17.04.2013 Views

Augusto de Santa-Rita e a criação literária para a infância

Augusto de Santa-Rita e a criação literária para a infância

Augusto de Santa-Rita e a criação literária para a infância

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

<strong>Augusto</strong> <strong>de</strong> <strong>Santa</strong>-<strong>Rita</strong> e a <strong>criação</strong> <strong>literária</strong> <strong>para</strong> a <strong>infância</strong><br />

conduzirá ao que consi<strong>de</strong>rou o seu <strong>de</strong>stino – a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lisboa – é envolvido por<br />

verda<strong>de</strong>iros elementos do fantástico “fantasmagóricas imagens <strong>de</strong> papões e duen<strong>de</strong>s” (p.<br />

23) que parecem querer perturbá-lo, acabando Roque, finalmente, por alcançar o seu<br />

objectivo.<br />

O túnel po<strong>de</strong>, então, representar “a angústia, o medo das dificulda<strong>de</strong>s e a<br />

impaciência em satisfazer um <strong>de</strong>sejo” (CHEVALIER 1994: 666), imagem ainda mais<br />

intensificada pela <strong>de</strong>scrição da sua “sombria bocarra” (p. 24) e a da sua i<strong>de</strong>ntificação<br />

com o Inferno. Prova <strong>de</strong> que o seu estado <strong>de</strong> espírito foi acalmando é o “loiro sol<br />

matutino” (p. 25) que inundava a segunda boca, na extremida<strong>de</strong> do túnel...<br />

Também Esmeralda, ao chegar a Lisboa, se sente perturbada, como é notório<br />

pelas palavras do narrador: “A sua chegada à estação do Rossio, causou-lhe uma<br />

profunda impressão. O movimento da praça e o roído dos automóveis e dos carros<br />

eléctricos, quási [sic] entonteciam.” (p. 62), acabando por rapidamente se adaptar a esta,<br />

ao ponto <strong>de</strong> sentir sauda<strong>de</strong>s da sua agitação quando se encontra em casa.<br />

Os elementos apresentados relativamente à cida<strong>de</strong> dão conta <strong>de</strong> uma atmosfera<br />

citadina, em que o progresso está bem patente. O automóvel simboliza a evolução em<br />

marcha e a sua peripécia, a qual se manifesta também pelo ruído, como testemunha o<br />

olhar <strong>de</strong> Lena, uma personagem da obra Os Palhaços:<br />

Chegando à janela Lena olhou <strong>para</strong> fora e sentiu um gran<strong>de</strong> prazer <strong>de</strong> se<br />

encontar em Lisboa, já farta da solidão tão triste do Seixal.<br />

O campainhar – tim-tim-tim… dos carros eléctricos – tim-tim-tim…<br />

relampejando em baixo, braço fora, os globos da iluminação, o apregoar dos jornais: -<br />

Olh‟ó diariô-ô-ô-ô!..., a lufa-lufa dos transeuntes passando em formigueiro vai-vem, a<br />

estação do Rocio, o apitar <strong>de</strong> um comboio no túnel e o buzinar dos táxis… o É<strong>de</strong>n-<br />

Teatro ao longe, um kiosque incan<strong>de</strong>scente entre ca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> verga sob focos <strong>de</strong> luz,<br />

janelas do «Palace-Hotel,» em frente, iluminadas, o ar fresco da noite e o azul negro do<br />

céu polvilhado <strong>de</strong> estrelas, enchiam a alma <strong>de</strong> Lena <strong>de</strong> uma secreta alegria.<br />

Paralelamente à <strong>de</strong>scoberta da cida<strong>de</strong>, surge a ânsia <strong>de</strong> aí viver, por parte das<br />

personagens, contrastando com a vida campesina; na al<strong>de</strong>ia, <strong>para</strong> além <strong>de</strong> nada<br />

acontecer, apenas havia o automóvel da D. Viviana. Este contraste cida<strong>de</strong>/campo, ou<br />

pelo menos cida<strong>de</strong>/província, é apresentado ao longo da acção, mais ou menos<br />

explicitamente, funcionando a cida<strong>de</strong> como o centro, e simbolizando o movimento, a

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!