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Augusto de Santa-Rita e a criação literária para a infância

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<strong>Augusto</strong> <strong>de</strong> <strong>Santa</strong>-<strong>Rita</strong> e a <strong>criação</strong> <strong>literária</strong> <strong>para</strong> a <strong>infância</strong><br />

torna-se trivial escrever <strong>para</strong> crianças, mas as exigências a nível comercial começam a<br />

surgir; a ilustração começa a ter maior qualida<strong>de</strong> e, com a invasão <strong>de</strong> produção<br />

estrangeira (gran<strong>de</strong> invasão <strong>de</strong> Walt Disney), o livro tornou-se excessivamente<br />

dispendioso e, consequentemente, agravam-se os problemas editoriais. A literatura-<br />

-encantamento ten<strong>de</strong>, então, a sobrepor-se à literatura-aprendizagem. Contudo, o texto<br />

dirigido a crianças tem sempre uma mensagem ou um ensinamento, ajudando-a a situar-<br />

-se no mundo e contribuindo, assim, <strong>para</strong> a sua formação. Nele surgem elementos<br />

simbólicos e motivos que remetem <strong>para</strong> a solidarieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> grupo.<br />

Assim sendo, a mensagem do texto <strong>de</strong>duz-se através do tema, da moral, da<br />

compreensão <strong>de</strong> comportamentos, sem que esteja isenta <strong>de</strong> uma conotação i<strong>de</strong>ológica.<br />

De facto, verifica-se que a busca <strong>de</strong> raízes e a exaltação da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> nacional foram<br />

sempre o fio condutor em todas as épocas. A história <strong>de</strong>veria resumir-se à glorificação<br />

patriótica do passado, recheada <strong>de</strong> citações, uma história <strong>de</strong> acontecimentos isolados,<br />

que procurava incutir no espírito dos jovens o culto do tradicionalismo, do nacionalismo<br />

patriótico e dos heróis. Estes, preferencialmente, seriam reis e nobres, que, como<br />

motores da história, afastavam a intervenção do simples cidadão nos <strong>de</strong>stinos do país.<br />

A maioria dos ensaístas acha que os textos <strong>para</strong> crianças e jovens não alcançam<br />

“status” literário sem uma profunda i<strong>de</strong>ntificação do autor com o protagonista ou<br />

focalizador. O estatuto do texto po<strong>de</strong> ser alterado <strong>de</strong> acordo com as mudanças dinâmicas<br />

do sistema literário; mas, <strong>de</strong> uma forma geral, ele tem um estatuto inequívoco no<br />

sistema em que entrou: <strong>para</strong> crianças ou adultos, canonizado ou não.<br />

Zohar Shavit, na obra Poética <strong>para</strong> Crianças, fala da ambivalência <strong>de</strong> um texto,<br />

quando os mo<strong>de</strong>los que o compõem não vão ao encontro do sistema infantil e,<br />

simultaneamente, também se lhe encontram discordâncias com os mo<strong>de</strong>los do sistema<br />

adulto. Tal situação <strong>de</strong> não-aceitação total em <strong>de</strong>terminado sistema, mas também <strong>de</strong> não<br />

total rejeição, leva a que seja aceite simultaneamente nos dois sistemas.<br />

Também o receptor <strong>de</strong> um texto tem uma importância fulcral. De acordo com<br />

Glória Pondé, investigadora brasileira, a literatura, como acto <strong>de</strong> comunicação<br />

eminentemente social, pressupõe sempre uma interacção entre um autor e um leitor.<br />

Contudo, os estudos <strong>de</strong>senvolvidos antes <strong>de</strong> Wolfgang Iser focam, unicamente, o leitor<br />

real e não o “leitor implicado”, aquele sujeito virtual <strong>para</strong> quem o texto é construído. G.<br />

Pondé refere, também, que

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