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O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

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Parte III - A Vida <strong>de</strong> Teseu<br />

106<br />

3. 3. O princípio do m<br />

Mas regress<strong>em</strong>os à ação política do lho <strong>de</strong> Egeu. Uma vez estruturada a<br />

nova cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acordo com o projeto por si <strong>de</strong>nido, Teseu comete, po<strong>de</strong>mos<br />

armá-lo, «suicídio político», que talvez seja <strong>de</strong>sculpável pelo facto <strong>de</strong> ter sido<br />

o primeiro a governar <strong>em</strong> regime <strong>de</strong>mocrático e <strong>de</strong> não ter, portanto, quaisquer<br />

referências sobre as <strong>de</strong>sgraças que po<strong>de</strong>m advir quando o povo ca entregue<br />

à própria sorte. Na verda<strong>de</strong>, o maior erro <strong>de</strong> Teseu foi <strong>de</strong>scurar a sua missão<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>magogo 254 – no sentido etimológico da palavra – para se <strong>de</strong>dicar à vida<br />

privada. Essa falha acarretou consequências da mais diversa or<strong>de</strong>m, a mais<br />

grave das quais foi o aparecimento daquilo que, <strong>de</strong> acordo com <strong>Plutarco</strong>, é<br />

o maior óbice <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>mocracia, isto é, do sist<strong>em</strong>a instituído pelo herói: o<br />

<strong>de</strong>magogo, indivíduo capaz <strong>de</strong> instigar insatisfações e <strong>de</strong> tirar partido <strong>de</strong>las.<br />

Menesteu foi, portanto, o primeiro 255 ex<strong>em</strong>plar <strong>de</strong>ssa praga <strong>de</strong> que ainda hoje<br />

t<strong>em</strong>os razões <strong>de</strong> queixa e que foi talvez a principal causa da ruína <strong>de</strong> Atenas.<br />

Menesteu, que ambicionava governar Atenas, aproveitou a ausência do<br />

herói – que <strong>de</strong>ste modo não se podia <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r n<strong>em</strong> usar as suas capacida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> bom político para manter o regular funcionamento da cida<strong>de</strong> – para<br />

<strong>de</strong>spertar ódios e <strong>de</strong>scontentamentos adormeci<strong>dos</strong> e mesmo inexistentes até<br />

então. Com efeito, não era difícil prever que os nobres, insatisfeitos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />

início do processo da reforma, rapidamente ce<strong>de</strong>ss<strong>em</strong> à argumentação <strong>de</strong> que<br />

tinham perdido regalias e <strong>de</strong> que eram trata<strong>dos</strong> como escravos por Teseu e<br />

convertess<strong>em</strong> o medo que lhe tinham <strong>em</strong> ódio. Mas <strong>em</strong> relação ao povo, que<br />

a<strong>de</strong>rira <strong>de</strong> coração aberto ao projeto do herói, nada fazia crer que o <strong>de</strong>magogo<br />

fosse conquistar a sua a<strong>de</strong>são, insinuando que Teseu não lhes <strong>de</strong>ra a liberda<strong>de</strong><br />

prometida, que os privara <strong>de</strong> terras e t<strong>em</strong>plos e que substituíra reis legítimos<br />

por um estrangeiro.<br />

É interessante vericar que a aproximação <strong>de</strong> ambos os políticos ao povo<br />

é <strong>de</strong>scrita pelo biógrafo com conotações distintas. Na página 96, citamos es.<br />

25. 3, a propósito <strong>de</strong> Teseu, que t<strong>em</strong> uma conotação neutra:<br />

. No entanto, quando se trata <strong>de</strong><br />

Menesteu, o vocabulário escolhido t<strong>em</strong> forte carga negativa: incita () e<br />

provoca () os nobres e confun<strong>de</strong> () e torna o povo hostil<br />

().<br />

Ora, ainda que não o diga diretamente, <strong>Plutarco</strong> aproveita o ensejo para,<br />

mais uma vez, criticar a volubilida<strong>de</strong> das massas (que tão <strong>de</strong>pressa segu<strong>em</strong> os<br />

254 Sólon (Comp. Sol.-Publ. 3. 4) cometeria o mesmo erro ao <strong>de</strong>ixar o caminho livre para<br />

Pisístrato.<br />

255 Ou, nas palavras <strong>de</strong> <strong>Plutarco</strong> (es. 32. 1) <br />

‘o primeiro a agir como um <strong>de</strong>magogo e a cair nas boas graças da turba<br />

por meio da palavra’. Cf. Cantarelli (1974: 459-505); Canfora (1993). Sobre a ruína <strong>de</strong> Atenas,<br />

consult<strong>em</strong>-se, por ex<strong>em</strong>plo, Mossé (1962); Kagan (1987).

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