ANTIJESUÍTISMO EUROPEU: RELAÇÕES POLÍTICO ...

ANTIJESUÍTISMO EUROPEU: RELAÇÕES POLÍTICO ... ANTIJESUÍTISMO EUROPEU: RELAÇÕES POLÍTICO ...

repositorio.ucp.pt
from repositorio.ucp.pt More from this publisher
17.04.2013 Views

sentido da política de Igreja de Lisboa: em I de Abril de 1758, o Papa Bento XIV nomeou o cardeal português Francisco Saldanha para reformador e visitador da Província portuguesa da Companhia de Jesus. 7 1 Do Breve papal datado de 1 de Abril, tomaram conhecimento o cardeal Saldanha, os jesuítas em Roma e o núncio apostólico em Lisboa apenas uma semana depois. 72 Em Maio teve lugar o início oficial da visita, cujo principal interesse foi, antes de mais, para a situação financeira da Ordem, mas logo se estendeu ao domínio pastoral e à disciplina da Companhia. 73 À visita dos jesuítas portugueses pelo cardeal Saldanha, cuja parte principal correspondeu à duração do conclave em Roma, sucedeu a crítica violenta do núncio Acciaiuoli, 7 4 que designava o cardeal Saldanha como partidário de Pombal. Apesar do evidente agravamento da sua situação em Portugal, em Roma o observador da visita aos Jesuítas avaliava o desfecho como 7 1 O cardeal Passionei linha feito o esboço do Breve, e o Papa Bento XIV aceitou-o, ainda que, já de cama doente (morreu pouco depois, a 3.V. 1758), introduzisse alterações (texto: Pastor XVI/I. 351, nota 1). 7 2 Cardeal Archinto, Secretário de Estado, ao núncio Acciaiuoli, em 28.VI. 1758, designava-o como «famoso Breve di visitatore e reformatore de' Gesuiti, dei quale Roma non he ha avuta la notizia che da Lisbonna»; cit. segundo Pastor XVI/ I. 547, nota 2. 7 3 A 3. VI. 1758, foi proibido aos jesuítas o comércio público; a 7. VI., o cardeal José Manuel da Câmara suspendeu todos os jesuítas de ouvirem confissões e pregarem, no Patriarcado. O cardeal da Câmara (cardeal desde 1747) morreu a 9.VII. 1758. sucedendo-lhe, em 1759, no Patriarcado, Francisco de Saldanha, há muito «aspirante à cátedra patriarcal» (Antunes 130). Para a elevação ao cardinalato em Portugal, cf. Serrão, História VI, 64s. O próprio Saldanha era designado como prolongamento do braço de Pombal para a política eclesiástica («braço eclesiástico de Pombal»): Brazão, Pombal 351. 7 4 A 6.VII. 1758, o cardeal Rezzonico foi eleito Papa (Clemente XIII). A 22.VIII.1758, o núncio Acciaiuoli referia ao cardeal Archinto, Secretário de Estado: «ln tanto al Sig. Cardinale consigliai di non pigliar la visita sulla vita regolare, sulle prediche, confcssioni, scuole, congregazioni etc. delFlstituto, perche co' Gesuiti poco avrebbe concluso et avrebbe perduto il tempo, ma sulla pubblica negoziazione, che è 1'unico scandalo, che diano tali religiosi»: cit. segundo Pastor XVI/I, 549 nota 3. O núncio Acciaiuoli avaliava, assim, a visitação de Saldanha como um instrumento de Pombal contra a Companhia de Jesus (ao cardeal Torrigiani, em 18.111.1759): «Perche certo il card. Saldanha nulla ha fatto di visitatore, ma di ministro subalterno al conte d'Oeyras»: cit. segundo Pastor XVI/ 1, 548 nota 2; de acordo com Brazão, Pombal 348.

econhecimento perante o Papa, à luz do direito eclesiástico, das suas actividades. 75 II. 2. Antecedentes históricos e efectivação da expulsão Após a infrutífera visita continuava a não haver para os jesuítas portugueses qualquer motivo para um triunfo antecipado. A repressão da sua actividade comercial e acção pastoral prosseguiu quase sem interrupção. A sucessão de acontecimentos levou, no ano anterior à expulsão, ao atentado contra a vida do rei D. José I. E de perguntar até que ponto se pode provar que alguns jesuítas exerceram colaboração passiva enquanto conhecedores, ou colaboração activa enquanto instigadores e autores. Para a investigação histórica dos antecedentes coloca-se, em primeiro lugar, a questão de saber que relação pode ser determinada entre o atentado, em Setembro de 1758, e a expulsão dos jesuítas, em Setembro de 1759. Qual foi a sucessão dos acontecimentos que levou, passo a passo, até à expulsão definitiva será de seguida brevemente apresentada. II.2.a. O atentado contra o rei D. José I (3/09/1758) Em 3 de Setembro de 1758 deu-se um atentado contra a vida do rei D. José, que regressava de um encontro nocturno, no Palácio da Ajuda, com uma nobre casada, a jovem Marquesa de Távora. 76 Os ligeiros ferimentos do rei foram atribuídos pela gazeta oficiosa a uma queda no patamar das escadas do Palácio, o que não pôde evitar os inúmeros boatos sobre o verdadeiro desenrolar do acontecimento. 77 Almada e Mendonça para Carvalho e Melo, em 4.1.1759 (Anexo): «Non puotendo il Cardinale Riformatore nulla provare contro i Gesuiti ha fatto il Provinciale d'essi, e li ha suggerilo di dare un memoriale al Re assicurandolo, che ogni cosa sarebbe finita (...) In somma vanno eccellentemente per li Gesuiti le cose in Portugallo, sono essi contentissimi dei Papa, e si ridono dei loro nemici»: cit. por Ferrão 134s. *• O atentado foi, logo em seguida, visto como um acto de vingança da irritada família dos Távoras: há muito que a relação era notória: cf. a carta cifrada do núncio Acciaiuoli para o cardeal Secretário de Estado (12.IX. 1758), com excertos em Brazão, Pombal 350. Os primeiros rumores não deixavam excluir uma cumplicidade dos jesuítas: Serrão, História VI, 39s. 7 7 A «Gazeta de Lisboa» confirmava os ferimentos a 7.IX.; a 7.XII., o restabelecimento da saúde do Rei: «inteiramente restabelecido da queixa que padeceu»: cit. por Serrão, História VI, 39.

sentido da política de Igreja de Lisboa: em I de Abril de 1758, o<br />

Papa Bento XIV nomeou o cardeal português Francisco Saldanha para<br />

reformador e visitador da Província portuguesa da Companhia de<br />

Jesus. 7 1 Do Breve papal datado de 1 de Abril, tomaram conhecimento<br />

o cardeal Saldanha, os jesuítas em Roma e o núncio apostólico<br />

em Lisboa apenas uma semana depois. 72<br />

Em Maio teve lugar o início oficial da visita, cujo principal<br />

interesse foi, antes de mais, para a situação financeira da Ordem, mas<br />

logo se estendeu ao domínio pastoral e à disciplina da Companhia. 73<br />

À visita dos jesuítas portugueses pelo cardeal Saldanha, cuja parte<br />

principal correspondeu à duração do conclave em Roma, sucedeu a<br />

crítica violenta do núncio Acciaiuoli, 7 4 que designava o cardeal<br />

Saldanha como partidário de Pombal.<br />

Apesar do evidente agravamento da sua situação em Portugal, em<br />

Roma o observador da visita aos Jesuítas avaliava o desfecho como<br />

7 1 O cardeal Passionei linha feito o esboço do Breve, e o Papa Bento XIV<br />

aceitou-o, ainda que, já de cama doente (morreu pouco depois, a 3.V. 1758), introduzisse<br />

alterações (texto: Pastor XVI/I. 351, nota 1).<br />

7 2 Cardeal Archinto, Secretário de Estado, ao núncio Acciaiuoli, em 28.VI. 1758,<br />

designava-o como «famoso Breve di visitatore e reformatore de' Gesuiti, dei<br />

quale Roma non he ha avuta la notizia che da Lisbonna»; cit. segundo Pastor XVI/<br />

I. 547, nota 2.<br />

7 3 A 3. VI. 1758, foi proibido aos jesuítas o comércio público; a 7. VI., o cardeal<br />

José Manuel da Câmara suspendeu todos os jesuítas de ouvirem confissões e<br />

pregarem, no Patriarcado. O cardeal da Câmara (cardeal desde 1747) morreu a<br />

9.VII. 1758. sucedendo-lhe, em 1759, no Patriarcado, Francisco de Saldanha, há<br />

muito «aspirante à cátedra patriarcal» (Antunes 130). Para a elevação ao cardinalato<br />

em Portugal, cf. Serrão, História VI, 64s. O próprio Saldanha era designado como<br />

prolongamento do braço de Pombal para a política eclesiástica («braço eclesiástico<br />

de Pombal»): Brazão, Pombal 351.<br />

7 4 A 6.VII. 1758, o cardeal Rezzonico foi eleito Papa (Clemente XIII). A<br />

22.VIII.1758, o núncio Acciaiuoli referia ao cardeal Archinto, Secretário de<br />

Estado: «ln tanto al Sig. Cardinale consigliai di non pigliar la visita sulla vita<br />

regolare, sulle prediche, confcssioni, scuole, congregazioni etc. delFlstituto,<br />

perche co' Gesuiti poco avrebbe concluso et avrebbe perduto il tempo, ma sulla<br />

pubblica negoziazione, che è 1'unico scandalo, che diano tali religiosi»: cit.<br />

segundo Pastor XVI/I, 549 nota 3. O núncio Acciaiuoli avaliava, assim, a visitação<br />

de Saldanha como um instrumento de Pombal contra a Companhia de Jesus (ao<br />

cardeal Torrigiani, em 18.111.1759): «Perche certo il card. Saldanha nulla ha fatto<br />

di visitatore, ma di ministro subalterno al conte d'Oeyras»: cit. segundo Pastor XVI/<br />

1, 548 nota 2; de acordo com Brazão, Pombal 348.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!