O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
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Ação política<br />
como não po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser, foi na Ática que a «mão» do herói <strong>de</strong>ixou<br />
marcas mais abundantes, a to<strong>dos</strong> os níveis, nomeadamente no das festivida<strong>de</strong>s,<br />
que, para além do seu cariz religioso evi<strong>de</strong>nte, são também uma manifestação<br />
política, quer no sentido etimológico da palavra, quer no atual, já que estimulam<br />
o civismo e o convívio entre os cidadãos.<br />
Aquelas <strong>em</strong> que essa vertente política ressalta melhor são, s<strong>em</strong> dúvida, as<br />
que <strong>de</strong>corr<strong>em</strong> do sinecismo (ou, se preferirmos, as que são consequência do<br />
exercício do po<strong>de</strong>r na Ática): as Panateneias 234 (es. 24. 3), as Metécias 235 (es.<br />
24. 4) e os Jogos Ístmicos 236 (es. 25. 6), que tinham por principal objetivo<br />
estimular a unida<strong>de</strong> <strong>dos</strong> cidadãos da Ática unicada. Além <strong>de</strong> fomentar<strong>em</strong> o<br />
convívio entre os habitantes locais, suger<strong>em</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo o aparecimento <strong>de</strong> um<br />
novo momento protagonizado pela ação <strong>de</strong> Teseu, no qual, entre outros sinais,<br />
se prenuncia uma nova relação entre povo (até então <strong>de</strong>scontente com um rei,<br />
que lhes sacricava os lhos) e po<strong>de</strong>r político e o importante papel que Atenas<br />
viria a ter no contexto pan-helénico.<br />
<strong>Plutarco</strong> refere ainda o culto ático <strong>dos</strong> Dioscuros (resultante da presença<br />
<strong>de</strong>stes na Ática quando procuravam a irmã Helena que fora raptada pelo<br />
herói) e três outras festas, cujos são <strong>de</strong> natureza diversa: as Teseias 237<br />
234 As Panateneias são, por excelência, a festa da nova cida<strong>de</strong> unicada. Foram, na verda<strong>de</strong>,<br />
fundadas por Erictónio e celebravam-se a 28 <strong>de</strong> Hecatombéon, dia do nascimento da <strong>de</strong>usa<br />
Atena. Em 566 a. C., durante o governo <strong>de</strong> Pisístrato, foram objeto <strong>de</strong> r<strong>em</strong>o<strong>de</strong>lação, passando<br />
a incluir um momento <strong>de</strong> récita <strong>dos</strong> Po<strong>em</strong>as Homéricos. Sobre esta festa, vi<strong>de</strong> Deubner (1932:<br />
22 sqq.); Parke (1977: 33 sqq.).<br />
235 Segundo Ampolo-Manfredini (1988: 237), a <strong>de</strong>signação <strong>de</strong> Metécias dada à festa celebrada<br />
no dia 16 <strong>de</strong> Hecatombéon resulta provavelmente <strong>de</strong> uma citação errada <strong>de</strong> <strong>Plutarco</strong>, que estaria<br />
a pensar nas Sinécias relatadas por uc. 2. 14. 2. Cf. Bulsot (1895: 92 n. 3). De acordo com<br />
Moggi (1976: 72), será possivel pensar que o , que, tal como o <strong>de</strong>screve Tucídi<strong>de</strong>s,<br />
foi, na realida<strong>de</strong>, meramente político, se transformou <strong>em</strong> (‘migração’), pelo que o<br />
nome da festa teria sido alterado <strong>de</strong> para . Sobre a festa propriamente dita,<br />
vi<strong>de</strong> Deubner (1932: 36-8).<br />
236 Estes jogos, ao contrário das Panateneias e das Metécias, têm caráter pan-helénico. A versão<br />
mais generalizada atribui a sua institução a Sísifo (<strong>em</strong> honra <strong>de</strong> Melicertes-Palémon ou Poséidon<br />
e Hélios, que partilhavam entre si o domínio do Istmo) e não a Teseu. Helânico (FGrHist 323a<br />
F 15), contudo, já atribuía os jogos a Teseu. São estes os jogos sobre os quais <strong>Plutarco</strong> melhor se<br />
<strong>de</strong>bruça, o que facilmente se compreen<strong>de</strong>, já que as versões sobre a sua orig<strong>em</strong> não são consensuais.<br />
Começa por se referir àquela que faz da sua fundação mais um ato <strong>de</strong> <strong>em</strong>ulação <strong>de</strong> Héracles: assim<br />
como o lho <strong>de</strong> Alcmena criara os Jogos Olímpicos para homenagear o pai, Zeus, também Teseu,<br />
que segundo alguns era lho <strong>de</strong> Poséidon, cria os Ístmicos com o mesmo intuito. O biógrafo refere<br />
também a versão tradicional, adaptando-a aos seus interesses <strong>de</strong> racionalização do mito: segundo<br />
ele, os jogos instituí<strong>dos</strong> por Teseu tinham caráter <strong>de</strong> festival e não <strong>de</strong> celebração <strong>de</strong> mistérios<br />
própria <strong>dos</strong> jogos <strong>em</strong> honra <strong>de</strong> Melicertes-Palémon, o que parece sugerir a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
convívio entre as duas modalida<strong>de</strong>s ou que Teseu reformou os pré-existentes. O Queroneu refere<br />
ainda outras versões, <strong>de</strong> acordo com as quais os jogos teriam sido instituí<strong>dos</strong> para que Teseu, ao<br />
homenagear as suas vítimas (Ésciron ou Sínis), se puricasse <strong>dos</strong> crimes cometi<strong>dos</strong>. Fica, porém, a<br />
impressão <strong>de</strong> que o nosso autor não lhes dá gran<strong>de</strong> crédito.<br />
237 A celebração das festas <strong>de</strong> Teseu <strong>de</strong>corria a 8 <strong>de</strong> Pianépsion (cf. es. 36.4-5), porque<br />
coincidiam com o regresso <strong>de</strong> Creta e porque esse dia também era normalmente consagrado a<br />
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