17.04.2013 Views

Augusto de Santa-Rita e a criação literária para a infância

Augusto de Santa-Rita e a criação literária para a infância

Augusto de Santa-Rita e a criação literária para a infância

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

<strong>Augusto</strong> <strong>de</strong> <strong>Santa</strong>-<strong>Rita</strong> e a <strong>criação</strong> <strong>literária</strong> <strong>para</strong> a <strong>infância</strong><br />

guardada. Tal referência permite uma leitura que não <strong>de</strong>ixa dúvidas sobre a<br />

heterogeneida<strong>de</strong> social das personagens: uma vivia na sua choupana, o outro no palácio;<br />

uma carrega um molho <strong>de</strong> lenha às costas, outro veste “um rico pijama <strong>de</strong> seda<br />

oriental”; em suma, uma representa o povo, a pobreza, o outro a nobreza, a riqueza.<br />

Mas esta dualida<strong>de</strong> está presente no próprio mobiliário. O contador <strong>de</strong> pau-preto,<br />

por exemplo, vem ainda reforçar a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> riqueza e <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>sta, não obstante o<br />

valor atribuído ao objecto “mágico”.<br />

Ainda a presença do Bobo da Corte, bem como a forma como o “lauto banquete”<br />

<strong>de</strong>correu são motivos que ajudam a caracterizar a opulenta vida real: “<strong>para</strong> mais <strong>de</strong><br />

quinhentos convidados, servidos <strong>de</strong> calção e libré, iluminaram-se todos os salões do<br />

Paço".<br />

O texto, em si, respon<strong>de</strong> a um problema existencial, ensinando a criança leitora a<br />

encarar a vida com confiança na possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> enfrentar e resolver as dificulda<strong>de</strong>s ou,<br />

pelo contrário, o sentido antecipado da <strong>de</strong>rrota.<br />

Ao longo dos textos é dada ênfase às qualida<strong>de</strong>s morais dos heróis ou heroínas.<br />

In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da raça ou grupo social, o que é visível é a superiorida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma<br />

classe/grupo face aos restantes.<br />

As histórias surgem imbuídas <strong>de</strong> uma moral e <strong>de</strong> carga pedagógica, sem que a<br />

vertente religiosa seja esquecida. Na produção poética tal acontece em composições<br />

produzidas como esse intento, como sejam “A Morte <strong>de</strong> <strong>Santa</strong>-Maria”, ou noutras em<br />

que, sensivelmente e <strong>de</strong> forma insistente, o sujeito poético revela a sua índole religiosa.<br />

É o caso <strong>de</strong> “Pápim Perdido” 69 :<br />

Quatro lustros já lá vão<br />

Sem se saber <strong>de</strong>sse Infante<br />

Que olhava o Mar, <strong>de</strong> um mirante<br />

Por cima do torreão.<br />

Fugir… Pápim não fugia!<br />

Morrer… também não morreu!<br />

Então que lhe suce<strong>de</strong>u?!<br />

Por on<strong>de</strong> se sumiria?!<br />

69 10 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 1926.<br />

Passam vinte anos e ao fim<br />

- (Jesus! Como o tempo foge…) –<br />

Pergunto por ele e hoje<br />

Ninguêm sabe do Pápim!<br />

Só se se pôs a chorar<br />

O meu perdido tesouro,<br />

E se foi atrás do choro<br />

Para não mais regressar!<br />

Se assim foi, Virgem Maria,<br />

Faze, Santinha do Céu,<br />

Com que eu vá atrás do meu<br />

Para on<strong>de</strong> o <strong>de</strong>le iria!

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!