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Augusto de Santa-Rita e a criação literária para a infância

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<strong>Augusto</strong> <strong>de</strong> <strong>Santa</strong>-<strong>Rita</strong> e a <strong>criação</strong> <strong>literária</strong> <strong>para</strong> a <strong>infância</strong><br />

Concomitantemente, é perceptível a figura <strong>de</strong> <strong>Augusto</strong> <strong>de</strong> <strong>Santa</strong>-<strong>Rita</strong> através da<br />

personagem Mestre Hilário (e registe-se, suplementarmente, a afinida<strong>de</strong> lexical entre os<br />

apelidos do autor e da sua personagem):<br />

Des<strong>de</strong> o raiar da sua juventu<strong>de</strong> que, quási exclusivamente, se <strong>de</strong>dicara aos<br />

pequeninos, dirigindo periódicos e obras <strong>literária</strong>s e, principalmente, poéticas, pois<br />

Mestre Hilário fôra sempre e era, em teoria e na prática, na obra e na vida, acima <strong>de</strong><br />

tudo um extraordinário poeta <strong>de</strong> intuição genial.<br />

Por toda a obra estão presentes diversos elementos que nos ajudam a conhecer a<br />

realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> então, bem diferente da <strong>de</strong> hoje em dia.<br />

Há referência aos fardamentos 58 e à forma como, organizadamente, os discípulos<br />

aguardavam a chegada do Presi<strong>de</strong>nte, seguido do “seu séquito <strong>de</strong> ministros e<br />

secretários”; as crianças entoavam “a Portuguesa, em continência”, quando recebiam o<br />

Presi<strong>de</strong>nte. Por outro lado, somos surpreendidos pela visita do próprio Presi<strong>de</strong>nte à obra<br />

<strong>de</strong> Mes tre Hilário <strong>de</strong> <strong>Santa</strong>-Rosa : “como prova da muita consi<strong>de</strong>ração e apreço que lhe<br />

merecia a benemérita Instituição” – a Gran<strong>de</strong> Confe<strong>de</strong>ração Infantil, o que, <strong>de</strong> forma<br />

graciosa, po<strong>de</strong>rá ser uma <strong>de</strong>monstração da <strong>de</strong>dicação e agra<strong>de</strong>cimento que o chefe <strong>de</strong><br />

estado tem pelas gran<strong>de</strong>s obras! Nesta atitu<strong>de</strong>, bem como no convite que Franklin Joice<br />

tem <strong>para</strong> “formar ministério” po<strong>de</strong>r-se-á vislumbrar a figura <strong>de</strong> António <strong>de</strong> Oliveira<br />

Salazar, ministro das Finanças entre 1928 e 1932.<br />

Como forma <strong>de</strong> enriquecer o léxico e revelando o conhecimento que o autor<br />

tinha das línguas inglesa e francesa, ou apenas como documento do que se falava em<br />

Portugal, encontram-se diversos estrangeirismos, como sejam “écran”, “bureau”, “haut<br />

parleur”, “étagère”, “complot”, “clowns”, “bonet”, “hole”, ”maple”ou “chauffeur”.<br />

O tipo <strong>de</strong> profissão a seguir, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do interesse pessoal, mas também das<br />

convenções sociais, está patente, por exemplo, em Os Palhaços. Quando as palavras <strong>de</strong><br />

Pedro aconselham o irmão Paulinho a mudar <strong>de</strong> vida, este segue os conselhos. Não<br />

obstante, nota-se o espírito insatisfeito do narrador que, se por um lado parece sentir-se<br />

obrigado a referir o senso-comum, por outro lado exalta um <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> mudança, <strong>de</strong><br />

diferença, como documenta a passagem que se segue:<br />

58 Em A Obra do Mestre Hilário.

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