17.04.2013 Views

Augusto de Santa-Rita e a criação literária para a infância

Augusto de Santa-Rita e a criação literária para a infância

Augusto de Santa-Rita e a criação literária para a infância

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

<strong>Augusto</strong> <strong>de</strong> <strong>Santa</strong>-<strong>Rita</strong> e a <strong>criação</strong> <strong>literária</strong> <strong>para</strong> a <strong>infância</strong><br />

Cansado da vida que leva e apesar <strong>de</strong> não ter conhecimento da realida<strong>de</strong> fora<br />

daquele mundo rural - Souselas –, o carácter <strong>de</strong> Roque leva-o a sair <strong>de</strong> casa, <strong>de</strong>ixando a<br />

sua amiguinha. Deixa-lhe, contudo, a promessa <strong>de</strong> regressar como um Rockfeller (figura<br />

<strong>de</strong> que ouvira falar na mercearia), promessa essa que po<strong>de</strong> ser entendida como indício<br />

<strong>de</strong> uma ligação futura, uma vez que refere que voltará <strong>para</strong> com ela casar, <strong>de</strong>ixando-lhe<br />

uma lembrança – “uma porçãozinha <strong>de</strong> amêndoas <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um saquinho on<strong>de</strong><br />

habitualmente guardava o dinheiro, forrado com papel <strong>de</strong> seda cor <strong>de</strong> rosa” (p. 17).<br />

Deposita-lhe, ainda, um beijo na testa e parte numa auspiciosa e linda noite <strong>de</strong> luar.<br />

Roque parte cheio <strong>de</strong> sonhos e esperança, em busca <strong>de</strong> uma melhor vida, a qual é<br />

perspectivada, ainda que inconscientemente e como é característica dos sonhos, no seu<br />

sonho premonitório, vendo-se num quarto <strong>de</strong> hotel a manusear um farto molho <strong>de</strong> notas<br />

bancárias.<br />

A sua ambição, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> muito cedo revelada, teve gran<strong>de</strong> peso na concretização<br />

do que sempre sonhou e, apesar <strong>de</strong>, anos mais tar<strong>de</strong>, encontrar Esmeralda, talvez por<br />

ainda não ser aquilo que prometera, não se mostra disponível nem revela gran<strong>de</strong><br />

interesse (amoroso) por esta. Contudo, não <strong>de</strong>siste, é perseverante e serão a sua ambição<br />

e capricho que o levarão ao sucesso. Só então toma coragem e se lhe <strong>de</strong>clara.<br />

Reitere-se a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que, mais do que um enriquecimento material, a ausência e<br />

o regresso fazem com que as personagens se tornem seres humanos mais ricos<br />

interiormente. O seu crescimento físico ocorre <strong>para</strong>lelamente ao emocional e<br />

psicológico. As crianças tornam-se, <strong>de</strong>pois das suas experiências, com contornos da<br />

fantasia, seres humanos mais responsáveis, solidários e caridosos <strong>para</strong> com os mais<br />

<strong>de</strong>sprotegidos. Atente-se na reacção <strong>de</strong> certa forma surpreen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Esmeralda e<br />

Roque que, à porta da igreja, vendo o Ti‟Malaquias a pedir esmola, esquecem<br />

“generosamente o mal que […] lhes havia feito e condoídos pela sua <strong>de</strong>sgraça, <strong>de</strong>ram-<br />

-lhe uma avultada esmola” e o internam-no num asilo <strong>de</strong> inválidos.<br />

As personagens tornam-se, pois, seres humanos diferentes, mais sensíveis e<br />

capazes <strong>de</strong> avaliar o ser humano <strong>para</strong> além das aparências exteriores.<br />

A viagem possibilita, ainda, que o leitor fique com uma perspectiva da época em<br />

que <strong>de</strong>correm as aventuras. Se por um lado dava a possibilida<strong>de</strong> ao jovem leitor, seu<br />

contemporâneo, <strong>de</strong> ter uma percepção <strong>de</strong> um mundo diferente do seu, nos dias <strong>de</strong> hoje,<br />

po<strong>de</strong>mos compreen<strong>de</strong>r os movimentos migratórios e emigratórios que, a partir <strong>de</strong> 1910<br />

assumiu ainda maior proporções. (RAMOS 1994: 588).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!