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1823 Sant'Ana do Livramento - Filhos de Santana

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<strong>1823</strong> - Carlos Alberto Potoko - 43 -<br />

O valor <strong>do</strong> ga<strong>do</strong><br />

Já se <strong>de</strong>lineou aqui acerca da ocupação <strong>de</strong>ste território,<br />

<strong>do</strong>s homens que o habitavam, das relações sociais<br />

existentes nesta região, mas pouco foi dito acerca <strong>do</strong>s<br />

animais, exceto os que estavam lá. Na década <strong>de</strong> 1690, o<br />

ouro havia si<strong>do</strong> <strong>de</strong>scoberto nas Minas Gerais, provocan<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>slocamentos populacionais para essa região e mais <strong>do</strong><br />

que isso, fomentan<strong>do</strong> o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um merca<strong>do</strong> para os produtos produzi<strong>do</strong>s na<br />

própria Colônia e <strong>de</strong> produtos importa<strong>do</strong>s. Charles Boxer, em A Ida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Ouro <strong>do</strong> Brasil,<br />

apresenta as gran<strong>de</strong>s transformações pelas quais passaram todas as regiões da Colônia a partir<br />

da exploração das jazidas <strong>do</strong> metal. Estas regiões suas economias locais dinamizadas com o<br />

estabelecimento <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong>, ainda que pouco especializa<strong>do</strong>, merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r. As<br />

regiões sulinas não escaparam <strong>de</strong>ssa gran<strong>de</strong> inflexão na economia colonial. Ao contrário, ao<br />

que tu<strong>do</strong> indica, a exploração comercial das merca<strong>do</strong>rias animais se tornou possível porque<br />

passou a existir um merca<strong>do</strong> capaz <strong>de</strong> consumi-las.<br />

Em 1640, os jesuítas <strong>de</strong> língua espanhola<br />

aban<strong>do</strong>naram a margem esquerda <strong>do</strong> Rio Uruguai,<br />

<strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> para trás o ga<strong>do</strong> ali introduzi<strong>do</strong>. Têm<br />

origem aí os termos ‘ga<strong>do</strong> orelhano’ e ‘ga<strong>do</strong><br />

chimarr~o’, atribuí<strong>do</strong> aos vacuns aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>s nas<br />

Vacarias <strong>do</strong> Mar (Uruguai) e <strong>do</strong>s Pinhais (noroeste <strong>do</strong><br />

Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul). Desnecessário dizer das<br />

utilida<strong>de</strong>s da carne bovina, gran<strong>de</strong> fonte <strong>de</strong> proteínas.<br />

Mas é sempre bom lembrar-se <strong>do</strong>s outros subprodutos <strong>de</strong> origem bovina que muitas vezes<br />

passam <strong>de</strong>spercebi<strong>do</strong>s no dia-a-dia. Dos ga<strong>do</strong>s bovinos eram extraí<strong>do</strong>s, o couro e os sebos,<br />

produtos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância para a vida cotidiana.<br />

Dos sebos eram feitos os sabões, as velas e certos<br />

combustíveis. Também eram feitas as graxas para<br />

impermeabilização <strong>do</strong>s couros e teci<strong>do</strong>s para os<br />

velames <strong>de</strong> embarcações. Dos couros, calça<strong>do</strong>s, parte<br />

<strong>do</strong> mobiliário e vestimentas. Pequenas embarcações e<br />

selas para a montaria. As barracas <strong>de</strong> campanhas<br />

militares e <strong>de</strong> acampamentos <strong>de</strong> viajantes. Os tol<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />

carretas. As bolsas para transporte <strong>de</strong> produtos vários.<br />

Os invólucros <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>rias <strong>de</strong> exportação como o<br />

tabaco eram, muitas vezes, o próprio couro curti<strong>do</strong> e<br />

impermeabiliza<strong>do</strong> com os sebos também extraí<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s<br />

bovinos. O couro, durante o século XVIII, consistiu em

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