farmacoeconomia é preciso definir critérios de incorporação<br />

das novas drogas. O problema é que o modelo até hoje empregado<br />

pelos sistemas de gestão – públicos e privados – parece que<br />

não dá mais conta de um cenário com tamanha complexidade.<br />

“Tem que mudar o modelo”, defende Nelson Teich, especialista<br />

em economia da saúde, fundador e presidente da COI – Clínicas <strong>Onco</strong>lógicas<br />

Integradas, no Rio de Janeiro. “O custo-efetividade é um indicador<br />

limitado para embasar toda uma política de saúde e a<br />

incorporação de novas tecnologias. O novo paradigma hoje é o mo -<br />

delo de geração de valor, que confere maior ênfase ao desfecho que<br />

ao custo isoladamente”, diz.<br />

A ideia fica mais clara ilustrada com um exemplo concreto. Se você<br />

tiver benefícios clínicos contundentes, como aconteceu com a leucemia<br />

mieloide crônica, em que a chegada de uma nova droga mudou a


história natural da doença, o sistema vai entregar. O problema é medir<br />

o resultado desse arsenal de novidades terapêuticas no dia a dia e distinguir<br />

drogas efetivas daquelas que trazem respostas marginais.<br />

Tudo leva a crer que os sistemas de gestão da saúde terão de ca -<br />

minhar para estudos cada vez mais segmentados para entender os<br />

benefícios clínicos.<br />

“O que é realmente importante para quem financia é o impacto<br />

orçamentário. Se você não tiver esse dado para o tomador de decisão,<br />

a análise é pobre”, acrescenta Teich.<br />

A saída, segundo ele, é a busca de um caminho mais dialógico<br />

entre a pesquisa clínica e a prática médica, com os chamados estudos<br />

pragmáticos ou estudos do mundo real, que na ótica do especialista<br />

serão cada vez mais valorizados na construção de evidências.<br />

Em última instância, parece que um debate tão necessário é estabelecer<br />

quanto afinal a sociedade brasileira está disposta a pagar para<br />

cada ano de vida de um paciente de câncer.<br />

Dilemas e debates<br />

A oferta, heterogeneamente estruturada e distribuída, parece outro im-<br />

A promessa dos biossimilares<br />

Como afinal avançar na equidade do acesso<br />

às novas drogas em câncer?<br />

A resposta passa pelo debate dos biossimilares, num caminho que<br />

começa a ser trilhado também no Brasil, agora que as primeiras<br />

drogas biológicas estão prestes a perder a proteção patentária.<br />

Nos Estados Unidos, o passo decisivo foi dado em 9 de<br />

fevereiro deste ano, quando o Food and Drug Administration<br />

(FDA) publicou seu guideline e adotou uma postura de apoio ao<br />

desenvolvimento dos biossimilares. Aqui, a Anvisa avança na<br />

moldura regulatória e a indústria começa a se organizar para fa -<br />

bricar os primeiros biossimilares com tecnologia nacional. A<br />

BioNovis, anunciada neste ano como o “superlaboratório”, nasce<br />

do acordo entre quatro fabricantes de genéricos, agora interessados<br />

na produção das drogas biológicas. É um mercado de 160 bilhões<br />

de dólares no mundo e que espera movimentar 10 bi lhões de<br />

dólares no Brasil. Fontes de mercado já falam na fabricação de um<br />

trastuzumabe made in Brazil , possivelmente no esteio desse consórcio<br />

nacional.<br />

“Não tenho dúvida de que os biossimilares podem ter um forte<br />

impacto no acesso ao tratamento do câncer”, diz Stefani, da ISPOR.<br />

portante gerador de desigualdade no acesso aos antineoplásicos e acirra<br />

o contraste entre público e privado.<br />

“O SUS tem um déficit de incorporação histórico. Há mais de dez<br />

anos não absorve nada muito significativo em oncologia”, diz Stefani,<br />

que sustenta que na última década mais de 95% das incorporações de<br />

inovações em oncologia foram no sistema privado e não no público.<br />

Mas, de acordo com a Agência Nacional de Saúde, somente 43 mi -<br />

lhões de pessoas têm acesso à saúde suplementar no Brasil. Isso significa<br />

que a maior parte da população fica mesmo por conta do SUS,<br />

e não é diferente na prática da atenção oncológica. É evidente o impacto<br />

de medicamentos de alto valor agregado sobre as despesas públicas.<br />

Em 2008, perto de 18% de todo o custo da farmácia do Instituto<br />

Nacional de Câncer (INCA) era consumido com a compra de um único<br />

medicamento, o mesilato de imatinibe, segundo ata do próprio conselho<br />

consultivo da entidade.<br />

Cresceram também as demandas judiciais, um fenômeno que<br />

obrigou os cofres públicos a desembolsar grandes cifras com drogas de<br />

alta complexidade. Em 2005 foram impetradas 170 ações contra a Se -<br />

cretaria de Saúde de São Paulo, 59% delas originadas por prescrições<br />

Na Europa, pioneira na experiência, cerca de uma dúzia de produtos<br />

biossimilares já está no mercado, a preços em geral de 25%<br />

a 30% mais baixos que os medicamentos de referência. Estimativas<br />

da União Europeia apontam para uma economia de 1,4 bilhão de<br />

euros em 2009. De carona nesse modelo, os americanos esperam<br />

economizar 25 bilhões de dólares em dez anos.<br />

O Centro Latino-Americano de Pesquisa em Biológicos (Clap-<br />

Bio) alerta para a importância dos preceitos regulatórios. “Se não<br />

houver um modelo criterioso, vai entrar muita coisa perigosa e corremos<br />

o risco de trazer mais malefícios que benefícios. É a regulação<br />

que vai garantir a qualidade e essa é uma etapa crítica, que antecede<br />

a discussão econômica”, explica Denizar Vianna, integrante do<br />

ClapBio e professor adjunto do Departamento de Clínica Médica<br />

da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, instituição que também<br />

é parceira da iniciativa.<br />

Na oncologia, a comunidade médica e, principalmente, a sociedade<br />

civil podem assumir papel importante, mobilizados para<br />

desenvolver uma plataforma de farmacovigilância. “São atores fundamentais.<br />

É uma grande oportunidade que médicos e associações<br />

de pacientes têm de prestar um serviço aos órgãos regulatórios e<br />

ao sistema de saúde como um todo, que precisa progredir nessa<br />

questão”, propõe.<br />

<strong>Onco</strong>& julho/agosto <strong>2012</strong> 19


Os 20 antineoplásicos com maior impacto nos gastos com medicamentos nos EUA<br />

Droga<br />

Bevacizumabe (Avastin)<br />

Rituximabe (Rituxan)<br />

Trastuzumabe (Herceptin)<br />

Oxaliplatina (Eloxatin)<br />

Pemetrexede (Alimta)<br />

Docetaxel (Taxotere)<br />

Bortezomibe (Velcade)<br />

Cetuzimabe (Erbitux)<br />

Bendamustine (Treanda)<br />

Gemcitabina (Gemzar)<br />

Acetato de leuprolida<br />

Paclitaxel–albumina (Abraxane)<br />

Azacitidina (Vidaza)<br />

Fulvestrante (Faslodex)<br />

Ipilimumabe (Yervoy)<br />

Cabazitaxel (Jevtana)<br />

Decitabina (Dacogen)<br />

Doxorrubicina Lipossomal (Doxil)<br />

Panitumumabe (Vectibix)<br />

Capecitabina (Xeloda)<br />

Outros<br />

Total<br />

do próprio Sistema Único de Saúde. Câncer e diabetes foram as doenças<br />

mais referidas, com 59% das ações, e o gasto total para a compra de<br />

medicamentos foi de R$ 876 mil – 75% só para a aquisição de antineoplásicos.<br />

No ano de 2006, a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo<br />

gastou 65 milhões de reais para atender cerca de 3,6 mil pessoas.<br />

Nem por isso a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)<br />

parece disposta a adotar um novo posicionamento.<br />

“Essa história de droga-alvo dirigida, medicina individualizada, é<br />

peça de marketing. Dá a impressão de que nós entendemos que doença<br />

é, que eu consigo identificar a doença em você e dar o melhor tratamento.<br />

Mas isso é peça de marketing”, diz Clarice Alegre Petramale,<br />

especialista em infectologia e saúde pública, diretora da Comissão Nacional<br />

de Incorporação de Tecnologias (Conitec). “Infelizmente a gente<br />

ainda não está no ponto de conseguir sequer entender como é que o<br />

câncer se desenvolve, quanto mais conseguir fazer essa direção toda,<br />

assim tão focada”, diz. “São pontos que mostram a forma de vender<br />

uma ideia nova, um produto novo, que na sua ideia de processo é fantástico.<br />

Mas, por enquanto, ainda é um produto de benefício marginal<br />

e preço muito caro para a vantagem que ele oferece”, completa.<br />

20 julho/agosto <strong>2012</strong> <strong>Onco</strong>&<br />

Gastos 2010<br />

(milhares US$)<br />

Variação percentual<br />

2009<br />

Enquanto o Estado se mantém reticente sobre novas incorporações,<br />

cresce o debate acerca do papel da saúde suplementar na cobertura<br />

dos custos da quimioterapia oral. O Senado quer fomentar a participação<br />

privada, com a aprovação do PLS 352/11, de autoria da senadora<br />

gaúcha Ana Amélia.<br />

A iniciativa altera a lei 9.656, criada em 1998, que dispõe sobre<br />

os planos e seguros privados de assistência à saúde. Agora, falta a<br />

visão do Congresso, numa decisão polêmica que promete debates<br />

acalorados.<br />

Referências bibliográficas<br />

Gastos 2011<br />

(milhares US$)<br />

Variação percentual<br />

2010<br />

2,455,275 2,9 1,567,494 –16,8<br />

1,969,996 3,2 1,553,477 6,0<br />

1,243,799 7,6 974,251 4,7<br />

665,857 –34,3 806,999 58,9<br />

762,243 16,5 594,267 2,6<br />

904,063 –6,0 568,714 –17,3<br />

447,729 21,4 385,141 17,8<br />

437,944 –2,8 335,118 1,8<br />

287,046 73,0 274,775 32,3<br />

581,067 –1,2 263,104 –43,1<br />

295,003 –2,7 223,913 1,7<br />

312,011 19,3 223,347 –7,2<br />

201,507 20,8 167,726 13,5<br />

122,988 32,4 157,588 95,0<br />

0 0,0 140,886 100,0<br />

78,407 100,0 118,566 215,2<br />

124,454 16,1 105,169 14,7<br />

175,450 6,7 98,385 –24,3<br />

94,227 22,7 73,706 5,9<br />

69,620 9,7 62,775 26,2<br />

892,444 –5,2 715,074 6,5<br />

12,121,130 2,4 9,410,475 3,2<br />

Fonte: Projecting future drug expenditures <strong>2012</strong><br />

1. Zafar et al, Abstract 6006 ; Ramsey et al, Abstract 6007.<br />

2. Projecting future drug expenditures <strong>2012</strong>, Doloresco F, Forminaya C,<br />

Shumock GT et AL.<br />

3. www.sbradioterapia.com.br/pdfs/Ata-Consinca-26-nov-08.pdf<br />

4. VIEIRA e ZUCCHI, 2007; CHIEFFI e BARATA, 2009.


Divulgação<br />

<strong>ASCO</strong> <strong>2012</strong><br />

Gilberto Schwartsmann<br />

* Professor da Faculdade de<br />

Medicina da Universidade<br />

Federal do Rio Grande do Sul<br />

(UFRGS); professor do Programa<br />

de Residência Médica em<br />

<strong>Onco</strong>logia do Hospital de<br />

Clínicas de Porto Alegre (HCPA);<br />

membro titular da Academia<br />

Nacional de Medicina (ANM) e<br />

da Academia Sul-Rio-Grandense<br />

de Medicina (ASRM)<br />

Contato:<br />

gilberto.ez@terra.com.br<br />

22 julho/agosto <strong>2012</strong> <strong>Onco</strong>&<br />

Câncer de pulmão no<br />

Brasil: análise em um<br />

contexto internacional<br />

DURANTE A REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE<br />

AMERICANA DE ONCOLOGIA CLÍNICA, A <strong>ASCO</strong><br />

<strong>2012</strong>, EM CHICAGO, FUI HONRADO COM O<br />

convite para coordenar uma das sessões educacionais<br />

sobre câncer de pulmão. O desafio proposto<br />

pelo Comitê Científico foi discutir a realidade da<br />

doença dentro de um contexto internacional. A<br />

sessão foi intitulada “Around the World in Almost<br />

80 Minutes: Lung Cancer Care and Research”. Dela<br />

participaram também Tony Mok, do Prince of<br />

Wales Hospital, em Hong Kong, e Tudor Ciuleanu,<br />

do Institute Ion Chiricuta, na Romênia. Neste artigo<br />

são abordados os principais temas discutidos na<br />

sessão, com enfoque especial ao panorama do<br />

câncer de pulmão no Brasil.<br />

Em uma perspectiva epidemiológica global,<br />

o câncer de pulmão é responsável por cerca de<br />

1,4 milhão de mortes por ano. Segundo projeções<br />

da Organização Mundial de Saúde (OMS) para<br />

<strong>2012</strong>, o câncer de pulmão é o número 1 em mortalidade<br />

entre os homens e o segundo entre as<br />

mulheres. Anualmente, cerca de 1,6 milhão de<br />

novos casos de câncer de pulmão são registrados<br />

no mundo, dos quais a vasta maioria sucumbe<br />

pela doença no mesmo ano.<br />

Segundo a classificação do World Bank, divulgada<br />

em <strong>2012</strong> pela OMS, países como o Brasil, a<br />

China e a Romênia são considerados “economias de<br />

receita intermediária”, ou “middle-income countries”.<br />

Já os EUA, anfitriões do evento, fazem parte<br />

do grupo das “economias de receita elevada”, ou<br />

“high-income countries”. Como “economia de re-<br />

ceita baixa”, ou “low-income countries”, a Nigéria<br />

poderia ser um exemplo.<br />

Utilizando estes cinco países, Brasil, China,<br />

Romênia, EUA e Nigéria, para ilustrar realidades<br />

distintas em nosso planeta, a <strong>ASCO</strong> <strong>2012</strong> foi palco<br />

de uma discussão que permitiu comparar alguns<br />

dos mais importantes indicadores da saúde nestes<br />

vários cenários.<br />

A importância de considerar os diferentes<br />

contextos, a partir de indicadores econômicos,<br />

sociais, culturais, entre tantos outros, baseia-se no<br />

reconhecimento de que a infraestrutura de atendimento<br />

em saúde é fortemente influenciada por<br />

essas variáveis.<br />

Dados da OMS deste ano, mas relativos a 2009,<br />

comparam a densidade de médicos por 10 mil<br />

habitantes em diferentes países. Enquanto no Brasil<br />

temos 17,6 médicos por 10 mil habitantes, a China<br />

possui 14,2 e a Romênia 22,7. Os EUA, por sua<br />

vez, exibem uma situação bem mais favorável, com<br />

24,2 médicos por 10 mil habitantes. São dados que<br />

contrastam enormemente com a situação da<br />

Nigéria, país que conta com apenas 4,0 médicos<br />

por 10 mil habitantes. Essas disparidades são também<br />

muito nítidas em países como o Brasil, de dimensões<br />

continentais, onde há enormes diferenças<br />

regionais quanto a distribuição de renda, condições<br />

sociais, características culturais e acesso aos sistemas<br />

de saúde.<br />

Quando consideramos os dados da OMS sobre<br />

o gasto total em saúde per capita nesses mesmos<br />

países em 2009, temos que o Brasil gastou o equi -


valente a 734 dólares, enquanto a China gastou 191 e a Romênia 432<br />

dólares. Já os EUA gastaram mais de sete vezes o que nós, brasileiros,<br />

gastamos em saúde, com 7.960 dólares. Essa cifra representa um valor<br />

mais de 100 vezes superior ao que gastou a Nigéria, onde o valor per<br />

capita em saúde foi de apenas 67 dólares. Quanto à porcentagem do<br />

Produto Interno Bruto (PIB) dedicada à saúde, os EUA alocaram nesse<br />

mesmo período 17,6%, enquanto os demais países incluídos nessa<br />

análise dedicaram valor bem inferior – o Brasil, 8,8%, a Nigéria, 6,1%,<br />

a Romênia, 5,6%, e a China, 5,1%.<br />

A incidência e a mortalidade por câncer são, em geral, influencia -<br />

das de modo significativo pela distribuição etária (Figura 1). Enquanto<br />

países com predomínio de populações mais jovens enfrentam outros<br />

desafios em saúde, países com maior expectativa de vida tendem a<br />

apre sentar maior incidência relativa de câncer, sobretudo casos de<br />

câncer de mama e próstata, em que o impacto da idade na incidência<br />

é bem reconhecido. O percentual de indivíduos acima de 60 anos no<br />

Brasil é de 10%, e, na China, de 12%. Já a Romênia possui 20% da<br />

população acima de 60 anos, e os EUA, 18%. Em contraste, a Nigéria<br />

possui apenas 5% da população acima dessa faixa etária.<br />

O cenário no Brasil: assimetrias e contrastes<br />

Segundo dados do IBGE de 2010, o câncer é a segunda causa de morte<br />

no Brasil, correspondendo a 16% do total das mortes, perdendo apenas<br />

para as doenças cardiovasculares (29%). A terceira causa de morte corresponde<br />

às chamadas causas externas (por exemplo, acidentes e<br />

mortes violentas; 12%).<br />

Estimativas do Instituto Nacional de Câncer (INCA) para <strong>2012</strong><br />

apontam 27.320 casos novos de câncer de pulmão no Brasil. Destes,<br />

17.210 em homens e 10.110 em mulheres (Figura 2). O número total<br />

de mortes referentes a 2009 foi de 21.069, dos quais 13.293 em<br />

homens e 7.776 em mulheres. Excluindo-se os casos de câncer de pele<br />

não melanoma, o câncer de pulmão foi o segundo tipo de câncer em<br />

incidência no sexo masculino (8,8%), após o câncer de próstata<br />

(30,8%). No sexo feminino, o câncer de pulmão foi o quinto mais incidente<br />

(5,3%), após o câncer de mama (27,9%), colo uterino (9,3%),<br />

colorretal (8,4%) e câncer de tireóide (5,6%).<br />

Tabagismo no Brasil<br />

O Brasil é um dos estados membros da Convenção-Tratado sobre o<br />

Controle do Tabagismo da Organização Mundial da Saúde (OMS).<br />

Através desse tratado, o controle do tabagismo no Brasil passou a ser<br />

política de Estado. Isso implica uma série de ações, como a regulamentação<br />

do conteúdo e emissões de produtos derivados do tabaco, a<br />

proibição do fumo em locais públicos, a inclusão de sinais de alerta<br />

sobre os malefícios do tabaco nos pacotes e carteiras de cigarros, a<br />

proibição da propaganda de produtos do tabaco (sendo restrita apenas<br />

aos pontos de venda) e a proibição do patrocínio de eventos pela indústria<br />

do tabaco.<br />

Deve-se salientar que o governo tem se empenhado na promoção<br />

de ações educativas contra o tabagismo. Estima-se que mais de 14 mil<br />

escolas, 120 mil educadores e 2,3 milhões de estudantes tenham se<br />

engajado ativamente nessas campanhas. Em uma avaliação realizada<br />

pelo Ministério da Saúde sobre os malefícios do fumo em brasileiros<br />

com idade acima de 15 anos, realizada em 2008, observou-se que<br />

94,7% dos indivíduos entrevistados reconheciam que o tabagismo<br />

causa câncer de pulmão; 85,6% reconheciam que é causa de ataque<br />

cardíaco; 73,1% que o tabagismo é responsável por acidentes vasculares<br />

cerebrais; e 91,4% reconheciam que o tabaco causa riscos à saúde<br />

de não fumantes.<br />

Como resultado desse importante conjunto de ações governamentais<br />

e de parte de toda a sociedade, a prevalência de tabagismo na po -<br />

pulação adulta acima de 15 anos de idade no Brasil passou de 32% no<br />

ano de 1989 para 17% no ano de 2008.<br />

O manejo do paciente<br />

Com relação ao diagnóstico, estadiamento e tratamento dos pacientes<br />

com câncer de pulmão, os médicos brasileiros tendem a seguir as recomendações<br />

da Sociedade Brasileira de <strong>Onco</strong>logia Clínica (SBOC),<br />

da Sociedade Brasileira de Cancerologia (SBC) e do Instituto Nacional<br />

de Câncer (INCA). Essas recomendações estão em consonância com<br />

as publicadas pelo National Comprehensive Cancer Network (NCCN),<br />

pela <strong>ASCO</strong> e pela European Society of Medical <strong>Onco</strong>logy (ESMO).<br />

Via de regra, pacientes com câncer de pulmão não pequenas células<br />

(CPNPC), com bom desempenho clínico, nos estádios I-II e em<br />

casos selecionados de estádio IIIA, são encaminhados para tratamento<br />

através da ressecção cirúrgica. Tratamento quimioterápico adjuvante<br />

é oferecido para pacientes submetidos à ressecção completa nos estádios<br />

I com tumores primários de mais de 4 cm, bem como em casos<br />

de pacientes com estádios II e III. Tratamento com radioterapia e<br />

quimioterapia combinadas de forma concorrente ou, em alguns casos,<br />

sequencial é preconizado para pacientes com doença em estádios IIIA<br />

e IIIB considerados não ressecáveis. Esquemas de tratamento<br />

quimioterápico paliativos, em geral com dois agentes combinados, incluindo<br />

um complexo de platina, é a escolha para pacientes no estádio<br />

IV com bom desempenho clínico.<br />

A avaliação da presença de mutações ativadoras de EGFR tem sido<br />

cada vez mais utilizada no caso de pacientes portadores de adenocarcinomas<br />

pulmonares. Nos casos positivos, considera-se o uso de ini -<br />

bidores de tirosino-quinases, tais como os agentes erlotinibe e<br />

gefi tinibe. Além disso, tratamentos de manutenção pós-quimioterapia,<br />

com o uso de premetrexate ou inibidores de tirosino-quinases, têm<br />

sido utilizados em pacientes com estádio IV, na presença de doença<br />

<strong>Onco</strong>& julho/agosto <strong>2012</strong> 23


estável após quatro ciclos de tratamento.<br />

Com relação à presença de mutações passíveis de fornecerem<br />

dados prognósticos em relação ao câncer de pulmão ou dados preditivos<br />

de resposta terapêutica, deve-se destacar o estudo realizado pelo<br />

grupo de Carlos Gil Ferreira no INCA. Nesse estudo, pela primeira vez<br />

no país foram produzidos dados sobre a genotipagem em um coorte<br />

de pacientes brasileiros com CPNPC 8 .<br />

Utilizando amostras de 162 casos de câncer de pulmão ressecados<br />

entre 2003 e 2007, em dois centros brasileiros, os autores ana -<br />

lisaram a presença de mutações em EGFR (exons 18 e 21), KRAS<br />

(exon 2) e BRAF (EXONS 11 E 15) por meio de sequenciamento<br />

genético bidirecional, bem como a presença de amplificação do gene<br />

MET e rearranjos no gene ALK pelo método de FISH. A análise<br />

histopatológica dos casos mostrou que 55,6% dos tumores eram adenocarcinomas,<br />

7,2% do subtipo bronquíolo-alveolar, e 32,7% carcinomas<br />

de células escamosas.<br />

A análise de EGFR foi possível em 150 casos. Mutações foram detectadas<br />

em 25,3% (n=38) dos casos (6, 19, 13 e 5 mutações nos exons<br />

18, 19, 20 e 21, respectivamente. Em cinco casos foram detectadas<br />

mutações em 2 exons distintos. 52,8% dos casos de mutação ocorreram<br />

em adenocarcinomas, 8,3% do subtipo bronquíolo-alveolar, e<br />

36,1% em carcinomas de células escamosas. Mutações no gene Ras<br />

foram observadas em 20,3%, dos quais 76,7% em adenocarcinomas.<br />

Mutações em BRAF foram detectadas em 9,0% dos casos, dos quais<br />

61,5% foram em carcinomas de células escamosas. A presença de um<br />

aumento no número de cópias do gene MET (igual ou maior do que<br />

cinco cópias por célula) foi observada em 13,8% dos casos, dos quais<br />

73,7% foram em adenocarcinomas. Rearranjos do gene ALK estavam<br />

presentes em apenas 2,5% dos casos.<br />

Uma análise retrospectiva de 291 pacientes portadores de câncer<br />

de pulmão de tipo NPC, inicialmente considerados como ressecáveis<br />

por meio de estadiamento pré-operatório, foi posteriormente examinada<br />

à luz dos resultados anatomopatológicos pós-cirúrgicos 9 . A<br />

amostragem era constituída por 75,6% de indivíduos do sexo masculino,<br />

com idade mediana de 61,5 anos, excelente desempenho<br />

clínico em 45,4%, fumantes em 52,9% dos casos, com uma mediana<br />

de 40 carteiras de cigarros consumidos ao ano. O resultado do esta -<br />

diamento patológico revelou discrepância com o estadiamento clínico<br />

em 33% (variação de 8-57) dos casos. A sensibilidade, a especificidade,<br />

o valor preditivo positivo e negativo e a acurácia do estadiamento<br />

clínico foram estimados em 78%, 69%, 82%, 64% e 67%, respectivamente.<br />

Os autores salientam que o estadiamento clínico pré-operatório<br />

possui eficácia limitada nos casos de câncer de pulmão de tipo NPC,<br />

24 julho/agosto <strong>2012</strong> <strong>Onco</strong>&<br />

sugerindo que técnicas mais modernas de imagem, como o uso de<br />

PET-CT, devam ser incorporadas na rotina de avaliação de pacientes<br />

potencialmente cirúrgicos. Isso evitaria um número significativo de<br />

cirurgias desnecessárias.<br />

Isso traz à discussão as enormes limitações de acesso de pacientes<br />

com câncer em nosso país aos métodos diagnósticos, estadiamento e<br />

tratamento. Isso pode ser ilustrado pela distribuição geográfica dos<br />

equipamentos de PET-CT disponíveis para estadiamento no Brasil. Na<br />

região Norte, por exemplo, há apenas dois equipamentos disponíveis<br />

para atender uma população de quase 16 milhões de habitantes. Da<br />

mesma forma, uma análise do número de equipamentos de radiote -<br />

rapia e centros capacitados para oferecer tratamento quimioterápico<br />

por região geográfica revela a grande dificuldade de acesso ao tratamento<br />

do câncer no Brasil. Dados recentes publicados pelo Tribunal<br />

de Contas da União demonstram que o tempo médio no SUS entre a<br />

indicação de tratamento radioterápico e a sua realização é superior a<br />

130 dias, enquanto o tempo médio para o início da quimioterapia é<br />

superior a 70 dias 10 .<br />

Estudo realizado por Naime e colaboradores no estado de São<br />

Paulo analisou o grau de heterogeneidade nos tratamentos<br />

quimioterápicos utilizados em uma amostragem de 564 pacientes com<br />

câncer de pulmão de tipo NPC metastático 11 . Destes, 59,4% rea lizaram<br />

alguma forma de tratamento quimioterápico, 71,5% eram do sexo<br />

masculino, com mediana de idade acima de 50 anos de 83,3%, desempenho<br />

clínico baseado nos critérios da ECOG de 0-2 em 73,6%,<br />

dos quais 52,8% eram portadores de adenocarcinomas e 31,2% de carcinomas<br />

de células escamosas (Figura 3). Nessa amostragem, 57,3%<br />

dos pacientes tratados com quimioterapia receberam combinações de<br />

duas drogas, em 83,5% destes incluindo complexos de platina. A mediana<br />

de ciclos de tratamento foi 4 (variação de 1-13), com mediana<br />

de sobrevida de 8,3 meses para toda a população analisada. A mediana<br />

de sobrevida para a população tratada com quimioterapia foi de 9,7<br />

meses, enquanto o percentual de indivíduos que sobreviveram ao<br />

primeiro ano foi de 37%.<br />

A pesquisa clínica<br />

Foram discutidos também nessa apresentação aspectos referentes à<br />

pesquisa clínica do câncer de pulmão no Brasil. Observa-se que nos últimos<br />

anos houve importante avanço na capacitação de centros de<br />

pesquisa clínica, bem como nos mecanismos governamentais de avalia -<br />

ção dos aspectos científicos, éticos e administrativos pertinentes à atividade.<br />

O Brasil tem participado ativamente de estudos clínicos<br />

internacionais, explorando o uso de novos agentes anticâncer. Há vários


exemplos de estudos clínicos de fases I, II e III em pacientes com câncer<br />

de pulmão em andamento no país. Deve-se destacar que neste ano de<br />

<strong>2012</strong>, durante o encontro anual da <strong>ASCO</strong>, não apenas houve a parti -<br />

cipação de oncologistas brasileiros em estudos clínicos colaborativos<br />

internacionais 12 como também a inclusão de um estudo multicêntrico<br />

brasileiro em uma das sessões orais sobre o câncer de pulmão 13 .<br />

Considerações finais<br />

Em conclusão, o câncer é hoje um problema de saúde pública no Brasil,<br />

com mais de 500 mil casos novos estimados para <strong>2012</strong>. Para este mesmo<br />

ano, o câncer de pulmão será responsável por 17.210 casos novos em<br />

homens e 10.110 casos novos em mu lheres. O Brasil reduziu a porcen -<br />

tagem de fumantes de 32% na década de 1990 para 17% na última década.<br />

Isso é uma conquista fantástica de nossa saúde pública, com<br />

Referências bibliográficas:<br />

1. Schwartsmann G. Around the world in almost 80 minutes: Lung cancer care<br />

and research. <strong>ASCO</strong> Educational Book, <strong>2012</strong>.<br />

2. Siegel R, Naishadham D, Jemal A. Cancer statistics, CA Cancer J Clin. <strong>2012</strong><br />

Jan;62(1):10-29.<br />

3. WHO Health Statistics – <strong>2012</strong>; [http://www.who.int/gho/publications/<br />

world_health_statistics/<strong>2012</strong>].<br />

4. Ferlay J, Shin HR, Bray F, Forman D, Mathers C, Parkin DM. Estimates of<br />

worldwide burden of cancer in 2008: GLOBOCAN 2008. Int J Cancer. 2010<br />

Dec 15;127(12):2893-917.<br />

5. Instituto Nacional de Câncer / Ministério da Saúde. Estimativa <strong>2012</strong>: Incidência<br />

de câncer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA. [http://www.inca.gov.br].<br />

6. Monteiro CA, Cavalcante TM, Moura EC, Claro RM, Szwarcwald CLBull<br />

World Health Organ. Population-based evidence of a strong decline in the<br />

prevalence of smokers in Brazil (1989-2003). Bull World Health Organ. 2007<br />

Jul;85(7):527-34.<br />

7. Sociedade Brasileira de <strong>Onco</strong>logia Clínica, SBOC. Guia Prático do <strong>Onco</strong>logista;<br />

[http://www.sboc.org.br]<br />

8. Melo, ACD, Inada HKP, Barros M, Terra SB, Ligorio C, Sugawara E, Small<br />

IA, Soares FA, Cappuzzo F, Takeuchi K, Ferreira CGM, Sternberg C. Non-small<br />

cell lung cancer (NSCLC) genotyping in a Brazilian cohort. Poster Session<br />

enormes repercussões no futuro.<br />

O Brasil possui um sistema de saúde universal, o Sistema Único de<br />

Saúde (SUS), com cobertura total dos custos com saúde da po pulação.<br />

Apenas 25% dos brasileiros contam com alternativas de seguros de<br />

saúde privados ou corporativos. Infelizmente, o reembolso das despesas<br />

com saúde através do SUS é insuficiente para fazer frente aos<br />

enormes custos com novas tecnologias diagnósticas e de tratamento.<br />

O número de centros de excelência para pacientes com câncer é ainda<br />

aquém de nossas necessidades e apresenta uma distribuição geográfica<br />

inadequada para um país de dimensões continentais.<br />

No Brasil, uma população de mais de 190 mi lhões de habitantes continua<br />

se confrontando com enormes dificuldades de acesso ao sistema de<br />

saúde e a métodos de diagnóstico e tratamento, um cenário que ainda<br />

representa um imenso desafio para as autoridades da saúde.<br />

P2.123; 14th World Conference on Lung Cancer; Amsterdam, NL; 2011.<br />

9. Younes RN, Schutz FA, Gross JL. Preoperative and pathological staging of<br />

NSCLC: retrospective analysis of 291 cases. Rev Assoc Med Bras. 2010 Mar-<br />

Apr;56(2):237-41.<br />

10. Tribunal de Contas da União. Relatório de Auditoria Operacional na Política<br />

Nacional de Atenção <strong>Onco</strong>lógica, 2011. [http://www.tcu.gov.br]<br />

11. Naime FF, Younes RN, Kersten BG, Anelli A, Beato CA, Andrade RM, Carrara<br />

MP, Gross JL. Metastatic non-small cell lung cancer in Brazil: treatment<br />

heterogeneity in routine clinical practice. Clinics (Sao Paulo). 2007<br />

Aug;62(4):397-404.<br />

12. Janne PA, Shaw AT, Pereira JR, Jeannin G, Vansteenkiste J, Barrios CH,<br />

Franke FA, Grinsted L, Smith PD, Zazulina V, Smith IC, Crino L.. Phase II double-blind,<br />

randomized study of selumetinib plus docetaxel versus docetaxel<br />

plus placebo as second-line treatment for advanced KRAS mutant non-small<br />

cell lung cancer. <strong>ASCO</strong> Annual Meeting; abstract #7503, Chicago, USA, <strong>2012</strong>.<br />

13. Lilenbaum R, Zukin M, Pereira JR, Barrios CH, Albuquerque Ribeiro R, de<br />

Beato C, Neron do Nascimento Y, Murad A, Franke FA, Precivale M, de Lima<br />

Araújo L, Baldotto CS, Vieira FM, Small IA, Ferreira CG. A randomized phase<br />

III trial of single agent pemetrexed versus carboplatin and pemetrexed in patients<br />

with advanced non-small cell lung cancer and performance status of 2.<br />

<strong>ASCO</strong> Annual Meeting; abstract #7506, Chicago, USA, <strong>2012</strong>.<br />

<strong>Onco</strong>& julho/agosto <strong>2012</strong> 25


Arquivo pessoal<br />

patologia<br />

Angela Waitzberg<br />

* Professora adjunta do<br />

departamento de patologia da<br />

EPM-Unifesp; responsável<br />

pelo laboratório de<br />

anatomia patológica<br />

Contato:<br />

waitzberg.angela@gmail.com<br />

Arquivo pessoal<br />

Simone Elias<br />

* Coordenadora da assistência e<br />

do diagnóstico, disciplina de<br />

mastologia, Departamento de<br />

Ginecologia da Escola Paulista<br />

de Medicina – Universidade<br />

Federal de São Paulo<br />

Contato:<br />

simone.elias3@gmail.com<br />

28 julho/agosto <strong>2012</strong> <strong>Onco</strong>&<br />

Manipulação dos bioespécimes:<br />

a importância atual da fixação<br />

adequada na avaliação<br />

prognóstica do câncer de mama<br />

DESDE OS PRIMÓRDIOS DA MEDICINA, O RELATO<br />

EADESCRIÇÃO DAS ENTIDADES ANATÔMICAS<br />

HOJE CONHECIDAS ERAM FEITOS EM ESPÉCIMES<br />

a fresco. O advento do formaldeído, descrito pelo<br />

químico russo Aleksandr Butlerov (1828-1886) e<br />

identificado definitivamente pelo químico alemão<br />

August Wilhelm von Hofmann, permitiu a preservação<br />

e o estudo perene de tecidos, órgãos, lesões<br />

e, principalmente, das células. Comparada a ou -<br />

tros campos da medicina, a patologia é recente.<br />

Passou a ser considerada uma área distinta com os<br />

estudos de Virchow, quando descreve as células<br />

como entidades funcionais (Cellularpathologie,<br />

1858), logo depois da histologia. Essa última foi<br />

fundada oficialmente por John Hughes Bennett,<br />

de Edimburgo, que enquanto estudava fisiologia<br />

foi apresentado ao microscópio.<br />

No começo do século 20, as colorações básicas<br />

como hematoxilina e eosina, a preservação de fragmentos<br />

em parafina e o correto encadeamento de<br />

reações químicas básicas se desenvolveram rapidamente.<br />

O período da Segunda Guerra Mundial foi<br />

muito profícuo para a patologia, sobretudo para a<br />

patologia mamária. A descrição de várias entidades,<br />

como o carcinoma lobular, por exemplo, já<br />

ocorre nessa época.<br />

Por mais de 100 anos, o formol cumpriu seu<br />

papel de preservar os tecidos morfologicamente.<br />

Na década de 1980, uma nova abordagem se delineou<br />

em espécimes cirúrgicos: a imuno-histoquímica.<br />

Mais do que a identificação de proteínas<br />

específicas em tecidos, auxiliando no diagnóstico<br />

diferencial de um número cada vez maior de entidades,<br />

passou a ter valor preditivo e prognóstico,<br />

quando a serviço de receptores hormonais em<br />

câncer de mama, por exemplo. Hoje a fixação adequada<br />

dos fragmentos passou a ser uma questão<br />

pré-analítica importante. A descrição, a associação<br />

com pior prognóstico e mais tardiamente a elaboração<br />

de terapias-alvo para outros marcadores tumorais,<br />

de mama, trato gastrointestinal e pulmão,<br />

por exemplo, agregam maior importância ao procedimento<br />

de fixação neste século.<br />

O formaldeído<br />

O formaldeído, ou formol, como conhecemos, é<br />

uma molécula simples de dois átomos de hi -<br />

drogênio, um de oxigênio e um de carbono. Liga-se<br />

a pontes de hidrogênio e progressivamente fixa as<br />

proteínas contidas nas células. O tecido é penetrado<br />

em uma velocidade média de 1,0 cm por hora, o<br />

que indica que um espécime mantido em ar am -<br />

biente irá se decompor rapidamente. Em geral, o<br />

formol está disponível em estado absoluto e para<br />

utilizá-lo deve ser diluído a uma concentração de<br />

10%. Idealmente a solução de formaldeído a 10%<br />

deve ser equilibrada quanto ao pH, tornando assim<br />

uma solução de formaldeído tamponado. Essa versão,<br />

com pH corrigido, é muito útil pois previne a<br />

interferência do formol no nível osmótico e o depósito<br />

de pigmentos fórmicos passíveis de ocorrer<br />

em soluções de pH abaixo de 6.


H<br />

O<br />

= _<br />

C<br />

_<br />

H<br />

Estrutura da molécula<br />

fórmula molecular CH2O<br />

massa molar 30.026 g/mol<br />

aparência colorless gas<br />

ponto de fusão -92°C (puro)<br />

-15°C (sol. a 37%)<br />

ponto de ebulição -21°C (puro)<br />

96°C (sol. a 37%)<br />

solubilidade em água muito alta<br />

Formolização adequada<br />

As peças cirúrgicas e pequenas amostras devem<br />

ser mergulhadas em formol imediatamente após<br />

serem removidas do órgão de origem. A autólise<br />

inicia-se 30 minutos após a remoção do espécime<br />

e esse fenômeno comprometerá sua avaliação<br />

morfológica. Detalhes importantes, como estrutura<br />

nuclear, arquitetura, são progressivamente<br />

afetados pela autólise. O grau nuclear, por exemplo,<br />

se torna virtualmente impossível de ser ava -<br />

liado em peças autolisadas. Espécimes de maior<br />

vo lume, como os provenientes de mastectomia,<br />

devem ser parcialmente seccionados em cortes<br />

paralelos com espessura entre 2 ou 3 cm, com o<br />

cuidado de não seccionar a peça completamente<br />

e mantendo a sua orientação anatômica, para que<br />

todo o tecido seja fixado em intervalo adequado.<br />

Dessa forma, todo o tecido removido não sofrerá<br />

autólise ao decorrer do tempo. Preferencialmente,<br />

esse procedimento deve ser orientado pelo pato -<br />

logista, para adequar sua prática ao exame<br />

macroscópico subsequente.<br />

Efeito da formolização em exames subsidiários<br />

Enquanto a preservação inadequada compromete<br />

a avaliação histopatológica, a morfologia não é<br />

afetada por excesso de formolização. Exposição<br />

prolongada ao formol não altera a arquitetura do<br />

tecido. Peças antigas, mantidas anos em formol<br />

para uso didático, podem ser amostradas e subsequentemente<br />

microscopicamente avaliadas. Infelizmente,<br />

o mesmo não ocorre com a avaliação<br />

de proteínas ou de seus segmentos específicos<br />

pelas técnicas de imuno-histoquímica e hibri -<br />

dização in situ.<br />

Os testes de imuno-histoquímica e hibridização<br />

in situ foram primariamente desenvolvidos em<br />

amostras a fresco. Atualmente, a quase totalidade<br />

dos testes de cunho diagnóstico, prognóstico e<br />

preditivo está disponível para ser realizada em<br />

amostras fixadas em formaldeído ou parafinadas.<br />

No entanto, a eficiência de alguns anticorpos na<br />

detecção de proteínas extranucleares pode ser comprometida<br />

tanto na vigência de preservação insuficiente<br />

como na fixação excessiva.<br />

Os principais problemas na fase pré-analítica<br />

que comprometem a qualidade do resultado obtido<br />

são a qualidade da fixação, o tempo de fixação e a<br />

manipulação adequada da amostra.<br />

O Colégio Americano de Patologistas e a Sociedade<br />

Americana de <strong>Onco</strong>logia Clínica desenvolveram<br />

recomendações e orientações para<br />

preparo e envio de material e amostras para<br />

exame anatomopatológico e imuno-histoquímico.<br />

Esses cuidados são primordiais para otimizar a<br />

eficiência de avaliação de fatores preditivos, a<br />

exemplo dos receptores de estrógeno, cuja expressão<br />

já está afetada após duas horas sem fi -<br />

xação, até o seu total comprometimento após oito<br />

horas de isquemia.<br />

É importante ressaltar que a utilização de formol<br />

tamponado mini mizou muito o efeito e a fixação por<br />

tempo prolongado em estudo equivalente.<br />

“Os principais<br />

problemas na fase<br />

pré-analítica que<br />

comprometem a<br />

qualidade do<br />

resultado obtido<br />

são a qualidade da<br />

fixação, o tempo<br />

de fixação e a<br />

manipulação adequada<br />

da amostra”<br />

<strong>Onco</strong>& julho/agosto <strong>2012</strong> 29


Recomendações da <strong>ASCO</strong>/CAP<br />

• Seccionar os espécimes cirúrgicos e colocá-los em formol em até<br />

uma hora após a exerese.<br />

• Amostras de menor volume como espécimes de biópsia com<br />

agulha grossa ou biópsias cirúrgicas requerem uma fixação imediata e<br />

de no mínimo 8 horas e no máximo de 48/72h.<br />

• Idealmente, deve-se anotar no pedido do exame a hora em que<br />

o material foi colocado na solução e utilizar o formol tamponado ou<br />

com pH variando de 7.0 a 7.4.<br />

Com o advento dos testes ISH (hibridização in situ) para o diagnóstico<br />

de amplificação do gene HER2, as questões práticas de mani pulação dos<br />

Referências bibliográficas<br />

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signal from Canada. <strong>Onco</strong>logist. 2008;13:1134-1136.<br />

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hapten, dual color in situ hybridization and fluorescent in situ hybridization<br />

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is superior to the ligandbinding assay for predicting response<br />

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nuary 4, 2008:B1-B2.<br />

30 julho/agosto <strong>2012</strong> <strong>Onco</strong>&<br />

espécimes cirúrgicos foram estendidas para as condições desses testes<br />

também. Os resultados de testes FISH (hibridização in situ por fluorescência),<br />

CISH (hibridização in situ cromogênica) e SISH (hibridização in situ<br />

por prata) são afetados pelo tempo e pela qualidade da fi xação, do mesmo<br />

modo que o exame imuno-histoquímico tradicional. Nesses tipos de hi -<br />

bridi zação o uso de etanol é especialmente danoso, sendo contraindicado,<br />

pois pode levar a resultados falso-po sitivos. A fixação em etanol é uma<br />

das dificuldades para a rea lização de testes de ISH em amostras de citologia,<br />

pois elas são frequentemente fixadas em soluções contendo etanol.<br />

Concluindo, a adequada padronização da fase pré-analítica é um<br />

procedimento simples, rápido e sem custo, mas que pode interferir diretamente<br />

na escolha da melhor opção terapêutica para o paciente.<br />

11. Mohsin SK, Weiss H, Havighurst T, et al. Progesterone receptor by immunohistochemistry<br />

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Mod Pathol. 2004;17:1545-1554.<br />

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antigen retrieval time as a major contributory element of unreliable assays. Am<br />

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human epidermal growth factor receptor 2 testing in breast cancer. J Clin<strong>Onco</strong>l.<br />

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and therapy. Milanezi F, Carvalho S, Schmitt FC. Expert Rev Mol Diagn. 2008<br />

Jul;8(4):417-34. Review


do bem<br />

Saúde com nariz de palhaço<br />

Projetos de universidades paulistas incentivam estudantes da área da saúde a<br />

levar um pouco de alegria e bem-estar aos pacientes, além de contribuir para<br />

uma formação mais humana<br />

Por Sergio Azman<br />

HOSPITAL NÃO É AMBIENTE DOS MAIS ACOLHEDORES. UM ESPAÇO MEIO<br />

FRIO, DE SILÊNCIO, ONDE AS PESSOAS VÃO QUANDO ENFRENTAM<br />

ALGUM PROBLEMA DE SAÚDE, OU EM APOIO A FAMILIARES E AMIGOS<br />

doentes. Assim, é de se imaginar que uma visita ao setor de cuidados<br />

paliativos do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) possa<br />

não ser uma experiência muito agradável, certo? Errado. Pelo menos<br />

não se você estiver na companhia dos palhaços do MadAlegria, grupo<br />

criado por alunos da faculdade de medicina da USP para levar alegria<br />

e diversão a quem atravessa momentos tão difíceis.<br />

Fomos ao Icesp conferir a performance de alguns desses palhaços<br />

de hospital, que atuam durante três horas, duas noites por semana, em<br />

esquema de rodízio. Sempre em duplas ou trios, exibem um repertório<br />

afinado e que esbanja animação.<br />

Noite de quinta-feira no Icesp, acompanhamos o trabalho de<br />

Amanda Manso, aluna do terceiro ano do curso de terapia ocupacional<br />

e coordenadora discente do projeto, e Karina Pereira, do quarto ano<br />

de fonoaudiologia. Se preferir, Dra Amêndoa e Dra Lady Melancia,<br />

res pectivamente.<br />

A animação começa logo na chegada. A partir do momento em que<br />

entram, todos são convidados para a brincadeira: funcionários, enfermeiros,<br />

pessoal da limpeza, médicos e, claro, pacientes, que já mudam<br />

a expressão assim que veem os palhaços de hospital. Apesar da abordagem<br />

individual, a ação muda a atmosfera de todo o local. “É uma<br />

coisa mágica. Quando você entra no elevador ninguém o conhece, nem<br />

fala com você. É só aparecer de palhaço que as portas se abrem. A<br />

mesma pessoa que nem o olhou agora volta o olhar. Os acompa -<br />

nhantes, os pacientes, todos dão risada, cantam. A aceitação é muito<br />

boa. Nunca fui tão fotografada na minha vida, todo mundo quer tirar<br />

uma foto”, diverte-se Maria Aparecida Basile, responsável pelo Departamento<br />

de Moléstias Infecciosas e Parasitárias, coordenadora docente<br />

32 julho/agosto <strong>2012</strong> <strong>Onco</strong>&<br />

do projeto. Ela própria também assume uma “persona” palhaço, a<br />

Dra Serafina Bonfineti.<br />

Apesar da boa aceitação, Amanda conta que já houve casos em que<br />

o paciente não quer conversa. Para ela, isso pode ser encarado como<br />

algo positivo. Afinal, a única pessoa para quem o paciente pode falar<br />

não durante o tratamento é para o palhaço. “Ele não pode dizer não ao<br />

médico ou ao enfermeiro, dizer que hoje não quer conversar ou não<br />

quer tomar uma injeção. Só para o palhaço é possível falar não”, explica.<br />

O MadAlegria surgiu em agosto de 2010, com o objetivo de levar<br />

um pouco de conforto e bem-estar para o ambiente hospitalar. A iniciativa<br />

nasceu do interesse dos próprios alunos, que decidiram levar<br />

adiante um projeto que já existia na faculdade desde 2005. Hoje, o<br />

projeto ganhou dimensão e transformou-se em um curso de extensão<br />

universitária. “É um projeto dos alunos, é mais deles do que nosso. A<br />

gente dá o suporte, a estrutura”, afirma Maria Aparecida. Ela conta que<br />

a grande proposta é realmente a humanização nas relações, enxergar o<br />

paciente além da doença. “O paciente é um ser humano completo, com<br />

uma história própria, individualizado na sua essência.”<br />

Outra característica muito interessante do MadAlegria é seu caráter<br />

multiprofissional. As diretrizes curriculares nacionais falam do trabalho<br />

multidisciplinar, mas isso normalmente não acontece na prática. Cada<br />

vez as coisas ficam mais especializadas, a formação mais específica,<br />

fragmentada. Como cobrar depois esse comportamento multiprofissional<br />

na prática diária do trabalho? Para incentivar essa convivência<br />

desde o tempo acadêmico, podem participar do projeto alunos a partir<br />

do segundo ano dos cursos de medicina, terapia ocupacional, fisiote -<br />

rapia, fonoaudiologia, enfermagem e nutrição, profissionais que trabalharão<br />

juntos no futuro.<br />

Na perspectiva desse profissional de saúde em formação, a expe -<br />

riên cia também inova e mostra como é importante estimular o aluno


Sergio Azman<br />

dinâmica. “Quando você se aproxima de um paciente,<br />

tem uma responsabilidade técnica, vai ofe -<br />

recer um serviço no qual é especialista. No<br />

MadAlegria você oferece outro tipo de serviço, que<br />

permite ao aluno se solidarizar com o paciente, se<br />

aproximar dele com características mais huma -<br />

nistas, numa vivência que vai torná-lo um profissional<br />

melhor no futuro”, diz Elizabeth Alves<br />

Ferreira, professora do curso de fisioterapia, vice-<br />

Flavio Sinkus a se deparar com um paciente, aqui numa outra<br />

coordenadora docente do grupo e que também participa<br />

da turma de formação de pa lhaço neste ano.<br />

“Ainda não tenho um nome de palhaço. Costumo<br />

falar que sou o Palhaço em cons trução”, diverte-se.<br />

Ao lado de uma sólida formação técnica, é ine -<br />

gável a importância de uma visão humanista sobre<br />

a condição do paciente e sua singularidade. É importante<br />

que o futuro profissional saiba identificar<br />

que o paciente é um indivíduo que não está em<br />

uma situação confortável, está fragilizado. A<br />

Na foto acima, da esquerda<br />

para direita: Maria Aparecida<br />

Basile, Key Utsunomiya,<br />

Amanda Manso, e Elizabeth<br />

Alves Ferreira. Ao lado,<br />

algumas das coordenadoras<br />

caracterizadas com a<br />

turma do MadAlegria<br />

<strong>Onco</strong>& julho/agosto <strong>2012</strong> 33


Divulgação<br />

prática clown traz de maneira bem presente essa dimensão. “Para o<br />

paciente, é um momento em que ele pode esquecer que está no hospital.<br />

Quebra um pouco a rotina, isso é muito importante. Se tiver<br />

um olhar um pouco mais atencioso, uma escuta mais adequada, isso<br />

faz muita diferença no atendimento clínico”, afirma Elizabeth.<br />

E se é bom para o paciente, que pode por alguns minutos esquecer<br />

os problemas e a doença para curtir momentos de descontração, o trabalho<br />

do MadAlegria promove uma mudança no olhar do futuro<br />

profissional da saúde.<br />

Key Utsunomiya (ou Firula Salti Pula), aluna do terceiro ano de fisioterapia<br />

e vice-coordenadora discente do projeto, diz que os professores<br />

sempre falam que é preciso ver o paciente não como uma doença,<br />

mas como um todo. Apesar de ouvir isso durante a formação inteira, o<br />

contato com o paciente só acontece mesmo quando os recém-formados<br />

entram para o mercado de trabalho. Com o MadAlegria, Key agora tem<br />

a possibilidade de exercitar esse contato e colocar em prática a formação<br />

mais humanista oferecida a quem se envolve com o projeto. “Com o<br />

atendimento no MadAlegria você tem uma atuação que comove, que<br />

faz você querer ser um profissional muito melhor, porque percebe que<br />

aquela pessoa realmente necessita de você.”<br />

Brincadeira séria<br />

O palhaço, parece, é a figura mais presente em ações desse tipo. De<br />

Patch Adams, que virou filme, aos Doutores da Alegria, grupo co -<br />

nhecido por realizar um trabalho lúdico com pacientes, a figura clown<br />

é recorrente. Mas, afinal, por que palhaço? Primeiro, porque o palhaço<br />

sempre acolhe quem está errado, sem nenhum tipo de julgamento.<br />

Ele facilita a conversa, é uma figura lúdica que auxilia a aproximação<br />

de alguém que você não conhece. “É muito mais fácil a pessoa se abrir<br />

para um pa l haço do que para alguém que ela nunca viu. Além disso,<br />

tem todo o aparato, as técnicas do palhaço”,<br />

comenta Amanda.<br />

Ao lado do carisma, o palhaço trabalha com<br />

as questões do dia a dia e consegue levar questionamentos<br />

de uma forma diferente, me xendo<br />

muito com o improviso, com situações<br />

que acontecem no momento. Tanto faz<br />

se é criança ou adulto, o pa lhaço mexe<br />

com o senso crítico das pessoas por ser<br />

uma figura normalmente ingênua, que trabalha<br />

com o coração, não com a razão.<br />

34 julho/agosto <strong>2012</strong> <strong>Onco</strong>&<br />

Jamiro Wanderley, a caráter<br />

Apesar do reconhecimento no Conselho Regional de Besterologia<br />

(CRB), o trabalho do MadAlegria é muito sério. Para levar um palhaço<br />

ao hospital é preciso passar por uma formação longa, de seis meses a<br />

um ano, com aulas teóricas, práticas e visitas acompanhadas de supervisores.<br />

O curso introdutório é a porta de entrada para que as pessoas<br />

conheçam o projeto. O curso, com duração média de três dias,<br />

é aberto à comunidade, mas só os alunos dos seis cursos da área de<br />

saúde e os funcionários da faculdade podem participar da seleção.<br />

“Exis t em mais alunos interessados em participar do que o número de<br />

vagas de novos palhaços de hospital. É difícil formar turmas muito<br />

grandes. Nossa turma já é grande demais para a formação de pa -<br />

lhaços. Os Doutores da Alegria, que estão dando a formação neste<br />

ano, costumam trabalhar com salas com 18, 20 pessoas. As nossas<br />

têm 40, 45 pessoas”, conta Amanda.<br />

Segundo Maria Aparecida, essa parceria com os Doutores da Alegria<br />

proporciona uma troca muito interessante, pois eles estão acostumados<br />

a lidar com atores, não com profissionais da área da saúde.<br />

“Nossa ação como ator pode não ser lá essas coisas, mas a gente co -<br />

nhece o outro lado. A vantagem de ser um profissional da saúde é que<br />

você já conhece a dinâmica de um hospital, de uma enfermaria.”<br />

Atualmente o atendimento do MadAlegria é realizado apenas no<br />

Icesp, além de intervenções pontuais em eventos da faculdade e ou -<br />

tros encontros acadêmicos. “Por enquanto estamos trabalhando apenas<br />

na USP, estudando expandir para outras unidades. Já estamos<br />

cooptando outros professores e gostaríamos que os funcionários também<br />

parti c ipassem”, diz Maria Aparecida.<br />

Hospitalhaços<br />

Outro grupo semelhante que tenta levar alegria e momentos de des -<br />

contração ao ambiente hospitalar é o Hospitalhaços, grupo de voluntários<br />

surgido na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). No<br />

entanto, diferentemente do MadAlegria, o Hospitalhaços aceita qualquer<br />

interessado em participar do projeto, e não apenas profissionais<br />

da saúde. “Não é necessário ser profissional da saúde para dar ouvido,<br />

atenção. Qualquer pessoa pode fazer isso. Alguns têm mais habilidade,<br />

outros não”, afirma Jamiro Wanderley, professor de clínica da Unicamp<br />

e um dos coordenadores do projeto. Para ele, muitos funcionários da<br />

saúde atendem bem as pessoas e dão acolhimento, sem ne -<br />

cessariamente ter que se transfigurar em palhaço para essa interação.<br />

“Muitos profissionais fazem o seu trabalho com uma abordagem bem<br />

adequada. Já fazem um trabalho bem humanizado, de acolhimento.”<br />

Jamiro conta que em 1977 eles já faziam peças de teatro no hospital<br />

da Unicamp para quebrar a rotina e levar um pouco de alegria<br />

aos pacientes internados. Com o tempo somaram outras atividades,<br />

como contação de histórias e o seu trabalho de mágico. “Através da<br />

alegria, do lúdico, da quebra da rotina, procuramos fazer com que as<br />

pessoas repensem um pouco suas atitudes”, afirma. Como já é bem


Sergio Azman<br />

conhecido na cidade, o projeto Hospitalhaços ultrapassou<br />

os muros da universidade e expandiu sua<br />

atuação para outros hospitais, que conhecem o trabalho<br />

do grupo e solicitam a participação para<br />

algum tipo de interação nessas unidades.<br />

E não é só quem está internado que pode se<br />

beneficiar do trabalho do Hospitalhaços. Os pacientes<br />

de oncologia, por exemplo, acabam tendo<br />

de voltar ao hospital com frequência, às vezes mais<br />

de uma vez por semana, para receber radioterapia<br />

ou quimioterapia, e podem passar horas tomando a<br />

medicação. Se nesse momento você interage, faz<br />

uma brincadeira, arranca um sorriso, essa vinda ao<br />

hospital passa a ter um caráter um pouco mais tranquilo<br />

do que apenas aquele sofrimento. Quando<br />

você propõe uma atividade, algo com que a pessoa<br />

possa se distrair, todas aquelas preocupações com a<br />

queda do cabelo, com a biópsia, o exame, o tratamento,<br />

tudo o que normalmente permeia a cabeça<br />

de um paciente dão lugar a um pouco de alegria.<br />

“Nos hospitais públicos, como é o caso da Unicamp,<br />

as filas de espera são grandes, e as pessoas ficam ali<br />

aguardando por muito tempo. E ter a atenção des -<br />

viada momentaneamente dessas questões é algo<br />

muito interessante e saudável”, diz Jamiro.<br />

Apesar de não ser exclusivo dos profissionais da<br />

saúde, o Hospitalhaços conta com a participação de<br />

alunos dos diversos cursos da Unicamp. “É bom<br />

porque você acaba deixando na formação deles essa<br />

parte humana, mostrando a importância de um<br />

pouco mais de atenção e paciência nos contatos que<br />

terão futuramente, já como profissionais formados.”<br />

E para quem tem vontade de participar mas<br />

acha que não tem ne n huma habilidade para ser pa -<br />

lhaço, não há problema. É possível ajudar atuando<br />

em diversas outras atividades, como organização da<br />

brinquedoteca, consertos ou trabalhos burocráticos.<br />

“Tem para todos os gostos”, convida.<br />

Para saber mais, acesse:<br />

• www.madalegria.org.br<br />

• www.hospitalhacos.org.br/<br />

• hospitalhacos.blogspot.com.br/<br />

Para vídeos, pesquise MadAlegria ou<br />

Hospitalhaços no youtube<br />

Ao lado: Solange Capano, umas<br />

das pacientes atendidas, gosta<br />

tanto das visitas que fez questão<br />

de ver sua foto na matéria<br />

<strong>Onco</strong>& julho/agosto <strong>2012</strong> 35


quiz<br />

Quebra-cabeça<br />

O quiz é uma seção interativa de <strong>Onco</strong>& que convida leitores<br />

a dar opiniões, levantar dúvidas e emitir hipóteses do caso apresentado.<br />

Para dar mais agilidade à discussão, a partir do próximo número<br />

o quiz será publicado em nosso site<br />

Resposta do quiz da edição 10<br />

M.A.C.I., sexo feminino, branca, 50 anos<br />

- Procurou o pronto atendimento com queixa de dor torácica<br />

retroesternal há 30 dias.<br />

- Apresenta piora progressiva, contínua, incaracterística, sem<br />

fatores de piora, melhora parcial com analgésicos comuns e<br />

opioides fracos, sem dispneia e sem sudorese.<br />

- Nega febre nesse período, com perda ponderal de 5 kg nos<br />

últimos 30 dias.<br />

- Nega tabagismo e etilismo.<br />

Antecedentes pessoais: sem antecedentes pessoais e fami l iares<br />

relevantes.<br />

Medicação em uso: em tratamento de transtorno depressivo,<br />

faz uso de fluoxetina e bupropiona.<br />

Questões:<br />

1. Qual a hipótese diagnóstica?<br />

2. Qual a melhor proposta terapêutica?<br />

1. O diagnóstico é de carcinoma tímico.<br />

2. Após o estadiamento, foi constatado que a paciente apresentava<br />

doença disseminada para pulmões e ossos. Iniciou o trata-<br />

38 julho/agosto <strong>2012</strong> <strong>Onco</strong>&<br />

mento com quimioterapia com pouca resposta. Após a progressão<br />

da doença, recebeu mais outras duas linhas de tratamento.<br />

Como melhor resposta apresentou doença estável.<br />

Evoluiu com progressão do tumor em pulmão, osso e fígado e<br />

veio a falecer de insuficiência respiratória devido ao acometimento<br />

pulmonar.<br />

3. As neoplasias tímicas são a neoplasia mais comum do timo<br />

no adulto. Porém, o carcinoma tímico representa apenas 1%<br />

dessas neoplasias. O timoma é o tipo mais comum. A classificação<br />

histológica das neoplasias do timo é a preconizada pela<br />

Organização Mundial de Saúde (OMS), o carcinoma tímico é o<br />

tipo C da classificação da OMS 1 . O estadiamento mais utilizado<br />

para as neoplasias do timo é o descrito por Masaoka, em que o<br />

autor descreve o seguimento de 96 pacientes com timoma,<br />

avaliando o estadiamento e a presença ou não de miastenia<br />

gravis. Masaoka encontrou uma sobrevida em cinco anos de<br />

50% nos pacientes que se apresentavam em estádio IVB. Vale<br />

ressaltar que nesse estudo foram avaliados apenas pacientes com<br />

timoma, uma apresentação menos agressiva do que o caso des -<br />

crito. É sabido e descrito por diversos autores que o carcinoma<br />

tímico tem uma evolução bastante desfavorável, e esses números<br />

de sobrevida não se aplicam a ele, sendo a sobrevida em cinco<br />

anos de 20% ou menos 2,3,4 . Nos pacientes com doença dissemi -<br />

nada, o tratamento padrão é a quimioterapia. Devido à raridade<br />

dessa neoplasia, não há consenso do melhor esquema a ser utilizado<br />

em primeira linha. As principais drogas são: cisplatina,<br />

doxorubicina, ciclofosfamida, ifosfamida e etoposide 5,6,7,8 . Os<br />

carcinomas tímicos são muito quimiossensíveis, apresentando<br />

taxas de resposta de até 90% em alguns trabalhos, sendo 40%<br />

de resposta completa 5 . O carcinoma tímico é uma neoplasia<br />

rara, e quando se apresenta em estágios avançados tem um mau<br />

prognóstico, com sobrevida mediana de 15 meses.


Resposta do quiz da edição 10<br />

Referências<br />

1. Pathology & genetics: Tumours of the lung, pleura, thymus and heart.<br />

In: World Health Organization Classification of tumours, Travis WD,<br />

Brambilla E, Muller-Hermelink HK, Harris CC (Eds), IARC Press, Lyon,<br />

France 2004.<br />

2. Masaoka A, Monden Y, Nakahara K, Tanioka T. Follow-up study of<br />

thymomas with special reference to their clinical stages. Cancer 1981;<br />

48:2485.<br />

3. Schneider PM, Fellbaum C, Fink U, et al. Prognostic importance of<br />

histomorphologic subclassification for epithelial thymic tumors. Ann<br />

Surg <strong>Onco</strong>l 1997; 4:46.<br />

4. Kim DJ, Yang WI, Choi SS, et al. Prognostic and clinical relevance of<br />

the World Health Organization schema for the classification of thymic<br />

epithelial tumors: a clinicopathologic study of 108 patients and literature<br />

review. Chest 2005; 127:755.<br />

5. Fornasiero A, Daniele O, Ghiotto C, et al. Chemotherapy for invasive<br />

Resposta do quiz anterior – edição 11<br />

Paciente do sexo feminino, de 49 anos, foi encaminhada ao<br />

serviço de oncologia clínica em junho de 2009 para investigação<br />

de lesões hepáticas de aspecto metastático (Figura 1).<br />

Questões:<br />

1. Você solicitaria alguma investigação adicional?<br />

2. Como manejaria essa paciente?<br />

Discussão<br />

Realizou-se estudo imuno-histoquímico do material da biópsia<br />

hepática, no qual se constatou expressão forte de cromogranina<br />

e sinaptofisina, com Ki67 de 5%. O Octreoscan mostrou<br />

hipercaptação acentuada distribuída pelo parênquima hepático<br />

e na projeção do hipogástrio, na topografia correspondente à<br />

lesão perirretal identificada à tomografia (Figura 2). As dosagens<br />

de cromogranina sérica e de 5-HIAA urinário foram normais.<br />

1 2<br />

thymoma. A 13-year experience. Cancer 1991; 68:30.<br />

6. Loehrer PJ Sr, Kim K, Aisner SC, et al. Cisplatin plus doxorubicin plus<br />

cyclophosphamide in metastatic or recurrent thymoma: final results of<br />

an intergroup trial. The Eastern Cooperative <strong>Onco</strong>logy Group, Southwest<br />

<strong>Onco</strong>logy Group, and Southeastern Cancer Study Group. J Clin <strong>Onco</strong>l<br />

1994; 12:1164.<br />

7. Giaccone G, Ardizzoni A, Kirkpatrick A, et al. Cisplatin and etoposide<br />

combination chemotherapy for locally advanced or metastatic thymoma.<br />

A phase II study of the European Organization for Research and Treatment<br />

of Cancer Lung Cancer Cooperative Group. J Clin <strong>Onco</strong>l 1996; 14:814.<br />

8. Loehrer PJ Sr, Jiroutek M, Aisner S, et al. Combined etoposide, ifosfamide,<br />

and cisplatin in the treatment of patients with advanced thymoma<br />

and thymic carcinoma: an intergroup trial. Cancer 2001; 91:2010.<br />

Andrey Soares <strong>Onco</strong>logista clínico do Centro Paulista de <strong>Onco</strong>logia<br />

Concluiu-se pelo diagnóstico de carcinoma neuroendócrino bem<br />

diferenciado – correspondente ao tumor neuroendócrino (TNE)<br />

grau 2, de acordo com os critérios da Organização Mundial da<br />

Saúde de 2010 – metastático em fígado e peritônio. É possível<br />

que as crises de dispneia correspondessem à manifestação carcinoide<br />

da doença.<br />

A paciente foi manejada como um TNE de sítio primário<br />

desconhecido, embora a lesão adjacente ao reto faça considerar<br />

a hipótese de recidiva da neoplasia retal operada oito anos<br />

antes, que poderia consistir, na verdade, em tumor neuroendócrino.<br />

Não foi possível resgatar o material dessa primeira<br />

biópsia para revisão. O diagnóstico de TNE não pancreático<br />

com baixa proliferação limita as opções terapêuticas<br />

disponíveis, uma vez que, neste cenário, a quimioterapia<br />

citotóxica tem eficácia limitada e as evidências que sustentam<br />

o emprego de terapias-alvo são menos consistentes. Solicitou-<br />

<strong>Onco</strong>& julho/agosto <strong>2012</strong> 39


Resposta do quiz anterior – edição 11<br />

se avaliação do grupo de cirurgia abdominal, que entendeu<br />

não haver indicação de terapia local hepática ou de exploração<br />

de eventual tumor primário intestinal.<br />

Em agosto de 2009 iniciou-se tratamento com octreotida<br />

de depósito, na dose de 30 mg a cada 28 dias, com o intuito<br />

de retardar a progressão da doença 1 e de controlar possível<br />

broncoespasmo carcinoide. Houve resolução da dispneia e a<br />

neoplasia permaneceu controlada por 13 meses, até que se<br />

cons t atou progressão à tomografia de controle (Figura 3B),<br />

quando comparada com o exame pré-tratamento (Figura 3A).<br />

A dosagem de cromogranina permanecia normal.<br />

Em novembro de 2010, diante da alta captação ao Octreoscan<br />

e da disseminação extra-hepática da doença, o que desfavorecia<br />

o emprego de terapia local hepática paliativa,<br />

optou-se por submeter a paciente à terapia com lutécio radioativo<br />

2 . Após quatro sessões do tratamento, foi observada uma<br />

pequena redução de alguns dos nódulos hepáticos. Considerou-se<br />

haver doença estável com a terapia nuclear. As lesões<br />

permaneceram inalteradas por mais 14 meses.<br />

Foi detectado novo aumento da massa tumoral em janeiro<br />

de <strong>2012</strong> (Figura 4B) em relação ao exame anterior (Figura 4A).<br />

Iniciou-se tratamento de terceira linha com everolimo 10 mg/dia,<br />

à semelhança do regime utilizado no estudo RADIANT-2 3 . No<br />

3 4<br />

40 julho/agosto <strong>2012</strong> <strong>Onco</strong>&<br />

momento, quase três anos após o diagnóstico de doença<br />

metastática, segue em uso da terapia-alvo, que transcorre com<br />

toxicidade manejável. Planejamos a manutenção do tratamento<br />

atual até progressão, momento em que será considerada a<br />

instituição de quimioterapia citotóxica ou de embolização<br />

hepática paliativa.<br />

Referências:<br />

1. Rinke A, Müller HH, Schade-Brittinger C et al. Placebo-controlled,<br />

double-blind, prospective, randomized study on the effect of octreotide<br />

LAR in the control of tumor growth in patients with metastatic<br />

neuroendocrine midgut tumors: a report from the PROMID Study<br />

Group. J Clin <strong>Onco</strong>l 2009; 27(28):4656-63.<br />

2. Kwekkeboom DJ, de Herder WW, Kam BL et al. Treatment with the<br />

radiolabeled somatostatin analog [177 Lu-DOTA 0,Tyr3]octreotate:<br />

toxicity, efficacy, and survival. J Clin <strong>Onco</strong>l 2008; 26(13):2124-30<br />

3. Pavel ME, Hainsworth JD, Baudin E et al. Everolimus plus octreotide<br />

long-acting repeatable for the treatment of advanced neuroendocrine<br />

tumours associated with carcinoid syndrome (RADIANT-2): a randomised,<br />

placebo-controlled, phase 3 study. Lancet 2011;<br />

378(9808):2005-12.<br />

Duílio Reis da Rocha Filho – duilio.rocha@uol.com.br<br />

<strong>Onco</strong>logia Clínica – Hospital Haroldo Juaçaba/<br />

Instituto do Câncer do Ceará<br />

Tem algum caso interessante que gostaria de divulgar? Mande para contato@revistaonco.com.br


www.revistaonco.com.br<br />

Agosto/Setembro 2011<br />

Ano 2 • n o 7<br />

Entrevista<br />

Câncer em três tempos: uma<br />

conversa com Marcos Moraes,<br />

da Fundação do Câncer<br />

Mama<br />

Diagnóstico precoce em câncer<br />

de mama: como proceder e<br />

quais são as controvérsias?<br />

Quiz<br />

Uma nova seção para testar seus<br />

conhecimentos em oncologia<br />

www.revistaonco.com.br<br />

Outubro/Novembro 2011<br />

Ano 2 • n o 8<br />

Nutrição<br />

Alterações metabólicas e<br />

terapia nutricional em câncer<br />

<strong>Onco</strong>genética<br />

O futuro já chegou? Medicina<br />

baseada em genética<br />

e seus desdobramentos<br />

Do bem<br />

Além do paciente:<br />

quando quem cuida<br />

também precisa ser cuidado<br />

<strong>Onco</strong>geriatria<br />

É hora de aproximar as áreas<br />

e encontrar uma nova forma<br />

de tratar o idoso com câncer<br />

<strong>Onco</strong>logia para todas as especialidades<br />

radioterapia | emergências oncológicas | do bem<br />

<strong>Onco</strong>logia para todas as especialidades<br />

<strong>ASCO</strong> 2011<br />

Confira as tendências<br />

e as polêmicas que<br />

foram destaque na<br />

47 a edição<br />

do congresso<br />

entrevista | onco-hematologia | emergências oncológicas<br />

Para continuar recebendo a revista<br />

gratuitamente, atualize seu cadastro pelo site<br />

www.revistaonco.com.br/cadastro<br />

Avanços em pesquisa<br />

Novos medicamentos<br />

Procedimentos inovadores<br />

Responsabilidade social<br />

Tudo isso e muito mais você encontra<br />

nas páginas da revista <strong>Onco</strong>& – <strong>Onco</strong>logia<br />

para todas as especialidades, que chega<br />

à sua 10 a edição.<br />

O objetivo desta publicação da Iaso<br />

Editora, especializada em comunicação<br />

médica, é transformar a oncologia<br />

em um tema mais familiar para<br />

o não especialista na área. Com artigos<br />

e reportagens atuais e relevantes para<br />

a prática no consultório, a <strong>Onco</strong>&<br />

chega gratuitamente a 10 mil médicos<br />

de todo o país, com a proposta de dar<br />

ao profissional de saúde mais ferramentas<br />

para a prevenção, o diagnóstico precoce<br />

e o acompanhamento de seu paciente<br />

durante e após o tratamento do câncer.


Divulgação<br />

curtas<br />

Médicos de atenção primária desconhecem efeitos tardios<br />

de drogas contra o câncer<br />

Menos de 10% dos médicos de atenção primária conseguem identificar os principais efeitos tóxicos tardios associados a quatro<br />

drogas quimioterápicas usadas para câncer de mama e colorretal. Segundo pesquisa realizada pela Survey of Physician Attitudes Regarding<br />

the Care of Cancer Survivors (SPARCCS), a maioria dos médicos de atenção primária não conseguiu identificar nenhum dos<br />

efeitos tardios associados com paclitaxel, ciclofosfamida e oxaliplatina. A toxicidade da doxurrubicina foi mais familiar, mas apenas<br />

porque 55% reconheceram a disfunção cardíaca como um efeito tardio.<br />

A pesquisa também foi realizada com oncologistas, que tiveram um resultado melhor. Ainda assim, um terço dos 1.110 especialistas<br />

em câncer pesquisados não conseguiu identificar os principais efeitos de todas as quatro drogas.<br />

Segundo Larissa Nekhlyudov, responsável pelo estudo, o campo de sobrevivência é relativamente novo. “O foco tem sido o tratamento<br />

de pacientes com câncer, e só recentemente tomamos consciência da importância da sobrevivência e do potencial para efeitos<br />

tardios”, diz. Estima-se que 12 milhões de sobreviventes de câncer estejam vivendo nos EUA hoje, e o número continua a crescer.<br />

Os efeitos tardios incluídos na pesquisa foram neuropatia periférica, fibrose pulmonar, disfunção cardíaca, menopausa prematura<br />

e neoplasias secundárias.<br />

Entre os prestadores de cuidados primários (PCP), 64% não reconheceram efeitos tardios associados com doxorrubicina, 51%<br />

com ciclofosfamida, 56% com paclitaxel e 71% com oxaliplatina. A porcentagem de oncologistas que não reconheceram nenhum<br />

dos efeitos tardios foi de 0,52% para doxorrubicina, 6% para ciclofosfamida, 1% para paclitaxel e 2% para oxaliplatina.<br />

O estudo tem o apoio do Instituto Nacional de Câncer (INCA) e da Sociedade Americana de Câncer e foi distribuído a uma<br />

amostra representativa de médicos de cuidados primários e oncologistas norte-americanos.<br />

42 julho/agosto <strong>2012</strong> <strong>Onco</strong>&<br />

Parceria entre indústria e universidades cria fórum<br />

colaborativo para estudos em imuno-oncologia<br />

Uma recente parceria entre indústria e universidades pretende facilitar a aplicação dos resultados<br />

de investigação científica na área de imuno-oncologia em testes clínicos e, eventualmente, na<br />

prática clínica, contribuindo para os processos de inovação e avanço na descoberta e desenvolvimento<br />

de novas drogas na área de oncologia.<br />

A rede II-ON (International Immuno-<strong>Onco</strong>logy Network) é um fórum colaborativo que<br />

conta com a participação da Bristol-Myers Squibb e de alguns dos principais centros acadêmicos<br />

do mundo. O objetivo é avançar nos estudos da área, que foca na possibilidade de aproveitar a<br />

inteligência do sistema imunológico do próprio corpo para combater o câncer.<br />

No início, o II-ON será composto por dez das principais instituições de pesquisa sobre<br />

câncer, como o Dana-Farber Cancer Institute, o Institut Gustave Roussy, o Johns Hopkins Kimmel<br />

Cancer Center e o Memorial Sloan-Kettering Cancer Center.


Novo medicamento de<br />

1 a linha em hormonioterapia<br />

para câncer de próstata<br />

Indicado para o tratamento<br />

do câncer de próstata<br />

avançado, sendo o<br />

primeiro bloqueador de<br />

GnRH (hormônio libera -<br />

dor de gonadotropina), o<br />

Firmagon (ace tato de degarelix), novo medicamento da<br />

Ferring Pharmaceuticals, possui um exclusivo meca -<br />

nismo de ação que apresenta rápida e longa supressão<br />

da testosterona. Segundo dados apresentados no Congresso<br />

Europeu de Urologia, o Firmagon proporciona<br />

ao paciente sete meses de sobrevida livre de progressão<br />

da doença.<br />

Por ser um antagonista, o Firmagon se liga diretamente<br />

ao receptor de GnRH e bloqueia imediatamente a<br />

cascata de produção e a liberação de LH e FSH, reduzindo<br />

os níveis de testosterona de maneira rápida e eficaz.<br />

Quando a próstata apresenta uma anormalidade<br />

diag nosticada por meio do exame físico e laboratorial<br />

(dosagem do PSA e biópsia), a testosterona estimula o<br />

crescimento das células malignas, e os medicamentos<br />

para o câncer de próstata existentes no mercado reduzem<br />

os níveis dessa substância no sangue após, em<br />

média, um mês. Devido a seu mecanismo de ação, o<br />

novo medicamento proporciona redução da testosterona<br />

a níveis de castração em até três dias (para 96% dos pacientes),<br />

o que se reflete também na redução imediata<br />

do PSA e na estabilização do tumor.<br />

Estudo apresenta importante<br />

avanço para tratamento de<br />

pacientes com câncer de<br />

mama avançado<br />

A atualização de um estudo de fase III (BOLERO-2)<br />

pode representar um grande avanço no tratamento de<br />

pacientes com câncer de mama metastático (RH+)/<br />

HER2-. Os dados foram divulgados durante o Congresso<br />

Anual da Sociedade Americana de <strong>Onco</strong>logia<br />

(<strong>ASCO</strong>). O estudo da Novartis <strong>Onco</strong>logia confirmou<br />

que a molécula everolimo administrada em combinação<br />

com a terapia hormonal (exemestano) prolongou<br />

em mais de duas vezes o tempo de sobrevida livre<br />

de progressão da doença em pacientes com câncer de<br />

mama metastático com receptor hormonal positivo<br />

(RH+). Além disso, houve uma redução de 55% no<br />

risco de progressão da doença com a terapia combinada<br />

de everolimo + exemestano quando comparada<br />

com o tratamento apenas com exemestano.<br />

Esses resultados podem representar uma importante<br />

evolução no tratamento do câncer de mama<br />

avançado, pois mais de 50% das mulheres não respondem<br />

ao tratamento inicial com a terapia hormonal. As<br />

mulheres que respondem acabam desenvolvendo resistência<br />

ao tratamento com o tempo. Ao atuar na ini -<br />

bição da proteína mTOR, que é um regulador<br />

importante na divisão das células tumorais, no crescimento<br />

dos vasos sanguíneos e no metabolismo celular,<br />

o everolimo tem se mostrado eficaz, pois atua justamente<br />

para ”romper” com essa resistência, adiando a<br />

necessidade de quimioterapia.<br />

<strong>Onco</strong>& julho/agosto <strong>2012</strong> 43


Divulgação<br />

Adição de Avastin à quimioterapia reduz pela metade o risco de<br />

progressão do câncer de ovário recorrente de difícil tratamento<br />

Resultados do estudo AURELIA apresentados na <strong>ASCO</strong> mostraram que o risco de progressão foi<br />

reduzido em 52% nas mu l heres que receberam Avastin mais quimioterapia em comparação com<br />

aquelas que receberam somente quimioterapia (HR = 0,48, p


Divulgação<br />

Celgene anuncia resultados<br />

da tecnologia nab<br />

Na 48 a <strong>ASCO</strong>, em<br />

Chicago, diferentes<br />

estudos científicos<br />

avaliaram o uso da<br />

plataforma nab-paclitaxel<br />

(Abraxane)<br />

da Celgene, uma<br />

das líderes globais<br />

em oncologia. Os<br />

estudos sugerem a<br />

possibilidade de alguma<br />

efetividade terapêutica, em especial nos casos de câncer de difícil<br />

tratamento. A nova droga foi empregada como primeira linha para tratamento<br />

do câncer de pâncreas e para o tratamento de câncer de mama em<br />

doença metastática ou recidiva. A tecnologia nab também foi clinicamente<br />

testada em casos de câncer de pulmão não pequenas células e sugere resultados<br />

animadores.<br />

A plataforma nab é desenvolvida a partir de nanopartículas de albumina<br />

para vencer a barreira sangue-estroma e penetrar a célula do tumor.<br />

O mecanismo de ação se propõe a melhorar a entrega do quimiote -<br />

rapêutico para o núcleo da célula tumoral.<br />

Em pacientes com câncer de pulmão não pequenas células, os dados<br />

apresentados a partir de um estudo randomizado de fase III avaliando<br />

Abraxane mais carboplatina mostraram relação estatisticamente significativa<br />

(p = 0,005), com melhoria de 31% na taxa de resposta global quando<br />

comparado com paclitaxel mais carboplatina no tratamento de primeira<br />

linha. Uma análise retrospectiva em carcinoma de células escamosas também<br />

mostrou benefícios em 67% dos pacientes em comparação ao braço<br />

que recebeu a combinação de paclitaxel.<br />

A <strong>ASCO</strong> também apresentou estudo clínico randomizado com 861<br />

pacientes com câncer pancreático, usando nab-paclitaxel associada a<br />

gemcitabina ou gemcitabina isoladamente. O desenho do estudo baseiase<br />

nos resultados promissores da investigação fase I / II realizada com<br />

67 pacientes, publicada no Journal of Clinical <strong>Onco</strong>logy (Von Hoff et<br />

al, 2011 JCO).<br />

Em câncer de mama metastático, a nab-paclitaxel foi mais eficaz que<br />

os taxanos convencionais em termos de sobrevida livre de progressão, com<br />

menor toxicidade.<br />

Novo laboratório de<br />

imunogenética do INCA<br />

Para ampliar a capacidade de identificar<br />

doadores de medula óssea, o Instituto Nacional<br />

de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA)<br />

inaugurou, no Hospital do Câncer II, as novas<br />

instalações do laboratório de imunogenética.<br />

O serviço, que funcionou durante 30 anos<br />

no Hospital dos Servidores do Estado do Rio de<br />

Janeiro, foi um dos grandes responsáveis pelos<br />

primeiros treinamentos para a implantação do<br />

Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea<br />

(REDOME) e é referência do Ministério da<br />

Saúde para os exames de histocompatibilidade<br />

(HLA), que cruza os dados dos prováveis<br />

doadores com os de pacientes que precisam de<br />

transplante de medula óssea.<br />

“Não haverá mais necessidade de enviar materiais<br />

para o exterior. Trata-se de mais um importante<br />

marco na busca por doadores<br />

compatíveis para os pacientes que aguardam por<br />

um transplante”, afirmou Luís Fernando Bouzas,<br />

diretor do Centro de Transplantes de Medula<br />

Óssea do INCA (CEMO).<br />

O novo laboratório de imunogenética contará<br />

com a Plataforma QIAsymphony para purificação<br />

de DNA genômico, um aparelho capaz<br />

de identificar cada tubo de sangue a ser analisado<br />

e, ao final do processo de purificação, gerar uma<br />

nova identificação para cada grupo de exames.<br />

Também foi adquirido um sequenciador de DNA<br />

que vai proporcionar alta resolução das tipificações<br />

HLA, permitindo a inclusão de novos<br />

exames como o de tipificação confirmatória, fundamental<br />

para que os exames de compatibi lidade<br />

sejam exatos e o transplante garantido.<br />

O investimento total foi de R$ 2,7 milhões,<br />

sendo R$ 1,8 milhão financiados pelo BNDES e<br />

900 mil com recursos do próprio instituto. A<br />

meta agora é conseguir a acreditação internacional<br />

para o laboratório, possibilitando exames<br />

para outros países.<br />

<strong>Onco</strong>& julho/agosto <strong>2012</strong> 45


mundo virtual<br />

<strong>Onco</strong>& recomenda<br />

A seção Mundo Virtual ajuda a selecionar o que é ou não relevante e confiável na<br />

internet. A cada edição, sites importantes de oncologia voltados tanto para médicos,<br />

com novidades e informações sobre a área, como para pacientes, com dicas de prevenção<br />

e assistência ao doente.<br />

Quiz da Prevenção<br />

• www.quizdaprevencao.com.br<br />

Uma parceria entre a área de oncologia do Hospital Israelita<br />

Albert Einstein com a ONG Suzan G. Komen for the cure®<br />

traz um novo formato para disseminar informação e orientação<br />

sobre o câncer de mama na internet. O Quiz da Prevenção<br />

é uma forma interativa e dinâmica de testar os<br />

conhecimentos dos internautas sobre prevenção, diagnóstico<br />

e tratamento do câncer de mama.<br />

O site funciona de forma integrada ao Facebook e ao Twitter,<br />

onde é possível compartilhar o número de acertos no teste<br />

e mostrar o conhecimento sobre a doença.<br />

São dez perguntas que abordam curiosidades como<br />

câncer de mama em homens, e questões práticas sobre a<br />

cobertura pelo Sistema Único de Saúde da cirurgia de recons -<br />

trução da mama. Ao compartilhar as respostas, o objetivo é<br />

criar uma corrente de divulgação de informações relevantes<br />

para a prevenção e a cura.<br />

46 julho/agosto <strong>2012</strong> <strong>Onco</strong>&<br />

Pacientes de mieloma múltiplo<br />

Também conhece sites interessantes sobre oncologia? Mande sua sugestão para contato@revistaonco.com.br<br />

• wwwasagadospacientesmm.blogspot.com.br<br />

O blog do grupo Direito de Viver – A Saga dos Pacientes<br />

com Mieloma Múltiplo, liderado pelo aposentado Raimundo<br />

Bruzzi, leva informação e busca promover ações imediatas,<br />

como abaixo-assinados e programação de manifestações.<br />

A última iniciativa do grupo foi a publicação de uma carta<br />

aberta à presidente Dilma Rousseff relatando a luta dos pacientes<br />

e pleiteando a aprovação do medicamento lenalidomida<br />

pela Anvisa. O mieloma múltiplo ainda é incurável, mas<br />

seu controle é possível graças à lenalidomida, droga aprovada<br />

em mais de 75 países. No Brasil, o registro do medicamento<br />

está emperrado na Anvisa há mais de quatro anos.


Sergio Azman<br />

acontece<br />

Fique por dentro dos congressos, simpósios, encontros de atualização e outros<br />

tantos eventos do mundo da oncologia. Confira aqui o que foi destaque:<br />

V Congresso Brasileiro de Nutrição e Câncer (CBNC),<br />

Ganepão <strong>2012</strong> e III International Conference<br />

of Nutritional <strong>Onco</strong>logy (ICNO)<br />

Aconteceram em São Paulo, entre os dias 20 e 23 de junho, o<br />

V Con gresso Brasileiro de Nutrição e Câncer (CBNC), o Ganepão<br />

<strong>2012</strong> e a III International Conference of Nutritional <strong>Onco</strong>logy<br />

(ICNO). O congresso reuniu especialistas nacionais e internacionais<br />

para discutir a importância da nutrição na prevenção e no<br />

tratamento multimodal do câncer.<br />

Segundo o presidente do congresso, Dan Waitzberg, a nutrição<br />

tem um papel fundamental no tratamento do paciente oncológico.<br />

“O câncer é uma doença que em determinado momento<br />

esbarra em alterações do estado nutricional. Associada às outras<br />

armas terapêuticas, a nutrição pode ajudar a resolver a inflamação,<br />

melhorar o estado imunológico e contribuir para o combate<br />

ao tumor”, afirmou.<br />

Reuniões mensais da Sociedade Brasileira de<br />

Cirurgia <strong>Onco</strong>lógica – Regional São Paulo<br />

A regional São Paulo da Sociedade<br />

Brasileira de Cirurgia <strong>Onco</strong>lógica<br />

(SBCO-SP) realiza uma série de reu -<br />

niões mensais, toda segunda quarta-feira do mês, no auditório<br />

da Associação Médica Brasileira.<br />

O objetivo é criar um fórum de discussão de casos<br />

clínicos e apresentação de temas relacionados à oncologia<br />

cirúrgica em suas diversas áreas de atuação, atualizando<br />

oncologistas, não oncologistas e todos os profissionais da<br />

saúde com interesse na especialidade.<br />

Os próximos encontros acontecerão nos dias 11 de<br />

julho e 8 de agosto.<br />

Simone Simon<br />

Tendo como público-alvo oftalmologistas,<br />

hematologistas,<br />

oncologistas pediátricos, re si -<br />

dentes e pro fissionais da saú de,<br />

aconteceu no dia 27 de ju nho,<br />

no Rio de Janeiro, o I En contro<br />

de <strong>Onco</strong>logia Ocu lar, parceria<br />

Comissão organizadora:<br />

entre o Instituto Nacional de<br />

Evandro Lucena Jr., Sima Ferman Câncer José Alencar Gomes da<br />

e Rubens Belfort Mattos Neto Silva (INCA), com a Escola<br />

Pau lista de Medicina e a Asso -<br />

ciação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina – SPDM.<br />

O evento foi um pré-congresso do XVII Congresso Internacional<br />

da Sociedade Brasileira de Oftalmologia, com a proposta de discutir<br />

a oncologia ocular, subespecialidade da oftalmologia encarregada dos<br />

tumores do bulbo ocular e da órbita e seus anexos.<br />

III Fórum de Discussão<br />

Osiris Bernardino I Encontro de <strong>Onco</strong>logia Ocular<br />

Alessandro Nascimento (Anvisa), Clarice Alegre Petramale (Ministé -<br />

rio da Saúde), Luciana Holtz e Tiago Farina (Instituto <strong>Onco</strong>guia)<br />

O Instituto <strong>Onco</strong>guia realizou o III Fórum de Discussão de Políticas<br />

da Saúde em <strong>Onco</strong>logia, no dia 25 de junho, em São Paulo, trazendo<br />

à discussão temas como regulação do acesso aos serviços de saúde,<br />

incorporação de tecnologias de saúde e pesquisa clínica.<br />

O evento reuniu alguns dos principais atores do universo da oncologia,<br />

como governo, indústria, sociedades de oncologia e pesquisa<br />

clínica, além de associações de pacientes, familiares e imprensa.<br />

Dividido em dois eixos de discussão, Sistema Único de Saúde<br />

e Saúde Suplementar, o fórum foi uma oportunidade de debater<br />

ideias para construir diretrizes que melhorem a qualidade do<br />

atendimento ao paciente.<br />

<strong>Onco</strong>& julho/agosto <strong>2012</strong> 47


calendário <strong>2012</strong><br />

Evento Data Local Informações<br />

Reunião Mensal da Sociedade<br />

Brasileira de Cirurgia <strong>Onco</strong>lógica –<br />

Regional São Paulo<br />

Simpósio Internacional de Câncer<br />

de Mama para <strong>Onco</strong>logista Clínico<br />

5 o Congresso Latino-Americano de<br />

Câncer de Pulmão (LALCA <strong>2012</strong>)<br />

14 o Congresso Mundial<br />

de Câncer de Pele<br />

IX Maratona Urológica<br />

Internacional<br />

The Best of <strong>ASCO</strong> <strong>2012</strong> – American<br />

Society of Clinical <strong>Onco</strong>logy<br />

XV Jornada de Patologia do Hospital<br />

A.C.Camargo/ V Encontro Internacional<br />

de Patologia/ I Consultando<br />

o Especialista – <strong>2012</strong><br />

Simpósio Internacional de<br />

Câncer de Cabeça e Pescoço<br />

V Jornada de Cuidados Paliativos –<br />

Icesp<br />

II Congresso Internacional<br />

de Neuro-<strong>Onco</strong>logia<br />

Câncer de Mama – 7a Edição 23 a 25 de agosto Gramado, RS<br />

SOGESP <strong>2012</strong> – Associação de<br />

Obstetrícia e Ginecologia do<br />

Estado de São Paulo<br />

50 julho/agosto <strong>2012</strong> <strong>Onco</strong>&<br />

11 de julho e 9 de agosto São Paulo, SP www.sbco.com.br/site/eventos/eventlist<br />

13 e 14 de julho São Paulo, SP www.sbcancer.org.br<br />

25 a 27 de julho Rio de Janeiro, RJ www.lalca<strong>2012</strong>.org<br />

1 a 4 de agosto São Paulo, SP www.skincancer<strong>2012</strong>.com<br />

3 e 4 de agosto Rio de Janeiro, RJ maratonaurologica.com.br/index.html<br />

3 e 4 de agosto Porto Alegre, RS www.hcpa.ufrgs.br/<br />

8 a 11 de agosto São Paulo, SP www.accamargo.org.br<br />

4 de agosto<br />

30 de agosto a<br />

1 de setembro<br />

São Paulo, SP<br />

17 e 18 de agosto São Paulo, SP www.icesp.org.br<br />

17 e 18 de agosto<br />

São Paulo, SP<br />

São Paulo, SP<br />

www.rvmais.com.br/cabecaepescoco<br />

www.rvmais.com.br/<br />

neuro-oncologia/<br />

www.plenariumcongressos.com.br/<br />

congressos/cancerdemama<strong>2012</strong>/<br />

www.sogesp.org.br/xvii_congresso_<br />

sogesp__<strong>2012</strong>.html<br />

Calendário de eventos de <strong>2012</strong> completo e atualizado:

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