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Baixar material educativo em PDF - Arte na Escola

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Dados Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is de Catalogação <strong>na</strong> Publicação (CIP)<br />

(William Okubo, CRB-8/6331, SP, Brasil)<br />

INSTITUTO ARTE NA ESCOLA<br />

H. O. supra-sensorial / Instituto <strong>Arte</strong> <strong>na</strong> <strong>Escola</strong> ; autoria de Lucimar Bello<br />

Pereira Frange ; coorde<strong>na</strong>ção de Mirian Celeste Martins e Gisa Picosque. –<br />

São Paulo : Instituto <strong>Arte</strong> <strong>na</strong> <strong>Escola</strong>, 2006.<br />

(DVDteca <strong>Arte</strong> <strong>na</strong> <strong>Escola</strong> – Material <strong>educativo</strong> para professor-propositor ; 88)<br />

Foco: SE-4/2006 Saberes Estéticos e Culturais<br />

Contém: 1 DVD ; Glossário ; Bibliografia<br />

ISBN 85-7762-019-0<br />

1. <strong>Arte</strong>s - Estudo e ensino 2. <strong>Arte</strong> cont<strong>em</strong>porânea 3. Pesquisa de materiais<br />

4. Oiticica, Hélio I. Frange, Lucimar Bello Pereira II. Martins, Mirian Celeste<br />

III. Picosque, Gisa IV. Título V. Série<br />

Créditos<br />

MATERIAIS EDUCATIVOS DVDTECA ARTE NA ESCOLA<br />

Organização: Instituto <strong>Arte</strong> <strong>na</strong> <strong>Escola</strong><br />

Coorde<strong>na</strong>ção: Mirian Celeste Martins<br />

Gisa Picosque<br />

Projeto gráfico e direção de arte: Oliva Teles Comunicação<br />

MAPA RIZOMÁTICO<br />

Copyright: Instituto <strong>Arte</strong> <strong>na</strong> <strong>Escola</strong><br />

Concepção: Mirian Celeste Martins<br />

Gisa Picosque<br />

Concepção gráfica: Bia Fioretti<br />

H. O. SUPRA-SENSORIAL<br />

CDD-700.7<br />

Copyright: Instituto <strong>Arte</strong> <strong>na</strong> <strong>Escola</strong><br />

Autor deste <strong>material</strong>: Lucimar Bello Pereira Frange<br />

Revisão de textos: Soletra Assessoria <strong>em</strong> Língua Portuguesa<br />

Diagramação e arte fi<strong>na</strong>l: Jorge Monge<br />

Autorização de imagens: Ludmilla Picosque Baltazar<br />

Fotolito, impressão e acabamento: Indusplan Express<br />

Tirag<strong>em</strong>: 200 ex<strong>em</strong>plares


DVD<br />

H. O. SUPRA-SENSORIAL<br />

Ficha técnica<br />

Gênero: Vídeo experimental.<br />

Palavras-chave: <strong>Arte</strong> cont<strong>em</strong>porânea; percurso artístico; experimentação;<br />

artista propositor; pesquisa de materiais; contami<strong>na</strong>ção<br />

de linguagens; cor; arte e vida; relação público e obra.<br />

Foco: Saberes Estéticos e Culturais.<br />

T<strong>em</strong>a: A experiência artística e conceitual de Hélio Oiticica, suas<br />

indagações e concepções de arte.<br />

Artista abordado: Hélio Oiticica.<br />

Indicação: A partir da 8a série do Ensino Fundamental.<br />

Direção: Kátia Maciel.<br />

Realização/Produção: Vídeo independente realizado <strong>na</strong> Universidade<br />

Federal do Rio de Janeiro.<br />

Ano de produção: 1997.<br />

Duração: 32’.<br />

Sinopse<br />

Mostrando um fluxo de conexões feitas pelo artista carioca Hélio<br />

Oiticica, o vídeo apresenta um panorama de sua experiência artística,<br />

com destaque para as obras de <strong>na</strong>tureza sensorial. Compõ<strong>em</strong><br />

o vídeo, imagens das obras: Metaesqu<strong>em</strong>as, Monocromáticos-<br />

Invenções, Relevos espaciais, Grande núcleo, Bólides, Parangolés,<br />

Tropicália, Éden e Ready constructible; além de imagens da exposição<br />

retrospectiva do Centro de <strong>Arte</strong> Hélio Oiticica/Rio de Janeiro<br />

(1993) e do artista plástico Ricardo Basbaum e Paulo Ramos<br />

(diretor cultural do G.R.E.S. da Estação Primeira de Mangueira)<br />

experimentando parangolés. O <strong>material</strong> visual, apresentado<br />

com fragmentos de textos e músicas escritas pelo próprio artista,<br />

além de outras, oferece um quadro referencial sobre os conceitos,<br />

idéias e invenções Oiticiquia<strong>na</strong>s.


2<br />

Trama inventiva<br />

Há saberes <strong>em</strong> arte que são como estrelas para aclarar o caminho<br />

de um território que se quer conhecer. Na cartografia, para pensarsentir<br />

sobre uma obra ou artista, as ferramentas são como lentes:<br />

lente microscópica, para chegar pertinho da visualidade, dos signos<br />

e códigos da linguag<strong>em</strong> da arte, ou lente telescópica para o olhar<br />

ampliado sobre a experiência estética e estésica das práticas culturais,<br />

ou, ainda, lente com zoom que vai se abrindo <strong>na</strong> história da<br />

arte, passando pela estética e filosofia <strong>em</strong> associações com outros<br />

campos de saberes. Por assim dizer, neste documentário, tudo<br />

parece se deixar ver pela luz intermitente de um vaga-lume a brilhar<br />

no território dos Saberes Estéticos e Culturais.<br />

O passeio da câmera<br />

O vídeo instala no título uma estranheza: H.O., iniciais do nome do<br />

artista, seguidas de duas categorias – “supra” e “sensorial” – as quais<br />

r<strong>em</strong>et<strong>em</strong>, respectivamente, a super e sobre, e a sentidos e sensações.<br />

Essas palavras, ligadas por hífen, tor<strong>na</strong>m-se uma – “suprasensorial”<br />

– o que leva a uma entrada pelos sentidos e sensações,<br />

máximas de Oiticica e do movimento neoconcretista brasileiro.<br />

Entramos <strong>na</strong>s imagens pelas labaredas de um fogo-cor, acesas<br />

e inquietas. A câmera mostra as obras do artista; frases nos<br />

colocam sua conceituação sobre arte; o silêncio é incorporado;<br />

as passagens pela cor – chapada, densa e intensa – nos faz<strong>em</strong><br />

adentrar e penetrar nela; as estruturas são formas espaciais<br />

<strong>na</strong>s quais pod<strong>em</strong>os nos aderir; o espaço e o t<strong>em</strong>po são convocados<br />

– o espaço-estrutura-cor nos apreende, nos invade e nos<br />

faz sentir <strong>em</strong> outro t<strong>em</strong>po, o da cor no corpo, o “corpus” da<br />

arte. As labaredas do início se faz<strong>em</strong> visíveis no fi<strong>na</strong>l, saindo de<br />

latas que ard<strong>em</strong> <strong>em</strong> fogo – fogo presença de coisas outras, mas<br />

afirmativo de si mesmo, fogo-chamas-laranjas-azuis-cores que<br />

alastram, tomam conta e se impõ<strong>em</strong>, ardentes e vibrantes. Fogo<br />

convocando, como afirma Oiticica, a necessidade de um significado<br />

supra-sensorial, transformar os processos de arte <strong>em</strong><br />

sensações de vida.


<strong>material</strong> <strong>educativo</strong> para o professor-propositor<br />

H. O. SUPRA-SENSORIAL<br />

H.O. supra-sensorial ativa chamas a ser<strong>em</strong> acesas e mantidas<br />

<strong>em</strong> fogo-extenso, presente e vivo – vida aspirada, respirada e<br />

transpirada de inventividades.<br />

O vídeo nos coloca <strong>na</strong> condição de participadores-atores das<br />

obras, nos impulsio<strong>na</strong>ndo para proposições pedagógicas ligadas<br />

ao território Processo de Criação – percurso de experimentação,<br />

o artista como propositor, pensador e inventor; Linguagens<br />

Artísticas – a contami<strong>na</strong>ção de linguagens, os parangolés<br />

e ready-mades; Forma-Conteúdo – a t<strong>em</strong>ática cont<strong>em</strong>porânea,<br />

arte e vida; Materialidade – a pesquisa de materiais não convencio<strong>na</strong>is,<br />

os procedimentos técnicos inventivos; Mediação<br />

Cultural – a relação público e obra, a incorporação do corpo <strong>na</strong><br />

obra e da obra no corpo; Conexões Transdiscipli<strong>na</strong>res – o<br />

tropicalismo, o samba. Escolh<strong>em</strong>os, neste <strong>material</strong>, abrir conexões<br />

com o território Saberes Estéticos e Culturais para o<br />

estudo do percurso artístico e da relação entre arte e vida <strong>na</strong><br />

produção Oiticiquia<strong>na</strong>.<br />

Sobre Hélio Oiticica<br />

(Rio de Janeiro/RJ, 1937 – Rio de Janeiro/RJ, 1980)<br />

invenção não se coadu<strong>na</strong> com imitação: simples mas é bom l<strong>em</strong>brar.<br />

Hélio Oiticica<br />

Hélio Oiticica é um artista movido pela legenda Experimentar o<br />

experimental. Desde cedo, percorre um caminho diferente. Neto<br />

de a<strong>na</strong>rquistas, Oiticica não estuda <strong>em</strong> colégios brasileiros porque<br />

seu pai, José Oiticica Filho – entomologista, pintor, fotógrafo<br />

e professor – é contra o sist<strong>em</strong>a educacio<strong>na</strong>l vigente. Oiticica<br />

t<strong>em</strong> aulas com sua mãe, Angela Oiticica, até os 10 anos, e mais<br />

tarde conclui seus estudos <strong>em</strong> Washington, Estados Unidos.<br />

Inicia estudos de pintura e desenho com Ivan Serpa no MAM/<br />

RJ, <strong>em</strong> 1954. Neste ano, escreve seu primeiro texto sobre artes<br />

plásticas; a partir daí, o registro escrito de reflexões sobre arte<br />

e sua produção tor<strong>na</strong>-se um hábito. Participa do Grupo Frente<br />

<strong>em</strong> 1955 e 1956 e, a partir de 1959, integra o Grupo Neoconcreto.<br />

Oiticica gostava de repetir uma formulação do crítico Mário<br />

3


4<br />

Pedrosa, que atribui à arte a proposta de um “exercício experimental<br />

da liberdade” 1 . Essa proposta, de fato, sintetiza<br />

o trabalho de Oiticica, <strong>em</strong> sua busca incessante pelo exercício<br />

da liberdade, por meio de experiências cada vez mais<br />

radicais, desligando-o de toda estética tradicio<strong>na</strong>l e da idéia<br />

daquilo que é permanente e durável: a moldura <strong>na</strong> pintura<br />

e o pedestal <strong>na</strong> escultura, a utilização do suporte de representação,<br />

a exposição <strong>em</strong> espaços convencio<strong>na</strong>is, como<br />

museus e galerias de arte, a dicotomia obra-público.<br />

Oiticica é um artista que vai cada vez mais longe: o espectador<br />

tor<strong>na</strong>-se ativo participante <strong>na</strong> criação da obra. Seus trabalhos vão<br />

exigindo cada vez mais uma atuação do espectador até que ele se<br />

torne o próprio veículo de expressão da obra, como acontece com<br />

o Parangolé. Em H.O. supra-sensorial, pod<strong>em</strong>os perceber a experiência<br />

espacial e sensorial provocada por esse artista.<br />

Os Metaesqu<strong>em</strong>as (1957-58), guaches sobre cartão, estruturas<br />

ou placas de cor, estimulam o olhar e a mente. As formas,<br />

<strong>em</strong> deslocamentos e di<strong>na</strong>micidade, se mov<strong>em</strong> e se expand<strong>em</strong>.<br />

Os Bilaterais são objetos-cores suspensos no ar. As formas<br />

dinâmicas ganham espacialidade, deixam os papéis e ganham<br />

corpo no espaço e no t<strong>em</strong>po do participador que precisa andar<br />

no seu entorno e não mais se colocar numa relação frontal com<br />

as obras. As superfícies são pintadas de todos os lados (s<strong>em</strong><br />

frente n<strong>em</strong> verso).<br />

Os Núcleos e os Relevos espaciais (1959) são placas<br />

tridimensio<strong>na</strong>is suspensas por fios manipuláveis pelo<br />

participador (que circula nessa tridimensio<strong>na</strong>lidade). A estrutura<br />

gira no espaço. Nos Núcleos, estrutura e cor são inseparáveis,<br />

as formas estão imbricadas. Num deles, um espelho no<br />

chão capta pela projeção o corpo do “espectador” que é acolhido,<br />

nele projetado e tor<strong>na</strong>do obra ampliada, transforma-se<br />

também <strong>em</strong> “corpus-obra”.<br />

Os Bólides (1963), peque<strong>na</strong>s caixas ou peças de vidro, contêm<br />

pigmentos que pod<strong>em</strong> ser manipulados. O tato é convocado<br />

por uma tatilidade de gestos e mãos a abrir, fechar, manusear,<br />

des-fazer pigmentos-cores-formas-propositoras. São estáticos


<strong>material</strong> <strong>educativo</strong> para o professor-propositor<br />

H. O. SUPRA-SENSORIAL<br />

ape<strong>na</strong>s aparent<strong>em</strong>ente. Exig<strong>em</strong> a mão, o gesto, o corpo, o toque,<br />

os sentidos, as sensações do participante.<br />

Os Parangolés (1964-68) são manifestações ambientais e coletivas,<br />

envolvendo capas, barracas, estandartes e passistas<br />

da Mangueira (mostra Opinião 65 – MAM/RJ). O primeiro<br />

Parangolé, uma peça <strong>em</strong> lamê prateado, é confeccio<strong>na</strong>do com<br />

gaze e outros materiais e r<strong>em</strong>ete ao jeito de corpo da “malandrag<strong>em</strong><br />

carioca”, hoje, brasileira. Obra feita para dançar, interligando<br />

corpo, dança, som – Corpo<strong>Arte</strong>, Corpus-Pessoas-<strong>Arte</strong>.<br />

Mesmo considerando Seja margi<strong>na</strong>l, seja herói como uma das<br />

obras mais densas, os Parangolés são bandeiras tupi<strong>na</strong>mbás<br />

de atual e universal antropofagia. Nos Penetráveis, nos Bólides<br />

e nos Parangolés, o participador penetra <strong>na</strong>s obras e experimenta,<br />

<strong>em</strong> cada uma delas, “o dentro” – sente-se nelas.<br />

Éden (1969) é uma ambiência <strong>na</strong> qual o participador integra a<br />

obra, é parte do campo experimental. Pés descalços andam <strong>na</strong><br />

areia (quer molhada, quer seca). Sons e textos acompanham<br />

esse estado “andarilhante” de pessoa que vive, no corpo, a<br />

proposição do artista.<br />

Tropicália (1967) é um jardim com pássaros vivos entre plantas<br />

e po<strong>em</strong>as-objetos; manifestação ambiental; espécie de labirinto<br />

feito de Penetráveis monitorados por um olho televisivo<br />

(mostra Nova Objetividade Brasileira, MAM/RJ).<br />

Ready constructible (1978/79) r<strong>em</strong>ete aos ready-mades de<br />

Marcel Duchamp2 , são obras <strong>em</strong> séries, <strong>na</strong>s quais o artista se<br />

apropria de coisas que já estão no mundo.<br />

As obras de Oiticica são verdadeiros espaços-movimento propostos<br />

pelo artista; <strong>na</strong>s suas palavras: convites para “vivências”.<br />

Da mesma forma que o papel do artista, para Oiticica, é “suscitar<br />

no participante, que é o ex-espectador, estados de invenção”.<br />

Em sua ousadia e inventividade, Hélio Oiticica se quer chamava<br />

suas últimas obras de obras de arte. Talvez, por isso, uma pergunta<br />

para nós mesmos se faz necessária: o que pensaria Oiticica sobre<br />

suas obras se tor<strong>na</strong>r<strong>em</strong>, hoje, disponíveis à apreciação pública acomodadas<br />

<strong>em</strong> espaços museológicos? Por que são abrigadas no Centro<br />

de <strong>Arte</strong>s Hélio Oiticica no Rio de Janeiro?<br />

5


6<br />

Os olhos da arte<br />

A busca do supra-sensorial é a tentativa de criar, por proposições cada<br />

vez mais abertas, exercícios criativos, prescindindo mesmo do objeto...<br />

são dirigidos aos sentidos, para através deles, da “percepção<br />

total”, levar o indivíduo a uma supra-sensação...<br />

Hélio Oiticica3 Oiticica faz “uma proposta ambiental” que é, para ele, “a reunião<br />

indizível de todas as modalidades <strong>em</strong> posse do artista ao<br />

criar – as já conhecidas: cor, palavra, luz ação, construção, etc.,<br />

e as que a cada momento surg<strong>em</strong> <strong>na</strong> ânsia inventiva do mesmo<br />

ou do próprio participador ao tomar contato com a obra... Surge<br />

aí uma necessidade ética de outra ord<strong>em</strong> de manifestação...<br />

manifestação social, incluindo ética e política4 ”. Essas modalidades,<br />

como também as sensações convocadas a esse corpoator<br />

do outrora “espectador”, são uma das tônicas das provocações<br />

Oiticiquia<strong>na</strong>s.<br />

Quando Oiticica, por meio de seus relevos espaciais e seus<br />

parangolés, liberta as cores e as formas do suporte tradicio<strong>na</strong>l<br />

da pintura, levando-as ao espaço, a idéia é a de exatamente<br />

investigar proposições mais vivenciais, aproximando<br />

a obra de arte da experiência cotidia<strong>na</strong>. A obra sai do<br />

espaço da tela, para adentrar no espaço real, vivenciado<br />

ple<strong>na</strong>mente pelo espectador.<br />

Nesse sentido, o neoconcreto é uma atitude, tomada de posição<br />

frente à arte não-figurativa, à arte “geométrica” dos movimentos<br />

da época: neoplasticismo, construtivismo, supr<strong>em</strong>atismo,<br />

<strong>Escola</strong> de Ulm. Os artistas neoconcretos trabalham<br />

nos campos da pintura, escultura, gravura e literatura. Afirmam<br />

não conceber a arte, n<strong>em</strong> como “máqui<strong>na</strong>”, n<strong>em</strong> como “objeto”,<br />

mas como um “quasi-corpus”, isto é, um ser fenomenológico5<br />

, cuja realidade não se esgota <strong>na</strong>s relações exteriores<br />

de seus el<strong>em</strong>entos, mas está ligada ao ser-pessoa e ao<br />

ser-mundo. Os artistas neoconcretos propunham uma compreensão<br />

da forma como duração, o que implicava <strong>na</strong> interiorização<br />

dos ritmos visuais, <strong>na</strong> busca de uma significação complexa e


<strong>material</strong> <strong>educativo</strong> para o professor-propositor<br />

Hélio Oiticica - Metaesqu<strong>em</strong>a, 1958<br />

Imag<strong>em</strong> extraída do DVD H.O. supra-sensorial<br />

H. O. SUPRA-SENSORIAL<br />

revolucionária. A arte neoconcreta se propõe a fundar um novo<br />

espaço expressivo; reafirma a independência da criação artística<br />

<strong>em</strong> face do conhecimento (ciência) e do conhecimento prático<br />

(moral, político, etc.). Na poesia neoconcreta, a linguag<strong>em</strong><br />

não escorre, dura 6 .<br />

O neoconcreto repropõe a expressão, incorpora as dimensões<br />

verbais criadas pela arte não-figurativa construtiva. Os conceitos<br />

estão ligados a uma significação existencial, <strong>em</strong>otiva e<br />

afetiva partindo, principalmente, de Maurice Merleau-Ponty 7 ,<br />

Ernest Cassirer e Suzanne Langer. Para Merleau-Ponty, o corpo<br />

é vidente e visível; há uma reflexidade do sensível, ele a traduz<br />

e reduplica 8 .<br />

Desde seus primeiros anos como um novo talento do grupo<br />

neoconcreto, Oiticica observa com visão apurada a realidade<br />

cont<strong>em</strong>porânea <strong>em</strong> suas obras e escritos, refletindo como pensador<br />

e artista sobre probl<strong>em</strong>as tais como: o que é um artista?<br />

O que é uma criação? A vida não poderia ser, ela mesma, considerada<br />

uma série de atos criativos? Como e por que mudar o<br />

estado atual do sist<strong>em</strong>a de arte?<br />

Essas são inquietações presentes tanto no percurso artístico<br />

de Hélio Oiticica, quanto no de Lygia Clark9 . Desde o fi<strong>na</strong>l<br />

7


8<br />

Home<strong>na</strong>g<strong>em</strong> à Mangueira - Paulo Ramos com Parangolé, PB, Capa 5 - Rio de<br />

Janeiro, 1997 - Imag<strong>em</strong> extraída do DVD H.O. supra-sensorial<br />

dos anos 1950 e, mais incisivamente, no início dos 1960,<br />

o projeto comum de Lygia e Oiticica visa ‘’transformar os<br />

processos de arte <strong>em</strong> sensações de vida’’, lançando esses<br />

artistas <strong>na</strong> busca de um ‘’além-da-arte’’ que respondesse<br />

aos ‘’novos rumos da sensibilidade cont<strong>em</strong>porânea’’.<br />

Nas soluções encontradas por eles, a idéia de ‘’participação’’<br />

é o centro nevrálgico das transformações que<br />

propunham. Mais do que estética, a proposição era cultural<br />

e política: vontade de fazer viver <strong>na</strong> experiência estética<br />

da invenção a radicalidade estética da vida. Inicialmente,<br />

as proposições são paralelas, mas a partir do Parangolé, de<br />

Oiticica, e do Caminhando, de Lygia, cada um se singulariza<br />

nos modos da participação. Em ambos, o além-da-arte apresenta-se<br />

como transmutação da arte e da vida, despregandose<br />

dos domínios da arte.<br />

O percurso artístico de Oiticica é ex<strong>em</strong>plar para se entender o<br />

rumo do experimental e o destino da invenção que tensionou<br />

os limites da modernidade. Percorrer seu percurso, seja <strong>em</strong> seus<br />

textos ou obras, a<strong>na</strong>lisando o contexto da arte brasileira cont<strong>em</strong>porânea,<br />

configura-se como possibilidade de experimentação<br />

de nossa realidade <strong>em</strong> vertiginosa e constante mutação.


<strong>material</strong> <strong>educativo</strong> para o professor-propositor<br />

H. O. SUPRA-SENSORIAL<br />

O passeio dos olhos do professor<br />

Hélio era o lado de fora de uma luva, a ligação com o mundo exterior.<br />

Eu, a parte de dentro. Nós dois existimos a partir do momento<br />

<strong>em</strong> que há uma mão que calce a outra. 10<br />

Lygia Clark<br />

Hélio Oiticica nos convoca e nos convida estética, social, cultural<br />

e sensorialmente a alguns passeios:<br />

O que o artista, suas imagens e suas proposições verbais<br />

despertam/provocam <strong>em</strong> você?<br />

Quais momentos do vídeo contribu<strong>em</strong> para perceber o artista<br />

como um inventor; um provocador; o conector da arte e da vida?<br />

Como você percebe o experimentar e o experimental no<br />

percurso artístico de Oiticica presente no vídeo?<br />

O vídeo experimental lhe provoca pensamentos de ligação<br />

entre Lygia Clark e Hélio Oiticica?<br />

Supra-sensorial - uma transformação dos processos de criação<br />

<strong>em</strong> sensações de vida, fazendo uma ativação de vida atiçada<br />

e avivada, criação de arte, invenção de si e do mundo. Obrasensação<br />

do artista, obras-sensações nossas, de participadores-atores,<br />

de aprendizes da arte, de fazedores-estéticos<br />

e estésicos. A sensação é vetor, tor<strong>na</strong>da corpo do vedor-leitor<br />

do vídeo e da obra Oiticiquia<strong>na</strong>.<br />

Quais imagens ou propostas verbais do vídeo você selecio<strong>na</strong><br />

para pesquisar sobre as proposições aos sentidos e a participação<br />

do “ex-espectador” <strong>na</strong> obra de H.O.?<br />

É possível realizar conexões entre a obra de H.O., o movimento<br />

neoconcreto e a fenomenologia de Merleau-Ponty?<br />

Como você pode propor essas relações aos seus alunos?<br />

9


Centro de <strong>Arte</strong>s Hélio Oiticica/RJ,<br />

G.R.E.S. da Estação Primeira<br />

de Mangueira/RJ<br />

qual FOCO?<br />

qual CONTEÚDO?<br />

o que PESQUISAR?<br />

ruptura do suporte, pesquisa<br />

de outros meios e suportes<br />

espaços sociais do saber<br />

formação de público<br />

relação público e obra,<br />

educação dos sentidos,<br />

experiência estética e estésica<br />

materiais não convencio<strong>na</strong>is: terra,<br />

pano, borracha, tinta, papel, vidro,<br />

cola, plástico, corda, esteira, fios<br />

suportes<br />

<strong>na</strong>tureza da matéria<br />

poética da <strong>material</strong>idade<br />

pesquisa de materiais<br />

o ato de expor<br />

interatividade obra/público, corpo-sensível-inteligível,<br />

transgressão pela inserção do objeto de arte<br />

<strong>em</strong> espaços não instituídos<br />

Materialidade<br />

Mediação<br />

Cultural<br />

Conexões<br />

Transdiscipli<strong>na</strong>res<br />

arte e ciências<br />

huma<strong>na</strong>s<br />

cotidiano, história do Brasil<br />

Zarpando<br />

meios<br />

novos<br />

contami<strong>na</strong>ção de linguagens,<br />

parangolés, ready-mades<br />

Linguagens<br />

Artísticas<br />

Processo de<br />

Criação<br />

artes<br />

visuais<br />

música<br />

t<strong>em</strong>áticas<br />

el<strong>em</strong>entos da<br />

visualidade<br />

Forma - Conteúdo<br />

Saberes<br />

Estéticos e<br />

Culturais<br />

história da arte<br />

produtor-artista-pesquisador<br />

ação criadora<br />

MPB – música popular brasileira<br />

t<strong>em</strong>po, movimento, relação figura/fundo,<br />

cheio/vazio, dentro/fora, interior/exterior,<br />

bidimensio<strong>na</strong>lidade, tridimensio<strong>na</strong>lidade<br />

relações entre el<strong>em</strong>entos<br />

da visualidade<br />

sist<strong>em</strong>a simbólico labirinto<br />

artista propositor<br />

cont<strong>em</strong>porâneas: vida cotidia<strong>na</strong>, arte e vida,<br />

re-sensibilização dos sentidos<br />

cor, estrutura, espaço<br />

arte cont<strong>em</strong>porânea, antropofagia, arte concreta,<br />

neoconcretismo, construtivismo, Grupo Ruptura,<br />

vanguardas artísticas<br />

sociologia da arte sist<strong>em</strong>a de arte, artista e sociedade<br />

criadores e produtores de arte e cultura<br />

percurso artístico, estados de invenção<br />

estética e filosofia da arte<br />

arte como exercício experimental<br />

da liberdade, estética experimental,<br />

supra-sensorial, arte como idéia<br />

percurso de experimentação, apropriações, arte como experiência de vida<br />

potências criadoras<br />

corpo perceptivo, sensação, invenção de recursos


12<br />

Percursos com desafios estéticos<br />

São muitas as possibilidades de trabalho oferecidas pelo vídeo.<br />

Localizando-o no território de Saberes Estéticos e Culturais,<br />

nosso olhar se volta ao estudo do percurso artístico de Hélio<br />

Oiticica. No mapa, além deste território, você verá outros que<br />

pod<strong>em</strong> ser percorridos. A seguir, alguns percursos são sugeridos<br />

e você pode alterá-los ou ampliá-los de acordo com o repertório<br />

e a curiosidade de seus alunos.<br />

O passeio dos olhos dos alunos<br />

A produção de Oiticica é nitidamente marcada pela busca para<br />

integrar a arte à experiência cotidia<strong>na</strong>. É a recusa do amedrontamento<br />

perante um mito, o “mito da arte” e “o mito sobre serartista”.<br />

A proposta da antiarte consiste <strong>em</strong> sensibilizar as ações<br />

cotidia<strong>na</strong>s pela re-potencialização da pessoa criativa – o<br />

participador-ator. O artista é o motivador, o atiçador das experimentações<br />

que só se realizam com esse ator-participador.<br />

Algumas possibilidades para um contato inicial:<br />

Um percurso conceitual pode acio<strong>na</strong>r um olhar dos alunos<br />

sobre as imagens e textos do vídeo experimental: a discussão<br />

sobre ready-mades. Um bom desafio é você pedir para<br />

que os alunos tragam à sala de aula três objetos que pod<strong>em</strong><br />

ser objetos pessoais. Todos do grupo dev<strong>em</strong> criar algo, juntando<br />

dois objetos e inventando um nome novo que<br />

corresponda ao que foi criado. Em seguida, faz<strong>em</strong> alguma<br />

coisa com o terceiro objeto: <strong>em</strong>brulham, pintam <strong>em</strong> volta,<br />

mudam a posição ou colocam algum el<strong>em</strong>ento para<br />

transformá-lo; depois, inventam um título. A discussão sobre<br />

a produção realizada, a partir da observação dos objetos, pode<br />

ser probl<strong>em</strong>atizada: é possível pensar de forma artística e<br />

poética sobre um objeto cotidiano? Após a discussão, selecione<br />

no vídeo e exiba as imagens dos Ready constructible<br />

(1978/79) que r<strong>em</strong>et<strong>em</strong> aos ready-mades de Marcel<br />

Duchamp e as imagens das latas-tochas-de-fogo11 que abr<strong>em</strong>


<strong>material</strong> <strong>educativo</strong> para o professor-propositor<br />

H. O. SUPRA-SENSORIAL<br />

o vídeo e são verdadeiras apropriações de Oiticica. Como os<br />

alunos perceb<strong>em</strong> as apropriações de Oiticica? Quais ampliações<br />

encontram <strong>em</strong> suas obras para as questões que moveram<br />

a discussão antes da exibição do vídeo?<br />

Um percurso pela canção Parangolé Pamplo<strong>na</strong>, de Adria<strong>na</strong><br />

Calcanhotto 12 :<br />

O Parangolé Pamplo<strong>na</strong> você mesmo faz / O Parangolé Pamplo<strong>na</strong><br />

a gente mesmo faz<br />

Com um retângulo de pano de uma cor só / E é só dançar<br />

E é só deixar a cor tomar conta do ar<br />

Verde / Rosa<br />

Branco no branco no preto nu / Branco no branco no preto nu<br />

O Parangolé Pamplo<strong>na</strong> / Faça você mesmo<br />

E quando o couro come / É só pegar caro<strong>na</strong><br />

Laranja / Vermelho<br />

Para o espaço estandarte / Para o êxtase asa-delta / Para o delírio<br />

porta aberta<br />

Pleno ar / Puro hélio<br />

Mas / O Parangolé Pamplo<strong>na</strong> você mesmo faz<br />

Parangolé Pamplo<strong>na</strong> é um trabalho de Oiticica de 1968 e<br />

t<strong>em</strong> esse nome porque o artista o construiu para uma exposição<br />

<strong>na</strong> cidade de Pamplo<strong>na</strong>/Espanha (1972). Apresentando<br />

a canção aos alunos – a letra para leitura ou, se possível,<br />

a escuta da música – qual a interpretação que eles realizam?<br />

O que imagi<strong>na</strong>m que seja o parangolé? Por que o parangolé<br />

“a gente mesmo faz”? A conversa sobre essas questões pode<br />

acio<strong>na</strong>r sobre o vídeo um olhar corpóreo que vê as obras, sente-as,<br />

in-corpa-as no corpo, vive-as. Após discussão, a exibição<br />

do vídeo pode ter como foco as imagens que apresentam<br />

o Parangolé. O que as imagens provocam nos alunos? De que<br />

modo eles ressignificam o que imagi<strong>na</strong>vam ser o parangolé a<br />

partir da música? Como eles perceb<strong>em</strong> a participação do espectador<br />

<strong>na</strong> obra, a partir do Parangolé?<br />

Apresentando ape<strong>na</strong>s o título: H.O. supra-sensorial, você pode<br />

probl<strong>em</strong>atizar: essas palavras causam estranheza? Por quê?<br />

O que imagi<strong>na</strong>m que significa as palavras H.O. e supra-sensorial?<br />

Sendo um vídeo sobre arte, o que poderiam ser obras de<br />

13


14<br />

<strong>na</strong>tureza sensorial? Após o levantamento de hipóteses dos alunos<br />

sobre essas questões, a exibição do vídeo experimental<br />

pode se focalizar no percurso artístico de Oiticica. Como os<br />

alunos perceb<strong>em</strong> a trajetória de Oiticica? O que o diferencia<br />

de outros artistas que eles conhec<strong>em</strong>? A palavra supra-sensorial<br />

do título ganha outras interpretações após ver<strong>em</strong> o vídeo?<br />

Desvelando a poética pessoal<br />

Percursos & percursos... caminhos & caminhos... programas &<br />

experimentações... arte & antiarte... assumir o experimental...<br />

muitas idas, muitas vindas para criações outras:<br />

Formas quadradas de diversos tamanhos, <strong>em</strong> cartões, pod<strong>em</strong><br />

ser feitas pelos alunos e por você: recortadas, pintadas, coladas,<br />

suspensas por fios no ar ou <strong>em</strong> varais, formas movediças,<br />

andantes, espacializadas <strong>em</strong> t<strong>em</strong>pos dinâmicos, cort<strong>em</strong>po,<br />

estrutura-t<strong>em</strong>po, <strong>em</strong> deslocamentos e <strong>em</strong> “fazimentos<br />

experienciais”. O <strong>material</strong> pode conter uma leveza e ser movimentado<br />

por atos de respiração, sopros ou sussurros, danças<br />

ou, ainda, vibrações de corpos <strong>em</strong> movimentos.<br />

Desenhos de vestir, que r<strong>em</strong>etam aos parangolés, pod<strong>em</strong> ser<br />

feitos e assumidos no corpo que se estende e se entende, se<br />

metamorforseia <strong>em</strong> corpo-arte, “corpus-arte”. Uma referência<br />

para a feitura de parangolés pode ser a orientação para a<br />

construção do Parangolé Pamplo<strong>na</strong>, escrita por Oiticica:<br />

CAPA FEITA NO CORPO 274cm/108 cm no comprimento<br />

1 - Cada pedaço de pano deve medir 3 yards no comprimento;<br />

2 - Para fazer a capa o pano não pode ser cortado;<br />

3 - Alfinetes-de-fralda dev<strong>em</strong> ser usados <strong>na</strong> construção e depois o<br />

pano pode ser costurado para fazer a capa permanente;<br />

4 - A estrutura construída no corpo deve ser improvisada pelo próprio<br />

participante (se precisar da ajuda de outra pessoa, ok) e feita de forma<br />

que possa ser retirada s<strong>em</strong> cortar;<br />

5 - Algumas pessoas pod<strong>em</strong> participar juntas, mas uma só cor, i.e.,<br />

um só pedaço de pano deve ser usado para cada capa. 13<br />

As músicas do vídeo pod<strong>em</strong> habitar espaços, tanto das Formas<br />

quadradas-movediças, quanto dos Desenhos de vestir. Nesse


<strong>material</strong> <strong>educativo</strong> para o professor-propositor<br />

H. O. SUPRA-SENSORIAL<br />

percurso, enquanto campo de possibilidades, a máxima de<br />

Oiticica, “experimentar o experimental”, é condutora da busca<br />

de uma poética pessoal pelos alunos. A “experimentalidade”<br />

está atrelada a atrevimentos e ousadias conceituais e<br />

concretizações de atos inventivos. Muitas conversas pod<strong>em</strong> ir<br />

acontecendo entre a produção de Oiticica e as “experimentaações”<br />

<strong>na</strong> aula de arte e <strong>na</strong> escola.<br />

Ampliando o olhar<br />

Os fios soltos do experimental são as energias que brotam para<br />

um número aberto de possibilidades. No brasil há fios soltos num<br />

campo de possibilidades: por que não explorá-los?<br />

Essa afirmação de Oiticica, inclusive com um “brasil” com letra<br />

minúscula, no texto Experimentar o experimental 14 , consiste<br />

não <strong>na</strong> “criação de obras”, mas <strong>na</strong> iniciativa de assumir o experimental,<br />

isso quer dizer o estado de experimentação da arte<br />

<strong>na</strong> vida, de maneiras convocatórias de sentidos e sensações<br />

de um fazer de cada uma das pessoas, com suas possibilidades<br />

e inventividades. Ele continua:<br />

o experimental não t<strong>em</strong> fronteiras pra si mesmo, é a metacrítica da “produção<br />

de obras” dos “artistas de produção”; o experimental assume o<br />

consumo s<strong>em</strong> ser consumido indiferente à competição do eu-melhor-qvocê<br />

das “artes”; a visão de estruturas conduz à antiarte e à vida, a visão<br />

de eventos (obras) conduz à arte e ao distanciamento da vida.<br />

As colocações do artista pod<strong>em</strong> ser levadas às conversas<br />

entre você, seus alunos e alguns de seus colegas da escola<br />

ou artistas da sua cidade. Essas conversações pod<strong>em</strong> ocorrer<br />

também pela internet. Destacamos alguns pontos:<br />

- assumir o experimental – <strong>na</strong> aula de arte existe espaço<br />

para o experimental acontecer e ser assumido, <strong>na</strong> ação e<br />

<strong>na</strong> reflexão? E <strong>na</strong>s proposições?<br />

- o experimental não t<strong>em</strong> fronteiras – quais as fronteiras e<br />

as “não-fronteiras” da arte <strong>na</strong> sua escola?<br />

- o experimental <strong>em</strong> relação ao “eu-melhor-q-você das artes”<br />

- o que essa colocação nos provoca e como probl<strong>em</strong>atiza<br />

o sist<strong>em</strong>a de arte?<br />

15


16<br />

- eventos-obras e distanciamento da vida. Vocês, alunos e<br />

professores, concordam, discordam, acrescentam, questio<strong>na</strong>m,<br />

ampliam...<br />

As palavras de Oiticica pod<strong>em</strong> ser copiadas do vídeo (por uma<br />

série de paradas) e se tor<strong>na</strong>r<strong>em</strong> pistas para criações, interligando<br />

relações socioculturais dos alunos de uma classe.<br />

Oiticica se classificava como inventor e não como artista<br />

plástico, dizendo:<br />

O artista, o papel dele, é declanchar no participador, que é o exespectador<br />

o estado de invenção. O artista declancha no participador<br />

o estado de invenção (...) Eu declancho o grande estado de invenção<br />

(...) as pessoas normais se transformam <strong>em</strong> artistas plásticos<br />

(...) eu declancho (...) eu não me transformei num artista plástico,<br />

eu me transformei num declanchador de estados de invenção. 15<br />

Algumas questões pensadas por Oiticica são capazes de<br />

ampliar ainda mais: o que é um artista? O que é uma criação?<br />

A vida não poderia ser, ela mesma, considerada uma<br />

série de atos criativos? Como e por que mudar o estado atual<br />

do sist<strong>em</strong>a de arte?<br />

O neoplasticismo é uma teoria proposta por Mondrian que<br />

influencia Theo Van Doesburg. Os seus preceitos afirmam a<br />

arte como abstrata, devendo ser usados ângulos retos <strong>na</strong><br />

posição horizontal e vertical e cores primárias compl<strong>em</strong>entadas<br />

pelo preto, branco e cinza. O construtivismo surge <strong>na</strong> Rússia,<br />

baseado no culto futurista da máqui<strong>na</strong>. É expresso pela primeira<br />

vez <strong>na</strong>s Construções <strong>em</strong> relevo (1913) de Tatlin, entrando<br />

pelos campos do desenho industrial, teatro, cin<strong>em</strong>a e arquitetura.<br />

O supr<strong>em</strong>atismo, fundado pelo russo Malevich, propõe<br />

as composições pictóricas baseadas <strong>em</strong> figuras<br />

geométricas. Quais relações pod<strong>em</strong> ser feitas entre Hélio<br />

Oiticica e esses artistas e movimentos, como também com o<br />

concretismo e neoconcretismo brasileiro?<br />

Conhecendo pela pesquisa<br />

Na história brasileira, o ano de 1967 é significativo do ponto<br />

de vista artístico: Glauber Rocha lança Terra <strong>em</strong> transe, José<br />

Celso monta O rei da vela, de Oswald de Andrade, enquanto


<strong>material</strong> <strong>educativo</strong> para o professor-propositor<br />

H. O. SUPRA-SENSORIAL<br />

Hélio Oiticica apresentava Tropicália, obra que deu inspiração<br />

para o título do movimento. O intercâmbio entre todas<br />

essas áreas era constante. O que os alunos pod<strong>em</strong> descobrir<br />

sobre esse caráter de contami<strong>na</strong>ção entre as artes, que t<strong>em</strong><br />

<strong>em</strong> Oiticica uma figura central, por seu papel de “conectador”?<br />

O tropicalismo define um projeto de enfrentamento às dicotomias<br />

estéticas; privilegia a música popular <strong>na</strong>s questões políticas e<br />

culturais; efetua uma síntese entre poesia e música; re-descobre<br />

a tradição e faz críticas à sua desvalorização; enfatiza as<br />

coisas brasileiras. As muitas músicas (letras e musicalidades),<br />

<strong>em</strong> H.O. supra-sensorial, pod<strong>em</strong> ser pesquisadas estimulando<br />

conexões entre as dimensões políticas, sociais e culturais.<br />

Entre Oiticica e Lygia Clark se desenha um cruzamento de percurso<br />

artístico. Qual cruzamento é esse? A pesquisa pode começar<br />

por meio das imagens e obras de Lygia Clark, ou ainda,<br />

pelo documentário Exposição Lygia Clark, disponível <strong>na</strong> DVDteca<br />

<strong>Arte</strong> <strong>na</strong> <strong>Escola</strong>. Quais questões ambos os artistas discut<strong>em</strong> <strong>em</strong><br />

seus percursos de criação, da arte e das culturas.<br />

Hélio Oiticica fazia uma releitura muito pessoal do conceito<br />

de antiarte, baseada <strong>na</strong> participação do espectador. O que<br />

os alunos pod<strong>em</strong> descobrir sobre isso?<br />

O CD Marítmo de Adria<strong>na</strong> Calcanhotto contém a faixa<br />

Parangolé Pamplo<strong>na</strong> e é um trabalho que t<strong>em</strong> muitos conceitos<br />

e imagens ligadas ao tropicalismo. Como Adria<strong>na</strong><br />

Calcanhotto realiza a tradução de tudo isso para sua música?<br />

Para Suzanne Langer16 :<br />

a forma não-discursiva <strong>na</strong> arte t<strong>em</strong> uma função diferente, articular<br />

conhecimentos que não pod<strong>em</strong> ser expressos discursivamente<br />

porque ela se refere a experiências que não são “formalmente”<br />

acessíveis aos discursos. Tais experiências são os ritmos da vida<br />

orgânica, <strong>em</strong>ocio<strong>na</strong>l e mental (o ritmo da atenção é um elo entre<br />

eles), que não são simplesmente r<strong>em</strong>édios, mas infinitamente complexos<br />

e sensíveis... Juntos, eles compõ<strong>em</strong> o sentir.<br />

A sensação é a <strong>em</strong>oção vital, aquilo que está vivo <strong>em</strong> nós. Oiticica<br />

acio<strong>na</strong>, por suas obras, as supra-sensações que nos habitam e<br />

nos convoca a vivê-las. Em seu percurso artístico, como se manifesta<br />

a procura e a incorporação do supra-sensorial <strong>em</strong> suas obras?<br />

17


18<br />

Amarrações de sentidos: portfólio<br />

Sentidos e sensações estão acio<strong>na</strong>dos pelas sugestões e exercícios<br />

de criação. Os alunos pod<strong>em</strong> fazer Caixas de criação ou<br />

Cadernos de criação que sejam acio<strong>na</strong>dores de tatilidades (folhear,<br />

abrir e dobrar, sobrepor, encader<strong>na</strong>r, encartelar); olfatividades<br />

(cadernos-caixas de cheiros, de odores, de espirros); gustativos<br />

(cadernos degustáveis, folhas que se com<strong>em</strong>, se mord<strong>em</strong>, se degustam);<br />

sonoridades (espaços e ambientes sonorizados); visibilidades<br />

(cadernos com partes de coisas a ser<strong>em</strong> completadas pela<br />

visão, por ex<strong>em</strong>plo, um círculo s<strong>em</strong>i-construído), ou “jogos dos 7<br />

ou mais erros”). A estética desses arranjos e as estesias por eles<br />

convocadas pod<strong>em</strong> fazer ver novamente o percurso dos trabalhos<br />

realizados a partir do estudo sobre Hélio Oiticica.<br />

Valorizando a processualidade<br />

Experimental assumido, sensório cultivado, sentidos-sentidos,<br />

corpo-arte, corpus-arte, viver o “quasi-corpus” estão todos <strong>em</strong><br />

junção, interligando caminhos, trajetos, percursos. Uma<br />

processualidade se instaura ao encar<strong>na</strong>r os trabalhos de Hélio<br />

Oiticica, e uma outra se instala ao viver os percursos pessoais<br />

e coletivos das associações, das provocações, das criações.<br />

Hélio é um provocador, você, professor-propositor, também provoca<br />

e convoca seus alunos a se abrir<strong>em</strong> para o experimental, a assumir<strong>em</strong><br />

o viver e compreender<strong>em</strong> a proposição Oiticiquia<strong>na</strong>. Ao fi<strong>na</strong>l<br />

deste projeto, o que você e seus alunos perceb<strong>em</strong> que conheceram<br />

sobre Oiticica e seu percurso artístico? O que o estudo a partir do<br />

vídeo ampliou <strong>em</strong> relação aos saberes ligados à arte/vida, às suas<br />

proposições e desdobramentos <strong>na</strong> arte cont<strong>em</strong>porânea?<br />

Glossário<br />

Antiarte – segundo Hélio Oiticica “Antiarte-compreensão e razão de ser do<br />

artista, não mais como um criador para a cont<strong>em</strong>plação, mas como um motivador<br />

para a criação – a criação como tal se completa pela participação dinâmica do<br />

espectador, agora considerado participador. Antiarte seria uma cont<strong>em</strong>plação<br />

da necessidade coletiva de uma atividade criadora latente, que seria motivada<br />

de um determi<strong>na</strong>do modo pelo artista; ficam, portanto, invalidadas as posições


<strong>material</strong> <strong>educativo</strong> para o professor-propositor<br />

H. O. SUPRA-SENSORIAL<br />

metafísicas, intelectualistas e esteticistas.” Fonte: OITICICA, Hélio. Aspiro ao<br />

grande labirinto. Rio de Janeiro: Rocco, 1986, p. 100.<br />

Labirinto – denomi<strong>na</strong>ção dada por Oiticica aos primeiros Penetráveis (a<br />

partir de 1960), prolongamentos lógicos dos Núcleos, também labirínticos:<br />

tábuas de madeira pintadas, suspensas por fios de náilon, que desc<strong>em</strong> e,<br />

ao tocar o solo, formam paredes – os Penetráveis. Unindo diversos<br />

Penetráveis-Labirintos, Oiticica cria os Projetos: corredores, claros ou sombrios,<br />

ilumi<strong>na</strong>ções <strong>em</strong> cores diversas, portas, paredes de separações transparentes<br />

ou opacas (<strong>em</strong> tecido, <strong>em</strong> madeira, <strong>em</strong> plástico, <strong>em</strong> voal ou <strong>em</strong><br />

grades metálicas), diversos tipos de passagens inter<strong>na</strong>s e exter<strong>na</strong>s do<br />

labirinto ou entre um compartimento e outro. Fonte: JACQUES, Paola<br />

Berenstein. Estética da ginga: a arquitetura das favelas através da obra<br />

de Hélio Oiticica. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2001.<br />

Parangolé – é a antiarte por excelência para Hélio Oiticica. O Parangolé leva às<br />

últimas conseqüências a libertação da pintura de seus antigos liames. Trata-se<br />

de uma espécie de capa (l<strong>em</strong>bra ainda bandeira, estandarte, tenda) que não<br />

desfralda ple<strong>na</strong>mente à luz sua imag<strong>em</strong> de uma miríade de tons, cores, formas,<br />

texturas ou grafismos senão a partir dos movimentos – da dança – de alguém<br />

que a vista. A dança de qu<strong>em</strong> veste o Parangolé não ape<strong>na</strong>s o revela ao espectador<br />

que não o veste, mas, sobretudo, ao dançarino mesmo. Na verdade, o<br />

dançarino se mostra ao dançar. Desaparece, assim, a separação tradicio<strong>na</strong>l entre<br />

o sujeito e o objeto da cont<strong>em</strong>plação, a obra. Fonte: OITICICA, Hélio. Bases<br />

fundamentais para uma definição do Parangolé, nov<strong>em</strong>bro de 1964. In: OPI-<br />

NIÃO 65. Rio de Janeiro: Museu de <strong>Arte</strong> Moder<strong>na</strong>, 1965. Catálogo.<br />

Supra-sensorial – era constituído de uma série de exercícios de criação,<br />

de experiências abertas, <strong>na</strong>s quais o objeto não era mais do que um pretexto.<br />

Para despertar os cinco sentidos, Hélio Oiticica visava um<br />

descondicio<strong>na</strong>mento de cada participante para que este redescobrisse <strong>em</strong><br />

si uma capacidade de criar. Fonte: .<br />

Bibliografia<br />

BRETT, Guy. Brasil experimental: arte/vida: proposições e paradoxos. Rio<br />

de Janeiro: Contra Capa, 2005.<br />

FABBRINI, Ricardo Nascimento. O signo conceitual. In: ___. A arte depois<br />

das vanguardas. Campi<strong>na</strong>s: Ed. da Unicamp, 2002.<br />

FABRIS, An<strong>na</strong>teresa (org.). <strong>Arte</strong> & política: algumas possibilidades de leitura.<br />

Belo Horizonte: C/<strong>Arte</strong>; São Paulo: Fapesp, 1998.<br />

FAVARETTO, Celso. A invenção de Hélio Oiticica. São Paulo: Edusp, 1992.<br />

JACQUES, Paola Berenstein. Estética da ginga: a arquitetura das favelas<br />

através da obra de Hélio Oiticica. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2001.<br />

MERLEAU-PONTY, Maurice. “O olho e o espírito” e “A dúvida de Cézanne”. In: ___.<br />

Merleau-Ponty: vida e obra.São Paulo: Abril Cultural, 1984. (Os pensadores).<br />

19


20<br />

OITICICA, Hélio. “Aparecimento do supra-sensorial <strong>na</strong> arte brasileira” e<br />

“Programa ambiental”. In: ___. Aspiro ao grande labirinto. Rio de Janeiro:<br />

Rocco, 1986.<br />

___. Experimentar o experimental. <strong>Arte</strong> <strong>em</strong> Revista. Home<strong>na</strong>g<strong>em</strong> a Hélio<br />

Oiticica. São Paulo: Kairós, n.5, 1981.<br />

Seleção de endereços sobre arte <strong>na</strong> rede internet<br />

Os sites abaixo foram acessados <strong>em</strong> 16 abr. 2006.<br />

CALCANHOTTO, Adria<strong>na</strong>. Disponível <strong>em</strong>: .<br />

CLARK, Lygia. Disponível <strong>em</strong>: .<br />

OITICICA, Hélio. Disponível <strong>em</strong>: .<br />

___. Disponível <strong>em</strong>: .<br />

Notas<br />

1 PEDROSA, Mário. Mundo, hom<strong>em</strong>, arte <strong>em</strong> crise. São Paulo: Perspectiva, 1975.<br />

2 Sobre Marcel Duchamp consultar: ARCHER, Michael. <strong>Arte</strong> cont<strong>em</strong>porânea:<br />

uma história concisa. São Paulo: Martins Fontes, 2001.<br />

3 Hélio OITICICA, Aspiro ao grande labirinto, p. 102-105.<br />

4 Ibid., p. 78.<br />

5 Ver mais sobre o neoconcretismo <strong>em</strong>: .<br />

6 Ver <strong>em</strong> Ricardo Nascimento FABBRINI, A arte depois das vanguardas, p. 135.<br />

7 Maurice MERLEAU-PONTY, Merleau-Ponty: vida e obra, p. 83-126.<br />

8 Ibid., p. 92.<br />

9 Consulte os DVDs <strong>Arte</strong> conceitual e Exposição Lygia Clark, disponíveis<br />

<strong>na</strong> DVDteca <strong>Arte</strong> <strong>na</strong> <strong>Escola</strong>.<br />

10 FIGUEIREDO, Luciano (org.), Lygia Clark, Hélio Oiticica: cartas: 1964-<br />

1974. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 1996, p. introdutória.<br />

11 A idéia do achado casual se tor<strong>na</strong> freqüente nos últimos trabalhos de Oiticica,<br />

sobretudo <strong>em</strong> suas propostas urba<strong>na</strong>s. Ele começa se apropriando dos latões-tochas-de-fogo<br />

que si<strong>na</strong>lizavam as obras <strong>na</strong> cidade do Rio de Janeiro<br />

durante a noite. In: Hélio OITICICA, Aspiro ao grande labirinto, p. 104.<br />

12 Parangolé Pamplo<strong>na</strong> é uma faixa do CD Marítmo (1998), de Adria<strong>na</strong> Calcanhotto.<br />

13 OITICICA Hélio, Made-on-the-body cape 1968 (Parangolé Pamplo<strong>na</strong>).<br />

Fonte: .<br />

14 Hélio OITICICA, <strong>Arte</strong> <strong>em</strong> Revista. Home<strong>na</strong>g<strong>em</strong> a Hélio Oiticica, p. 50-52.<br />

15 Entrevista com Ivan Cardoso (1979), “A arte penetrável de Hélio Oiticica”.<br />

Folha de S. Paulo, São Paulo, 16 nov. 1985.<br />

16 LANGER Suzanne, Sentimento e forma. São Paulo: Perspectiva, 1993, p. 249.

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