Augusto de Santa-Rita e a criação literária para a infância
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<strong>Augusto</strong> <strong>de</strong> <strong>Santa</strong>-<strong>Rita</strong> e a <strong>criação</strong> <strong>literária</strong> <strong>para</strong> a <strong>infância</strong><br />
apresentadas <strong>para</strong> caracterizar Roque <strong>de</strong>ixam transparecer o seu carácter e a sua forma<br />
<strong>de</strong> estar na vida.<br />
Roque, primeiramente, é com<strong>para</strong>do a um rato, a propósito dos seus olhos, e a<br />
um cor<strong>de</strong>iro recém-nascido, pela agilida<strong>de</strong>. Estas com<strong>para</strong>ções conferem <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo à<br />
personagem qualida<strong>de</strong>s como rapi<strong>de</strong>z, esperteza e pequenez, as quais no futuro lhe irão<br />
valer <strong>de</strong> muito, pois conseguirá fugir e não ser apanhado pelo malvado tio Malaquias.<br />
No <strong>de</strong>senrolar da acção assiste-se a uma constante fuga do jovem aventureiro,<br />
impulsionado por uma ambição permanente. Deste modo, e comprovando a sua<br />
inteligência e <strong>de</strong>terminação, irá esgueirar-se por um pequeno postigo, “que um corpo <strong>de</strong><br />
homem por forma alguma po<strong>de</strong>ria atravessar” (p. 60), do contentor em que se refugiou,<br />
a fim <strong>de</strong> embarcar clan<strong>de</strong>stinamente, conseguindo encontrar solução <strong>para</strong> se <strong>de</strong>slocar <strong>de</strong><br />
um sítio <strong>para</strong> outro. Destaque-se a forma como faz <strong>para</strong>r o comboio, <strong>para</strong> nele entrar, e,<br />
mais tar<strong>de</strong>, a forma como se conseguiu escon<strong>de</strong>r nos hangares. Refira-se também que,<br />
aquando da experiência <strong>de</strong> se evadir <strong>de</strong> casa, ainda em Souselas, e <strong>para</strong> ver se era bem<br />
sucedido, colocou o ouvido três vezes nas calhas, antes <strong>de</strong> acen<strong>de</strong>r a fogueira, o que<br />
<strong>de</strong>ixa transparecer a sua esperteza e o seu carácter cauteloso, bem como,<br />
simbolicamente, pela referência à repetição do gesto, a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sucesso da<br />
acção.<br />
Por outro lado, Esmeralda é apresentada como uma menina frágil e <strong>de</strong>licada. Os<br />
seus cabelos são loiros, a sua voz <strong>de</strong> oiro e <strong>de</strong> timbre muito suave, é obediente e<br />
bastante cumpridora, surgindo, assim, como uma figura angelical.<br />
A propósito da cor dos seus olhos, surpreen<strong>de</strong>ntemente estes hão-<strong>de</strong> voltar a ser<br />
referidos, mas já com a cor azul. Tal situação po<strong>de</strong>rá querer mostrar a mudança operada<br />
na personagem, o que não será muito provável, visto não ser muito verosímil, ou apenas<br />
uma distracção do autor.<br />
Em qualquer dos casos, os processos utilizados <strong>para</strong> caracterizar as crianças<br />
<strong>de</strong>ixam transparecer o seu carácter e a sua forma <strong>de</strong> estar na vida.<br />
A preocupação <strong>de</strong> Esmeralda, relativamente a Roque, vai estar presente ao longo<br />
da história, evi<strong>de</strong>nciando-se <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início da narrativa. Esta, ao verificar que o seu<br />
amigo se aproxima, e o tio Malaquias o espera <strong>para</strong> o castigar, tenta alertá-lo da fúria<br />
daquele, sujeitando-se a sofrer represálias. A forma como fica perturbada face à<br />
agressão perpetrada pelo „padrinho‟ vai ser revivida no sonho que tem, mesmo antes <strong>de</strong><br />
Roque partir, on<strong>de</strong> continua a ver um gigante a pontapear o amigo.