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Marcos Abalde Covelo - Desvelando as mentiras de Feijoo

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<strong>Marcos</strong> <strong>Abal<strong>de</strong></strong> <strong>Covelo</strong><br />

6<br />

B: sinto-a cantarolar polo corredor. Vai esvaziando o seu<br />

quarto. Apaga o recendo que tanto amei. A sua voz rente<br />

ao lume chama-me ao seu lado. nom quer ensinar-me<br />

a cantar. na sua cara vejo a mulher que serei <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />

quarenta anos. Cruzo esse labirinto <strong>de</strong> enrug<strong>as</strong>. tantos<br />

caminhos, tant<strong>as</strong> lágrim<strong>as</strong> e um oceano inteiro que olha<br />

para mim... som a tua neta. lembr<strong>as</strong>-te? Para ela os di<strong>as</strong> já<br />

nom amanhecem. Repito-che. As sardinh<strong>as</strong> nom se enfarinham<br />

em <strong>de</strong>tergente. tu dis-me que sim e pergunt<strong>as</strong>-me<br />

quando virá a tua irmá que morreu na suíça há já mais <strong>de</strong><br />

vinte anos. Agora é o papai quem cuida <strong>de</strong> ti. troc<strong>as</strong>tes os<br />

papéis, m<strong>as</strong> a música d<strong>as</strong> cida<strong>de</strong>s continua a vos <strong>as</strong>sustar.<br />

sobre todo a ele. A ti, papai, que levantache a c<strong>as</strong>a com<br />

<strong>as</strong> tu<strong>as</strong> própri<strong>as</strong> maos e repenic<strong>as</strong> sem <strong>de</strong>scanso na terra.<br />

Repetem-se <strong>as</strong> estaçons e tornam a atar-te à escravidom da<br />

enxada e do vinho amargo. tu que <strong>de</strong>ixache em cada tijolo<br />

mais que umha pinga <strong>de</strong> suor. tu, que tés sete <strong>de</strong>dos, sabes<br />

que todos os vímbios racham, também <strong>as</strong> tu<strong>as</strong> cost<strong>as</strong>. no<br />

entanto, continu<strong>as</strong> a contar os tetos da vaca. falam-che<br />

da água da traída e baix<strong>as</strong> o olhar. o buraco nom é tam<br />

húmido. Vós esta<strong>de</strong>s bem aí. Ach<strong>as</strong> que já p<strong>as</strong>sou o vosso<br />

tempo.<br />

Ao fundo miam os gatos. Soa a campainha.<br />

A: olá, som eu.<br />

B: sobe.<br />

Pausa.<br />

A: Como cheira o portal!<br />

B: leva <strong>as</strong>sim três ou quatro di<strong>as</strong>.<br />

A: <strong>de</strong>vem ser os gatos da velha <strong>de</strong> abaixo. ter tantos num<br />

apartamento é o que tem.<br />

37

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