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Augusto de Santa-Rita e a criação literária para a infância

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<strong>Augusto</strong> <strong>de</strong> <strong>Santa</strong>-<strong>Rita</strong> e a <strong>criação</strong> <strong>literária</strong> <strong>para</strong> a <strong>infância</strong><br />

po<strong>de</strong>ndo ser consi<strong>de</strong>rado um signo temático da literatura <strong>para</strong> crianças no contexto<br />

português do início do século XX.<br />

Concretamente na obra De Marçano a Milionário, com o subtítulo Vida <strong>de</strong> um<br />

Rockfeller, o criador parte <strong>de</strong> uma situação real, que até po<strong>de</strong> ser um pouco insólita, mas<br />

que serve <strong>para</strong> uma incursão no imaginário, a qual se dilui com o retorno à realida<strong>de</strong> ou,<br />

pelo menos, com uma conclusão plausível e internamente lógica do mundo. Ao mesmo<br />

tempo, ten<strong>de</strong> a valoriza-se um <strong>de</strong>terminado modo <strong>de</strong> estar na socieda<strong>de</strong>, caracterizado,<br />

sobretudo, pela forma como a personagem adulta difun<strong>de</strong> o saber. Deste modo, o adulto<br />

transmite conhecimentos <strong>de</strong> forma subtil e informativa, “conduzindo as personagens –<br />

e, não po<strong>de</strong>mos esquecer, os leitores visados – <strong>de</strong> uma posição <strong>de</strong> menos-saber <strong>para</strong><br />

mais-saber” (Bastos, 2004: 65), uma vez que o objectivo último é ensinar a criança a<br />

viver no mundo que o adulto encare como “i<strong>de</strong>al”.<br />

As aventuras vividas pelas personagens traduzem-se em verda<strong>de</strong>iras viagens; se<br />

não físicas, são-no <strong>de</strong> facto ao nível emocional, servindo o topos da viagem, assim,<br />

como meio <strong>para</strong> a socialização/aprendizagem da criança, já que “toda a viagem é<br />

aprendizagem, seja qual for o seu propósito consciente. Quem não apren<strong>de</strong>u não viajou:<br />

<strong>de</strong>slocou-se apenas” (RECKERT 1983:20).<br />

Em Os Bandoleiros, a viagem física que Rapina faz ao regressar a casa traduz o<br />

seu crescimento emocional. Nesta novela não se verifica tanto o crescimento físico das<br />

personagens, mas a experiência vivida leva-as a uma nova percepção da realida<strong>de</strong>. A<br />

personagem é educada nos seus primeiros anos <strong>de</strong> vida num meio sócio económico<br />

visivelmente <strong>de</strong>sfavorecido, mas revela ser um jovem <strong>de</strong> bons princípios morais, sempre<br />

correcto. Mesmo quando em situações em que testam a sua verticalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> princípios,<br />

Rapina opta sempre pela Justiça e pelo Bem.<br />

Já em De Marçano a Milionário, é o longo afastamento a que foram sujeitos os<br />

protagonistas que nos dá a percepção do surgimento <strong>de</strong> um homem e <strong>de</strong> uma mulher,<br />

maduros e cientes do que preten<strong>de</strong>m. A viagem vivida por Roque faz com que regresse<br />

a Portugal “mais atilado, a bordo dum gran<strong>de</strong> paquete, através do Atlântico, munido do<br />

respectivo bilhete, que comprara com o produto <strong>de</strong> umas economias, já sem <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong><br />

loucas aventuras, pensando como um homenzinho que era, (…)”, o que contrasta<br />

visivelmente com a sua fuga atribulada, seguida da forma ardilosamente usada <strong>para</strong><br />

<strong>para</strong>r o comboio como forma <strong>de</strong> conseguir chegar a Lisboa e, assim, concretizar o seu<br />

sonho.

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