Augusto de Santa-Rita e a criação literária para a infância
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<strong>Augusto</strong> <strong>de</strong> <strong>Santa</strong>-<strong>Rita</strong> e a <strong>criação</strong> <strong>literária</strong> <strong>para</strong> a <strong>infância</strong><br />
confun<strong>de</strong>m-se num só, aparecendo nomeações como “da nossa linda cida<strong>de</strong>”, “dos<br />
nossos costumes”, ou “os nossos hóspe<strong>de</strong>s”. O narrador <strong>de</strong>ixa, então, <strong>de</strong> ser,<br />
momentaneamente, heterodiegético e passa a homodiegético. Note-se que esta<br />
i<strong>de</strong>ntificação/confusão quando é narrada, por exemplo, a viagem dos americanos pela<br />
cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lisboa 62 , po<strong>de</strong> transmitir a pertença e o gosto do autor por este local,<br />
facilitando, também, a i<strong>de</strong>ntificação com o narrador e reforçando o contacto com o<br />
leitor infantil.<br />
O autor não consegue anular a sua existência, mas, antes, surge como um<br />
verda<strong>de</strong>iro flâneur na sua cida<strong>de</strong>, incutindo ao texto uma certa verosimilhança, sendo a<br />
sua presença perceptível em vários ambientes. A cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lisboa e arredores,<br />
nomeadamente Alfama ou Cascais, são ambientes on<strong>de</strong> as personagens circulam.<br />
4. Breves observações acerca do «Pim-Pam-Pum»<br />
Com a emergência <strong>de</strong> novos códigos <strong>de</strong> conduta dos anos 20 e 30, incitada pela<br />
acção das políticas educativas e culturais dos Estados e pelos próprios mass media -<br />
imprensa, a rádio e o cinema - que fornecem a mesma informação a toda a gente,<br />
assiste-se à <strong>de</strong>sagregação dos referentes culturais tradicionais, havendo uma tendência<br />
<strong>para</strong> a uniformização dos modos <strong>de</strong> vida. Por seu turno, do ponto <strong>de</strong> vista social, as<br />
gran<strong>de</strong>s diferenças entre classes diluem-se, não obstante alguns antagonismos. “Os<br />
operários, concentrados nas gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s, eram vistos como uma “massa”, já mais ou<br />
menos organizada, aparentemente cheia <strong>de</strong> agravos e sem a reverência pelas autorida<strong>de</strong>s<br />
que ainda se julgava tivesse a população dos campos.” (RAMOS 1994: 552)<br />
A cultura passa a ser <strong>de</strong> massas, pertença <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> público trabalhador, sem<br />
gran<strong>de</strong>s exigências, mas que gosta <strong>de</strong> ocupar os tempos livres. Implicitamente surgem<br />
trabalhos que implicam pouco esforço <strong>de</strong> compreensão, alguma superficialida<strong>de</strong> e<br />
procuram a novida<strong>de</strong>, sem per<strong>de</strong>r <strong>de</strong> vista a indução <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados comportamentos e<br />
valores, ao mesmo tempo que <strong>de</strong>spertam necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> consumo.<br />
62 Em A Obra <strong>de</strong> Mestre Hilário.