Augusto de Santa-Rita e a criação literária para a infância
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<strong>Augusto</strong> <strong>de</strong> <strong>Santa</strong>-<strong>Rita</strong> e a <strong>criação</strong> <strong>literária</strong> <strong>para</strong> a <strong>infância</strong><br />
gran<strong>de</strong>s mestres e alguns notáveis discípulos. Só em Portugal não apareceu, ainda, quem<br />
se lembrasse <strong>de</strong> preencher tão importante lacuna, criando uma Escola em que a Rítmica<br />
fosse ministrada por iniciativa particular, sem a sensação oficial emanada <strong>de</strong> um<br />
Conservatório como o que, à semelhança das outras nações, possuímos mas que se<br />
<strong>de</strong>stina apenas a criar profissionais <strong>de</strong> teatro: - actores e actrizes. 55<br />
A este propósito o narrador refere Berta Singerman 56 e Margarida Lopes <strong>de</strong><br />
Almeida 57 , nomes <strong>de</strong> actrizes famosas como exemplos <strong>de</strong> alguém que já criou o gosto<br />
pela dicção “lançando em chão, pouco adubado ainda, as sementes da eurítmia verbal”.<br />
Nesta metáfora po<strong>de</strong>r-se-á visualizar o seu próprio trabalho, embora os agentes <strong>de</strong> tal<br />
acção sejam femininos.<br />
A forma <strong>de</strong> mostrar o país através da correcta forma <strong>de</strong> agir é constante e,<br />
curiosamente, ainda em A Obra <strong>de</strong> Mestre Hilário, surge através da i<strong>de</strong>alização <strong>de</strong><br />
Portugal futuro.<br />
O narrador começa, logo no início do texto, por dar a conhecer a época <strong>de</strong>sta<br />
história, dizendo que “<strong>de</strong>corre no ano <strong>de</strong> 1960 e esten<strong>de</strong>-se, possivelmente, ao ano<br />
2000.”.<br />
Critica-se <strong>de</strong> forma subtil o país <strong>de</strong> então, revelando, no entanto, a esperança <strong>de</strong><br />
dias melhores: “Tornarei pretérito o Futuro; falar-vos-ei como se há muito tivesse<br />
<strong>de</strong>corrido o ano <strong>de</strong> 1960. Não vos admireis, pois, <strong>de</strong> não achar<strong>de</strong>s, ainda, em Portugal,<br />
os melhoramentos morais e materiais que a história reza.”<br />
E <strong>para</strong> testemunhar a inexistência do que acaba <strong>de</strong> nomear, o narrador apresenta<br />
<strong>de</strong> seguida a personagem central:<br />
Está, talvez, ainda por nascer o protagonista <strong>de</strong>sta novela, - (o homem<br />
privilegiado que eu quisera ter sido, que não sou por falta <strong>de</strong> mérito e do qual serei<br />
apenas humil<strong>de</strong> precursor, quando muito,) – o gran<strong>de</strong> educador, o feliz autor duma<br />
admirável obra nacional.<br />
Deste modo, o autor não só <strong>de</strong>ixa transparecer o ambiente cultural da época<br />
como reitera a sensação <strong>de</strong> insatisfação face ao seu próprio percurso vivencial. Este<br />
sentimento é peculiar e está presente ao longo <strong>de</strong> toda a sua produção <strong>literária</strong>.<br />
55 Em Os Palhaços.<br />
56 Nome que remete <strong>para</strong> a actriz Berta Singerman, nascida em 1901.<br />
57 Escultora e professora, actriz e <strong>de</strong>clamadora, nascida em 1897. Filha do casal <strong>de</strong> escritores - Júlia<br />
Lopes <strong>de</strong> Almeida e Filinto <strong>de</strong> Almeida, dois dos fundadores da Aca<strong>de</strong>mia Brasileira <strong>de</strong> Letras.