Augusto de Santa-Rita e a criação literária para a infância
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<strong>Augusto</strong> <strong>de</strong> <strong>Santa</strong>-<strong>Rita</strong> e a <strong>criação</strong> <strong>literária</strong> <strong>para</strong> a <strong>infância</strong><br />
quem agir da forma como Franklin Joice agiu terá a recompensa – boa figura, uma<br />
noiva à altura, com o respectivo casamento <strong>de</strong> sonho “servido no Avenida-Palace-Hotel,<br />
on<strong>de</strong> oito criados (…) andavam já numa azáfama, dispondo artisticamente, numa série<br />
<strong>de</strong> forma <strong>de</strong> ferradura – augúrio <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong>” e um posto <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque – primeiro<br />
ministro <strong>de</strong> Portugal -, ro<strong>de</strong>ado das “mais representativas figuras da alta finança, das<br />
letras e da política”, “ <strong>de</strong> cujo talento brilhantíssimo havia ainda a esperar<br />
compensadores triunfos.” De facto, a referida personagem acaba por ser eleita<br />
Presi<strong>de</strong>nte da República, facto que surge aclamado, mesmo por quem anteriormente era<br />
contra ele (“Zé Falcão, cuja influência política se transmudara em favor <strong>de</strong> Franklin<br />
Joice”).<br />
Curioso é o valor é a forma apelativa que as maiúsculas incutem na própria face<br />
gráfica do texto:<br />
ATINGINDO A MAIORIA DE VOTOS,<br />
FRANKLIN JOICE,<br />
o nosso querido director,<br />
FOI ELEITO NOVO CHEFE DE ESTADO.<br />
VIVA A REPÚBLICA,<br />
VIVA PORTUGAL! 74<br />
Deste modo não há qualquer traço <strong>de</strong> ingenuida<strong>de</strong> política no texto,<br />
aparentemente <strong>para</strong> crianças. Sendo a elas <strong>de</strong>stinado, era lido também por adultos, e esta<br />
seria uma via fácil <strong>de</strong> dirigir também esse público, face à política/diversida<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ológica<br />
vigente.<br />
Testemunho, ainda, <strong>de</strong>sta perspectiva são as palavras do próprio narrador:<br />
(…) a notícia da eleição <strong>de</strong> Franklin Joice, <strong>para</strong> a Presidência da República<br />
havia sido avidamente lida, não só por Mestre Hilário e por D. Graziela como por todos<br />
os discípulos que intimamente haviam feito ar<strong>de</strong>ntíssimos votos pelo triunfo dos seu<br />
antigo internado.<br />
Se, por um lado, são notórios os valores <strong>de</strong> Estado, por outro o bom gosto e a<br />
afirmação do que <strong>de</strong>ve permanecer é constante. A forma <strong>de</strong> vestir, <strong>de</strong> estar, o aspecto<br />
dos ambientes, a <strong>de</strong>scrição das próprias casas, torna forte o contraste entre a riqueza e<br />
74 Em A Obra <strong>de</strong> Mestre Hilário.