17.04.2013 Views

Augusto de Santa-Rita e a criação literária para a infância

Augusto de Santa-Rita e a criação literária para a infância

Augusto de Santa-Rita e a criação literária para a infância

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

<strong>Augusto</strong> <strong>de</strong> <strong>Santa</strong>-<strong>Rita</strong> e a <strong>criação</strong> <strong>literária</strong> <strong>para</strong> a <strong>infância</strong><br />

sendo jovem. Só no segundo parágrafo é que a bolinha é caracterizada, tendo o<br />

“tamanho e aparência dum simples berlin<strong>de</strong> <strong>de</strong> crianças, tôda azul cristalina, irisada <strong>de</strong><br />

pontinhos luminosos, qual microscópico sistema planetário com uma estalactite ao<br />

centro, como se fora um minúsculo mundo” (p.1), o que remete <strong>para</strong> o seu nome.<br />

Dada a sua ida<strong>de</strong>, setenta anos, é digna <strong>de</strong> respeito e veneração, pois consegue<br />

ser mais velha que a dinastia do Imperador Assírio que a possui. Por isso, surge<br />

colocada “num relicário <strong>de</strong> oiro, entre algodão e rama, sôbre um pequeno alfarrábio <strong>de</strong><br />

velho pergaminho”, o qual escon<strong>de</strong> o seu segredo.<br />

O seu aspecto faz com que se i<strong>de</strong>ntifique com um talismã e, dada a matéria <strong>de</strong><br />

que é feita, bem como a sua cor azul que, por sua vez, “<strong>de</strong>smaterializa tudo o que a ele<br />

se liga” (CHEVALIER 1994: 106), possibilita ver as pessoas como elas são.<br />

Representa, por isso, o plano intermédio entre o visível e o invisível.<br />

As personagens que ro<strong>de</strong>iam a bolinha, nomeadamente o Imperador e a<br />

Imperatriz, tentam afagá-la, o que reflecte o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> obter, por transferência, o seu<br />

po<strong>de</strong>r; mas, surpreen<strong>de</strong>ntemente, não o conseguem. Depois <strong>de</strong>ssas duas tentativas<br />

frustradas, a filha <strong>de</strong>ste, a Princesa Babel, também tenta a sua sorte, mas não consegue<br />

apanhá-la do chão. Assiste-se, então, a uma sucessão <strong>de</strong> três actos, neste caso <strong>de</strong> recusa<br />

<strong>de</strong> posse, os quais po<strong>de</strong>rão ser interpretados como recomendações <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m psicológica<br />

que conduzem as personagens a um ajustar ou acautelar <strong>de</strong> acções e <strong>de</strong> <strong>de</strong>sígnios.<br />

Os po<strong>de</strong>res concretos da bolinha, todavia, só irão ser revelados ao leitor quando<br />

esta é levada pela Princesa Babel, sem conhecimento ou consentimento dos pais, <strong>para</strong> a<br />

casa do seu aio, a fim a ser dada a conhecer à sua amiga, filha <strong>de</strong>ste. Aí, a Princesa<br />

explica-lhe, a partir do velho alfarrábio, não só as virtu<strong>de</strong>s, como também a origem da<br />

bolinha, sendo nessa revelação notória a intertextualida<strong>de</strong>, pela referência ao Imperador<br />

Nabuchodonosor, a qual, <strong>de</strong> algum modo, talvez pretenda conferir uma certa veracida<strong>de</strong><br />

à história.<br />

As capacida<strong>de</strong>s da bolinha irão manifestar-se quando revela o carácter das<br />

jovens que se encontram junto a uma fonte, a beber água <strong>de</strong> um copo que a contém.<br />

Surpreen<strong>de</strong>ntemente, a bolinha parece ter percebido a quem pertence e, com a<br />

distracção das jovens, é levada, ainda que por engano, por uma águia. A escolha <strong>de</strong>sta<br />

ave que serve <strong>de</strong> transporte não terá sido <strong>de</strong> todo inocente, uma vez que um elemento<br />

tão valioso só po<strong>de</strong>ria ser arrebatado por um ser <strong>de</strong> condição real.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!