ANTIJESUÍTISMO EUROPEU: RELAÇÕES POLÍTICO ...

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Jesuítas, o que justamente era avaliado pelos observadores como derrota dos outrora poderosos jesuítas. 236 O visado afastamento dos jesuítas dos lugares-chave políticos e sociais, assim como do seu afastamento de posições centrais enquanto confessores na Corte, pode ser observado com intervalos mínimos de tempo, em toda a Europa. 237 Nisto nem sempre pode ser vista uma medida exclusivamente antijesuíta. A par da, por vezes, suposta influência política — que através da moderna investigação, só com grande reserva é defendida —, a sub- -corrente ideológica das controversas concepções pastorais foi determinada como factor favorável a tal evolução. A substituição de posições, sempre registada com constante atenção, foi interpretada por vários observadores contemporâneos como perda de prestígio por parte dos atingidos. Como sinal de alarme para a Ordem no seu conjunto é, por isso, o afastamento dos jesuítas como confessores da Corte justamente entendido pelo núncio Visconti, em 1767, com a sua certeira observação: Visconti viu no acontecimento um «infausto preludio per la Compagnia». 238 III.2 Academias e eruditos Para compreender o intrincado político-diplomático da questão jesuíta na Europa, está à disposição um valioso acervo arquivístico específico mediante a exploração dos relatórios do embaixador por- 2 , 6 Rosenberg para Kaunitz, 9.1.1764: «Die hiesigen Neuigkeiten anbelangend, so ist denen Jesuiten mehrmalen ein nicht geringer Abbruch geschehen. Es hatte ihnen weiland König Philippus V. einen beständigen Platz in der Inquisition angewiesen, welcher meistens denen Beichtvätern, wenn selbige aus erwähnten Orden waren, gegeben worden. Nun ist (...) der als Beichtvater abgedankte Pater Rávago mit Tode abgegangen und folglich die Stelle eines Inquisitoris erlediget worden. Es hat aber der Katholische König selbige nicht einem Jesuiten, sondern seinem dermaligen Beichtvater, so ein Franziskaner ist, gegeben»: cit. segundo Juretschke III 9. 2 3 7 1757 em Portugal, a partir de 1760 na Aüstria. 1762 na Baviera. 1764 cm Espanha. O cardeal Spinelli relatava — acerca de uma obrigada vigilância dos jesuítas em actividade, em Nápoles, por ele provocada — na sua carta ao cardeal Johann Theodor («differens avec les Pères Jésuites à Naples ou je lesobligeai a venir se faire examiner pour le confessional»): BayHStA Kschw. 15818, cardeal Spinelli para cardeal Johann Theodor, I8.V.1759. 2 3 8 Núncio Visconti, em 1767, sobre a nomeação do cónego agostinho Ignaz Müller para confessor da Corte, em lugar do jesuíta Kampmüller: cf. Winter, Josefinismus, 44.

tuguês acreditado em Viena, Andrade e Castro. Nos relatórios da embaixada, além das poucas referências à reforma das Universidades e dos estudos, é, contudo, excluída a vida académica e científica. O acesso à questão jesuíta — tal como se apresenta no intercâmbio cultural entre os países em que se propagou — deve, portanto, dar-se na base de outras fontes. Em parte impressa, e em parte apenas disponível em arquivo, a correspondência entre eruditos, na e sobre a actividade das Academias europeias, sob os aspectos escolhidos, deve ser submetida a uma revisão de acordo com a problemática formulada. O clima intelectual do espaço cultural bávaro orientava-se no sentido da aversão aos jesuítas, segundo os exemplos da Europa ocidental? As atitudes revolucionárias antijesuítas em Portugal manifestavam-se nas cartas? E finalmente: a Europa erudita da segunda metade do sec. XVIII tinha como característica inconfundível uma comum «paixão antijesuíta» («antijesuitischer Affekt» 2 3 9) que ultrapassava fronteiras? III.2.a. A Academia das Ciências da Baviera, 1759 À primeira vista apresenta-se negativa à investigação arquivística a análise da existência de contactos entre as Academias científicas em Portugal 2 4 0 e na Baviera: entre as cartas para membros da Academia das Ciências da Baviera, no período de 1759-1804, não se pode provar a existência de nenhum correspondente do espaço ibérico. 241 A investigação recente sobre a fundação e primeira fase da história das Academias das Ciências da Baviera (Churbaierische Akademie) qualificou, portanto, com razão, a presença de sociedades eruditas 2 4 2 da Península Ibérica, no estreito círculo da Academia 2 , 9 Assim formulado por Garms-Cornides 238, com respeito aos italianos na vida cultural de Viena. 2 4 0 A Academia Real de História, fundada em 1720, tinha, no tempo de D. José, caído na insignificância; só em 1779 se seguiu o estabelecimento da Academia das Ciências de Lisboa: Castelo-Branco; Serrão, História V 426ss, VI 440ss. Ligações pessoais isoladas ao movimento das Academias em Espanha definharam, a partir de 1756, com base na hostilidade aos jesuítas: Piwnik, Membres portugais 120-135; lista dos membros da Real Academia de História de Madrid: Kaufmann II, 648-682. 2 4 1 Os meus agradecimentos ao Sr. Dr. Reinhard Heydenreuter, arquivista da Academia das Ciências da Baviera, pela sua informação escrita de 20.11.1991. 2 4 2 Cf., para a história dos conceitos no movimento europeu das Academias como movimento de sociedades: Dickerhof, Gelehrte Gesellschaften 64-66.

Jesuítas, o que justamente era avaliado pelos observadores como<br />

derrota dos outrora poderosos jesuítas. 236 O visado afastamento dos<br />

jesuítas dos lugares-chave políticos e sociais, assim como do seu<br />

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Nisto nem sempre pode ser vista uma medida exclusivamente antijesuíta.<br />

A par da, por vezes, suposta influência política — que através<br />

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Corte justamente entendido pelo núncio Visconti, em 1767, com a sua<br />

certeira observação: Visconti viu no acontecimento um «infausto<br />

preludio per la Compagnia». 238<br />

III.2 Academias e eruditos<br />

Para compreender o intrincado político-diplomático da questão<br />

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2 , 6 Rosenberg para Kaunitz, 9.1.1764: «Die hiesigen Neuigkeiten anbelangend,<br />

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worden. Es hat aber der Katholische König selbige nicht einem Jesuiten, sondern<br />

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Juretschke III 9.<br />

2 3 7 1757 em Portugal, a partir de 1760 na Aüstria. 1762 na Baviera. 1764 cm<br />

Espanha. O cardeal Spinelli relatava — acerca de uma obrigada vigilância dos<br />

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para cardeal Johann Theodor, I8.V.1759.<br />

2 3 8 Núncio Visconti, em 1767, sobre a nomeação do cónego agostinho Ignaz<br />

Müller para confessor da Corte, em lugar do jesuíta Kampmüller: cf. Winter,<br />

Josefinismus, 44.

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