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Augusto de Santa-Rita e a criação literária para a infância

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Como me per<strong>de</strong>u a pista<br />

É que me <strong>de</strong>ixa intrigado!<br />

Se andava sempre a meu lado,<br />

Se nunca o perdi <strong>de</strong> vista!<br />

Virgem <strong>Santa</strong>, não me <strong>de</strong>ixes<br />

Sem o teu doce afago!<br />

Só se me caiu no lago<br />

Ao dar <strong>de</strong> comer aos peixes!<br />

Mas se eu fiz vazar a agua<br />

Que todo o lago continha,<br />

E nada!... Virgem Santinha,<br />

Condoe-te da minha mágua!<br />

O‟ meu Deus, quem mo encontrasse!<br />

Como sofrer esta sina?!<br />

Só se foi nalguma esquina<br />

Que <strong>para</strong> trás me ficasse!<br />

<strong>Augusto</strong> <strong>de</strong> <strong>Santa</strong>-<strong>Rita</strong> e a <strong>criação</strong> <strong>literária</strong> <strong>para</strong> a <strong>infância</strong><br />

Não mais há-<strong>de</strong> ser achado<br />

Um menino que se per<strong>de</strong>?!<br />

Só se foi em balão ver<strong>de</strong>,<br />

Pelo cor<strong>de</strong>l pendurado!<br />

Só se foi no escon<strong>de</strong>-escon<strong>de</strong>,<br />

Procurando um sítio a esmo…<br />

Tivesse encontrado um, on<strong>de</strong><br />

Se escon<strong>de</strong>sse <strong>de</strong> si mesmo!<br />

Ou sua própria figura,<br />

Que no seu espelho <strong>de</strong> aço,<br />

O puxasse por um braço,<br />

Lá <strong>para</strong> trás da moldura!<br />

Por toda a parte, em redor,<br />

O procurei, mas em vão!<br />

Só se foi no corredor<br />

Que mo levasse o Papão!<br />

Se, por um lado, a religiosida<strong>de</strong> está presente, por outra nem sempre é clara a<br />

manifestação do catolicismo. No que diz respeito ao casamento, quando Verónica e<br />

Frankin Joice casam, em A Obra do Mestre Hilário, é dito que os noivos saem do<br />

“Templo” e não <strong>de</strong> uma igreja. Trata-se <strong>de</strong> um homem <strong>de</strong> estado, não havendo ligação<br />

aparente entre estado e religião.<br />

Através da análise <strong>de</strong>senvolvida, é perceptível o espírito lúdico com que o autor<br />

reveste a sua produção infantil. Ironias, metáforas ou jogos <strong>de</strong> palavras são alguns dos<br />

processos utilizados <strong>para</strong> alcançar o seu intento: “<strong>de</strong>sapareceu entre uma nuvem <strong>de</strong> oiro,<br />

poeira <strong>de</strong> um meio-dia lindo, ar<strong>de</strong>nte, primaveril.” 70 ; “as gaivotas riscando o azul do céu<br />

e, quando em quando, o litoral <strong>de</strong> uma ilha entre a bruma <strong>de</strong> um longínquo horizonte” 71 .<br />

A linguagem cuidada, por seu turno, surge em <strong>para</strong>lelo com a linguagem popular, como<br />

testemunha a expressão “<strong>para</strong> o ver <strong>de</strong> fel e vinagre”, em Tatinha e Bataca.<br />

Os próprios títulos <strong>de</strong> contos, fábulas ou <strong>de</strong> singelas produções poéticas contêm,<br />

<strong>de</strong> forma constante, a apresentação <strong>de</strong> antinomias. Veja-se o caso <strong>de</strong> Histórias <strong>de</strong> um<br />

Menino Fino e <strong>de</strong> um Menino Ordinário.<br />

Através da apresentação <strong>de</strong> dois pólos opostos, sem que, obrigatoriamente, um<br />

surja como melhor que o outro, o autor explora uma situação, apresenta uma<br />

70 Em A Obra <strong>de</strong> Mestre Hilário.<br />

71 I<strong>de</strong>m.

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