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Augusto de Santa-Rita e a criação literária para a infância

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<strong>Augusto</strong> <strong>de</strong> <strong>Santa</strong>-<strong>Rita</strong> e a <strong>criação</strong> <strong>literária</strong> <strong>para</strong> a <strong>infância</strong><br />

Franklin Joice 48 , dirigente <strong>de</strong> uma facção política que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> a linha política do<br />

Estado, dirige-se a uma casa <strong>de</strong> proletários e convence as mães, filhos e esposas ao<br />

apaziguamento, à trégua. Por outro lado, e apesar das personagens apresentarem ligação<br />

a uma força política adversa, o narrador valoriza o carácter <strong>de</strong>ssa mesma personagem,<br />

<strong>de</strong> forma a justificar as suas atitu<strong>de</strong>s, presentes e futuras. Neste caso, Zé Falcão 49 fora<br />

influenciado a ficar ao lado <strong>de</strong> “Os Laicos e a Seita-Ruiva”. Assim sendo, mesmo<br />

quando muda <strong>de</strong> facção política, tal surgirá como normal, uma vez que o seu carácter,<br />

<strong>de</strong> “nobre coração que uma paixão i<strong>de</strong>alista, mas inacessível, <strong>de</strong>sviara do caminho”,<br />

<strong>para</strong> tal o conduzira.<br />

No seu arrependimento, à porta do tribunal, a sua atitu<strong>de</strong> é justificada pelo facto<br />

<strong>de</strong> se tratar <strong>de</strong> uma injustiça. Na verda<strong>de</strong>, tal actuação foi motivada pelo facto <strong>de</strong> ter<br />

sido influenciado por falsos princípios <strong>de</strong> Igualitarismo.<br />

Deste modo, o narrador encontra <strong>de</strong> forma subtil a justificação <strong>para</strong> a atitu<strong>de</strong> do<br />

partido dos Rubros (transparentemente aludindo ao Comunismo):<br />

(…) a ânsia pelo po<strong>de</strong>r é apenas <strong>de</strong>vida à inveja (chorando copiosamente e<br />

sentindo o remorso <strong>de</strong> ter comungado os mesmos pontos <strong>de</strong> vista dos seus camaradas;<br />

em cujo âmago quási sempre, apenas, um sentimento <strong>de</strong> inveja ditara a submissão<br />

contra a legitimida<strong>de</strong> do Capital, foi que Zé Falcão escutou a leitura do nobre<br />

testamento, que tanto dignificava a honrada Memória do gran<strong>de</strong> capitalista, carácter<br />

exemplar, mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>s.<br />

A responsabilida<strong>de</strong> do atentado é relegada <strong>para</strong> operários <strong>de</strong> menor categoria.<br />

Torna-se, pois, notória a radicalização no apontar <strong>de</strong> culpados <strong>de</strong> uma situação, tendo<br />

como premissa dar resposta a uma i<strong>de</strong>ologia latente e que seria <strong>de</strong> todo conveniente que<br />

imbuísse, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo, os mais novos. Todavia, <strong>de</strong> forma ténue, o narrador vai <strong>de</strong>ixando<br />

falar o próprio autor, permitindo-lhe mostrar o país. Metaforicamente é feita a<br />

caracterização do governo e da situação política dos anos vinte, transparecendo a<br />

48 Personagem <strong>de</strong> A Obra do Mestre Hilário que, apesar <strong>de</strong> se encontrar na frente política contrária, se<br />

assemelha a um tal Sérgio Príncipe. Tratou-se <strong>de</strong> “um aventureiro, ex-ferroviário e ex-sindicalista, <strong>de</strong> uma<br />

organização terrorista secreta, a Gran<strong>de</strong> Or<strong>de</strong>m dos Cavaleiros do Patronato, <strong>para</strong> a <strong>de</strong>fesa dos “que<br />

tinham a per<strong>de</strong>r”, que, “seguindo os mo<strong>de</strong>los das organizações patronais <strong>de</strong> Barcelona e dos fascistas<br />

italianos, tentou montar uma milícia <strong>de</strong> comerciantes armados (uma “guarda burguesa” como lhe chamou<br />

O Século), <strong>para</strong> a luta <strong>de</strong> rua contra os sindicalistas. Durante as greves <strong>de</strong> Maço <strong>de</strong> 1920, Príncipe tentou<br />

oferecer os seus serviços à polícia. Em Setembro <strong>de</strong> 1922, porém, a organização sindical rival, a Legião<br />

Vermelha, fez-lhe uma espera, apunhalou-o, e pô-lo fora <strong>de</strong> jogo”. (RAMOS 1994:606)<br />

49 I<strong>de</strong>m.

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