17.04.2013 Views

Augusto de Santa-Rita e a criação literária para a infância

Augusto de Santa-Rita e a criação literária para a infância

Augusto de Santa-Rita e a criação literária para a infância

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

<strong>Augusto</strong> <strong>de</strong> <strong>Santa</strong>-<strong>Rita</strong> e a <strong>criação</strong> <strong>literária</strong> <strong>para</strong> a <strong>infância</strong><br />

gran<strong>de</strong>s componentes da psique humana, sendo vias <strong>de</strong> acesso <strong>para</strong> o inconsciente. Por<br />

outro lado, só se compreen<strong>de</strong> que os contos perpassem ao longo dos tempos se, <strong>de</strong> facto,<br />

eles constituírem respostas <strong>para</strong> o consciente e o inconsciente. Para tal utilizariam uma<br />

linguagem simbólica. É esta também a perspectiva <strong>de</strong> Bruno Bettelheim, o qual,<br />

todavia, apresenta diferenças entre mitos e contos <strong>de</strong> fadas.<br />

Nos contos <strong>de</strong> fadas é imprescindível aparecerem gigantes, bruxas ou feiticeiras,<br />

bem como elementos auxiliares do maravilhoso (animais que falam, árvores que<br />

cantam, armas e utensílios mágicos, …). Apesar das personagens e das situações<br />

exemplares surgirem em ambos os textos, no conto <strong>de</strong> fadas, mesmo que improváveis,<br />

<strong>de</strong>terminados acontecimentos surgem como possíveis e perfeitamente vulgares ou<br />

banais, sendo, por isso, passíveis <strong>de</strong> ser vividos por qualquer um; nos mitos essas<br />

mesmas situações não po<strong>de</strong>riam acontecer ao comum dos mortais, pois são apresentadas<br />

como prodigiosas e terríveis. Há, pois, um natural pessimismo e uma excepcionalida<strong>de</strong><br />

dos heróis dos mitos, que contrastam com o optimismo e o anonimato dos protagonistas<br />

dos contos.<br />

As diferenças, relativamente a estes dois tipos <strong>de</strong> texto, também surgem nas<br />

fórmulas iniciais e finais que são utilizadas. Deste modo, o final nos mitos é quase<br />

sempre trágico, sendo sempre feliz o dos contos <strong>de</strong> fadas, não obstante as peripécias que<br />

possam surgir ao longo da narrativa. Paralelamente a estas, surgem estratégias que<br />

<strong>de</strong>verão ser usadas <strong>para</strong> alcançar uma saída favorável.<br />

O herói mítico age <strong>de</strong> acordo com as exigências do superego (terminologia <strong>de</strong><br />

Bettelheim), estando-lhe reservada a transfiguração numa vida celeste, enquanto que ao<br />

herói do conto <strong>de</strong> fadas é-lhe prometida uma vida terrena eternamente feliz, como<br />

resultado das provas ultrapassadas.<br />

Os mitos e os contos são “mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> comportamento humano, o que, por isso<br />

mesmo, lhes permite dar um sentido e um valor à vida” (BETTELHEIM 1991: 12)<br />

Os contos são <strong>de</strong>tentores <strong>de</strong> uma estrutura narrativa submetida a regras precisas,<br />

estável, como mostram, por exemplo, os mo<strong>de</strong>los formais estabelecidos por Vladimir<br />

Propp, Lévi-Strauss, Clau<strong>de</strong> Brémond, Paul Larivaille, André Jolles ou A. J. Greimas.<br />

In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da forma como é transmitido, <strong>para</strong> V. Propp i<strong>de</strong>ntifica-se um<br />

conto a partir da própria intriga. A sua preocupação pren<strong>de</strong>-se com as acções e a<br />

constância das personagens, e não propriamente com a extensão do texto.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!