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1823 Sant'Ana do Livramento - Filhos de Santana

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município gaúcho <strong>de</strong> <strong>Santana</strong> <strong>do</strong> <strong>Livramento</strong>. “Voltaram a discutir por l| a grafia <strong>do</strong> nome<br />

<strong>Sant'Ana</strong>”, explicou. Sei que muita gente prefere escrever como uma coisa só, mas eu acho mais<br />

bonito com o apóstrofo entre as duas partes, como manda a tradição - igual ao Paulo Sant’Ana!<br />

Bem que podiam fazer um plebiscito e <strong>de</strong>cidir isso <strong>de</strong> uma vez por todas”, concluiu, passan<strong>do</strong> a<br />

cuia e a palavra <strong>de</strong> volta para mim. Entendi o reca<strong>do</strong>, e aqui vai minha resposta, a ele e aos<br />

vários amigos que tenho em <strong>Livramento</strong>.<br />

Em primeiro lugar, confesso que a dieta maciça <strong>de</strong> autores <strong>do</strong> Romantismo que a escola<br />

costumava servir acabou me tornan<strong>do</strong> um nostálgico admira<strong>do</strong>r <strong>do</strong> apóstrofo. Alencar intitulou<br />

um <strong>de</strong> seus mais a<strong>do</strong>cica<strong>do</strong>s romances <strong>de</strong> Sonhos d’Ouro — elegante, <strong>de</strong>lica<strong>do</strong>, sugestivo;<br />

Sonhos <strong>de</strong> Ouro, ao contrário, parece mais a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> para um daqueles para<strong>do</strong>uros <strong>de</strong> Santo<br />

Antônio da Patrulha em que, nos anos 60, a caminho das praias <strong>do</strong> Atlântico, a família gaúcha<br />

renovava suas forças com sonhos fritos e café preto. Por isso, se fosse questão <strong>de</strong> gosto, eu não<br />

hesitaria em escolher Sant’Ana.<br />

Friso: se fosse quest~o <strong>de</strong> gosto… mas n~o é. Em casos como este, n~o importa a minha<br />

preferência ou o meu senso estético — assim como também não importa, como alguns tentam<br />

alegar, que assim está nos <strong>do</strong>cumentos da fundação da cida<strong>de</strong>. To<strong>do</strong> cidadão tem o direito <strong>de</strong><br />

portar o nome da maneira como foi registra<strong>do</strong>, é verda<strong>de</strong>; muita gente não sabe, porém, que<br />

esta regra não vale para os nomes geográficos. A grafia <strong>do</strong> nome <strong>de</strong> um município está<br />

submetida às regras ortográficas vigentes, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da forma como constava nas<br />

atas <strong>de</strong> fundação. Este princípio é fundamental para um país que, como o nosso, já tem<br />

municípios com mais <strong>de</strong> 450 anos: seria quase impossível administrar to<strong>do</strong>s esses nomes (o<br />

Brasil já anda lá pelos seis mil, atualmente) se cada um conservasse a grafia original, muitas<br />

vezes atribuída em épocas em que não existia uma ortografia oficial ou em que vigiam outras<br />

normas que não as atuais. Po<strong>de</strong>-se imaginar o caos que se instauraria nas placas <strong>do</strong>s<br />

automóveis, na sinalização das estradas, nos <strong>do</strong>cumentos públicos, nos livros didáticos e em<br />

todas as outras situações em que precisamos escrever o nome <strong>do</strong> município!<br />

Não sei, por exemplo, como consta no registro inicial da cida<strong>de</strong>, mas sei que durante muito<br />

tempo Triumpho se escreveu assim, com ph. Com o Acor<strong>do</strong> <strong>de</strong> 1943, passou automaticamente<br />

a ser grafa<strong>do</strong> Triunfo — e pronto. Trammandahy, Trammanday ou Tramandahy? Não<br />

importa; na ortografia atual, é Tramandaí. A regra <strong>do</strong>s acentos diferenciais, no Acor<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

1943, <strong>de</strong>u um chapeuzinho (circunflexo) a Porto Alegre, que passou a Pôrto Alegre — assim<br />

permanecen<strong>do</strong> até 1971, quan<strong>do</strong> uma pequena reforma eliminou o referi<strong>do</strong> acento e voltamos<br />

a escrever Porto Alegre. Se amanhã <strong>de</strong>cidirem que alegre passar| a ter acento no “E” (j| n~o<br />

duvi<strong>do</strong> <strong>de</strong> nada…), lá vamos nós escrever Porto Alégre — e assim por diante. É assim que<br />

funciona (e <strong>de</strong>ve funcionar). Ora, sen<strong>do</strong> o Brasil um país historicamente católico, <strong>Santana</strong> <strong>do</strong><br />

<strong>Livramento</strong>, embora date <strong>do</strong> séc. 19, é apenas um <strong>do</strong>s vários municípios que traz <strong>Santana</strong> no<br />

nome. Numa rápida busca no IBGE encontrei mais <strong>de</strong> quinze <strong>Santana</strong>s: <strong>Santana</strong> <strong>de</strong> Parnaíba<br />

(SP) — o mais antigo, funda<strong>do</strong> no séc. XVII —, <strong>Santana</strong> <strong>do</strong> Matos (RN), <strong>Santana</strong> <strong>do</strong> Cariri (CE),<br />

<strong>1823</strong> - Carlos Alberto Potoko - 160 -

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