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Augusto de Santa-Rita e a criação literária para a infância

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2.2. O Bem/O Mal<br />

<strong>Augusto</strong> <strong>de</strong> <strong>Santa</strong>-<strong>Rita</strong> e a <strong>criação</strong> <strong>literária</strong> <strong>para</strong> a <strong>infância</strong><br />

De entre as produções <strong>de</strong> maior fôlego, <strong>de</strong>stinadas a um público infantil, a figura<br />

que talvez <strong>de</strong>sperte maior curiosida<strong>de</strong> é a Princesa Babel 40 .<br />

Com<strong>para</strong>da logo no início do texto aos elementos da natureza, “linda como as<br />

estrelas” e “perversa e má como as cobras da selva”, surge <strong>de</strong> imediato como um ser<br />

contraditório que, logo pelo nome próprio, <strong>de</strong>ixa antever confusão e falta <strong>de</strong> equilíbrio.<br />

A sua beleza celestial confere-lhe <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo uma ligação a forças superiores, qualida<strong>de</strong><br />

que, seguida <strong>de</strong> atributos tão maléficos como „perversa‟ e „má‟, fazem com que se<br />

i<strong>de</strong>ntifique com forças negativas, pérfidas. Também a sua malda<strong>de</strong>, ao ser com<strong>para</strong>da<br />

com uma serpente, não <strong>de</strong>ixa gran<strong>de</strong>s dúvidas relativamente ao seu carácter. Este réptil<br />

escon<strong>de</strong> mistérios e, habitualmente, toma a forma feminina. É também enigmático e<br />

secreto e, <strong>de</strong> acordo com uma leitura simbólica, esses são atributos inquestionáveis na<br />

figura <strong>de</strong> Babel que, ao longo <strong>de</strong> toda a história, se revelará imprevisível, até mesmo<br />

quando lhe é dada a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se redimir.<br />

A imagem revelada, após a ingestão da água junto à fonte, não <strong>de</strong>ixa margem<br />

<strong>para</strong> dúvidas. Confirmando os indícios, surge, então, com “uma figura horrível,<br />

angulosa e <strong>de</strong> garras aduncas” (p.13), proferindo palavras “numa voz cava e rouca” (p.<br />

15) que confirmam o seu aspecto <strong>de</strong>testável – “noutra vida, / já fui bruxa!” (p. 15).<br />

Desesperada pela sua incompatibilida<strong>de</strong> com a rival, pela primeira vez age <strong>de</strong> acordo<br />

com a sua natureza, agredindo Flor na testa.<br />

Esta personagem sem alma e sem amor-próprio ficará votada à dispersão, como<br />

castigo das suas atitu<strong>de</strong>s, o que será dado a conhecer pelas próprias palavras <strong>de</strong> quem<br />

<strong>de</strong>ci<strong>de</strong> o seu futuro. No final é Flor quem diz: “- Deixai-a ir, como uma bruxa, vaguear<br />

pelos caminhos <strong>de</strong>sertos, até que o arrependimento corrija a própria imperfeição” – p.<br />

49).<br />

A Princesa Babel funciona, então, ao longo da história, como o anteros, o<br />

princípio da se<strong>para</strong>ção, do <strong>de</strong>sequilíbrio e da solidão. A mentira, a imprudência e o<br />

sarcasmo conduzi-la-ão à <strong>de</strong>sgraça. Contudo, e até ser <strong>de</strong>smascarada, Babel é sempre<br />

40 Personagem <strong>de</strong> A Bolinha Mágica.

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