Max Hein<strong>de</strong>l - <strong>Iniciação</strong> <strong>Antiga</strong> e <strong>Mo<strong>de</strong>rna</strong> disfarçando <strong>no</strong>sso mau humor e proferindo poucas palavras <strong>de</strong> simpatia que soarão friamente em seus ouvidos, nada ganharemos em crescimento espiritual. É absolutamente essencial ao Cristão Místico que sintonize os sentimentos do mundo, que sinta cada dor em sua própria carne e em seu coração. Quando Parsifal permaneceu <strong>no</strong> templo do Santo Graal e presenciou o sofrimento <strong>de</strong> Amfortas, o ferido Rei do Graal, ele ficou mudo, sentindo simpatia e compaixão mesmo <strong>de</strong>pois do cortejo ter passado pelo átrio e, conseqüentemente, não pô<strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r às perguntas <strong>de</strong> Gurnemanz. Seu profundo sentimento <strong>de</strong> fraternida<strong>de</strong> levou-o prontamente a procurar a lança que curaria Amfortas. Foi a dor <strong>de</strong> Amfortas, sentida <strong>no</strong> coração <strong>de</strong> Parsifal por compaixão, que o manteve firmemente <strong>no</strong> caminho da virtu<strong>de</strong> quando a tentação se tor<strong>no</strong>u mais forte. Foi a dor profunda da compaixão que o estimulou por muitos a<strong>no</strong>s na procura do sofrido Rei do Graal. Finalmente, quando encontrou Amfortas, foi aquele sentimento amoroso que o capacitou a empregar com sabedoria o bálsamo curativo. Assim como está <strong>de</strong>monstrado <strong>no</strong> mito-alma <strong>de</strong> Parsifal, assim também ocorre na vida e na experiência do Cristão Místico: ele <strong>de</strong>ve beber profundamente do cálice da amargura até esgota-lo, <strong>de</strong> modo que as dores acumuladas em seu coração façam que se ofereça, sem reservas nem limites, ao serviço <strong>de</strong> cura, ajudando a todos. Então, o Getsêmani, o Horto da Agonia, será um lugar familiar para ele, lavado com as lágrimas da amargura e dos sofrimentos da humanida<strong>de</strong>. Em todos os a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> auto-sacrifício, seu peque<strong>no</strong> grupo <strong>de</strong> amigos foi um consolo para Jesus. Ele já apren<strong>de</strong>ra a renunciar aos laços <strong>de</strong> sangue. “Quem é minha mãe e quem são meus irmãos? São todos aqueles que fazem a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> meu Pai”. Muito embora nenhum Cristão verda<strong>de</strong>iro <strong>de</strong>va negligenciar suas obrigações sociais ou recusar o amor <strong>de</strong> seus familiares, os laços espirituais são, sem dúvida, os mais fortes e através <strong>de</strong>les vem a coroa <strong>de</strong> sofrimentos. Pela <strong>de</strong>serção <strong>de</strong> seus amigos espirituais, ele apren<strong>de</strong> a beber até ao fim a taça da amargura. Ele não os culpa pela <strong>de</strong>serção, mas <strong>de</strong>sculpa-os com as palavras: “O Espírito na verda<strong>de</strong> está pronto, mas a carne é fraca”, pois sabe, por experiência própria, quão verda<strong>de</strong>ira é essa sentença. Mas Ele percebe, <strong>no</strong> sofrimento supremo, que eles não po<strong>de</strong>m confortá-lo. Então, volta-se para a única fonte <strong>de</strong> conforto, o Pai <strong>no</strong> Céu. Ele chegou ao ponto em que a resistência humana parece ter atingido o seu limite, e reza pedindo clemência para a sua provação, mas, com uma confiança cega <strong>no</strong> Pai, Ele se curva à Sua vonta<strong>de</strong>, oferecendo-se inteiramente, sem reservas. Este é o momento da realização. Tendo bebido completamente do cálice da amargura, abandonado por todos, experimenta o temor medonho <strong>de</strong> estar absolutamente só, talvez a pior experiência da vida <strong>de</strong> um ser huma<strong>no</strong>. O mundo parece envolvido em trevas. Ele percebe que, apesar <strong>de</strong> todo bem que fez ou tentou fazer, o po<strong>de</strong>r das trevas está procurando <strong>de</strong>rrubá-lo. Ele sabe que a turba, que dias atrás lhe ace<strong>no</strong>u com “Hosanas”, amanhã estará pronta a gritar “Crucificai-o, Crucificai-o”. Seus familiares e agora Seus poucos amigos <strong>de</strong>sapareceram e estavam prontos a negá-Lo. Entretanto, quando <strong>no</strong>s encontramos <strong>no</strong> pináculo do sofrimento, também estamos mais próximos do Tro<strong>no</strong> da Graça. As dores, tristezas, agonias e sofrimentos nascidos <strong>no</strong> seio do Cristão Místico, são mais preciosos e valiosos do que as riquezas das índias. Quando ele tiver perdido a companhia <strong>de</strong> todos os homens e se entregar inteiramente ao 60
Max Hein<strong>de</strong>l - <strong>Iniciação</strong> <strong>Antiga</strong> e <strong>Mo<strong>de</strong>rna</strong> Pai, uma transformação ocorrerá: as penas irão transformar-se em compaixão, o único po<strong>de</strong>r do mundo capaz <strong>de</strong> fortalecer um homem na escalada do Gólgota para dar sua vida pela humanida<strong>de</strong>, não como um sacrifício mortal, mas como um sacrifício vivente, elevando-se na medida em que elevar outros. 61