Augusto de Santa-Rita e a criação literária para a infância
Augusto de Santa-Rita e a criação literária para a infância
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<strong>Augusto</strong> <strong>de</strong> <strong>Santa</strong>-<strong>Rita</strong> e a <strong>criação</strong> <strong>literária</strong> <strong>para</strong> a <strong>infância</strong><br />
também possível perceber a presença <strong>de</strong> uma força dominadora <strong>de</strong> seres menores,<br />
contrariando <strong>de</strong> forma subtil a função das fábulas. Por outro lado, po<strong>de</strong>riam ser<br />
entendidas como exemplo a seguir, dado que os animais <strong>de</strong>veriam fixar, através do seu<br />
comportamento no mundo natural, as qualida<strong>de</strong>s do ser humano. O que <strong>de</strong> facto<br />
acontece é que os animais surgem como seres falantes, mas a <strong>de</strong>sempenhar funções bem<br />
humanas.<br />
O livro <strong>para</strong> crianças, funcionando como elemento <strong>de</strong> aprendizagem, <strong>de</strong><br />
formação da consciência do cidadão e do seu sentimento cívico, tal como referido por<br />
Natércia Rocha 29 , <strong>de</strong>veria também evitar o excesso <strong>de</strong> fantasia. Sendo uma das<br />
condições mais importantes <strong>para</strong> que os textos fossem consi<strong>de</strong>rados aceitáveis, também<br />
aqui a obra <strong>de</strong> <strong>Augusto</strong> <strong>de</strong> <strong>Santa</strong>-<strong>Rita</strong> contraria o que na generalida<strong>de</strong> era exigido. De<br />
forma fantasiosa e subtil, o autor consegue transmitir o que preten<strong>de</strong>, escudando-se,<br />
simultaneamente, o que justificará a longevida<strong>de</strong> da edição do referido suplemento<br />
infantil.<br />
A forma encontrada <strong>para</strong> ir ao encontro da <strong>infância</strong> manifesta-se também ao<br />
nível didáctico, com a publicação em 1944 <strong>de</strong> “Coisas Que Convém Saber...”, um<br />
poema composto por vinte quadras <strong>de</strong> rima interpolada que apresenta um manancial <strong>de</strong><br />
boas maneiras. Dois anos <strong>de</strong>pois, publica um novo livro, A Cartilha Visual - Método <strong>de</strong><br />
Ensino Pré-Primário, com <strong>de</strong>senhos <strong>de</strong> Fernando Alves <strong>de</strong> Sousa, que funcionaria<br />
como manual <strong>de</strong> instrução primária<br />
Anos mais tar<strong>de</strong> faz publicar, em 1954, A História do Nosso Amor - (O livro <strong>de</strong><br />
oiro dos noivos e bencasados), uma obra com ilustrações <strong>de</strong> Raquel Roque Gameiro<br />
que possibilita o arquivo <strong>de</strong> memórias do matrimónio.<br />
crescer.<br />
Em 1956 publica O Poema <strong>de</strong> Lisboa, um verda<strong>de</strong>iro elogio à cida<strong>de</strong> que o viu<br />
29 “Através <strong>de</strong>sta organização [a Mocida<strong>de</strong> Portuguesa] e ao serviço do chamado Estado Novo, são<br />
editadas ou difundidas obras que têm como objectivo prioritário a apologia do regime vigente, dando-o<br />
como único <strong>de</strong>tentor das virtu<strong>de</strong>s da raça e continuador das glórias passadas. Estas condicionantes <strong>de</strong><br />
origem política suscitam um acréscimo das obras <strong>de</strong> carácter histórico e apologético, o reforço das<br />
tendências moralizantes em <strong>de</strong>trimento do lúdico e principalmente o retraimento do original perante as<br />
adaptações e versões, tanto <strong>de</strong> contos tradicionais como <strong>de</strong> extractos <strong>de</strong> obras consi<strong>de</strong>radas como<br />
satisfazendo os objectivos do momento político.” (2001: 72)