17.04.2013 Views

Augusto de Santa-Rita e a criação literária para a infância

Augusto de Santa-Rita e a criação literária para a infância

Augusto de Santa-Rita e a criação literária para a infância

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

<strong>Augusto</strong> <strong>de</strong> <strong>Santa</strong>-<strong>Rita</strong> e a <strong>criação</strong> <strong>literária</strong> <strong>para</strong> a <strong>infância</strong><br />

Ainda no Século XIX, a criança é vista com uma aura poética algo <strong>de</strong>sajustada.<br />

Os autores <strong>de</strong>bruçam-se sobre recordações <strong>de</strong> <strong>infância</strong>, tomando por tema a criança,<br />

imaginada através <strong>de</strong> factores afectivos individuais. Surgem, então, textos que falam <strong>de</strong><br />

crianças e outros que são efectivamente <strong>para</strong> crianças. Não obstante as diferenças, o que<br />

se nota é que dificilmente essa produção vai ser dirigida aos adultos. A propósito da<br />

obra Tragédia Infantil, <strong>de</strong> Guerra Junqueiro, Natércia Rocha nota que “é uma produção<br />

poética especialmente <strong>de</strong>dicada a cérebros já formados porque as lições filosóficas são<br />

gran<strong>de</strong>s e nem todas as crianças as compreen<strong>de</strong>m”. Convém referir que esta é uma das<br />

situações comuns naquele tempo, uma vez que, vivendo-se numa época <strong>de</strong> explosão<br />

criativa direccionada <strong>para</strong> a <strong>infância</strong>, todo aquele que escreve tem a árdua tarefa <strong>de</strong><br />

conseguir chegar às crianças.<br />

Testemunho <strong>de</strong>sta situação, e já no século XX, é, por exemplo, a obra O Mundo<br />

dos Meus Bonitos, <strong>de</strong> <strong>Augusto</strong> <strong>de</strong> <strong>Santa</strong>-<strong>Rita</strong>, que, no enten<strong>de</strong>r <strong>de</strong> Natércia Rocha, <strong>de</strong>ve<br />

“ser consi<strong>de</strong>rada mais como obra „sobre‟ crianças, do que como leitura a elas <strong>de</strong>stinada”<br />

(1984: 69). De facto, este autor escreveu muito <strong>para</strong> crianças e sobre crianças, pelo que<br />

não <strong>de</strong>spertou interesse a adultos (talvez por nunca ter sido reconhecido como escritor<br />

<strong>para</strong> adultos), nunca tendo, por isso, conseguido integrar o cânone.<br />

A existência <strong>de</strong> textos <strong>para</strong> adultos e textos <strong>para</strong> crianças é bem visível na<br />

atenção dispensada pela própria crítica, o que, impreterivelmente, faz com que um autor<br />

se torne mais ou menos conhecido. Esta opinião é corroborada por António Manuel<br />

Ferreira que, ao apresentar Domingos Monteiro (1903-1980) como contista <strong>de</strong><br />

“reconhecido mérito”, propõe a razão pela qual este autor não terá já sido reconhecido:<br />

“a preferência pelo conto constitui, provavelmente, um dos motivos responsáveis pela<br />

<strong>de</strong>satenção crítica”. (2003: 200)<br />

Relativamente ao facto <strong>de</strong> ser o conto colocado em plano inferior, se<br />

consi<strong>de</strong>rado a par do romance, Carlos Reis e Ana Cristina M. Lopes opinam que tal<br />

facto remontará às próprias raízes socioculturais do conto, “em confronto com o<br />

romance, género que se reclama <strong>de</strong> uma cultura regida pela día<strong>de</strong> escrita/leitura, com<br />

tudo o que ela implica, e já não da oralida<strong>de</strong> que muitas vezes presi<strong>de</strong> ao conto<br />

popular.” (1987: 77)<br />

No início do século XX, com a propaganda republicana, surgem alterações e o<br />

livro é reconhecido como veículo <strong>de</strong> divulgação do saber, servindo <strong>para</strong> o combate ao<br />

analfabetismo nas crianças e nas “massas incultas” (Rocha 1984: 50) e a promoção da

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!