Augusto de Santa-Rita e a criação literária para a infância
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<strong>Augusto</strong> <strong>de</strong> <strong>Santa</strong>-<strong>Rita</strong> e a <strong>criação</strong> <strong>literária</strong> <strong>para</strong> a <strong>infância</strong><br />
evolução. A passagem seguinte surge como um possível exemplo: “Habituado à<br />
pequenez da sua al<strong>de</strong>ia, nunca supusera existir uma tão gran<strong>de</strong> cida<strong>de</strong>” (p. 33)<br />
As personagens que chegam à cida<strong>de</strong> surgem momentaneamente como<br />
verda<strong>de</strong>iros flâneurs, voyeurs, que tentam, num primeiro olhar, apreen<strong>de</strong>r tudo o que os<br />
ro<strong>de</strong>ia. Roque “pôs-se a caminhar, ao acaso, …” mal chega a Lisboa (p. 29), “com olhos<br />
esgazeados, olhos <strong>de</strong> macaquinho» p. 33); os americanos emitiam «uma admirativa<br />
exclamação (…) tão <strong>de</strong>pressa <strong>de</strong>slumbrados pelo aspecto geral da nossa cida<strong>de</strong>” (p. 65).<br />
Estes últimos até com o clima ficam surpreendidos.<br />
A personagem regressa a Lisboa “em linda noite <strong>de</strong> Junho, sob um céu<br />
constelado, (…) e direcção ao Tejo, cujo farol da Barra, tremeluzindo a distância,<br />
semelhava um rubi” (p.63), <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter viajado. A referência ao céu estrelado e ao rubi<br />
remetem <strong>de</strong> imediato <strong>para</strong> um retorno tranquilo e cheio <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong>, apesar <strong>de</strong> haver<br />
um sentimento <strong>de</strong> estranheza da cida<strong>de</strong>, comum, aliás, a vários textos.<br />
Uma vez que rapidamente se apercebe da mais-valia que tinha adquirido<br />
enquanto esteve fora, o domínio das línguas estrangeiras, Roque torna-se intérprete.<br />
Deste modo, inicia a sua activida<strong>de</strong> recebendo três americanos risonhos e simpáticos<br />
que se surpreen<strong>de</strong>m pela forma como são acolhidos. Mais uma vez o espírito português<br />
<strong>de</strong> hospitalida<strong>de</strong> está bem patente, perdurando até aos dias <strong>de</strong> hoje. Por outro lado, a<br />
presença <strong>de</strong> americanos mostra a influência <strong>de</strong>ste povo na Europa, nomeadamente nas<br />
produções cinematográficas. Esta nova profissão <strong>de</strong> Roque em tudo contrasta com as<br />
que teve anteriormente, bem como a forma como se veste, “um fardamento” (p. 63), que<br />
contrasta com o “casaquinho <strong>de</strong> cotim” (p. 10) que usava em criança.<br />
Para além <strong>de</strong> Miss Bull e Mistress Dolly, surge Miss Mary, uma jovem muito<br />
formosa que, <strong>de</strong> imediato, aparece como „a outra‟. Os americanos, logo após um<br />
pequeno giro pela cida<strong>de</strong>, convidam Roque <strong>para</strong> jantar. A refeição surge, assim, como<br />
momento <strong>de</strong> conciliação e aconchego <strong>para</strong> este jovem, sozinho no mundo, sendo-lhe<br />
proposto <strong>de</strong> imediato um emprego.<br />
Não obstante a vida começar a sorrir-lhe, Roque continua saudoso da sua<br />
Esmeralda e não se esquece da promessa feita, não dando, por isso, gran<strong>de</strong> importância<br />
a Miss Mary. Esta, contudo, manifesta-se claramente interessada em Roque através dos<br />
olhares que lhe lança, aquando da corrida. Aí, o mesmo acontece com Esmeralda: “Miss<br />
Mary <strong>de</strong>vorava Roque com ávidos olhares e com a mesma ansieda<strong>de</strong> com que uma<br />
rapariguinha loira, <strong>de</strong> olhos muito azuis, o seguia também” (p. 73). Surge, então a