O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Parte III - A Vida <strong>de</strong> Teseu<br />
(às quais estavam liga<strong>dos</strong> rituais como o sacrifício a Cónidas 238 – es. 4.<br />
1), as Hecalésias 239 (es. 14. 2) e as Boedrómias 240 (es. 27. 3), associadas<br />
respetivamente ao episódio do Touro <strong>de</strong> Maratona e às Amazonas.<br />
Como consequência da generalida<strong>de</strong> das façanhas do herói, caram<br />
famosas duas expressões, cujos senti<strong>dos</strong> já analisámos anteriormente 241 e<br />
que põ<strong>em</strong> <strong>em</strong> evidência não só a <strong>em</strong>ulação do lho <strong>de</strong> Zeus, mas também a<br />
abundância <strong>dos</strong> feitos do <strong>ateniense</strong>: «nada s<strong>em</strong> Teseu» e «outro Hércules».<br />
Da azáfama que foi a vida do lho <strong>de</strong> Egeu, resultaram ainda outros<br />
costumes, monumentos e toponímia mais liga<strong>dos</strong> ao dia-a-dia <strong>dos</strong> cidadãos.<br />
É o <strong>caso</strong> do corte <strong>de</strong> cabelo «à Teseu» (es. 5. 1) e respetiva oferta a<br />
Apolo 242 <strong>em</strong> um lugar chamado Teseia 243 (que t<strong>em</strong> orig<strong>em</strong> no grupo a que<br />
Poséidon, pretenso pai do herói, ou ainda porque terá chegado a Atenas pela primeira vez a 8 <strong>de</strong><br />
Hecatombéon. Note-se, contudo, que <strong>Plutarco</strong> comete uma incongruência cronológica, ao armar,<br />
<strong>em</strong> es. 22. 4, que o regresso <strong>dos</strong> sobreviventes do Minotauro ocorreu a 7 <strong>de</strong> Pianépsion. Tal<br />
facto cará a <strong>de</strong>ver-se a uma tentativa <strong>de</strong> fazer coincidir <strong>em</strong> um mesmo dia todas as festivida<strong>de</strong>s<br />
relacionadas com o regresso ou a motivos religiosos: enquanto o dia 8 é <strong>de</strong>dicado a Poséidon,<br />
o dia 7 é <strong>de</strong>dicado a Apolo. <strong>Plutarco</strong> salienta, no entanto, que, para além das Teseias, Teseu era<br />
homenageado to<strong>dos</strong> os dias 8. A propósito da data <strong>de</strong>stas festivida<strong>de</strong>s, vi<strong>de</strong> Flacelière (1948: 84).<br />
De acordo com es. 23. 5, terá sido o próprio herói a instituir o seu culto no regresso <strong>de</strong> Creta, ao<br />
consagrar-se um recinto e ao encarregar os Fitálidas da realização do sacrifício. Sobre estas festas,<br />
vi<strong>de</strong> Mommsen (1898: 288-90); Mikalson (1975: 70-1); Deubner (1932: 224); Parke (1977: 80-1).<br />
238 Sobre o precetor <strong>de</strong> Teseu, vi<strong>de</strong> supra p. 54, nota 17. O sacrifício a Cónidas tinha lugar na<br />
véspera das Teseias, ou seja, a 7 <strong>de</strong> Pianépsion, porque as Teseias <strong>de</strong>corriam a 8 – cf. es. 36.4. Como<br />
já referimos, tratar-se-ia provavelmente <strong>de</strong> um sacrifício gentilício, que já existia, ao qual se associou<br />
o nome do herói para que tivesse mais importância. Cf. Herter (1973: 14); Deubner (1932: 225).<br />
239 Quando se dirigia a Maratona para lutar contra o Touro, Teseu viu-se obrigado a recorrer<br />
à hospitalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma jov<strong>em</strong> chamada Hécala por causa do mau t<strong>em</strong>po. Esta prometeu então a<br />
Zeus (que passou a receber o epíteto <strong>de</strong> Hecálio) sacrifícios se o jov<strong>em</strong> príncipe regressasse a salvo<br />
da luta contra a besta. No regresso, Teseu, informado da morte da jov<strong>em</strong>, mandou cumprir-lhe<br />
a promessa, como sinal <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cimento pela hospitalida<strong>de</strong> e carinho recebi<strong>dos</strong>: tinham assim<br />
orig<strong>em</strong> as Hecalésias. Hécala tornou-se também epónimo <strong>de</strong> um <strong>de</strong>mo <strong>de</strong> localização incerta,<br />
algures entre Maratona, Deceleia e Ploteia. Cf. Jacoby (1949: 128 e 279 n. 279; FGrHist, Suppl.,<br />
Text, 436 sqq); Deubner (1932: 217).<br />
240 Boedrómion era o terceiro mês do calendário <strong>ateniense</strong> e tomou o nome das festas <strong>em</strong> honra<br />
<strong>de</strong> Apolo, celebradas a 7 <strong>de</strong>sse mês. O avançado por <strong>Plutarco</strong> está associado à ajuda <strong>de</strong> Apolo<br />
a Teseu contra as Amazonas (cf. Macr. 1. 17, 18). A versão mais corrente (relatada <strong>em</strong> Paus. 7. 1. 2;<br />
Philoc. FGrHist 328 F 13) é aquela que arma que Apolo ajudou os Atenienses contra os Eleusínios.<br />
241 Vi<strong>de</strong> supra p. 78.<br />
242 Neste <strong>caso</strong>, importa chamar a atenção não só para a orig<strong>em</strong> <strong>de</strong> um corte <strong>de</strong> cabelo com<br />
características especícas, mas sobretudo para o ritual <strong>de</strong> passag<strong>em</strong> da adolescência para efebia<br />
então instituído e que <strong>de</strong>corria no terceiro dia das Apatúrias (também conhecido por ).<br />
Os jovens <strong>de</strong> <strong>de</strong>zasseis anos cortavam o cabelo para ofertar um anel a Apolo Delfínio, s<strong>em</strong> ter<strong>em</strong><br />
a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se <strong>de</strong>slocar a Delfos (cf. Anthologia Palatina, 6. 278). Teofrasto (Char. 21) atribui<br />
ao Pedante o hábito <strong>de</strong> levar efetivamente o cabelo do lho a Delfos, para fazer reviver o ato do<br />
fundador. Sobre este rito, vi<strong>de</strong> Nilsson (1970: 136-8). Quanto ao corte <strong>de</strong> cabelo, caracterizava-se<br />
por ser curto na zona da face e comprido no resto da cabeça. Segundo Polieno 1. 4, a opção por<br />
este corte tinha como objetivo facilitar a luta corpo a corpo. Seria também essa a razão pela qual<br />
os Abantes (povo que <strong>Plutarco</strong> evoca, citando Homero, Il. 2. 536, 4. 464) usavam assim o cabelo.<br />
243 Ainda que sejam conheci<strong>dos</strong> diversos monumentos <strong>em</strong> honra <strong>de</strong> Teseu <strong>em</strong> Delfos, não<br />
102