O rei e o cadáver
O rei e o cadáver O rei e o cadáver
O rei e o cadáver
- Page 3 and 4: Era uma vez, na Índia, na infânci
- Page 5 and 6: sem dizer uma palavra! E novamente
- Page 7: perto da abertura, brilhando entre
O <strong>rei</strong> e<br />
o <strong>cadáver</strong>
Era uma vez, na Índia,<br />
na infância do tempo<br />
antes de todas as eras e momentos,<br />
nos antanhos de outrora,<br />
um <strong>rei</strong> chamado<br />
Trivikramasena.<br />
No dia-a-dia, porém,<br />
chamavam-no simplesmente<br />
Vikram.<br />
Era um <strong>rei</strong> justo, nobre e corajoso,<br />
um <strong>rei</strong> magnífico.<br />
Todo dia, a multidão corria à sua<br />
audiência pública.<br />
Ora, um dia chegou um monge mendigo,<br />
muito magro, pés descalços, o corpo coberto apenas<br />
por um trapo na cintura.<br />
Ele entrou na fila<br />
e se pôs a esperar tranqüilamente.<br />
Quando finalmente chegou sua vez,<br />
ele se curvou diante do trono,<br />
como era costume, depois se aproximou do <strong>rei</strong><br />
e ofereceu a ele uma fruta<br />
grande como um abacate.<br />
15
Quando o <strong>rei</strong> a tomou em sua mão,<br />
o monge simplesmente partiu,<br />
sem pedir absolutamente nada, sem dizer uma palavra.<br />
Por um instante o monarca ficou perplexo,<br />
segurando a fruta na mão.<br />
Depois, como não sabia o que fazer com aquilo,<br />
passou-a de uma mão para a outra<br />
e a entregou ao tesou<strong>rei</strong>ro,<br />
que se encontrava à sua di<strong>rei</strong>ta,<br />
dizendo-lhe que a guardasse.<br />
E, sem pensar mais naquilo, voltou-se para<br />
o próximo da fila.<br />
O tesou<strong>rei</strong>ro, que também não sabia<br />
o que fazer com a fruta, correu para a sala<br />
dos tesouros e, por fim,<br />
16<br />
JOGOU-A<br />
por uma abertura, sem nem ao menos abrir a porta.<br />
Mas no dia seguinte, na audiência pública,<br />
o monge mendigo voltou.<br />
E novamente ofereceu ao <strong>rei</strong> uma fruta<br />
grande como um abacate<br />
e foi embora mais uma vez, sem pedir nada,
sem dizer uma palavra!<br />
E novamente<br />
o <strong>rei</strong> pegou a fruta,<br />
passou-a de uma mão para a outra,<br />
e a entregou ao tesou<strong>rei</strong>ro, que a<br />
pela abertura.<br />
E isso foi se repetindo, repetindo,<br />
durante dez anos!<br />
Todos os dias o monge mendigo vinha,<br />
oferecia uma fruta,<br />
o <strong>rei</strong> a pegava, passava de uma à outra mão,<br />
entregava-a ao tesou<strong>rei</strong>ro,<br />
que a jogava pela abertura!<br />
E isso poderia durar a vida inteira,<br />
jogou<br />
se um dia um sagüi não tivesse saltado sobre os joelhos<br />
do <strong>rei</strong>, bem na hora em que ele passava a fruta<br />
E o sagüi, VAPT!, agarrou a fruta.<br />
E fez o que o <strong>rei</strong> deveria ter feito há<br />
muito tempo:<br />
de uma mão para a outra.<br />
ele a mordeu!<br />
17
E isso lhe arruinou os dentes!<br />
Porque o caroço gigante não era um caroço!<br />
Era um brilhante!<br />
Um brilhante de um valor inestimável!<br />
O <strong>rei</strong>, maravilhado, voltou-se para o tesou<strong>rei</strong>ro:<br />
— O que fizeste com as outras frutas,<br />
ó tesou<strong>rei</strong>ro?<br />
O tesou<strong>rei</strong>ro, nervosíssimo, pálido de susto, mais que depressa<br />
correu para a sala dos tesouros,<br />
abriu a porta e viu,<br />
18<br />
no chão,
perto da abertura, brilhando entre as cascas<br />
secas e os frutos podres,<br />
um monte de jóias!<br />
Mais tranqüilo, embrulhou as pedras na própria túnica<br />
e correu para entregá-las ao <strong>rei</strong>.<br />
E o <strong>rei</strong>, contente, disse:<br />
— Podes ficar com todas elas, ó tesou<strong>rei</strong>ro!<br />
Porque ele não era ávido por riquezas.<br />
19