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Augusto de Santa-Rita e a criação literária para a infância

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<strong>Augusto</strong> <strong>de</strong> <strong>Santa</strong>-<strong>Rita</strong> e a <strong>criação</strong> <strong>literária</strong> <strong>para</strong> a <strong>infância</strong><br />

apresentada como “Princesa”, “Princesinha”, formas <strong>de</strong> tratamento normalmente<br />

aplicadas ao herói/heroína e, mesmo aquando da transgressão (levar a bolinha sem<br />

autorização), ela não surge como alguém diabólico, mas como um comum mortal que<br />

está prestes a ultrapassar os limites impostos - “- Os meus pais proibiram-me <strong>de</strong><br />

experimentar. Mas estou tentada.” (p. 12). Por este facto, mais incrível vai parecer a sua<br />

revelação final, ao i<strong>de</strong>ntificar-se com uma verda<strong>de</strong>ira bruxa.<br />

Terá ainda oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> confirmar o seu espírito vingativo quando consegue<br />

entrar nos domínios que não lhe pertencem. Apesar <strong>de</strong> ser com autorização dos pais, só<br />

lá consegue ir por simular a tentativa <strong>de</strong> recuperação da bolinha mágica, o que revela<br />

uma transgressão. Também a forma <strong>de</strong> vingança encontrada <strong>para</strong> maltratar a Flor,<br />

amarrando-a a uma árvore, testemunhará a sua perversida<strong>de</strong>. Esta atitu<strong>de</strong> não será <strong>de</strong><br />

estranhar se se tiver em conta a força que a moveu, bem como o ser a que foi<br />

com<strong>para</strong>do. No plano humano, a serpente é o símbolo da alma e da líbido. Logo, ao<br />

sentir-se preterida, rejeitada moral e sexualmente, agiu <strong>de</strong> acordo com o seu carácter<br />

traiçoeiro, aleivoso.<br />

Trata-se, ainda, <strong>de</strong> uma figura presunçosa, que se eleva exageradamente, apesar<br />

<strong>de</strong> lhe ser impossível ultrapassar a sua condição humana. Esta imagem do Mal, contudo,<br />

assume diversas faces ao longo da produção <strong>de</strong> <strong>Augusto</strong> <strong>de</strong> <strong>Santa</strong>-<strong>Rita</strong>.<br />

O tio Malaquias 41 , um ser “anafado, pançudo, peludo e vermelho” (p. 7), é<br />

mesmo i<strong>de</strong>ntificado como “bicho pré-histórico mascarado <strong>de</strong> homem” (p. 7). Ao<br />

conversar não fala, rosna e ameaça. É dono <strong>de</strong> uma mercearia cujo nome ironicamente é<br />

Confiança, on<strong>de</strong> os fregueses adquirem os bens <strong>de</strong> que necessitam, mas com ar atento,<br />

vigilante e precavido, <strong>para</strong> não se <strong>de</strong>ixarem enganar. Por este facto, o que o Tio<br />

Malaquias não seria, com certeza, era homem <strong>de</strong> fiar, <strong>de</strong> “confiança”. Por outro lado, a<br />

mercearia seria <strong>de</strong> confiança, visto ser o local on<strong>de</strong> se po<strong>de</strong>m recolher informações<br />

úteis, como foi o caso <strong>de</strong> Roque, que lá ouvira falar do Rockfeller. Estes espaços<br />

funcionavam não apenas como locais <strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong> bens, mas também<br />

proporcionavam trocas <strong>de</strong> informação, funcionando como verda<strong>de</strong>iros veículos <strong>de</strong><br />

comunicação.<br />

O Tio Malaquias é, assim, um franco testemunho da presença <strong>de</strong> forças<br />

maléficas. As atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ste <strong>para</strong> com aqueles inocentes revelam também o seu carácter<br />

abusador e violento.<br />

41 Personagem da obra De Marçano a Milionário.

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