Augusto de Santa-Rita e a criação literária para a infância
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<strong>Augusto</strong> <strong>de</strong> <strong>Santa</strong>-<strong>Rita</strong> e a <strong>criação</strong> <strong>literária</strong> <strong>para</strong> a <strong>infância</strong><br />
que, não sendo vencidas, po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>ixar imprevisíveis traumas. O conto é a forma<br />
<strong>literária</strong> por excelência que permite a aceitação precoce da diferença por parte da<br />
criança. Permite a passagem do egocentrismo <strong>para</strong> uma visão mais global.<br />
Nadia Battella Gotlib levanta várias questões relativamente à existência ou não<br />
<strong>de</strong> uma teoria do conto. Por um lado, só po<strong>de</strong>rá existir tal teoria, na medida em que esta<br />
se integra numa teoria mais geral da narrativa; e, por outro, dada a varieda<strong>de</strong> dos contos,<br />
estes po<strong>de</strong>riam ter categorias específicas, ou subgéneros, tal como as do romance, do<br />
teatro ou do cinema.<br />
Quais seriam os limites <strong>para</strong> <strong>de</strong>terminar as suas especificida<strong>de</strong>s ou os aspectos<br />
que ainda po<strong>de</strong>rão persistir nos contos que pertençam à sua origem? Estes são aspectos<br />
que terão levado vários investigadores à apresentação <strong>de</strong> estudos que funcionam como<br />
possíveis respostas.<br />
Gotlib <strong>de</strong>staca o trabalho <strong>de</strong> E. Turrent-Garcia e W. R. Patrick pelos seus<br />
ensaios, intitulados What is the short story?, que apresentam os autores que propõem<br />
<strong>de</strong>finições (Poe, Tchekhov,H,James, B. Matthews, …), os que promovem regras e<br />
<strong>de</strong>finições (texto anónimo sobre B. Matthews, trechos <strong>de</strong> H. S. Canby, Sherwood<br />
An<strong>de</strong>rson, Ring Lardner, William Sroyen) e os que tratam das novas direcções do conto<br />
mo<strong>de</strong>rno (Katerine Anne, Porter, Frank O‟Conner, Joyce Carol Oates….). Faz ainda<br />
referência ao texto <strong>de</strong> Horacio Quiroga, nomeadamente o Decálogo do Perfeito<br />
Contista, on<strong>de</strong> se encontram linhas <strong>de</strong> como escrever um conto, entre outros.<br />
Italo Calvino refere que o conto é uma operação que se realiza sobre a duração, é<br />
um sortilégio que actua sobre o passar do tempo, contraindo-o ou dilatando-o. Os factos<br />
surgem, assim, resumidos, <strong>de</strong>ixando à imaginação o que a rapi<strong>de</strong>z não permitiu que<br />
fosse transmitido, havendo, por isso, economia <strong>de</strong> narração.<br />
Tentando respon<strong>de</strong>r à questão do que é um conto, diz Gotlib:<br />
(…) <strong>de</strong> facto, torna-se angustioso o problema e inábil a tentativa <strong>de</strong> tentar<br />
respon<strong>de</strong>r a uma questão <strong>de</strong>ssa natureza. Principalmente quando se consi<strong>de</strong>ra<br />
como Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> que bons contistas, como Maupassant e Machado <strong>de</strong><br />
Assis, encontraram “a forma do conto”. Mas o que encontraram, segundo<br />
Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, foi a forma do conto “in<strong>de</strong>finível, insondável e irredutível a<br />
receitas”. (GOTLIB 2002: 9)