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1823 Sant'Ana do Livramento - Filhos de Santana

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infantaria, Joaquim Xavier Cura<strong>do</strong>, alojou-se junto às margens <strong>do</strong> rio<br />

Ibirapuitã. Comandava o exército expedicionário o capitão general D. Diogo <strong>de</strong><br />

Souza (governa<strong>do</strong>r e capitão geral da Província <strong>do</strong> rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul) que<br />

estabeleceu a se<strong>de</strong> <strong>do</strong> seu coman<strong>do</strong> neste último acampamento, por isso<br />

<strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> São Diogo, lugar ainda hoje existente no interior <strong>do</strong> município <strong>de</strong><br />

<strong>Livramento</strong>. D. Diogo que governou o Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul <strong>de</strong> 09 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong><br />

1809 a 13 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 1814, fun<strong>do</strong>u Bagé em 17 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1811 e São<br />

Diogo, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> nasceu <strong>Livramento</strong>.<br />

O massacre Artiguista no Povoa<strong>do</strong> <strong>do</strong>s Apareci<strong>do</strong>s<br />

Em 1814 foram inicia<strong>do</strong>s os trabalhos <strong>de</strong> erguimento <strong>de</strong> uma Capela, sob a invocação Nossa<br />

Senhora da Conceição Aparecida. A povoação ia progredin<strong>do</strong>, já contan<strong>do</strong> com cerca <strong>de</strong> 40<br />

casas, quan<strong>do</strong> certo dia uma tragédia se revelou no Povoa<strong>do</strong> <strong>do</strong>s Apareci<strong>do</strong>s , como era<br />

conheci<strong>do</strong> na época. Era um povoa<strong>do</strong> perdi<strong>do</strong> em terras perigosas, pois os castelhanos sempre<br />

passariam por ali a caminho das Missões. No meio da ventania <strong>do</strong> minuano, no sibilar cortante<br />

daquele vento sulino, abrigavam-se, na sotaina (batina <strong>de</strong> padre), o corpo enregela<strong>do</strong> das<br />

crianças índias. O ga<strong>do</strong>, as mulas, os cavalos eram amigos e sofriam também como eles, pois era<br />

uma nova raça surgin<strong>do</strong> no entremeio <strong>de</strong> uma guerra <strong>de</strong> fronteiras. Por isso, a fé funcionava.<br />

Deus era bem maior e até po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>fendê-los da castelhanada artiguista.<br />

Mas, um dia, eles viram pelos la<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Quaraí, surgir por trás <strong>de</strong> uma coxilha, centenas <strong>de</strong><br />

cavalos, fechava o grupo, o Coronel Verdun, índios e cães cimarron feios, <strong>de</strong> orelhas caídas e<br />

várias matizes. Chegaram com gran<strong>de</strong> alari<strong>do</strong>, assustan<strong>do</strong>, <strong>de</strong>rruban<strong>do</strong> e matan<strong>do</strong>. O povo<br />

espavori<strong>do</strong> saiu a va<strong>de</strong>ar pelas terras e arroios, fugin<strong>do</strong> <strong>do</strong>s solda<strong>do</strong>s e índios li<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s pelo<br />

Andresito, filho <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> Artigas que, em fúria, vinham arrasan<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> que fosse obra <strong>de</strong><br />

portugueses.<br />

Conforme o padre José Paim Coelho <strong>de</strong> Souza, então Cura <strong>de</strong> São Borja, naqueles dias <strong>de</strong><br />

guerras e <strong>de</strong> invasões, a única coisa que os guiava era a fé. Fé em Deus, fé no trabalho, fé nos<br />

solda<strong>do</strong>s e, principalmente, fé em Jesus e Nossa Senhora. Nada os faria mudar a direção da vida,<br />

pois as escolhas ficavam apenas entre o Reino <strong>de</strong> Portugal ou o Reino da Espanha. Poucos<br />

sabiam ler e escrever. Apenas era Deus que funcionava. A fé era o sustentáculo da esperança.<br />

Disse o Padre: Era o dia 16 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1816. Olhava aquilo tu<strong>do</strong> com amargura, para o<br />

pequeno povoa<strong>do</strong> e to<strong>do</strong>s fugiam em <strong>de</strong>sesperada corrida, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> para trás tu<strong>do</strong> o que<br />

haviam construí<strong>do</strong>. “Deus n~o nos <strong>de</strong>samparou, apenas se ocupava com a acomodação <strong>do</strong><br />

futuro". Ali ficou, naquele <strong>de</strong>zesseis <strong>de</strong> setembro, o nosso coração, enterra<strong>do</strong> nas margens <strong>do</strong><br />

Inhanduí. Nunca mais lá choraríamos nossa terrinha. Fomos fugin<strong>do</strong> pelo campo a fora, sem<br />

saber para aon<strong>de</strong> ir e nem aon<strong>de</strong> chegar. Tu<strong>do</strong> se turvou naquele início <strong>de</strong> primavera tristonha.<br />

<strong>1823</strong> - Carlos Alberto Potoko - 55 -

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