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Augusto de Santa-Rita e a criação literária para a infância

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<strong>Augusto</strong> <strong>de</strong> <strong>Santa</strong>-<strong>Rita</strong> e a <strong>criação</strong> <strong>literária</strong> <strong>para</strong> a <strong>infância</strong><br />

pressupõe uma homenagem ao seu carácter etéreo, e que, <strong>de</strong> igual modo, revela a<br />

cumplicida<strong>de</strong> que entre ambos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> muito cedo se vislumbrou.<br />

Para evitar qualquer dúvida quanto às intenções do Príncipe junto da fonte,<br />

refira-se que este vem acompanhado do seu cavalo, elemento indispensável <strong>para</strong> o<br />

<strong>de</strong>staque da virilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> qualquer personagem. Este animal reitera também a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />

juventu<strong>de</strong> e <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejo. O que se assiste, entretanto, é à alteração do centro das atenções.<br />

Assim, o jovem, inicialmente interessado em Babel, inicia uma perseguição cautelosa a<br />

Flor, a qual culmina na casa <strong>de</strong>sta, no meio do bosque. Aí, e logo que entra, sente-se<br />

atraído pelo rubi caído no chão, que não é mais do que o sangue coagulado, proveniente<br />

do ferimento que a Princesa Babel fizera ao príncipe na testa.<br />

O rubi é um emblema <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong> que, segundo a tradição, afasta a tristeza.<br />

Logo, ao ser encontrado em casa <strong>de</strong> Flor, e sendo proveniente <strong>de</strong>sta, po<strong>de</strong>rá ser<br />

entendido como um indício <strong>de</strong> que tudo terminará bem. Por outro lado, a transmutação<br />

do sangue <strong>de</strong> estado líquido em sangue cristalizado (rubi), através da lambi<strong>de</strong>la do cão,<br />

conotará carácter excepcional <strong>de</strong>sta personagem, e permitirá até uma leitura mais<br />

arrojada. Po<strong>de</strong>rá ser visto como o saciar da paixão, ainda mais que a sua cor remete <strong>para</strong><br />

o estado do seu coração, apaixonado e inflamado <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejo.<br />

O encontro dos jovens na choupana <strong>de</strong>ve-se, sobretudo, ao aumento da<br />

intensida<strong>de</strong> da tempesta<strong>de</strong>, o que leva a crer que a natureza ajudou à sua união, a qual<br />

não <strong>de</strong>ixa gran<strong>de</strong>s dúvidas quando, ao romper da manhã, “os passarinhos já cantam e as<br />

florinhas avivam as suas lindas cores”, estado claramente partilhado pelo par enamorado<br />

mal se abre a porta da choupana. É o momento em que se faz luz e é quando se dá a<br />

conhecer, ainda que <strong>de</strong> uma forma metafórica, o que terá acontecido ou voltará a<br />

acontecer.<br />

Tudo <strong>de</strong>corre sem testemunhas, pois do avô nunca mais se falou, e só agora se<br />

abre a porta. O Príncipe coloca a jovem “na sela do seu cavalo, num idílio <strong>de</strong> amor” (p.<br />

24). Esta acção <strong>de</strong>ixa poucas margens <strong>para</strong> dúvidas quanto à consumação do acto<br />

sexual, comprovando ainda o domínio masculino, como tradicionalmente imposto.<br />

Quanto ao <strong>de</strong>leite do jovem ao se predispor <strong>para</strong> “gozar as <strong>de</strong>lícias da esplendorosa e<br />

orvalhada manhã” (p. 24), esta po<strong>de</strong>rá ser associada à própria beleza feminina juvenil à<br />

sua própria satisfação sexual. Prova ainda da perda da inocência <strong>de</strong> Flor, <strong>para</strong> além da<br />

presença do sangue/rubi, é a referência, por parte do narrador, à sauda<strong>de</strong> que o Príncipe<br />

tem da sua “imagem angelical”, ainda que este sentimento seja referido a propósito da

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