Augusto de Santa-Rita e a criação literária para a infância
Augusto de Santa-Rita e a criação literária para a infância
Augusto de Santa-Rita e a criação literária para a infância
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
2. <strong>Augusto</strong> <strong>de</strong> <strong>Santa</strong>-<strong>Rita</strong> e a sua época<br />
<strong>Augusto</strong> <strong>de</strong> <strong>Santa</strong>-<strong>Rita</strong> e a <strong>criação</strong> <strong>literária</strong> <strong>para</strong> a <strong>infância</strong><br />
No início do século XX a socieda<strong>de</strong> portuguesa vive entre o <strong>para</strong>digma do antigo<br />
regime e o <strong>para</strong>digma liberal, pois, no aspecto cultural, este período po<strong>de</strong>ria ser<br />
consi<strong>de</strong>rado como uma continuação natural do século XIX: instabilida<strong>de</strong> política,<br />
económica e social, reflectida numa crise aguda das instituições e do pensamento.<br />
A partir dos anos 20, por entre burgueses republicanos e correntes naturalistas no<br />
domínio das artes plásticas, surge uma nova corrente <strong>de</strong> jovens artistas. Trata-se <strong>de</strong> uma<br />
geração inquieta que sentiu o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> anular o que existia e criar <strong>de</strong> novo. Esta<br />
corrente, com alguma influência das vanguardas europeias, constitui um movimento<br />
estético que associa a literatura às artes plásticas e é apelidado <strong>de</strong> Mo<strong>de</strong>rnismo. Em<br />
termos práticos, uma geração <strong>de</strong> artistas combate o aca<strong>de</strong>mismo literário dos<br />
republicanos burgueses, promovendo uma renovação cultural, não obstante o elevado<br />
número <strong>de</strong> pessoas sem saber ler nem escrever. Na verda<strong>de</strong>, embora houvesse<br />
bibliotecas espalhadas pelo país, eram gran<strong>de</strong>s o analfabetismo e a falta <strong>de</strong> apetência<br />
popular pela leitura.<br />
Com o acesso generalizado à educação básica, apesar do reduzido número <strong>de</strong><br />
escolas e professores, começam paulatinamente a proliferar a produção e a procura <strong>de</strong><br />
nova literatura, principalmente nas zonas urbanas. O jornal, concretamente, ao surgir <strong>de</strong><br />
forma generalizada, torna-se um veículo <strong>de</strong> cultura muito importante. Todavia, e uma<br />
vez que as unida<strong>de</strong>s e as escolas secundárias escolarizavam uma elite reduzida, a maior<br />
parte das publicações tiveram pouco tempo <strong>de</strong> vida, apesar <strong>de</strong>, sem dúvida,<br />
possibilitarem a generalização e <strong>de</strong>mocratização da cultura. Uma das priorida<strong>de</strong>s da<br />
República passaria a ser a instrução, pois as suas i<strong>de</strong>ias seriam <strong>de</strong>fendidas pelos seus<br />
<strong>de</strong>tentores.<br />
Com a divulgação dos i<strong>de</strong>ais simbolistas surge, então, uma nova sensibilida<strong>de</strong>,<br />
quer na arte, quer na cultura, nomeadamente pela mão dos jovens pintores e escritores<br />
portugueses, alguns <strong>de</strong>les bolseiros em Paris, no sentido da renovação da linguagem<br />
estética nacional. O espírito crepuscular e <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>ntista do Simbolismo, vai, no entanto,<br />
levar alguns anos a ser absorvido apesar do surgimento das novas tendências.